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CAMINHO 1 – CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA TESE

1.3 AS NOTÍCIAS COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE APROXIMAÇÃO

SUA RELAÇÃO COM O IFBA

As buscas no IFBA-notícias foram realizadas através de descritores específicos, como: Lei 10.639; negros/negra; saberes; cultura negra; questão étnico-racial; questão/temática

étnico-racial. O resultado foi a constatação de que existiam iniciativas de aproximação do Instituto com comunidades tradicionais e de prática e coletivos sociais envolvidos nessas ações33.

A cartografia dessas notícias funcionou ainda como uma forma de sistematização dessas informações que permaneciam dispersas, já que são publicadas de maneira difusa no site do Instituto. Esse levantamento permitiu apresentar um panorama da produção de conhecimento na interação Instituto-comunidades em processos formativos pela extensão, ensino e pesquisa. É nesse sentido que reuni esse material e, posteriormente, utilizo-me das notícias para dialogar com os projetos selecionados para análise da tese. Ressalto a importância que elas assumiram para esse estudo e de como esse lócus de informações pode oferecer outras possibilidades para pesquisas futuras, sobretudo no que tange aos projetos de extensão, ensino e pesquisa associados à temática étnico-racial34.

Inicialmente, foram recuperadas e selecionadas quatro notícias para leitura e sistematização de informações para a pesquisa. A primeira delas tratava de um “Curso de Capacitação em Metodologia da Pesquisa Científica em Ações Afirmativas e Cotas”, que aconteceria no IFBA de Porto Seguro, no ano de 2010, coordenado pelo professor Cristiano Raykil e organizado pelo grupo de Pesquisa “Cotas para a Inserção Social e Étnica no IFBA”, que atendia à demanda de acompanhamento da recente política de cotas implantada no Instituto.

A segunda notícia, ligada ao mesmo campus, voltava-se para a comunidade cigana, estabelecendo uma relação entre alunos e essa comunidade como exercício de entendimento da alteridade. A ação, realizada no ano de 2011, como atividade dos professores Carla Sandra Camuso Fernandez, de Artes, e João Veridiano Franco Neto, de Antropologia, atuou no sentido de inclusão de minorias e sua diversidade cultural como desafio para o Instituto.

A terceira notícia localizada a partir dos mesmos descritores foi o “Seminário das Ervas e das Rezas”, organizado pelo Grupo de Pesquisas “Saberes Tradicionais e Subalternidade”, em uma iniciativa do professor de História Erahsto Felício, do campus de Valença, no ano de 2015. O evento era uma parceria entre IFBA e a Central das Associações da Agricultura Familiar de Valença e Região Baixo Sul e tinha o enfoque na prática de cura tradicional e os

33 O conceito de comunidade de prática estrutura-se com base na aprendizagem e suas dimensões, podendo ser visto como um sistema de aprendizagem social (...) são formadas por pessoas que, voluntariamente, compartilham de um mesmo interesse ou paixão, interagem regularmente, trocam informações e conhecimentos, buscam sustentar a comunidade e compartilham do aprendizado de maneira que podem ser caracterizadas por apresentarem as dimensões do: empreendimento conjunto, envolvimento mútuo e repertório compartilhado (WENGUEL, 2010).

mestres desse saber, visando apoiar a criação de uma farmacopeia que se utilizasse desses saberes.

A quarta, e talvez a mais significativa notícia para o enfoque da pesquisa, tratava-se da “IV Semana Preta”, anunciada para acontecer em Novembro de 2016, no IFBA campus Seabra. O evento englobaria ainda o Fórum de Pesquisas Pretas do Instituto, com o tema “Diamante Negro”, em uma homenagem à Chapada Diamantina. Afirmo ser a mais significativa pelo fato dos eventos de comemoração à Semana da Consciência Negra serem um dos focos centrais de análise dessas ações para a tese, bem como o referido campus passaria a ser o lócus da pesquisa, como estudo de caso etnográfico.

Figura 1 – Notícia acerca da IV Semana Preta, no site do IFBA

Fonte: IFBA, 2016. Fonte: Página do IFBA na internet.

Nessa ocasião, desejava construir uma cartografia que relacionasse os conhecimentos produzidos nos três campi: de Valença, Porto Seguro e Seabra. No entanto, o território de Seabra revelou-se como lócus privilegiado devido ao significativo número de projetos de extensão, ensino e pesquisa, cinco ao total, além do grande número de comunidades tradicionais quilombolas em seu entorno e, finalmente, às reiteradas ações que aconteciam no evento anual da Semana Preta.

Em particular, esse projeto chama-me a atenção porque já levantava a hipótese que o evento, anualmente realizado em alusão ao dia da Consciência Negra, no IFBA, configurava-

se como “o espaço político” de discussão, construção e difusão de conhecimentos étnico-raciais. Restava saber se a instituição estava aprendendo ou não com essas iniciativas. Surgiu, então, a ideia de seguir esse evento nos diferentes campi, ou nos que se destacavam com ações sobre essa temática no Instituto.

O fato de a Semana Preta do campus Seabra já estar na sua IV edição fortaleceu a escolha do o lócus da pesquisa, por considerar que o evento se apresentava como ação afirmativa solidificada, garantindo o acesso a um volume maior de informações sobre a temática. Ao chegar na sua quarta edição, além de observar e participar das atividades, fui convidado também para ministrar uma oficina sobre O ensino-aprendizagem de inglês e as relações raciais, com abordagem para a formação de professores e para as relações de trabalho, destacando a importância de aprender a língua inglesa em uma perspectiva mais crítica, com elementos das culturas e da etnicidade.Na ocasião da finalização da observação participante que aconteceria na V edição da Semana Preta, recebi um convite para compor parte das atividades dessa edição do evento na mediação de uma roda de conversa sobre pesquisadores negros e as suas implicações junto as suas trajetória e objeto de pesquisa.

Passei a tratar a Semana Preta como um projeto articulador sobre a temática étnico- racial na Educação Profissional, funcionado como espaço restrito, onde os corpos negros insurgentes ganhavam protagonismos ao intercambiarem os conhecimentos e saberes dentro e fora do Instituto. Esse fato transforma a Semana Preta em um território de enfrentamento à rigidez curricular com a qual esses eventos estão em permanente disputa.

Tratam-se de espaços para pensar a presença afirmativa desses estudantes e da comunidade como um todo no território num movimneto característico de fora para dentro do IFBA. Iniciativa de um grupo de professores implicados com a temática étnico-racial que escapam do controle curricular35 e constroem uma complexa logística para viabilizar a participação de pesquisadores/as, professores/as visitantes de outros campi e do território nacional. Assim, promovem um encontro com a comunidade interna, público externo e as comunidades tradicionais, contribuindo para o intercâmbio das diversas visões sobre a produção de conhecimento étnico-racial.

Isso nos leva a pressupor que os eventos anuais funcionam como o lugar do encontro, da aproximação e da relação além de ser uma vitrine para o que entendemos como uma linha de fuga36, que são os projetos de extensão. Desse modo, foi possível dialogar aqui com um

conceito fundante da Cartograria para tratar dos projetos que funcionam como linhas de fuga

35 Sobre essa discussão, ver Arroyo (2013). 36 Linhas de fuga em Deleuze.

ao pressionarem a estrutura demarcada por teorias, pela ideia de unicidade, regras pré- estabelecidas, hierarquias e linearidade das políticas curriculares. Estamos falando, portanto, o quanto esses projetos voltados para as comunidades de prática e para a demanda étnico-racial desenvolvidos pelo IFBA partem de uma outra dinâmica mais próxima do que Deleuze e Guattari (1960) chamam de rizoma. São raízes que crescem subterrâneamente e vão se desenvolvendo horizontalmente como linhas que escapam da totalização, fazendo contato com outras raízes e ganhando outras direções:

O rizoma é um modelo de resistência ético-estético-político, trata-se de linhas e não de formas. Por isso o rizoma pode fugir, se esconder, confundir, sabotar, cortar caminho. Não que existam caminhos certos, talvez o correto seja o mais intensivo (e não o caminho do meio (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 22).

Projetos que se configuram como territórios educativos de resistência e vaivém de conhecimentos, uma vez que podem se tornar os efetivos espaços de diálogo entre o IFBA e as comunidades, por meio dos professores que promovem esse diálogo e dos novos estudantes cotistas com seus saberes e leituras de mundo. Tais projetos são resultados de agenciamentos, seja de dentro do Instituto para fora, seja dos territórios para dentro, como um crescimento das dimensões, em um processo de multiplicidade que se alteram em sua natureza, à medida que aumentam as conexões estabelecidas por eles: “riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 22).

1.4 CARTOGRAFANDO O CAMPO: ESTRTÁGIAS PARA REGISTRO DAS