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CAMINHO 1 – CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA TESE

1.4 CARTOGRAFANDO O CAMPO: ESTRTÁGIAS PARA REGISTRO DAS

1.4.2 As rodas de conversas formativas com os sujeitos: estudantes, professores/ras e as

O objetivo desse instrumento de aproximação junto aos estudantes foi compreender heuristicamente39 como eles/elas percebiam a dimensão da produção de conhecimento/saberes na relação entre o IFBA e as ações desenvolvidas com/nas comunidades tradicionais quilombolas.

De acordo com Melo e Cruz (2014) o que se entende aqui como Rodas de Conversa são ‛falas’ sobre determinados temas discutidos pelos participantes sem a preocupação com o estabelecimento de um consenso, podendo as opiniões convergirem ou divergirem, provocando o debate e a polêmica, cabendo a quem media as interações garantir a participação igualitária de todos, bem como atender aos critérios de estruturação da discussão. Nesses termos, foi importante adotar esse mecanismo de aproximação junto aos sujeitos por ele expressar uma característica de criar espaços de diálogo e de escuta das diferentes ‛vozes’ que ali se manifestam, constituindo-se num instrumento de compreensão de processos de construção de uma dada realidade por um grupo específico (p. 33). A aplicação desse instrumento foi sugerida como fase posterior ao período de observação participante em que com-vivi com eles e elas no

campus de Seabra, nos eventos da IV Semana Preta do campus e do III Simpósio de

Agroecologia e Saberes Tradicionais. Desse modo, apresento a configuração do grupo: foi seguida a metodologia de indicação por parte de dois professores coordenadores de projetos de extensão sobre as questões quilombolas e um bolsista de extensão e pesquisa que participou de todos os projetos em fases distintas.

39 A heurística aqui empregada está relacionada à ideia de processos cognitivos de descoberta de conhecimentos provenientes das relações com a intuição, criatividade e saberes da prática; dimensão tácita do conhecimento. Acionamento das memórias da experiência vivida sobre os projetos de extensão, ensino e pesquisa e seus impactos em suas formações.

Além de sua própria participação na roda de conversa, o bolsista guardava as memórias das ações dos projetos e conhecia de maneira mais próxima aos estudantes que poderiam contribuir falando sobre suas experiências no campus e nos projetos. Apresentei os seguintes critérios para a participação na atividade:

a) Ser quilombola/não quilombola, formando assim um grupo misto;

b) Ter integrado como bolsista ou participante de pelo menos um dos projetos de extensão, ensino e pesquisa;

c) O desejo voluntário em participar da pesquisa tendo em vista o termo de livre consentimento.

Decidi compor um quadro analítico como modelo similar ao desenvolvido na Disciplina de Análise Cognitiva para que fosse possível obter um panorama geral dos temas e questões que emergiram da roda de conversa, o que me permitiria categorizar temas correlatos ou até mesmo criar relações entre questões aparentemente sem relação.

Adotarei a nomenclatura de E para os/as estudantes, em um total de 14, e P para as mediações feitas por mim enquanto pesquisador e participante da roda de conversa formativa. A atividade foi iniciada com as apresentações, enquanto os/as estudantes chegavam do horário de almoço. Depois que observei que já havia chegado um número significativo deles/delas, fiz a seguinte apresentação sobre o objetivo da roda de conversa formativa:

Então, a gente começou a conversa e é interessante o que vocês trouxeram aqui. Aí eu vou começar agora explicando o pesquisador no meio desse contexto, como é que surgiu essa ideia, a minha pesquisa de doutoramento no programa de Difusão do Conhecimento, que começou a partir da minha atuação no IFBA, campus de Feira de Santana, como um dos professores que sempre trabalhou na Semana da Consciência Negra e então o meu interesse (inicial) no IFBA era de fazer um levantamento dessas ações que estavam acontecendo nos diversos campi relacionados mais à Semana da Consciência Negra, que produção de conhecimento se tinha sobre isso? Lá. A gente teve oportunidade de fazer um projeto que a gente produziu curtas, vários filmes sobre a temática, então a gente foi dividindo as comunidades... eu mesmo orientei uma turma que trabalhou com a comunidade quilombola da Matinha dos Pretos, que era um quilombo perto de Feira de Santana. Uma área remanescente de quilombo e aí eu fiquei com essa intenção de observar de que maneira o IFBA estava observando essa temática, por conta da lei 10.639 e da possibilidade de inclusão de outros sujeitos dentro desse contexto do IFBA. Nesse contexto, o que me interessa muito é a formação em ciência e tecnologia, por que tem muito pouco trabalho produzido na área de mulheres e homens negros e negras, indígenas e outras comunidades (povos) como pessoas que produzem conhecimento nessas áreas. Esse foi o meu foco e daí eu acabei descobrindo vocês através do IFBA notícias, porque tudo que acontece aqui vai para lá40. O campus de Seabra faz tal coisa, o campus de Seabra tem um projeto tal. Aí eu falei: “poxa tudo está acontecendo lá” e foi isso que me trouxe ao campus. A partir das ações do grupo de pesquisa MUANZI, os projetos e aí vocês devem ter

40 É de extrema importância salientar o trabalho desenvolvido pela jornalista Verusa Pinho, do campus Seabra, na época. Só foi possível chegar ao grande volume de informações sobre o campus como produtor de conhecimentos sobre a temática étnico-racial e sobre a aproximação do Instituto junto às comunidades para desenvolver projetos de extensão, ensino e pesquisa, graças às notícias publicadas no sítio do IFBA.

percebido que fiquei aqui quase todo o mês de novembro, quando tive a oportunidade de cobrir a ‘Semana Preta’ e o Simpósio de Agroecologia para compreender e perceber como era o dia a dia realmente do campus e como é que a gente lida com essa coisa que está posta lá (no site) e o que as pessoas estão fazendo aqui. Então assim foi essa a minha intenção de vir. Eu devo trabalhar também com os projetos de forma mais aprofundada, mas esse momento é importante e crucial. A ideia é a gente fazer uma roda de conversa, eu e vocês estudantes.

1.4.3 O registro das conversas com quatorze estudantes – incluindo quilombolas - das