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Alternativas para a redução dos impactos socioambientais no rio Jaguaribe

7 SUGESTÕES DE AÇÕES INTEGRADAS PARA O PLANEJAMENTO E

7.1 Alternativas para a redução dos impactos socioambientais no rio Jaguaribe

O coordenador do projeto Filhos do Mangue apresenta como sugestão para minimização dos impactos a educação ambiental, o envolvimento individual e coletivo para que a sociedade reconheça a importância histórica e cultural do rio e maior participação, por parte da população, nas decisões políticas e administrativas da cidade. Segundo o coordenador do projeto

Duas ações são fundamentais: a individual e a coletiva. Individual é o cuidado que a pessoa tem que ter com o rio. Coletivo é a ação do próprio povo para cobrar e exigir a aplicação das leis por parte dos governantes. A partir do momento que a sociedade valoriza o rio, ela cobra ações mais

concretas dos governantes para preservá-lo. A educação ambiental é

fundamental para isso.

É imprescindível a participação popular na gestão urbana do Aracati, como define a Lei nº 001/09 de 26 de novembro de 2009 que instituiu o Plano Diretor Participativo do Município de Aracati (PDP), onde no Artigo 3º foram apresentados os princípios fundamentais da política urbana em que

§ 4º - A gestão da cidade será democrática, incorporando a participação dos diferentes segmentos da sociedade em sua formulação, execução e acompanhamento, garantindo: I – a participação popular e a descentralização das ações e processos de tomada de

decisões públicas em assuntos de interesses sociais;

II – a participação popular nas definições de investimentos do orçamento público; III – o acesso público e irrestrito às informações e análises referentes à política urbana;

descentralização das ações e processos de tomada de decisões públicas em assuntos de interesses sociais;

IV – a capacitação dos atores sociais para a participação no planejamento e gestão da cidade;

V – a participação popular na formulação, implementação, monitoramento, avaliação e revisão da política urbana (PDP Aracati, 2009).

Assim é essencial que estes princípios sejam de fato executados pelos atuais gestores municipais para que a gestão seja democrática e atenda aos interesses de toda a sociedade, principalmente dos grupos sociais que sofrem injustiça e vulnerabilidade socioambientais, como as comunidades tradicionais inseridas no Cumbe e nos bairros do Pedregal, Farias Brito, Fátima e na área do Dique.

É fundamental a união das esferas públicas no âmbito municipal, estadual e federal com o intuito de viabilizar estratégias para uma melhor gestão do território. Portanto, devem ser respeitados os limites ambientais das APP’s para que a ocupação destas áreas não seja efetivada. É preciso também se concretizar melhorias no saneamento básico e que o desmatamento, em especial a destruição da mata ciliar seja fiscalizado, aplicando a legislação de modo eficaz na punição dos responsáveis.

Desta forma, corrobora-se com o líder comunitário do Cumbe a necessidade da união das esferas públicas em prol da valorização do rio Jaguaribe e da gestão ambiental da área urbana com uma melhoria na disposição final do lixo, no saneamento básico e na implementação de campanhas educativas junto à população.

Unir as esferas municipais, estaduais e federais para revitalizar o rio Jaguaribe, campanhas de coleta de lixo, a construção de um aterro sanitário, saneamento básico, campanhas educativas junto às comunidades ribeirinhas da importância do ecossistema fluvial, políticas públicas para o meio ambiente. Que o título de Selo Verde permita a viabilização dessas políticas, mobilização da sociedade para a preservação deste ambiente. As interferências na natureza pelo ser humano são irreversíveis e cabe a sociedade assumir as consequências, afirmou o Líder Comunitário do

Cumbe.

A Presidente da Câmara Municipal de Vereadores apresentou como alternativas “realizar parceria entre o Governo do Estado e do município para elaboração de políticas públicas voltadas para a preservação ambiental, criação de uma estação ambiental, projeto de incentivo à produção do pescado (crustáceo e ostra) e de recuperação das áreas desmatadas”.

O representante dos catadores de caranguejo do Cumbe, afirmou que é necessário retirar os moradores do dique e impedir o lançamento de resíduos químicos da carcinicultura na localidade do Sítio Cumbe. Em suas palavras:

Eu acho que o principal é tirar o pessoal dali, o pessoal não tem consciência não (moradores do dique), tem que tirar eles de lá, deixar de jogar água poluída da carcinicultura. Falta educação ambiental, eu vejo eles

(moradores do dique)17 tomando banho, pescando e eles mesmos poluindo.

Eles deveriam deixar de jogar lixo no rio.

Para a marisqueira do Cumbe o fundamental é ter cuidado com o lixo e o esgoto. Além disso, ela faz um apelo para ter de volta o acesso a sua área de trabalho e prática cultural: “não deixar botar esgoto e nem lixo pra dento do rio, pra não poluir o rio e fazer mal pra gente. Queria que abrisse o nosso caminho do mangue e do cemitério pra nós poder trabalhar e visita o cemitério no dia das mães e dos finados”.

Sobre o acesso ao cemitério da localidade há no PDP (001/09) de Aracati, no Artigo 30, que trata das ações prioritárias pactuadas com a sociedade para a área de infraestrutura, a resolução nº XV determina que se deve – “garantir o livre acesso ao cemitério do Cumbe”. Porém, esta determinação não é reconhecida pelas próprias autoridades municipais que negligenciam este direito da comunidade do Cumbe.

Os principais impactos socioambientais da carcinicultura no Sítio Cumbe podem ser reduzidos através da adoção das recomendações técnicas apresentadas pelo Grupo de

Trabalho da Carcinicultura (TELES, 2005, p.74-76) à Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Sendo que para cada impacto identificado pelo Grupo de Trabalho da carcinicultura no litoral cearense foi apresentada uma proposta de ação para minimizá-lo, com o envolvimento de órgãos ambientais (das três esferas municipal, estadual e federal), sociedade civil, instituições de ensino superior, ONGs e comunidades de pescadores envolvidos.

Desta forma os principais impactos da carcinicultura no Cumbe foram identificados pelo:

a) Soterramento das gamboas e canais de maré, uma das medidas para minimizar este impacto seria restabelecer as trocas laterais com a hidrodinâmica estuarina, com o lençol freático e com o fluxo fluvial através de ações integradas com os órgãos ambientais, Universidades, ONG’s e comunidades tradicionais. Aplicar as compensações ambientais e multas na recuperação de áreas degradadas. Não aprovar licenças ambientais e o financiamento de empreendimentos que ocupem setores vinculados diretamente com a produção e disseminação de nutrientes para o ecossistema manguezal;

b) Contaminação da água por efluentes dos viveiros e das fazendas de larva e pós- larva: interditar os empreendimentos que não contam com um sistema integrado (lagoas de sedimentação, monitoramento e gestão) de tratamento de efluentes. Constituir e incentivar comitês locais de fiscalização e acompanhamento das atividades de implantação, monitoramento e gestão do sistema de tratamento de efluentes;

c) Salinização do aquífero: evitar a impermeabilização do solo e de áreas de recarga em extensas áreas de forma contínua. Não implantação de canais de adução de água marinha sobre ambiente tipicamente de água doce. Monitoramento do regime de fluxo, da qualidade e volume de água armazenada no aquífero direta e indiretamente associado às fazendas de camarão;

d) Redução de habitat de numerosas espécies e diminuição da biodiversidade: quantificar de forma integrada os impactos que levaram à fragmentação de habitat e consequente diminuição da biodiversidade (fauna, flora, diversidade de habitat e de unidades ambientais). Efetivar a preservação do ecossistema

manguezal, da mata ciliar e do carnaubal e implantar programas para a caracterização, monitoramento e gestão de corredores ecológicos;

e) Utilização de metabissulfito: verificar as normas e os procedimentos técnicos de modo a não expor os trabalhadores, os ecossistemas, o solo e os recursos hídricos às descargas de soluções de metabissulfito utilizados na produção de camarão em cativeiro. Vincular as fases de licenciamento a um programa de saúde do trabalhador de modo a evitar doenças respiratórias, de pele e óbitos já registrados.

f) Expulsão de marisqueiras, pescadores e catadores de caranguejo de suas áreas de trabalho: estimular programas de financiamento de projetos para o fortalecimento dos movimentos sociais vinculados às associações comunitárias, aos sindicatos e fóruns de pescadores, pescadoras e marisqueiras, aos fóruns em defesa da zona costeira, de ambientalistas e às redes de educação ambiental, para uma ação conjunta, articulada e ampliada. Fiscalização e gestão dos conflitos desencadeados pelas fazendas de camarão em áreas tradicionalmente utilizadas para a subsistência das comunidades tradicionais.

Segundo o Secretário Municipal de Infraestrutura, uma “fiscalização mais ostensiva por parte da prefeitura, da SEMACE e do IBAMA para coibir as ocupações desordenadas nas margens” seria uma das soluções para o caso da ocupação desordenada e para a degradação do rio Jaguaribe na zona urbana do Aracati.

Já o Secretário Municipal de Agricultura e Pesca explica que para reduzir os índices de degradação “ter consciência é o primeiro passo e em segundo, a participação dos órgãos estaduais, federais e municipais”. Não ficou clara a questão da participação da sociedade. Como se pode perceber, a problemática ambiental é vista pelas autoridades públicas municipais como uma responsabilidade dos órgãos ambientais e não há uma visão integrada desta questão.

Para o Coordenador de Suporte Técnico da CAGECE, são alternativas para se reduzir os impactos no rio o “tratamento preliminar das águas residuárias dos viveiros quando da despesca, retirada das famílias dos locais ribeirinhos, implantação de um programa de educação ambiental para a população em geral”.

A representante do IBAMA explica que as principais medidas para a contenção da degradação na área em estudo seriam: “reduzir os índices de ocupação nas margens do rio, educação ambiental, cumprimento da legislação ambiental, aplicá-la multando não só o pequeno infrator, mas também os grandes empreendedores, enquadrando também os técnicos que elaboraram o projeto de impacto ambiental”.

A Secretária de Turismo, Cultura e Meio Ambiente explicou que não se responsabiliza pela concessão de licenças para a implantação de projetos ou empreendimentos econômicos na cidade. Bem como ressaltou a execução de trabalhos direcionados para preservação do meio ambiente no ano de 2008 e apresentou outras medidas para melhorar a relação entre a sociedade e o ambiente fluvial.

Não se dá anuência ambiental para a construção de residências pela Secretaria de Turismo e Meio Ambiente. Os projetos de recuperação da mata ciliar, de educação ambiental, reflorestamento foram executados no ano passado com a SEMACE, em parceria com as escolas públicas. Seminários e palestras de educação ambiental são realizados durante as regatas. Pretende-se fazer este ano uma regata ecológica, onde o pescador que coletar mais lixo do rio Jaguaribe pode ser o campeão da competição. Solicitar a implantação de uma unidade de conservação em nível Estadual. Sensibilizar as comunidades ribeirinhas, dar condições de vida e moradia as pessoas que habitam nas margens do rio, reduzirá os índices de poluição, trabalho de educação ambiental constante com os pescadores que lançam redes, cordões de nylon, óleo e graxas no rio, (Secretária Municipal De

Turismo, Cultura e Meio Ambiente).

Se há ou não conivência da Secretaria de Turismo, Cultura e Meio Ambiente com a concessão de licenças para a instalação de empreendimentos econômicos nas APP’s em Aracati, isto não vem ao caso. O que fica evidente é que áreas de valor paisagístico e cênico estão sendo constantemente degradadas, comprometendo o equilíbrio do sistema fluviomarinho e o desenvolvimento do turismo, principalmente no Sítio Cumbe. O quadro 8 apresenta a síntese das principais sugestões dos agentes sociopolíticos para a redução dos impactos socioambientais no Jaguaribe.

Quadro 8 – Sugestões para mitigação dos impactos apresentadas pelos agentes sociopolíticos

do Aracati

Síntese das sugestões para a redução dos impactos socioambientais no rio Jaguaribe

Redução das ocupações nas APP’s e aplicação da legislação ambiental 31%

Educação Ambiental 23%

Fiscalização e integração dos órgãos ambientais federal, estadual e municipal 23% Educação ambiental, criação de uma Unidade de Conservação e reflorestamento 15% Melhorar a infraestrutura urbana, serviços de saneamento e integração das esferas públicas e sociais

para a preservação do meio ambiente 8%

Total 100%

Fonte: VERAS, 2010.

7.2 Alternativas para a redução dos impactos socioambientais apresentadas pelos