4. DISLEXIA e MATEMÁTICA
4.1 Considerações Gerais da Dislexia que interferem na aprendizagem da Matemática
Um professor de Matemática interessado em aprimorar seu trabalho, procurando atender a todos os seus pupilos, deverá tomar conhecimento de alguns aspectos, já mencionados no capítulo anterior, e conhecer os procedimentos mais adequados de modo a atingir todos os seus alunos na efetiva aprendizagem da Matemática no ensino escolar. Mesmo sem o laudo dos especialistas nessa questão, sabe-se que ele pode ter de 10% a 15% de disléxicos entre seus estudantes (ABD) o que, em um grupo de 40 alunos, algo muito comum em escolas públicas no país, significaria possuir de 4 a 6 alunos disléxicos sob sua tutela. É imprescindível saber o que fazer para não ter a impressão de se estar diante de um problema insolúvel. Deve-se, primeiramente, analisar os aspectos gerais, indicados pelos profissionais da área, que atinge, de alguma maneira, o ensino da Matemática.
Dorian Yeo e Julian Kay, com grande experiência no ensino da matemática para alunos disléxicos, escreveram o livro “Dyslexia and Maths” [51], “Dislexia e Matemática”. Elas descrevem que, nos primeiros estágios das discussões sobre a dislexia, não era o pensamento geral de que esse distúrbio poderia levar o estudante a ter dificuldades na aprendizagem da Matemática, e que essas dificuldades eram centralizadas, principalmente, nos aspectos linguísticos da aprendizagem, e muito
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especialmente, à dificuldade de leitura e escrita. Elas relatam que há alguns aspectos da dislexia que podem ser associados às dificuldades de aprendizagem em Matemática.
Apesar de que a dificuldade de leitura possa, de fato, atrapalhar a compreensão de textos envolvendo Matemática, por si só ela não é a causa primordial na dificuldade de aprendizagem por parte de alunos disléxicos. THOMPSON [46] adverte que “Os professores devem ter em mente que são poucas as ocasiões em que os números são colocados em estrito isolamento relativos ao texto e que as dificuldades de leitura podem mascarar o nível de habilidade matemática. Não é só a linguagem da Matemática multissilábica, por exemplo - multiplicação, vértices, isósceles - palavras difíceis de decodificar, e que raramente contêm pistas contextuais para ajudar com significado”. Não é à toa que ela sugere aos professores ensinar a linguagem matemática como vocábulos de uma língua estrangeira.
Há diversas características dos disléxicos, descritas de uma maneira geral nos livros de especialistas brasileiros, que podem, também, envolver a dificuldade na aprendizagem da Matemática. IANHEZ [27, p 73], na orientação quanto a um bom procedimento, por parte dos professores, relativo aos alunos com dislexia, recomenda: “Inicie cada módulo com um esquema do que deverá ser apresentado naquele período. No final, realce de maneira resumida os pontos-chave”. Esse procedimento pode ser facilmente realizável em Matemática bastando apenas uma severa organização por parte do professor. Na mesma página, pode-se ler “Use vários materiais de apoio para apresentar a lição à classe, como: lousa, projetores de slides, retroprojetores, filmes educativos, demonstrações práticas e outros recursos multimídia”. Para a plena execução deste ponto, haverá necessidade de união entre escola e professor para prover a sala de aula com os recursos tecnológicos necessários à sua realização. Deve- se tratar o ensino de Matemática com muita seriedade e compromisso, oferecendo toda ajuda que o professor de Matemática precisar.
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Em outra orientação, é dito “Introduza o vocabulário novo, ou técnico, de forma contextualizada”. Haverá muitas vezes que o professor de Matemática não encontre uma contextualização adequada para introduzir um conceito matemático, mas a busca por aprimoramento pessoal deve ser constante, seja através do uso de uma vasta bibliografia para buscar aplicações, seja na participação de cursos de formação ou até mesmo a busca de material já existente na internet como, por exemplo, o site da secretaria de educação do estado do Paraná, que foi visto em 16 de Julho de 2014, (http://www.matematica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=301). Lá, pode-se
encontrar uma “Sequência de aulas” ou diversas “Sugestões de Atividades”. Também, na mesma página, pode-se encontrar um link para as aulas de Matemática publicadas no “Portal do professor - MEC” ou ir diretamente ao portal do professor, no endereço
(http://portaldoprofessor.mec.gov.br/buscarAulas.html, visto em 16 de Julho de 2014)
e efetuar uma busca sobre o tema desejado. Com o tema “matematica” (sem acento), foram encontradas (no dia 16 de Julho de 2014) 2269 aulas de Matemática.
Nesse mesmo livro [27], ainda encontramos duas sugestões que cabem plenamente ao curso de Matemática: “Realize aulas de revisão que permitam o tempo adequado para perguntas e respostas.” e “Autorize o uso de tabuadas, calculadoras simples, rascunhos e dicionários durante as provas.”. Diante das características apresentadas por alunos com dificuldade de aprendizagem, cabe ao professor tomar o devido cuidado nesses dois quesitos. Todos os alunos merecem e possuem o direito à manifestação de suas dificuldades e obter um tempo justo para uma nova oportunidade de aprendizagem. Quanto ao uso de tabuadas e calculadora durante a prova, basta entender que a avaliação é mais um momento de aprendizagem e todo recurso que seja útil à sua plena realização é, decididamente, bem-vindo. O resumo e o dicionário se justificam devido ao problema de memorização dos alunos disléxicos e àquilo que é definido como “disnomia”, pela mesma autora, na página 141, “DISNOMIA é a
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dificuldade em nomear ou reconhecer nomes de objetos, coisas etc.”. Se o aluno não se lembra de um conceito matemático, ele fica sem saber o que lhe é pedido e acaba se sentindo impossibilitado de prosseguir na resolução de um determinado problema em uma avaliação. A “disnomia” é classificada como uma dos sintomas mais comuns da dislexia.
4.2 A “RiTabella”
A Associação Italiana de Dislexia – AID: Associazione Italiana Dislessia (http://www.aiditalia.org/) propõe muitos recursos para auxiliar o estudante disléxico com dificuldade em Matemática. Além de sugerir o uso de diversas tabelas, como tabuadas, resumo de fórmulas matemáticas, entre outros, destaca-se uma cuja denominação é “la RiTabella”. Suas características são as seguintes:
Ela é formada pelos números naturais de 1 a 150,
Os números estão associados a bolinhas coloridas que representam seus divisores, O número “1” não está associado a nenhuma bolinha, pois 1 é divisor de todo número
natural,
Os números primos de “2” até “19” são associados a bolinhas que se distinguem uma das outras pela cor,
A bolinha do número “2” é VERMELHA, do número “3” VERDE, do “5” AMARELO, “7” PRETO, “11” AZUL ESCURO, “13” ROSA, “17” AZUL CLARO e “19” MARROM.
Os outros números primos são representados, simplesmente, por si mesmos apenas escritos com uma fonte menor,
Os números compostos, ou seja, não primos, são representados pelas bolinhas correspondentes aos seus divisores primos, cuja quantidade é proporcional ao número de fatores primos em sua decomposição fatorada, conforme o TEOREMA FUNDAMENTAL DA ARITMÉTICA.
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O número 2 (2 = 21
) é representado por uma bolinha VERMELHA. O número 4 (4 = 22) é representado por duas bolinhas VERMELHAS. O número 8 (8 = 23) é representado por três bolinhas VERMELHAS. Consequentemente, o número 16 (16 = 24) é representado por quatro bolinhas VERMELHAS, o “32 = 25” por cinco bolinhas VERMELHAS e assim por diante,
O número 6 (6 = 2×3) é representado por uma bolinha VERMELHA e uma bolinha VERDE. O número 36 (36 = 22×32) é representado por duas bolinhas VERMELHAS e duas bolinhas VERDES. O número 144 (144 = 24×32) é representado por quatro bolinhas VERMELHAS e duas bolinhas VERDES.
Observe a “RiTabella” abaixo:
Figura 4.01: Na “RiTabella”, os números de 1 a 150 estão associados a bolinhas coloridas que representam seus divisores, onde cada divisor possui uma cor diferente.
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No site da AID (Associazione Italiana Dislessia) é dito que essa tabela, com as suas regras, pode ser considerada um sistema de numeração, que facilita as operações de multiplicação e divisão de números inteiros e, acima de tudo, permite compreender intuitivamente os conceitos de MMC e MDC e tornar mais fácil o cálculo fracionário.
A “RiTabella” pode também auxiliar o estudante na simplificação de frações. Um exemplo de imagem mental que o aluno disléxico faria para simplificar a fração 34/50, poderia ser:
34/50 = / = / = 17/25
O constante uso da “RiTabella” possibilitaria ao aluno disléxico acostumar-se a “enxergar” um número sob a ótica de seus fatores. Como complemento, tendo o aluno acesso a um computador, poder-se-ia apresentá-lo a uma excelente ferramenta para ser trabalhada a forma decimal de um número de um modo mais atraente do que uma simples calculadora: A calculadora “MusiCalcolorida”.