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4 O ESPAÇO URBANO DE ARACATI NO CONTEXTO SOCIOECO-

4.2 Aspectos da economia local

4.2.1 A carcinicultura em Aracati

De acordo com Aquasis (2003) o cultivo do camarão marinho ou a carcinicultura no Brasil teve inicio na década de 1970 e passou por três etapas de desenvolvimento, sendo que a primeira foi pioneira e experimental, começou na década de 1970, período em que foram feitas experiências com espécies nativas e exóticas para subsidiar o crescimento dessa atividade. Entretanto, estas tentativas apresentaram-se inviáveis economicamente, desestimulando investimentos e o desenvolvimento deste setor.

A segunda etapa começou em 1993, com a ampliação do cultivo da espécie exótica Litopenaeus vannamei, que apresentava alta capacidade de adaptação a variadas condições de cultivo e transformou-se na principal espécie da carcinicultura brasileira. Houve aprimoramento na qualidade das rações balanceadas que favoreceu o aumento da produtividade dos empreendimentos nacionais através do uso das bandejas-comedouros que possibilitou a diminuição dos custos de produção, contribuindo para a melhoria das condições físico-químicas da água de cultivo.

A terceira etapa iniciou-se na virada do século, desencadeada pelos seguintes fatores: domínio da tecnologia de reprodução e engorda; a autossuficiência na produção de pós-larvas; o aumento na oferta de rações de qualidade; o despertar do setor produtivo para a importância da qualidade do produto final e da manutenção da qualidade ambiental do entorno.

Aquasis (2003) salienta ainda, que a produção brasileira do camarão marinho cresceu nos últimos anos, saltando de 2.385 toneladas produzidas em 1994, para 25.000 toneladas no ano 2000, em uma área cultivada de 6.000 hectares. O Nordeste brasileiro teria aproximadamente 90,6% da área em produção de cultivo do camarão marinho e 94% da produção brasileira. O estado do Ceará, a partir de 2001, teria passado para a primeira posição no ranking nacional de produção de camarão em cativeiro, com cerca de 11.300 toneladas, à frente do Rio Grande do Norte (9.061 toneladas) e da Bahia (6.840 toneladas), o segundo e terceiro produtores nacionais, respectivamente.

A carcinicultura no Brasil se desenvolveu em áreas de manguezais que de acordo com Meireles (2005) antes eram consideradas “terras baldias”, local onde se desenvolvia a pesca artesanal e mariscagem. Esse espaço vem sendo utilizado para fins de exploração econômica no país desde a década de 1970 e vem gerando vários conflitos sociais ao longo da costa brasileira.

A carcinicultura teve início em Aracati entre os anos de 1997 e 1998, tendo um crescimento acentuado na produção entre os anos de 2003 e 2004. Esta atividade do setor do agronegócio desencadeou na cidade toda uma cadeia produtiva que estimulou o aumento nas taxas de empregos, contribuiu para o aumento da população e para uma significativa melhoria na infraestrutura urbana, com a construção de estradas que davam acesso as áreas de cultivo. Além disso, incentivou a promoção de cursos profissionalizantes na área de aquicultura, com a parceria dos governos estadual e federal, ministrados no CVT (Centro Vocacional Tecnológico) para qualificação da mão de obra local.

O município de Aracati além de concentrar a maior quantidade de produtores (havia 63 produtores em 2004), utiliza a maior área (1.182,5 ha em 2004) e obteve a maior produção nos anos de 2003 e 2004, com um total de 9.352 e 5.898 toneladas nos respectivamente (o que representa 36% e 30% do total da produção do Estado nestes anos) (FIGUEREDO JÚNIOR; SILVA; KHAN, 2006).

Aracati possuía, até o ano de 2004, 77 empreendimentos voltados para esse tipo de produção, conforme Meireles; Silva; Moraes, (2005, p.139), concentrando 31% dos empreendimentos desse setor no Ceará. Atualmente a cidade conta com 50 empreendimentos voltados para a carcinicultura, que totalizam uma área de cultivo de 1.730,9 ha, (ACCC, 2009). De acordo com o Diretor Técnico da Associação Cearense de Criadores de Camarão – ACCC, “a atividade gera 1,06 empregos diretos por ha, quando colocamos a produção de larvas, engorda, beneficiamento (atividades laborais são desenvolvida no município de

Aracati) e 1,80 empregos indiretos” (ver anexo a lista de empreendimentos da carcinicultura em Aracati).

A maior empresa desse ramo gerou cerca de 1.600 empregos diretos e mais de 400 empregos temporários (principalmente no período da despesca do camarão) entre os anos de 2000 a 2004, nos setores de beneficiamento, produção e na logística da carcinicultura, dinamizando a economia local. Na cidade de Aracati se localiza a sede da empresa X que é a maior exportadora de camarão cultivado no Estado do Ceará, atingindo 14% do valor total exportado, que em 2004 foi de aproximadamente US$ 65,0 milhões (SECEX, 2005). Esta empresa gerou um monopólio na produção do camarão na região, estabelecendo a seguinte parceria com os pequenos produtores: a empresa X fornece insumos necessários à produção (pós-larvas, ração, produtos químicos, assistência técnica, despesca, etc.) enquanto que o pequeno produtor deve garantir a venda de sua produção à empresa, mediante um preço pré- estabelecido (ARAÚJO; CAMPOS: FEITOSA, 2008).

De acordo com Rodrigues (2007, p.62) que desenvolveu um trabalho sobre os conflitos sociais da carcinicultura em Aracati, “a cadeia produtiva do agronegócio da carcinicultura está dividida em duas etapas: a produção e a venda. A produção está subdividida em três etapas: a larvicultura, a engorda e o beneficiamento”.

O cultivo das larvas ou larvicultura consiste na primeira etapa do processo produtivo, nesta fase ocorre à produção de pós-larvas em laboratórios, por meio de “cruzamentos entre matrizes e reprodutores, originando os naúplios”, que são alimentados com ração especial até atingirem a fase de serem vendidos para as fazendas de engorda (RODRIGUES, 2007).

Em Aracati, foi instalado pela Empresa X em 2001, no bairro Alto da Cheia, um moderno laboratório que manipulava geneticamente as espécies exóticas destinadas à produção, com o apoio científico e tecnológico do CENTEC, LABOMAR e também com o auxílio de equipamentos de tecnologia japonesa. Neste laboratório a mão de obra era altamente qualificada ou passava por um processo de treinamento específico em aquicultura para o correto monitoramento das pós-larvas.

No processo de engorda, que constitui a segunda fase da produção, as pós-larvas são inseridas em tanques, onde são fornecidos alimentos, equipamentos como aereadores e acompanhamento especializado de técnicos em aquicultura, até as larvas atingirem as medidas adequadas para a comercialização. As larvas permanecem um período de três meses nos

tanques de engorda. A fase da engorda é concluída com a despesca, quando o produto apresenta o tamanho necessário para a comercialização.

A despesca ocorre durante a noite, sob a luz da Lua, quando os camarões sobem para as proximidades da superfície do espelho d’água. Os viveiros são parcialmente drenados e os camarões são retirados por meio de uma rede. Em seguida são acomodados em depósitos de fibra de vidro e submersos em uma solução de gelo, água e metabissulfito. O gelo e a água matam os camarões por choque térmico e o metabissulfito age como conservante, impedindo que surjam manchas pretas nas carapaças dos camarões (RODRIGUES, 2007, p.76).

Os tanques possuem comportas que estão conectados ao canal de maré e armazenam água do rio Jaguaribe, quando esta não é mais adequada para a reprodução dos camarões, são novamente lançadas no curso fluvial, por meio das gamboas e dos canais de marés, cheias de matéria orgânica, impurezas e de produtos químicos.

A terceira e última etapa do processo produtivo é o beneficiamento, onde os camarões são transportados para uma unidade de beneficiamento, os quais serão submetidos a testes que visam o controle de qualidade do produto, como peso, tamanho, aspecto visual, ou seja, se há ou não manchas no produto. Concluídos os testes e comprovada a qualidade do camarão, o produto segue para exportação.