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Capítulo 2: Crônica e literatura de viagem

2.4 A carteira do meu tio nas páginas de A Marmota da Corte

No final da década de 1820, Paula Brito foi contratado pelo Jornal do

Commercio, dirigido por Plancher, no qual assumiu, inicialmente, a tarefa de

compositor tipográfico. Em 1832, fundou sua própria tipografia, além dos livros, Brito dedicou-se à publicação de periódicos satíricos como A mulher do Simplício ou A

fluminense exaltada, entre outros títulos de igual importância163. Mas, talvez, as folhas de maior sucesso no século XIX tenham sido “as Marmotas”: de 1849 a 1852,

A Marmota da Corte; de 1852 a 1857, a Marmota Fluminense e entre 1857 a 1864, A Marmota. Até 1861, ano da morte de Paula Brito, o periódico era editado às terças e

às sextas-feiras. Entre 1861 e 1864, sua publicação se deu de forma irregular.

acontecimentos e personagens, não pode dizer tudo sobre esse mundo. Alude a ele e pede ao leitor que preencha toda uma série de lacunas. Afinal, todo texto é uma máquina preguiçosa pedindo ao leitor que faça uma parte de seu trabalho. Esse leitor-modelo é alcançado por meio da análise minuciosa do vocabulário, das relações intertextuais e da própria estrutura sintática da obra. Desse modo, nos propomos a investigar as estratégias linguístico-literárias utilizadas por Joaquim Manuel de Macedo em A Semana e A carteira do meu tio a fim de construir o leitor- modelo por ele pensado.

162

MASCARENHAS, Nelson Lage. Um jornalista no Império. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1961, p.282.

163

Em 1833, Paula Brito lançou O homem de cor, A mineira do Rio de Janeiro, O limão de cheiro, O

O jornal de Paula Brito privilegiou a publicação de folhetins, artigos sobre moda, partituras musicais, muitas charadas e poemas, mas não deixou de lado as discussões políticas, no entanto estas apareciam nas entrelinhas, escritas para um público leigo, menos politizado, diferente dos leitores do Jornal do Commercio, definido por Brito como o “Gigante do Rio”164

.

A Marmota desde seu início buscou servir ao desenvolvimento da pátria, através da formação moral de seus leitores. O objetivo da folha era instruir divertindo a mocidade, ou seja, jovens estudantes e moças cujos valores apreendidos deveriam ser o da fé católica, da família burguesa, do cumprimento das leis do Estado e da veneração ao imperador D. Pedro II. Em seu primeiro número, em 1849, Próspero Diniz – redator à época – assinalou aos leitores as intenções do novo periódico:

[...]. Esta folha há de ser um guisadinho saboroso, e bem temperado por tal forma que faça os leitores ou convidados dela lamberem os beiços, e pedirem repetição da dose: há de ser um pudim de coisas boas; há de levar o leite de verdade, o pão da religião, os ovos da pilherias, o cedrão da lei, as passas das poesias, a noz moscada da crítica, e por fim, a canela da decência para aromatizar o paladar das famílias, e dar uma vista agradável ao bolo. Ora pois, abram a boca e fechem os olhos para chuparem o petisco!165

A analogia com os ingredientes de uma receita de bolo, feita pelo redator, sinaliza a qual público o periódico pretendia atingir, uma vez que se trata de uma referência ao universo feminino, mais familiarizado com ingredientes e procedimentos culinários. Entretanto, ao continuar a apresentação da folha, Próspero Diniz clamava que a “rapaziada” contribuísse com temas e informações interessantes:

[...] Enquanto não estou bem familiarizado com as moléstias do país, rogo à bela rapaziada desta cidade (que bastante viveza tem) que me remetam à tipografia notícias interessantes que eu publicarei, e basta só darem o tema que eu farei o sermão. Os que tiverem veia poética mandem todas as poesias que fizerem, ainda mesmo incorretas que eu as corrigirei, e quanto à critica suprirei a falta [...]. Rapazes, patuscos, estudantes, caixeiros, todos, todos, cheguem para mim, ajudem-me com as informações da terra que verão como o negócio toma caminho, crescete et multiplicament.166

164

MARMOTA FLUMINENSE, 20 jan.1854.

165

A MARMOTA NA CORTE, 07 set.1849.

166

A fala do editor nos remete a dois pontos importantes: primeiro, fica claro o perfil de leitor esperado pela folha: jovens rapazes e moças; segundo, a preocupação em estimular o desenvolvimento das letras no país, a partir da descoberta de novos talentos, convocando os que tivessem poemas que os enviassem à redação, pois seriam analisados e publicados pelo periódico. De fato, ao longo dos doze anos em que foram editadas “as Marmotas”, o periódico trouxe à luz textos de jovens escritores brasileiros, como Machado de Assis (no “comecinho” de sua carreira).

A folha, além de textos inéditos que depois viriam a ser editados em volume167, notabilizou-se pela reedição de obras com uma boa recepção do público168, esta estratégia, segundo Simionato, visava reduzir os custos e garantir leitores, pois afinal eram produções já conhecidas e de sucesso. Tal prática, segundo a pesquisadora, foi decisiva para a longevidade da gazeta.169

Ao continuar a apresentação das propostas d’A Marmota, o redator se dirigiu às mocinhas, garantindo a elas sua máxima atenção, pois lhes ensinaria bons modos, literatura e até como “cativar a qualquer coração por mais bronzeado”:

Façamos críticas em geral, carapuças de carregação para se venderem a quem servirem, e já não é pouco. O nosso plano é reformar abusos, recrear os leitores, e ganhar a estimação das simpáticas meninas que honrarem a Marmota com as suas mãozinhas maciais, e acetinadas [...].170

Os anúncios, máximas e charadas também teriam espaço na publicação, em geral, aparecendo na quarta e última página. Almejando servir como um instrumento de formação, a folha, em sua apresentação, não fez nenhuma referência aos temas políticos e asseverou a preocupação em se manter afastada dos partidos e das

167

Maria ou a Meninas roubadas (1852 e 1853), de Antonio Gonçalves Texeira e Sousa; A carteira do

meu tio (1855) e O forasteiro (1855), de Joaquim Manuel de Macedo; O canário, conto do Conêgo

Schmidt (1856, de Guilherme Candido Bellegarde; O prestígio da lei (1859), de Manuel de Araújo Porto-Alegre; e Queda que as mulheres têm para os tolos (1861), tradução de Machado de Assis. Cf. SIMIONATO, Juliana S. A Marmota e seu perfil editorial: contribuição para edição e estudo dos textos machadianos publicados nesse periódico (1855-1861). Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes, 2009, p.52.

168

Para citar alguns exemplos: Dores e Flores, de Augusto Emílio Zaluar; O primo da Califórnia e

Vicentina, de Joaquim Manuel de Macedo; Elogio acadêmico da Senhora D. Maria I, de José

Bonifácio Andrada e Silva. Conferir lista completa em: SIMIONATO, Juliana S. A Marmota e seu

perfil editorial: contribuição para edição e estudo dos textos machadianos publicados nesse

periódico (1855-1861). Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes, 2009, p.50-51.

169

SIMIONATO, op. cit., p.51.

170

intrigas comuns à época, ao concluir o texto inaugural com a seguinte afirmação: “[...] nos tornaremos um periódico estimado por todos sem sustentar nenhum partido nem nutrir intrigas”.171

De fato, A Marmota buscou apartar-se de discussões políticas mais acaloradas, o que não significa, necessariamente, que o tema não aparecesse nas páginas do jornal, pelo contrário, a publicação de A carteira do meu tio demonstra que havia uma preocupação de seus editores com a formação moral e política de seus leitores. Além da viagem do sobrinho, cuja política era o mote, o jornal passou, no mesmo ano, a publicar uma seção intitulada Os dous compadres, em que contava o diálogo entre dois amigos sobre os mais diversos assuntos, sendo a política um deles. Em 9 de outubro de 1855, por exemplo, os dois conversavam sobre a situação da imprensa na capital e o alcance das ideias publicadas em A

Marmota:

– [...]. Pois a Marmota não é, como qualquer outro jornal, órgão da opinião pública?

– O que diz, compadre? Órgão da opinião pública?! Pois o compadre supõe que a não ser o Jornal do Commercio, que é o quinto poder do Império, pela sua influência, pela influência de seus meios, pelos meios de sua influência, e por ser lido por sete mil assinantes, etc., etc.: haveria quem se importasse com ele, nem com o que ele diz?172

Neste trecho da conversa, o compadre reconhece o alcance, o poder e a importância do Jornal do Commercio para a formação da opinião pública. Ele a classifica com “o quinto poder do Império”. Mais adiante, o personagem caracterizou os jornalistas da época: “esses jornalistas que o compadre tem visto muitas vezes ganharem posição: são os partidos a que eles se ligam, e por amor dos quais a tudo se arriscam, que os mantêm”173

. O trecho mostra o descontentamento do redator no que tange à parcialidade dos jornalistas da corte, uma vez que, por estarem ligados aos partidos e aos grandes homens, manipulam informações, alijam-se dos temas caros ao desenvolvimento da nação e, pior, advogam em torno de causas pessoais, afinal, “mamam na teta grande da vaca gorda, e comem excelentes fatias de pão de ló do estado!”174

171

A MARMOTA NA CORTE, loc. cit.

172

MARMOTA FLUMINENSE, 09 out. 1855.

173

MARMOTA FLUMINENSE, 09 out. 1855.

174

Cinco dias depois, em 14 de outubro, o periódico elogiou A Semana, de Macedo. Na ocasião, a conversa entre os dois compadres era sobre os atos de caridade do homem público, visto que havia aqueles cuja preocupação era apresentar-se como “beneméritos da pátria e zelosos defensores da humanidade aflita”, ou seja, buscavam com sua atitude caridosa publicidade. Sobre este assunto, segundo o compadre, “[...] a judiciosa Semana do Jornal do Commercio falou com acrimonia”175

. A coluna hebdomadária de Macedo era tida como referência na formação da opinião pública, elogiada por sua sensatez e por seu tom mordaz. Em outra conversa dos amigos, o escritor da Semana é, novamente, elogiado:

– Então, Sr. compadre, continuam as novidades? – Sempre as há.

– Nem sempre; há semana quase estéreis; ao menos assim o tem dito às vezes a Semana.

– Mas nem por isso deixam elas de ser interessantes.

– Habilidade da pena, que as escreve; de nada fez Deus o homem. – E isso é o que se deve admirar num escritor jornalista.

– No escritor da Semana admira-se tudo.176

Quando o assunto era “os teatros da Corte e a produção teatral brasileira”, o editor da Marmota mostrava-se familiarizado com a discussão desse tema nos principais jornais, sendo que a Semana foi uma de suas fontes. Em 05 de maio de 1855, ao escrever sobre a popularidade que o Gymnasio Dramatico estava alcançando entre os espectadores da capital do Império, relacionou a lotação da casa à publicidade dada ao lugar pela crônica d’A Semana:

As linhas que foram escritas pelo habilíssimo e sempre engraçado escritor da Semana, consignadas no Jornal do Commercio, deram- lhe uma enchente a deixar sem bilhetes igual número de espectadores; a receita de quarta-feira, apesar de mau tempo, foi de dois terços, assistindo a elas já muitas moças e moços bonitos, como, com o espírito que lhe sobra, pediu o escritor que nos referimos.177

O redator manteve o anonimato de Macedo – mas, certamente, sabia quem escrevia a coluna –, definindo-o com um escritor hábil e engraçado. A referência à

175 Ibidem, 14 out.1855. 176 Ibidem, 16 out.1855. 177

Semana sugere que a coluna dominical era benquista entre os leitores e referência

para a formação da opinião pública na capital. Na estreia do espetáculo As mulheres

de mármore, drama francês, traduzido por Vieira Souto, a Marmota Fluminense

reproduziu o parecer do “judicioso escritor da Semana” sobre a peça178

, fato que confirma a hipótese de que as crônicas de Macedo eram insignes à época.

Em junho de 1855, um artigo na primeira página da Marmota Fluminense, discorria sobre “a moda”, mas não se tratava de um texto sobre roupas e acessórios, mas da moda que se tornava recorrente entre os meios de comunicação da época: falar mal do governo. Para o redator do jornal, aqueles que optavam pelo ataque em geral almejavam integrar o gabinete e quando estavam no poder “os que achavam tudo mau, nada fazem de bom”:

Os homens não servem para tudo; os que falam muito, chamados ao poder fazem pouco; o que ataca os desperdícios, não sabe ser econômico, o que se mostra mais liberal, quando está debaixo, torna- se aristocrata logo que se vê de cima; [...]. Para subirem dizem ao povo – é por amor de vós; quando no poder – é por amor de nós.179

Como se pode observar, o artigo era uma exegese sobre os políticos brasileiros que, em geral, ao integrarem o governo, a fim de atender demandas pessoais, abdicavam de suas opiniões mais radicais e adotavam um discurso moderado, muitas vezes conivente com os problemas agudos da nação. Apesar da importância do tema abordado, o redator mostrou-se preocupado que o artigo pudesse incomodar a tradicional leitora da Marmota, acostumada a temas mais “amenos”, por isso, justificou a decisão de trazê-lo à luz: “[...] a moda hoje é tão extravagante, que é moda escrever principiando por uma coisa e acabando por outra, como fazia sempre o falecido Marmota, e como faz o habilíssimo escritor da

Semana, no grande mundo do Jornal do Commercio, no seu ministério, da linha para

cá”180

. Ou seja, desviar-se da linha mestra do jornal, apresentar suas opiniões com independência e num texto marcado pelas constantes digressões eram características comuns às crônicas de Macedo. Mesmo assim, o redator fez questão de tranquilizar as leitoras: “se nada disso agradar às nossas leitoras, no número seguinte falaremos das modas e não do que é moda.”

178 Ibidem, 30 nov.1855. 179 Ibidem, 08 jun.1855. 180

Mas Macedo não gostou da opinião que a Marmota proferiu sobre seu estilo digressivo em comparação a um defunto e, em 17 de junho, ele fez questão de responder às criticas do jornal de Paula Brito:

Um dos órgãos da imprensa da corte (é a Sr.ª Marmota), atirando os primeiros botes de oposição ao meu ministério, declarou-me incurso em uma moda extravagante, porque, em sua opinião, as minhas semanas principiam sempre com uma coisa e acabam em outra, querendo sem dúvida significar com isso que os meus exórdios se parecem tanto com o corpo do discurso, como um ovo com um espeto. Ainda se o ataque parasse ali, bem ia o negócio; mas não: o furor oposicionista chegou a ponto de me comparar com um defunto, e de considerar o meu ministério da linha para lá!...

No que diz respeito à linha, não fez moça o golpe do adversário; porque isto de linhas é muito relativo, e cada qual sabe as linhas com que se cose. Sustento que continuo a guardar a minha oposição da linha para baixo do Jornal do Commercio; se, porém a alta redação entender que deve reformar o Jornal, e declarar que quer que suas colunas sejam diretas, e que há incompatibilidades no folhetim, desconfio que não terei dúvida em pular da linha para cima; mas há de ser um pulo dado ao meio-dia, com o sol fora e à vista de todo mundo.181

A produção hebdomadária do Jornal do Commercio tinha uma excelente recepção entre o público-leitor e, além da Marmota, outros jornais da capital foram interlocutores d’A Semana. Em muitos momentos, Macedo foi duramente criticado por suas opiniões polêmicas; além disso, o literato escrevia sobre diferentes assuntos, tornando-se uma referência para outras publicações da capital. Entre os temas preferidos do autor, além da política, estava a situação das artes no Brasil, sobretudo, a produção teatral, que frequentemente figurava em seu folhetim dominical. Era comum o escritor tecer pareceres sobre as obras encenadas na corte e comentar a situação de nossos teatros, porém, como era de se esperar, nem sempre seus juízos eram bem-aceitos pelos outros meios, tonando os certames sobre o tema algo habitual. Em 26 de novembro de 1855, por exemplo, o Correio

Mercantil publicou uma resposta – assinada por O Nordeste – às críticas de Macedo

sobre o teatro lírico182, no qual afirmava:

181

JORNAL DO COMMERCIO, 17 jun.1855.

182

Macedo na Semana, de vinte e cinco de novembro, disse que não havia bons operetas para encenarem Fidanzata Corsa. Nas palavras do cronista: “Paccini escreveu Fidanzata Corsa para uma ninhada de artistas que não se encontra assim com a mesma facilidade com que a gente esbarra aí em qualquer parte como um formigueiro de estadistas; escreveu-a para a exímia prima- dona Tadolini, e para os insignes artistas Coletti, Fraschini e Basadina. Só um feliz acaso pode reunir um conjunto de tão belas vozes, hoje seria isso impossível; e a ópera que se escreve de

A Semana do Jornal do Commercio de ontem ocupar-se em criticar

os andamentos da ópera Fidanzata Corsa. Desde quando, Sr. Redator, os inimigos da direção e do mestre que põe em cena qualquer ópera, deixaram de dizer que seus ensinamentos foram alterados? [...]. E se a Semana é a própria a reconhecer no Dr. Gianini grande inteligência musical; se afirma que ele fora discípulo do maestro Paccini, parece que no Rio de Janeiro ninguém está mais no caso de dar os andamentos a uma ópera desse insigne maestro, [...].

Ora isto, Sr. Redator, faz rir.183

Nesse mesmo ano, um artigo assinado por Acadamus reconhecia a importância da Semana – “um gigante” – para a discussão de assuntos vitais para o desenvolvimento das artes no Império:

Se uma hábil pena como a do ilustre redator da Semana, não tivesse tomado a seu cargo apreciação desses modelos, talvez não estendêssemos mais sobre o assunto; porém depois de apresentar

no campo da imprensa um gigante, é uma ousadia imperdoável que o pobre pigmeu também queira medir suas forças com as dele; não

podemos, contudo deixar em silêncio as obras do Sr. Pettrich.184

O Diário do Rio de Janeiro, em sua seção Publicações a pedido, em setembro transmitiu uma carta escrita pelo redator do jornal A Pátria para Macedo, na qual tecia críticas veementes ao redator. Logo no início do texto, compara o folhetim dominical de Macedo ao livro sagrado do Islã, lido e admirado pelos “pais’, mas visto com desconfiança pelos “filhos”: “Respeitável redator da Semana do Jornal do

Commercio, o prometido é devido: e nossos pais ensinaram-nos no seu alcorão a ler

que à fé de uma promessa feita nunca se falta; e o alcorão de nossos pais é um mito sublime”. Na sequência, o remetente foi mais duro em seu juízo sobre o semanário, e asseverou que Macedo escrevia sem “crença, sem lealdade e sem verdade”:

Sem crença, porque, o que escrevei, em um dia esqueceis e condenais mesmo logo que uma semana tem corrido; e nisso mostrais que sois verdadeiro homem de semanas.

Sem lealdade, porque, asseverais e garantes momentaneamente uma proposição que não tendes em visto sustentar, fazendo-o só talvez para iludir a boa fé daqueles a quem lisonjeais na presença para ferir na ausência, quando por qualquer circunstância julgais isso necessário aos vossos interesses pessoais, sem vos importardes mesmo com a justiça e com a verdade.

propósito para ser executada por tais artistas é quase sempre um cachopo coberto de flores, onde naufragam companhias líricas.” Ver: Jornal do Commercio, 25/11/1855.

183

CORREIO MERCANTIL, 26 nov.1855.

184

Não respeitais a verdade dos fatos, porque os truncais de modo mais leviano e sem cerimônia que é possível imaginar-se.185

Dois meses depois, o mesmo jornal, ao analisar a situação do gabinete Paraná, reconhecia a importância dos comentários de Macedo sobre o assuntou e o estilo cômico empregado pelo autor em suas análises:

[...] política da qual temos colhido tristíssimos frutos, cuja parte cômica vem com tanto espírito narrada na Semana do Jornal do

Commercio de 25 do corrente, e cuja continuação ser-nos-á fatal

para o futuro, que nos fará reconhecer o seu erro, infelizmente mui tarde.186

Em dezembro do mesmo ano, a corrupção foi o tema de um artigo do Diário

do Rio de Janeiro. Entendida como uma mácula em nossa sociedade, tal

imoralidade possibilitava o acesso de pessoas inaptas aos cargos públicos, especialmente os cargos do alto escalão do governo, sendo, portanto, o estudo, o merecimento e o talento vistos pela nação como um vício, um demérito187. Ao tratar deste tema, o articulista lembrou uma crônica de Macedo – publicada no dia 10 daquele mês – em que ele, com a ironia de sempre, contava as peripécias do piolho viajante para abordar o mesmo assunto.188 A alusão à Semana reitera a ideia de que seção era uma referência para um público-leitor carioca, sobretudo, o mais especializado.

As eleições foram um tema recorrente na imprensa carioca em 1856. Macedo havia dedicado considerável espaço para este assunto em sua Semana189, e novamente os outros jornais da capital mencionaram seus comentários acerca do