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4. DISLEXIA e MATEMÁTICA

4.3 A calculadora MusiCalcolorida

Há muitas características destacadas nos livros sobre dislexia que se referem, especificamente, à Matemática, mas não há conselho mais frequente, para os professores, quanto à orientação de “permitir o uso de uma calculadora simples” pelos alunos disléxicos. Apesar de ser também muito comum a menção do uso de tabelas, seja tabuada ou fórmulas matemáticas, nada se compara à frequência da calculadora na lista de sugestões. Além do uso mais comum, através de uma calculadora básica, existe uma

Figura 4.02: Exemplo de uso da “RiTabella”, da AID (Associazione Italiana Dislessia)

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possibilidade que vai ao encontro das solicitações de ensino multissensorial tão propalada por especialistas em dislexia no mundo todo: a calculadora “MusiCalcolorida”. A “MusiCalcolorida” é o resultado do desenvolvimento iniciado por Nathalie Sinclair (2006), que criou a “Calculadora Colorida”, cujo objetivo era a exploração dos números racionais e irracionais através de sua representação decimal, caracterizada pela cor, tamanho e rapidez. A expansão decimal de um número, através dessa calculadora, é associada a uma matriz quadriculada cujas células se apresentam totalmente coloridas. Segundo a criadora, os alunos sentem-se encorajados a explorar os conceitos dos números decimais pela experimentação e investigação. A calculadora colorida foi projetada para reconstruir e organizar a concepção dos estudantes sobre os números reais representados tanto na forma fracionária como na forma decimal [44]. Pode-se, por exemplo, comparar as malhas quadriculadas coloridas obtidas das frações 17/25 e 34/50.

Inspirados pela ideia de Nathalie Sinclair, os pesquisadores Prof. Dra. Lulu Healy e Prof. Guilherme Rodrigues Magalhães recriaram a calculadora colorida visando aplicá- la a uma gama maior de usuários. Baseados nas possibilidades que essa ferramenta oferece, foram desenvolvidos trabalhos sob a perspectiva da Matemática inclusiva, beneficiando estudantes cegos e pessoas com baixa visão [34], alunos surdos [45] e também sua exploração no ensino de números reais através de sua representação visual e sonora [38].

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A calculadora MusiCalcolorida, utilizada aqui para exemplificar seu uso, será a versão 6 (Calcolorida_v6), que pode ser encontrada, gratuitamente, no endereço

http://www.matematicainclusiva.net.br/, acessado em 10-08-2014. A figura abaixo

mostra a aparência da calculadora quando efetuamos a operação 123.456.789  9.999.999.999.

Características básicas da “MusiCalcolorida”:

 Essa versão preserva as características básicas da calculadora colorida original,  Ela opera em uma precisão máxima de 5.000 dígitos,

 A parte decimal do resultado é representada em uma malha quadriculada em que se pode escolher o número de colunas e, nesse caso, foram escolhidas 50,

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 O tamanho do “quadradinho” da representação visual pode ser alterado, possibilitando aprimorar a percepção da periodicidade do resultado,

 Cada dígito da parte decimal é representado por uma cor (e nota musical) que se difere dos demais, a saber: 0-branco, 1-roxo, 2-azul escuro, 3-azul claro, 4-verde escuro, 5- verde claro, 6-amarelo, 7-laranja, 8-vermelho, 9-marrom,

 Existe a opção de associar o dígito “0” tanto a uma nota musical quanto representá-lo por uma pausa (silêncio),

 A organização da malha quadriculada, conforme a ilustração acima é denominada “listra” e é a que melhor facilita a observação do período da dízima. Há outros padrões como, “diagonal”, “tabuleiro”,

 Ao apertar o símbolo da “clave de Sol” ( ), poder-se-á ouvir uma “música”, tocada originalmente em piano, em que cada dígito da parte decimal é representado por uma nota musical,

 No campo da “clave de Sol”, o estudante pode modificar o instrumento e controlar a velocidade, o tom e o tempo entre as notas musicais.

 Seja através da malha quadriculada, seja pela representação musical, a ferramenta pode ajudar aos alunos perceberem com mais facilidade o período de um número racional,  É possível gravar até 10 cálculos com suas respectivas representações visual e sonora,  A ferramenta possui uma natural limitação diante do infinito, por isso, quando o período

de um número for muito grande, irá dificultar a percepção do aluno quanto a esse aspecto. É recomendável, inicialmente, trabalhar com exemplos que facilitem, pedagogicamente, sua visualização,

Para se entender melhor o espírito motivador do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores envolvidos na construção da “MusiCalcolorida”, é digno de destaque uma nota de esclarecimento que pode ser vista no site “matemáticainclusiva”

http://www.matematicainclusiva.net.br/sobre.php, visto em 6 de Setembro de 2014:

“Nosso trabalho envolve uma abordagem colaborativa na qual pesquisadores, professores e aprendizes buscam caminhos para oferecer uma Matemática

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escolar que respeite as particularidades de cada aprendiz. Para nós, Educação Matemática Inclusiva não se reduz a discussões sobre escola especial ou escola regular, mas nos desafia a criar uma matemática na qual todos os aprendizes queiram ser incluídos.

Nossa premissa é que todos aprendem, mas nem sempre da mesma forma. Assim, tratamos diferença como diferença e não como deficiência, distúrbio ou desordem. Acreditamos que existem várias maneiras de fazer Matemática, e precisamos de um currículo que reflita isso. Isto é, a Matemática escolar deve proporcionar uma variedade de experiências - visuais, sonoras, táteis, ... - associadas aos objetos de estudo.”

A dislexia, seja considerada como deficiência, seja como distúrbio, seja desordem ou até mesmo como “diferença” precisa ser aceita, compreendida e digna de ser respeitada nas escolas de hoje. Há muito trabalho a ser feito.

São muitas as sugestões dadas pelos especialistas e pelas entidades que defendem uma verdadeira inserção do disléxico nas escolas em todo mundo. Fora do país há diversos empreendimentos que procuram entender a verdadeira essência da dificuldade dos disléxicos e divulgar os resultados às escolas, aos educadores e a pais desavisados quantos às dificuldades vividas por seus filhos. Conhecer essas realizações e colocá-las em prática é um dever moral de todo aquele que se preocupa com o ser humano e sabe o valor que representa uma educação justa e de qualidade para o engrandecimento da própria vida.

4.4 A Experiência Brasileira sobre Discalculia, “a dislexia dos