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Iniciativas de Educação Ambiental da Secretaria de Educação

7 SUGESTÕES DE AÇÕES INTEGRADAS PARA O PLANEJAMENTO E

7.3 Iniciativas de Educação Ambiental da Secretaria de Educação

O ano de criação do Projeto Circo Zumbi em Aracati ocorreu em 1997. Ele teve início com um projeto que visava à inserção sociocultural das crianças e jovens por meio do teatro, dança, música e acrobacias. Este projeto foi financiado por uma ONG holandesa.

Em seguida, com a obtenção de resultados positivos na vida e mudança de comportamento de crianças, jovens e adolescentes, este projeto foi acolhido pela Secretaria Municipal de Educação. O diferencial do programa Zumbi é que “ele consegue mesclar a educação e a arte, através de várias vertentes patrimonial, ambiental, incentivo à leitura, ao teatro e à dança. É a ferramenta principal para o desenvolvimento da educação do nosso cotidiano”, afirmou o coordenador do projeto.

Em entrevista aos coordenadores de projetos de Educação Ambiental da Secretaria de Educação do Município18, perguntou-se se existia algum projeto de educação na cidade que priorizasse o rio Jaguaribe. Os coordenadores do Projeto Circo Zumbi comentaram sobre os trabalhos desenvolvidos nas escolas voltados para a temática ambiental.

Em 2004 dentro do projeto Circo Zumbi, foi elaborado um plano de ação voltado para a Educação Ambiental, para conscientizar e incentivar as crianças a valorizarem o rio Jaguaribe, através do contato direto com o ecossistema por meio das aulas de campo, mapeamento de áreas estratégicas como o mangue no Cumbe, a poluição nas margens do rio através do lixo, esgotos. As crianças são levadas para visitar e verificar áreas de desmatamento de mangues, o lixão da cidade, APA de Canoa Quebrada. São atividades diversificadas e elas são incentivadas a verificar a realidade local, onde é realizada de fato a educação ambiental. O processo criativo e lúdico facilita a aprendizagem, por meio da interpretação de personagens e apresentações teatrais. Arte é a chave mestre do programa zumbi, a arte articulada com a realidade.

Na concepção do coordenador do projeto de Educação Ambiental, a faixa etária ideal para ser trabalhada a questão da Educação Ambiental nas escolas públicas da cidade é “a partir dos oito anos de idade que a criança consegue compreender a realidade e identificar a degradação do meio ambiente”. Trata-se de iniciativas que preparam as crianças e jovens para uma relação mais harmoniosa e responsável com a natureza da qual fazem parte. Há todo um planejamento e preparação do grupo gestor das escolas antes de se conduzir as crianças para a aula ou trabalho de campo. No entanto, esta atividade é introduzida nas escolas, ou seja, a maioria das escolas só trabalha a temática ambiental, durante a Semana do Meio Ambiente ou de forma isolada nas disciplinas de Biologia, Geografia e Ciências, de acordo com dados do responsável pelo projeto de Educação Ambiental no município. Assim, ele descreve como ocorre a preparação das escolas para a execução do projeto:

O objetivo maior é aprendizagem de uma maneira experienciada, mais lúdica com a realidade. É criado um calendário mensal, em que são feitas reuniões com os coordenadores do projeto de Educação Ambiental para planejar qual escola será trabalhada naquele mês, são escolhidos os destinos e a temática ambiental a ser desenvolvida na escola. Depois, esse calendário prévio é apresentado à direção da escola que pode alterar e participar do roteiro onde será analisado o que se deve apresentar às crianças. Em seguida, são definidas quantas turmas serão levadas por dia, contanto que ao longo da semana todos os estudantes tenham acesso ao mesmo roteiro. Depois de todo o trabalho concluído, os organizadores se

18 Entrevistados: Alexandro Monteiro da Silva - coordenador do circo Zumbi e do projeto de Educação

Ambiental; Jucieldo Diogo de Freitas integrantes do Projeto Zumbi de incentivo à leitura; Renildo Franco da Silva coordenador geral do programa Zumbi.

reúnem para avaliar todo o trabalho desenvolvido e iniciar uma nova etapa em outra escola.

Para os representantes dos setores de meio ambiente, educação e gestão ambiental, a Educação Ambiental deve prepara as gerações futuras, mas não se questionam as causas das atuais degradações presentes na cidade. Fica evidente que o papel de educar o cidadão ambientalmente é responsabilidade apenas das escolas, por meio de visitas, oficinas e palestras relacionadas ao tema.

7.3.1 O Projeto Filhos do Mangue

Outra iniciativa de Educação Ambiental que prioriza o ecossistema do rio Jaguaribe é Projeto Filhos do Mangue, que consiste num grupo formado por 15 jovens residentes em Aracati que utilizavam o rio Jaguaribe para o lazer nos fins de semana. Eles se incomodaram com a questão do excesso do lixo no local de lazer. No início do ano de 2006, eles se reuniram e tomaram uma iniciativa em relação a essa problemática, surgindo dessa forma o Projeto Filhos do Mangue.

A princípio, o grupo se reunia para fazer um trabalho voluntário de coleta de lixo no manguezal. Mas, em seguida, o coordenador do grupo procurou buscar informações sobre o ecossistema manguezal do rio Jaguaribe e começou a fazer palestras nas escolas de ensino público, sempre com alguma temática relacionada ao rio, destacando a questão dos impactos socioambientais e conduzindo os jovens a perceber a importância histórica do rio e valorizá- lo. Após as palestras era comum conduzir estudantes e professores para uma trilha pelo manguezal. No final da trilha, era realizado um trabalho voluntário de limpeza e recolhimento de lixo no mangue.

De acordo com o coordenador do grupo após um ano de trabalho voluntário, incluindo palestras e caminhadas pelas trilhas no manguezal, algumas mudanças foram percebidas na juventude e foi semeada uma proposta de Educação Ambiental contextualizada com a problemática local.

As mudanças foram perceptíveis de forma tímida, não houve um envolvimento efetivo das pessoas com o projeto, muitos alunos percebem o rio, a importância dele, sabem o que é uma APP, mas por serem jovens não se envolvem, eles tem o conhecimento da problemática, há uma conscientização, reflexão da problemática que podem vir no futuro a virar uma cobrança deles de medidas por parte das autoridades locais. Foi significativa essa experiência porque muitos estudantes e professores não conheciam o rio presente a poucos metros do centro da cidade e que foi de grande importância histórica e econômica para o desenvolvimento da cidade. Hoje em dia eles valorizam mais e não poluem o rio como faziam

antigamente, a semente da educação foi lançada.

Para as escolas é fundamental que desde cedo as crianças sejam preparadas para ter uma consciência crítica, vivenciando valores como o respeito ao próximo e a conservação da biodiversidade e a preservação das tradições populares. Isso se dá através prática da Educação Ambiental que envolva o estudante no contexto social, cultural e econômico no qual ele está inserido.

Mas, também, é preciso se trabalhar com o restante da população que não dispõem dessas informações, por meio de divulgação de informações sobre o patrimônio ambiental, histórico e cultural da cidade, nas rádios, jornais e TV local. Trabalho de educação junto às lideranças comunitárias e campanhas de incentivo à coleta seletiva e reciclagem do lixo; placas de advertência nas praias e nos trechos do rio utilizados para o lazer, a fim de inibir práticas de desrespeito à natureza, assim como o maior envolvimento da sociedade com a preservação da biodiversidade, com o intuito de se alcançar uma sociedade mais consciente, comprometida e saudável, com qualidade de vida para todas as classes sociais.

A líder comunitária do bairro Pedregal explicou que o trabalho de educação nas escolas seria uma sugestão para preparar agentes sociais críticos e mais envolvidos na problemática ambiental da cidade. Ela enfatiza que é difícil para a sociedade atual internalizar a necessidade de se cuidar do patrimônio natural, pois trata-se de uma consciência nova para a sociedade, que herdaram dos seus antecessores a idéia de natureza infinita e de recursos naturais inesgotáveis.

No Brasil e no Ceará todo tem uma iniciativa muito boa de trabalho de conscientização a partir das escolas com as crianças. Parece que está um pouco cristalizado nos adultos que esse cuidado foi assim que eu aprendi com os meus pais, então vou continuar queimando os roçados e não trabalhando de uma forma mais consciente. Eu penso que a conscientização nas escolas a partir das crianças, dos jovens como já vem sendo feito em várias atividades de mutirões, acredito que a gente vai tomando consciência disso, porque eu acho que o tempo já ta passando e a gente está muito

atrasado nisso. Os índios, apesar da discriminação e de chamarem eles de selvagens, eles dão muitas lições de vida pra gente em relação ao meio ambiente, chamando a terra de mãe. Falta resgatar nas pessoas esse cuidado da terra como mãe, como provedora de vida, eu acho que isso tem que partir das crianças porque nos adultos isso é mais difícil.

Diante disso, corrobora-se com Reigota (2004) ao analisar a Educação Ambiental não apenas como um conjunto de metodologias a serem utilizadas no espaço escolar ou acadêmico.

A Educação Ambiental envolve uma reflexão abrangente sobre as questões ambientais mundiais oriundas das externalidades do sistema capitalista, que só se preocupa com a produção, circulação, consumo e o lucro gerado pelos diversos produtos em escala planetária. A Educação ambiental analisa as contradições políticas, econômicas e percebe o que está por detrás dos discursos de preservação ambiental, amplamente divulgado pela mídia.

A Educação Ambiental deve ser realizada para incentivar a sociedade a exercer uma maior participação na vida política e no contexto específico de cada realidade e convida- nos a uma mudança de postura em relação a nós mesmos, a natureza e as pessoas que nos rodeiam, através do respeito e cuidado e uso sustentável dos recursos naturais (REIGOTA, 2004).

7.4 Sugestões de medidas mitigadoras para os impactos socioambientais na cidade de