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CAMINHO 1 – CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA TESE

1.1 A CARTOGRAFIA COMO MÉTODO PARA ACOMPANHAR PROCESSOS: UM

A Cartografia como método em pesquisas qualitativas parece ter uma história recente. A sua utilização como dispositivo de compreensão de processos e produção de subjetividades ganha, nessa pesquisa, o acréscimo de ser utilizada na compreensão de processos complexos de produção de conhecimento em contextos educativos e em suas intersecções com outros saberes que emergem de espaços de comunidades tradicionais em suas formas de conhecer.

Nesse ponto específico, a Cartografia ganha força e emerge como mais uma possibilidade de utilização devido ao seu caráter interventivo e de objetivar dar foco para situações em que há transformação de uma dada realidade com a pesquisa desenvolvida. Lima de Souza e Francisco (2016) debruçam-se na tarefa de desenvolver um estudo bibliográfico, “mediante a consulta de autores brasileiros/as que vêm trabalhando no detalhamento do método da cartografia” (LIMA DE SOUZA; FRANCISCO, 2016, p. 811).

Ao considerar o seu caráter mais recente no meio acadêmico, citando campos do conhecimento, como, por exemplo, as áreas da saúde coletiva, sociais e humanas, quando o elemento central que se deseja enfocar é o acompanhamento de processos. Para a pesquisa em questão, este método mostrou-se o mais adequado para o acompanhamento dos processos de produção de conhecimento sobre os saberes outros que emergem nesse contexto sobre a

temática étnico-racial em relação com um Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia, na Bahia.

No artigo apresentado por Lima de Souza e Francisco (2016), a Cartografia como método ganha força no Brasil a partir do ano de 2005, com a reunião de professores que resolvem sistematizar orientações para pesquisas de cunho cartográfico, gerando uma publicação em 2009, sob o título de Pistas do método da cartografia: pesquisa intervenção e

produção de subjetividade, sendo organizada pelos professores Eduardo Passos, Virgínia

Kastrup e Liliana da Escócia, e contendo artigos de outros pesquisadores também nessa obra. Seguirei alguns dos caminhos já trilhados pelos pesquisadores Lima de Souza e Francisco (2016), que se utilizam do artigo O método da cartografia em pesquisa qualitativa:

estabelecendo princípios...desenhando caminhos..., para apresentar a outros pesquisadores que

desejam enveredar-se pela cartografia, porém, em muitos momentos, informo que decido seguir por outros caminhos ao desenvolver a pesquisa de doutorado, ao considerar que, como eles nos informam, “cartografar é, antes de tudo, uma arte”, da qual ousarei a me arriscar.

Ao tentar, inicialmente, estabelecer uma aproximação etimológica do termo em suas origens, os autores apresentam-nos uma definição próxima da cartografia ser uma “descrição de cartas ou traçado de mapas” (LIMA DE SOUZA; FRANCISCO, 2016, p. 812). Nesse sentido, somando a essa ideia inicial, nos é apresentada também a cartografia como uma ciência na definição do IBGE, sendo: a habilidade de elaboração de mapas, cartas ou outras formas

de representar, descrever detalhadamente ou expressar objetos, fenômenos, ambientes físicos e socioeconômicos e suas utilizações.

Nos aspectos que foram descritos anteriormente, ressalto dois pontos que considero que ganharam mais força com a pesquisa, pela escolha que desenhei como instrumentos de coleta de dados: a descrição detalhada de processos, o que aproxima a cartografia da pesquisa etnográfica; e os fenômenos territoriais, ambientais, físicos e socioeconômicos em suas utilizações nos processos de desterritorialização dos saberes e conhecimentos, ou seja, destacar a importância da categoria território/territorialidade e o caráter processual da tese em questão.

Para compreender melhor os processos que se dão no âmbito topológico e simbólico na constituição dos territórios e a produção de conhecimento, a cartografia surge em seu caráter filosófico e simbólico, pensados inicialmente por Gilles Deleuze e Félix Guatarri, em 2011, a partir da década de 60, para transgredir os modelos de pesquisa oferecidos na época, descritos por Lima de Souza e Francisco, como: “em oposição a modelos de pesquisa de cunho eminentemente demonstrativo-representacionais, e que não se adequavam e nem conseguiam

dar conta do teor processual do objeto de seus estudos, qual seja, processos e produção de subjetividades (LIMA DE SOUZA; FRANCISCO, 2016, p. 812)”.

Ao propor uma fuga aos modelos tradicionais de pesquisa qualitativa vigentes na época, no campo da psicologia, com a esquizoanálise, e ao destacar a importância da multiplicidade como fator constituinte na própria realidade observada, o caráter complexo dos contextos de pesquisa ressaltam as subjetivações, as totalizações, as unificações, como o contrário do que se pretende nas multiplicidades que surgem na pesquisa qualitativa.

Para melhor situar o leitor sobre o caminho de transposição e ou adaptação dessa metodologia para outros campos do conhecimento, a cartografia surge como um dos princípios da ideia de rizoma, conceito bastante trabalhado por Deleuze e Guattari. Para os autores Lima de Souza e Francisco (2016): “O rizoma é mapa e não decalque”. Além de dialogar com algumas das teorizações sobre o termo propostas por Deleuze e Guattari, de que um mapa deve ser aberto em sua constituição e em seus processos, sendo conectável e des(re)conectável a qualquer tempo, desmontável em suas micro e macroestruturas, reversível e suscetível de receber alterações constantemente.

A ideia força de rizoma, tendo a cartografia como um dos seus princípios fundantes, auxilia-nos a compreender a realidade complexa que se apresenta como objeto e recorte dessa pesquisa, pois, segundo Lima de Souza e Francisco:

Os princípios rizomáticos propõem um tipo de racionalidade para além das articulações binárias de causa e efeito, contrapondo-se aos modelos demonstrativos- representacionais, derivados de uma racionalidade cartesiana-positivista-calculante. A racionalidade que se expressa nesses modelos é, via de regra, que existe um mundo, uma realidade constituída por objetos a serem apreendidos e representados, através de conceitos e teorias, por um sujeito cognoscente, mediante a aplicação rigorosa de um conjunto de procedimentos metodológicos previamente definidos (LIMA DE SOUZA; FRANCISCO, 2016, p. 813).

Ao criticar os modelos de pasteurização metodológica como também o controle demasiado das categorias analíticas que podem emergir em uma pesquisa qualitativa, a cartografia como método delega ao pesquisador uma maior liberdade em suas ações de pesquisar, buscando outros parâmetros a serem considerados como marcadores de um rigor metodológico e validade nos resultados encontrados. Além disso, a cartografia ressalta a importância de compreensão do processo da pesquisa como ato político e transformador da realidade a ser estudada, ao oferecer alternativas de diálogo e construção de conhecimento pelos processos construídos com os pesquisados. Desse modo, a cartografia como método de pesquisa qualitativa: “Se opõe à política cognitiva cartesiana-positivista propondo outras linhas e outros modos de tecer compreensões acerca dos homens e do mundo, mapeando paisagens,

mergulhando na geografia dos afetos, dos movimentos e das intensidades” (LIMA DE SOUZA; FRANCISCO, 2016, p. 813).

1.2 HABITANDO O TERRITÓRIO DO IFBA CAMPUS SEABRA NA CHAPADA