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A cidade do Salvador: O turismo e a capoeira

No documento Luis Vitor Castro Junior (páginas 76-78)

65 De acordo com Paula Cristina “Nesse contexto, a Capoeira passa a ser apontada como uma solução

1.6 A cidade do Salvador: O turismo e a capoeira

A partir da década 60, o espaço urbano da cidade do Salvador vai sofrer modificações na sua estrutura topográfica com o surgimento de novas avenidas. “A

seguir vieram a Avenida Heitor Dias, San Martim e a segunda pista da Centenário, tudo realizado entre 1960 e 1964. Em 1965, era a vez do Vale do Canela, um dos sistemas viários mais úteis da cidade, desafogando sobretudo o tráfego... “ “É porém, a partir de 1967 que a cidade assume verdadeiramente uma nova feição topográfica com as construções das avenidas Vasco da Gama, Vale de Nazaré, Vale do Bonocô, Antônio Carlos Magalhães, Magalhães Neto, Paralela e em execução, a Avenida Vale dos

Barris”125. A cidade ganhava novos fluxos de circulação da população, do comércio e da

moradia. Essa nova geografia urbana se materializa nos corpos126 dos seus habitantes pela força do processo de urbanização da cidade no meados do século passado.

Dessa maneira, o impacto dessa “nova” estruturação do espaço favoreceu o surgimento de novos lugares de troca e de consumo, cujo crescimento se consolida nos diversos setores econômicos da construção civil (arquitetura), da indústria do entretenimento (prática de lazer) e do comércio (circulação de bens de consumo), e também, como diria Félix Guattari, em “agenciamentos de enunciação que desencadeia

outras modalidades de espacialização e de corporiedade”127. Para ele, todas as

construções são máquinas enunciadoras que produzem subjetivação nos corpos indo além de estruturas visíveis e funcionais, pois elas são máquinas de produção dos sentidos coletivo e individual. Neste sentido, as edificações da cidade de Salvador que têm a presença da arquitetura barroca (as igrejas, as fortalezas, os casarões e os conventos) e moderna produzem agenciamentos enunciativos que revelam memórias do passado escravocrata e do presente crescimento desordenado da cidade, com as ocupações de terrenos, afastando-se do “centro” comercial que, na época, correspondia à região do comércio e a valorização de determinadas áreas em virtude da especulação imobiliária.

Na esteira desse crescimento urbano, de capital e de produção de novas subjetividades, na cidade do Salvador, a população na década de 60 é de 630.000.00 mil habitantes e está concentrada apenas em 30% da área territorial do município. Na época, as carroças ainda dividiam o espaço do centro de salvador com bondes, automóveis e gentes. Por exemplo, na região do Mercado do Ouro havia um estacionamento de carroças onde os carroceiros comiam e permaneciam à espera de fregueses. Em 1967 vendem-se 60 carros por semana; em 1968, esse número dobra e em 1969, são mais 200 carros novos circulando pelas ruas da cidade. Já na década de 70, a população da cidade atinge 1.000.000.00 de habitantes.

126 Richard Sennett ao estabelecer a relação entre a constituição da cidade e seu impacto no corpo,

mediante o curso civilizatório ocidental procura entender como a cidade tem sido um locus de poder, “ cujos os espaços se tornaram- coerentes e completos à imagem do próprio homem. Mas também foi nelas que essas imagens se estilhaçaram – fator de intensificação da complexidade social – e que se apresentam umas às outras como estranhas, estranhezas – sustentam a resistência a dominação” (2003, p.24)

No decorrer dos anos 60, mesmo com a construção do Centro Industrial de Aratu, a primeira tentativa de uma política industrial do Nordeste fora do campo petrolífero, a cidade não adquiriu uma afeição industrial. É claro que a cidade vai sofrer influências com as iniciativas industriais; no entanto, é só a partir da construção do Pólo Petroquímico de Camaçari, implementado na fronteira da cidade numa região denominada de “grande Salvador”, por volta 1978, que a capital vai servir de local de habitação para os trabalhadores do Pólo.

Sendo assim, concatenamos com as análises de Antônio Risério que considera a Cidade da Bahia uma metrópole “extraindustrial128”, Para ele, “Salvador é, hoje, uma

cidade centrada na economia do Lazer129”. Na sua compreensão, essa economia se sustenta e se organiza em três vertentes entrelaçadas: a “economia do turismo”, responsável pela dinâmica de atrair turista para a cidade na esperança de renda e emprego; a “economia do simbólico”, relacionada à produção e à comercialização da cultura, seus produtos, seus artefatos e outros; a “economia do lúdico”, diretamente ligada à festa e à diversão. As três forças capitais da cidade estão conectadas umas às outras, articulando-se mutuamente, de forma heterogênea; são “agenciamentos coletivos de enunciação” que funcionam para consolidar a idéia de “terra da festa”, presente na campanha publicitária da cidade.

No período entre as décadas de 60 e 70 do século passado, o turismo na cidade de Salvador vai ocupar um espaço de destaque nas políticas públicas tanto em nível estadual como municipal A organização do turismo na cidade ocorreu a partir de um conjunto de medidas, cuja intenção era fomentar e atender à demanda turística nacional e internacionalmente da cidade.

A indústria do turismo, com toda sua pujança, vai interferir no cotidiano da cidade e nos corpos dos seus habitantes, provocando um re-ordenamento dos espaços públicos e privados, centro e periferia. “Esse momento é muito importante porque marca

uma mudança funcional da cidade do Salvador, tanto pelo fato que ela assume novas atividades, como pelo fato de que ela se torna um grande centro turístico”130. Milton

128 RISÉRIO, Antônio. Uma história da cidade da Bahia. Rio de Janeiro: VERSAL, 2004. p. 580. 129 Idem.

130 SANTOS, Milton. Salvador: centro e centralidade na cidade contemporânea. GOMES, Marco Aurelio

No documento Luis Vitor Castro Junior (páginas 76-78)