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A CARACTERIZAÇÃO DOS VERBOS

No documento alicequeirozfrascarolli (páginas 65-70)

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

3.7 A CARACTERIZAÇÃO DOS VERBOS

Utilizaremos as teorias de Neves (2002), Mateus et al. (1983) e Borba (1990) para descrever o comportamento dos verbos em relação a seus argumentos.

Para Neves, a frase apresenta conexões realizadas através de relações de dependência e sob uma hierarquização. O termo regente das frases é o verbo. Ele atrai alguns elementos para si, os quais ficam sob sua dependência. Cada verbo exige um número limitado de argumentos obrigatórios, mas os circunstantes são ilimitados, os quais são elementos adverbiais que dão circunstâncias do processo, mas não são determinados pelo verbo.

O número de argumentos obrigatórios varia de zero a três e através deste critério os verbos se classificam em:

a) avalentes – sem complemento obrigatório;

b) monovalentes – com um complemento obrigatório; c) bivalentes – com dois complementos obrigatórios; d) trivalentes – com três complementos obrigatórios.

Sob uma análise semântica, o primeiro argumento obrigatório realiza a ação, o segundo completa esta ação e é afetado por ela e o terceiro é aquele que recebe alguma coisa em seu proveito ou em seu prejuízo.

(34) Paulo comprou o livro. (2002, p.112)

Percebemos que o verbo comprar abre lugar para dois argumentos que são obrigatórios: um Agente, Paulo, e um Paciente, o livro.

Mateus et al. (1983) afirmam que predicar é atribuir propriedades a termos ou estabelecer relação entre termos. Logo, predicar objetiva descrever estados de coisa. Para caracterizar os tipos possíveis de estados de coisas, será feita uma descrição semântico- pragmática do comportamento dos predicadores, mas apenas aqueles que descrevem estados de coisas dentro do mundo real.

(35) O João está deitado.

Neste exemplo as autoras apontam para o fato de que a entidade – João – envolvida no estado de coisa não sofre nenhuma alteração ou transição durante o momento em que o estado de coisa ocorre. Por este motivo este estado de coisa tem traço [- DINÂMICO] e é chamado de ESTADO.

(36) A Ana escreveu um romance.

(37) A Maria guiou o jipe todo dia.

Já nos exemplos (36) e (37) as autoras destacam que pelo menos uma das entidades envolvidas realiza ou sofre um “fazer” e mudam de lugar ou de estado. Estes estado de coisa têm traço [+ DINÂMICO].

O exemplo (36) retrata um estado de coisa que muda de estado que tinha no momento anterior e passa a ter outro estado no momento seguinte: o romance que não existia passa para um outro estado, passa a existir. Neste caso, Ana é que é a responsável pela mudança de estado que ocorreu. Desta forma, os estados de coisa [+ DINÂMICO] que expressam a mudança de um estado localizado num determinado intervalo de tempo são chamados de EVENTOS.

Já o exemplo (37) não ilustra a mudança de um estado, mas um “fazer” específico, que é realizado ou sofrido por uma determinada entidade e que é delimitado pelo evento de começar e pelo de acabar este fazer específico. Neste exemplo a entidade que realiza o fazer específico de guiar o jipe é Maria. Este fazer inicia-se no momento posterior ao evento de

Maria começa a guiar o jipe e termina com o evento de Maria acabar de guiar o jipe.

Portanto, os estados de coisa com traço [+ DINÂMICO] que expressam um fazer num tempo delimitado por dois “eventos” – o início e o fim do fazer – têm o nome de PROCESSOS (Mateus et. al. 1983, p.49).

No entanto, (35), (36) e (37) têm uma entidade envolvida com o poder de, propositalmente, determinar a ocorrência ou não do estado de coisa. Atribui-se, então, às entidades João, Maria e Ana o traço [+ CONTROLADORA]. Os estados, eventos e processos com este traço recebem, respectivamente, os nomes POSIÇÕES, AÇÕES e ATIVIDADES.

Já num exemplo como

(38) O vento partiu o vidro da janela.,

percebemos que se trata de um evento, pois há uma mudança de estado que ocorre num intervalo de tempo. Porém nenhuma das duas entidades envolvidas no estado de coisa –

o vento e o vidro da janela – têm poder sobre a ocorrência do estado de coisa, recebendo o

traço [- CONTROLADORA].

Nos estados [- CONTROLADO] se há uma única entidade participante, esta recebe uma propriedade não dinâmica e, se há duas entidades, uma consiste na localização da outra.

No caso dos processos [- CONTROLADO], os participantes são uma entidade que é origem ou objeto do fazer ou uma entidade de um fazer específico e uma entidade objeto deste fazer.

Já nos eventos [- CONTROLADO], os participantes são uma entidade que é origem ou objeto da mudança de estado ou lugar ou uma entidade que é origem da mudança de estado ou lugar e uma entidade que é objeto de tal mudança.

As autoras tratam o predicador como um núcleo que serve de base para a organização da predicação, pois é em torno deste núcleo que a predicação é organizada. Assim, elas abordam também o número de argumentos selecionados pelo predicador e a relação semântica destes argumentos com seu predicador.

Cada predicador exige obrigatoriamente um número de argumentos:

(39) O Luís está doente.

(41) O Luís ofereceu um disco ao amigo.

Mateus at al. afirmam que o predicador de (39) seleciona apenas um argumento, o de (40) seleciona dois argumentos e o de (41) seleciona três argumentos. Os predicadores destes tipos são chamados respectivamente de predicadores de um lugar, predicadores de dois

lugares e predicadores de três lugares.

Observamos que em (40) o predicador achar seleciona como um argumento toda a oração é melhor o doente ser internado.

Segundo as mesmas autoras um argumento pode ter diversas relações com seu predicador. Estas funções são chamadas funções semânticas. Em (39) o predicador de estado seleciona o argumento O Luís que consiste na entidade à qual foi atribuída uma propriedade não dinâmica. Este argumento tem a função semântica de PACIENTE.

Em (40) temos um argumento – O Luís – que consiste na entidade controladora do estado de coisa, ou seja, o AGENTE. Temos também um outro argumento – é melhor o

doente ser internado – que consiste na entidade que é resultante de uma propriedade expressa

por um evento, ou seja, o OBJETO.

Já em (41) o argumento ao amigo designa a entidade que teve algo transferido para si, literalmente ou não, ou seja, o RECIPIENTE.

As mesmas autoras ressaltam que verbos de atividade mental como concluir, deduzir,

inferir – e entre estes verbos podemos incluir achar – são predicadores agentivos. Além disso,

afirmam que predicadores de estado que permitem argumentos [- HUMANO], como aqueles cujo único argumento é uma frase, como o caso de parecer, nunca ocorrem nas descrições de estado [+ CONTROLADO].

Para Borba (1990), em seu “Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do Brasil”, os verbos que selecionam argumentos podem ser de quatro tipos: de ação se apresentarem sujeito (argumento externo) ativo; de processo se selecionar sujeito afetado; de ação-processo se o sujeito for ativo ou causativo, necessitando de um argumento interno que será afetado, e de estado, se o sujeito não for ativo, causativo ou afetado.

Consideraremos que o sujeito agente é o que consiste na origem e no controlador da atividade expressa pelo verbo, o qual deve exigir ao menos um argumento, podendo ter outros como complementos ou especificadores. Estes não sofrem modificações de nenhuma espécie, já aqueles são atingidos pela ação verbal. Neste caso o sujeito tem sempre o traço [+ animado].

Os verbos caracterizados como sendo de processo, além de terem um argumento obrigatório, podem ter também um argumento optativo. Eles são elementos nucleares das orações que trazem um acontecimento ou um evento. O sujeito afetado é um sujeito paciente,

experimentador ou beneficiário da ação verbal. No caso do experimentador, tem-se uma

experiência ligada à cognição, ou seja, a uma sensação, emoção, etc. Já o beneficiário é aquele que funciona como recebedor do benefício ou foco da transferência da posse.

Ainda de acordo com Borba (1990), se um verbo possui, obrigatoriamente, dois argumentos, sendo um o agente/causativo e o outro o afetado/afetuado, este é de ação-

processo. O sujeito causativo vai ser o que causa o estado de coisa que o verbo expressa, o

causador do efeito. O desempenho deste sujeito que é responsável pela existência, mudança de estado, posição ou condição do argumento interno.

Os verbos de estado se destacam por possuírem um argumento externo obrigatório que não é agente, causativo ou paciente, ou seja, o sujeito é inativo. Estes verbos apenas ligam o sujeito ao núcleo do predicativo e, se expressarem estado/condição por meio de um núcleo verbal, não precisam ter complementos, podem ter especificadores, predicativo, complemento adverbial ou ter um ou dois argumentos.

A partir dos esclarecimentos acima descreveremos primeiramente os tipos de achar e em seguida os tipos de parecer que foram encontrados em amostras da fala de Minas Gerais. Demonstraremos que os contextos em que encontramos estes verbos têm sido diferenciados, pois apresentam propriedades estruturais diferentes.

No documento alicequeirozfrascarolli (páginas 65-70)

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