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A chegada do protestantismo no Brasil

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TESTANTISMO BRASILEIRO

2.3 A chegada do protestantismo no Brasil

As primeiras tentativas de implantação do protestantismo em terras brasileiras, ainda que tímidas, dá-se ao tempo do Brasil colônia com as incursões da França (1557-1558) e da Holanda (1630-1654), tentativas essas que não lograram êxito, acabando juntamente com as expulsões desses europeus. Como a questão era econômica e não religiosa, falou mais alto a tolerância holandesa, principalmente durante o governo de Maurício de Nassau (1637- 1644). “O príncipe, que era calvinista, foi tolerante com os católicos e, ao que tudo indica apesar de controvérsias a respeito, com os israelitas.” (FAUSTO, 2006, p. 47). A ação voli- tiva desses europeus estava centrada na exploração dos produtos tropicais comerciáveis co- mo o pau-brasil e as plantações de cana de açúcar e não na implantação de uma nova religi- ão. Aos franceses interessava a exploração direta do pau-brasil sem a intermediação portu- guesa, pois, “uma vez posto em Lisboa, o pau-brasil era revendido para toda a Europa, com lucro de 500 a 600 por cento, e reexportado em navios flamengos, italianos e franceses.” (FURTADO, 2000, p. 68). Quanto aos neerlandeses reformados, “a ocupação do norte do Brasil pelos holandeses, na primeira metade do século XVII, será essencialmente uma guer- ra pelo comércio do açúcar.” (FURTADO, 2000, p. 95). Por evidente, não se pode falar aí em globalização e capitalismo, mas já é possível observar nesse período mercantilista o de- sejo de conquista de mercado (nesse caso colonial) de braços dados com a fé. A expulsão de franceses e flamengos não teve apenas aspectos de defesa das terras da colônia, mas envol- veu também o compromisso da metrópole com a Igreja Católica em um projeto comum na colonização das novas terras. Esse projeto mútuo irá com o tempo subordinar a Igreja Cató- lica aos interesses do Estado português em benefícios como o padroado. O catolicismo co- mo religião do Estado e o padroado sobrevivem à independência de Portugal e vigorarão até a proclamação da república brasileira. Na prática os clérigos eram funcionários remunera- dos pelo Estado e deviam subordinação administrativa para este que exercia livremente o

direito de nomeação ou remoção, bem como a implementação ou não das ordens enviadas pelo papa. Vê-se dessa forma que não interessava ao monarca a perda de tal poder sobre a Igreja e nem interessava à Igreja a perda de sua proteção por parte do Estado. Nessa situa- ção, jamais interessaria ao Estado imperial e à Igreja Católica no Brasil a presença concor- rencial de qualquer expressão religiosa que minasse essa estrutura de poder e dominação temporal e espiritual.

As duas instituições básicas que, por sua natureza, estavam destinadas a organizar a colonização do Brasil foram o Estado e a Igreja Católica. Uma estava ligada à outra, sendo o catolicismo reconhecido como religião do Estado […] o ingresso na comunidade, o enquadramento nos padrões de uma vida decente, a partida sem pecado deste “vale de lágrimas” dependiam de atos monopolizados pela Igreja: o batismo, a crisma, o casamento religioso, a confissão e a extrema-unção na hora da morte, o enterro em um cemitério designado pela significativa expressão “campo santo” […] o padroado consistiu em uma ampla concessão da Igreja de Roma ao Estado português, em troca da garantia de que a Coroa promoveria e asseguraria os direitos e a organização da Igreja em todas as terras descobertas […] cabia à Coroa criar dioceses e nomear os bispos (aspas no original) (FAUSTO, 2006, p. 29).

Desse período longínquo da história da colonização brasileira, a Confissão da Gua- nabara ficou como que um marco histórico da primeira produção intelectual teológica pro- testante feita em terras brasileiras, em face de embates teológicos e políticos, resultando também, como se sabe, na decretação e execução dos três protestantes franceses huguenotes elaboradores dessa Confissão (Jean du Bordel, Mattie Vermeil e Pierre Bourdon). Muito tempo depois, as guerras napoleônicas forçaram a vinda das elites portuguesas católicas para terras brasileiras e Portugal então, abre os portos para as nações amigas, isto é, sua e- terna aliada, a anglicana Inglaterra:

O início das atividades protestantes só foi possível após o Tratado de Comércio e Navegação com a Inglaterra (1810), que permitiu, apesar de muito restrito, o culto protestante. As missões chegaram logo após a independência, mas a expansão irrestrita do culto só se deu mesmo após a proclamação da República (MENDONÇA, 1995, p. 63).

Organizam-se incursões ainda tímidas de missionários visando à conversão dos bra- sileiros considerados como povo pagão, não-cristãos ou praticantes de um catolicismo idó- latra, através de presbiterianos, metodistas, batistas, episcopais e congregacionalistas. Por- tanto, desejava-se não somente implantar a liberdade de escolha e prática religiosa, mas uma

conversão para um cristianismo específico: protestante de colorido denominacional norte- americano (mesmo sendo o Brasil um país legalmente cristão). Se o primeiro evento históri- co aleatório que permitiu a entrada e prática do culto protestante no Brasil foi a “abertura dos portos às nações amigas”, o segundo evento histórico que permitiu de fato uma implan- tação e expansão do protestantismo foi a Guerra Civil Norte-americana. Ironicamente e por pura alea, dois eventos bélicos em momentos distintos, um na Europa e outro nos Estados Unidos, propiciaram o substrato para germinação e crescimento do protestantismo no Brasil. Após a Guerra de Secessão norte-americana (1861-1865), levas de imigrantes sulistas derro- tados militarmente e arruinados financeiramente imigram para o Brasil, principalmente para as regiões dos municípios de Campinas e Piracicaba no Estado de São Paulo (LÉONARD, 2002, p. 84). Vários missionários e pastores presbiterianos (MATOS, 2004, p. 13-14), me- todistas e batistas vieram na esteira dessa imigração. Como adiante se verá os norte- americanos do sul encontraram liberdade religiosa em seus núcleos de imigrantes, ao tempo em que forneciam uma base logística e um “colchão” cultural aos missionários que aqui aportavam.

A fronteira cultural entre norte-americanos e expoentes das elites cafeicultoras pau- listas liberais e republicanas (primeiramente campineiras e em seguida piracicabanas) foi suficientemente porosa para trocas de valores, inclusive religiosos. Sobre o protestantismo de imigração deve ser feita a inclusão dos luteranos alemães que para o Brasil vieram moti- vados pela fome, questões religiosas e políticas. Implantaram a presença do luteranismo nas regiões de assentamento desses colonos e instituíram a Igreja Evangélica de Confissão Lute- rana no Brasil já em 1823, porém jamais com ímpeto proselitista (DREHER, 1984, p. 35- 36).

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