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CAPÍTULO 3 – REABILITAÇÃO E REFORÇO ESTRUTURAL DE PONTES METÁLICAS

3.8 S OLUÇÕES DE R EABILITAÇÃO

3.8.10 Pintura de elementos metálicos

Para se poder assegurar que os sistemas de pintura oferecem de facto uma proteção durável, é essencial proceder a uma adequada preparação da superfície antes da aplicação de qualquer revestimento por pintura de acordo com o exposto em 3.8.1.

É igualmente necessário, para selecionar o sistema de pintura correto, considerar uma variedade de fatores para assegurar que, quer do ponto de vista técnico quer económico, seja encontrada a melhor solução. Para qualquer projeto, os fatores mais importantes a considerar, antes da seleção dos produtos a aplicar, são os seguintes:

 Corrosividade ambiental  Tipo de superfície a proteger

 Durabilidade pretendida para o esquema de pintura  Planeamento do processo de aplicação

A corrosividade ambiental vai ajudar a determinar o tipo de tinta a utilizar, a espessura total do sistema de pintura, a preparação de superfície exigida e os intervalos de recobrimento, mínimo e máximo.

É de salientar que, quanto mais agressivo for o ambiente, mais rigorosa e cuidada deverá ser a preparação da superfície. Adicionalmente, torna-se ainda mais importante que sejam respeitados os intervalos de recobrimento entre as diversas demãos que compõem o sistema de pintura, incluindo retoques que sejam necessários.

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Tabela 3.9 – Categorias de corrosividade

Categoria de Corrosividade Exemplos de Ambientes

C1 muito baixa Ambientes interiores, com atmosferas limpas

C2 baixa Atmosfera com baixo nível de poluição. Principalmente áreas rurais.

C3 média Atmosferas urbanas e industriais com poluição moderada de dióxido de enxofre. Áreas costeiras, com baixa salinidade.

C4 alta Zonas industriais e áreas costeiras de alta salinidade.

C5-I muito alta (industrial) Áreas industriais com humidade elevada e atmosfera agressiva.

C5-M muito alta (marítima) Áreas costeiras e “offshore”, com alta salinidade.

Todo o território português está classificado segundo estas categorias de corrosividade atmosférica no “Mapa Nacional de Corrosão Atmosférica” de acordo com a ISO 9223 [54] (Figura 3.60).

Figura 3.60 – Mapa Nacional de Corrosão Atmosférica [55]

Para se poder especificar um sistema de pintura adequado, é necessário conhecer o tipo de superfície a proteger, tais como o aço, o aço galvanizado (por imersão a quente), o aço metalizado (por projeção), o alumínio ou o aço inoxidável. A preparação da superfície, os produtos a aplicar (em particular, os primários) e a espessura total do sistema dependerão principalmente dos materiais de construção que se pretende proteger.

Capítulo 3 – Reabilitação e Reforço Estrutural de Pontes Metálicas A durabilidade pretendida para o esquema de pintura é o período que medeia entre a aplicação e a verificação da necessidade de uma grande manutenção por repintura. A ISO 12944-1 [56] especifica três intervalos de tempo para classificar a durabilidade, de acordo com a Tabela 3.10:

Tabela 3.10 – Durabilidade do esquema de pintura

Classificação da Durabilidade Período de Tempo

Baixa 2 a 5 anos

Média 5 a 15 anos

Alta > 15 anos

O planeamento do processo de aplicação dos sistemas de pintura é fundamental em qualquer obra de reabilitação e reforço. Deve ser dada especial atenção à fase de prefabricação, nomeadamente aos elementos de reforço e de substituição, assim como aos diversos estágios de construção que vão sendo completados.

É indispensável planear os trabalhos de forma a que a preparação de superfície e o tempo de secagem/cura dos produtos, relativamente às condições de humidade e temperatura, sejam tidos em conta. Do mesmo modo, se uma determinada fase da construção decorre em oficina, em ambiente controlado, e a fase seguinte tem lugar já em obra, este aspeto vai condicionar os intervalos de recobrimento que terão que ser respeitados.

A norma EN ISO 12944-5 [57] descreve os diferentes tipos de pintura, esquemas mais utilizados na proteção anticorrosiva de estruturas de aço, espessuras recomendadas e número de demãos.

Os sistemas de pintura de proteção normalmente são constituídos por 3 camadas, cada uma com uma função específica, de acordo com a Figura 3.61:

 primário,

 subcapa ou intermédio  acabamento

Figura 3.61 – Camadas do sistema de pintura

acabamento primário radiação UV proteção catódica barreira de proteção intermédio METAL

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O primário é aplicado diretamente sobre a superfície do aço limpo (Figura 3.62 e Figura 3.63). A sua finalidade é a de promover aderência entre as camadas subsequentes e conferir inibição de corrosão – pigmentos anódicos relativamente ao aço (pó de zinco); pigmentos inibidores da reação de corrosão (fosfato de zinco).

A subcapa ou intermédio é aplicada para conferir “corpo/espessura” ao esquema total (Figura 3.64). Geralmente, quanto mais espessa for esta camada melhor é a sua durabilidade. Esta camada é especialmente projetada para melhorar a proteção global e, quando mais elevados forem o teor de pigmentos e cargas, menor é a permeabilidade ao oxigênio e água. A incorporação de pigmentos laminares, como por exemplo o óxido de ferro micáceo (MIO), reduz ou atrasa a penetração da humidade e melhora a resistência mecânica.

O acabamento proporciona o aspeto e a resistência necessária à superfície do sistema (Figura 3.65), nomeadamente resistência à radiação, abrasão, impacto, ação química; fungos e algas, etc. (depende do ambiente e ações durante o uso). Dependendo das condições de exposição, também deve fornecer a primeira linha de defesa contra o clima, a luz do sol e a condensação (como na parte inferior das pontes).

Figura 3.62 – Realização da decapagem Figura 3.63 – Aplicação do primário

Capítulo 3 – Reabilitação e Reforço Estrutural de Pontes Metálicas A parte 7 da norma EN ISO 12944 [58] descreve os métodos para a aplicação da pintura e fornece orientações para a realização de trabalhos de pintura.

A temperatura da superfície sobre a qual se aplica a tinta deve situar-se, 3ºC acima do ponto de orvalho, determinada de acordo com a ISO 8502-4 [59], para evitar a condensação do vapor de água na superfície, por poder levar à formação de uma película de humidade invisível que poderá prejudicar a aderência ao revestimento. A temperatura ambiente é também importante. Como regra geral, as tintas de base aquosa e as de cura química não devem ser aplicadas a temperaturas inferiores a 10ºC enquanto as de secagem física, formando película por evaporação do solvente, não devem ser aplicadas a temperaturas que ultrapassem os 45ºC. A temperatura ambiente abaixo de 1ºC, existe o problema adicional da possível formação de gelo na superfície que provoca falta de aderência.

A execução da pintura deverá ainda ser realizada sem que se façam sentir ventos fortes que provoquem a secagem demasiado rápida da película.

A humidade relativa constitui também um fator a controlar. Normalmente as tintas apresentam maior durabilidade quando aplicadas a uma humidade relativa inferior a 85%. A temperatura da tinta é também importante pois a viscosidade e consequente aplicabilidade é determinante para a execução correta dos trabalhos.