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3. AS NOTIFICAÇÕES ELETRÓNICAS TRIBUTÁRIAS

3.6. A APLICAÇÃO PELOS TRIBUNAIS

3.6.3. A CITAÇÃO PESSOAL POR TRANSMISSÃO ELETRÓNICA DE DADOS

A questão aqui a analisar é, em síntese, saber se a citação pessoal efetuada ao revertido no âmbito do processo de execução fiscal, se efetua apenas no momento em que o revertido, nos termos do artigo 191.º, n.º 5 do CPPT, acede à caixa eletrónica, ou se, a citação pessoal se deve considerar efectuada, nos termos do n.º 6 do 191.º do

85Este serviço operacional dos CTT, normalmente responde em menos de 24h, entre outras, às seguintes questões: data da entrega das notificações na caixa postal eletrónica do ViaCTT, data de acesso do contribuinte à caixa postal eletrónica ViaCTT, bem como a identificação do destinatário, endereço da entrega das notificações, data de adesão ao ViaCTT, quem o fez e em que qualidade.

65 CPPT, que presume a citação efetuada no vigésimo quinto dia posterior ao seu envio, caso o revertido não aceda à caixa postal eletrónica em data anterior. Ora, o artigo 192.º, n.º 1 do CPPT, como já vimos anteriormente, permite que as citações pessoais sejam efetuadas por transmissão eletrónica de dados. Porém, haverá que determinar qual o momento em que se considera efetuada a citação pessoal por transmissão eletrónica de dados. Entendeu o Tribunal Central Administrativo Norte,86 que tal

citação pessoal apenas se efetua quando o revertido acede à caixa eletrónica.87

Analisemos o porquê.

Em primeiro é preciso enquadrar, desde logo, que a citação pessoal tem carácter definitivo e não provisório, como outros tipos de citação, o que pressupõe que o citando, teve efetivamente conhecimento do ato de citação, ou que, lhe foram criadas todas as condições para que pudesse ter conhecimento do ato de citação. Face a estes condicionalismo o n.º 2 e n.º 3 do artigo 192.º do CPPT, impõe a repetição da citação e, no caso do n.º 4 do mesmo preceito legal se efetue uma citação por éditos.

Foi com base neste princípio que o douto Acórdão adapta a citação pessoal por transmissão eletrónica de dados, do n.º 1 do artigo 192.º do CPPT quando, remete, apenas, para o n.º 4 e 5 do artigo 191.º do CPPT e já não para os n.ºs 6 e 7, da mesma disposição legal. Entende o Tribunal Central Administrativo Norte, que a aplicação do n.ºs 6 e 7 do artigo 191.º do CPPT implica a utilização de uma presunção, que pela falta de segurança de que se reveste, não se afigura suscetível de abrir o prazo para a defesa do executado, designadamente o prazo de oposição à execução fiscal ou o prazo para o exercício de outros direitos que hajam de ser exercidos

86 Acórdão de 07/07/2016, proferido no processo n.º 02865/15.2BEPRT, disponível em www.dgsi.pt

87 O caso: “Como resulta do probatório fixado na sentença recorrida, ponto 6, o

reclamante, agora recorrente veio, no processo de execução fiscal (...), requerer que a citação que lhe tinha sido realizada por transmissão eletrónica de dados fosse declarada nula, por considerar que aquela não revestia a forma legalmente exigida. Tal requerimento foi indeferido pela entidade competente, por não se mostrarem preenchidos os requisitos do nº 7 do artigo 191º do CPPT e ainda por a adesão à caixa postal eletrónica ser efetuada por iniciativa do contribuinte. Do despacho emitido reclamou o impetrante para o TAF do Porto, concluindo que a citação pessoal do reclamante não podia considerar-se efetuada, como foi pelo ato reclamado, em 4.11.2014, pois apenas em 19.03.2015 o reclamante havia rececionado tal citação, enquanto responsável subsidiário, pois a citação foi expedida apenas por via postal eletrónica e que, apenas acedeu à caixa postal eletrónica nesta última data. E que nos termos da lei, não se poderá presumir a efetivação da citação, no 25º dia posterior ao seu envio, nos termos do nº 6 do artigo 191º do CPPT, por não aplicável. A citação presumida (4.11.2014) não poderia assim valer como citação pessoal, sendo apenas de considerar esta citação efetuada aquando do acesso à caixa postal eletrónica, nos termos do artigo 192º, nº 1 com a remissão para o 191º, nº 5.” Assim ver o pedido da recorrente no Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte,

66 dentro daquele prazo, como resulta inequivocamente do disposto no artigo 203.º, n.º 1, alínea, a), do CPPT.88

Defende ainda douto Tribunal que “o artigo 193.º do CPPT dispõe que se a citação for efetuada por transmissão eletrónica de dados e em caso de não acesso à Caixa Postal Eletrónica se procede à penhora (nº1) e que a realização da venda depende de prévia citação pessoal (nº 2) [que terá de ser efetuada por outros meios que não os de transmissão por meios eletrónicos de dados, acrescentamos nós] e se não for conhecida a morada do executado, proceder-se-á a citação edital (nº 3).” Face a esta conclusão retira-se a ideia, face à norma referida, que o não acesso à Caixa Postal Eletrónica implica a não efetivação de citação pessoal do executado.

Pretende assim, o douto Tribunal demonstrar que o legislador não pretendeu na redação do artigo 192.º, n.º 1, abarcar na remissão para o n.ºs 4 e 5, do 191.º, ambos do CPPT, o disposto no artigo 6º. e 7.º do mesmo artigo. E que, da interpretação feita dos dispositivos legais em questão demonstra que a citação por transmissão eletrónica de dados não viola o disposto no artigo 13.º e artigo 20.º da Constituição da República Portuguesa,8990 respeitando-se dessa forma o direito de

defesa e o princípio do contraditório.

88 Diz o artigo sob a epigrafe “Prazo de oposição à execução” que “A oposição deve ser

deduzida no prazo de 30 dias a contar: a) Da citação pessoal ou, não a tendo havido, da primeira penhora;”

89 O artigo 13.º da CRP, consagrado princípio da igualdade, em que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei e ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual. Veja-se o Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 437/06: “O princípio da igualdade, consagrado no

artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, é um princípio estruturante do Estado de direito democrático e postula, como o Tribunal Constitucional tem repetidamente afirmado, que se dê tratamento igual ao que for essencialmente igual e que se trate diferentemente o que for essencialmente diferente. Na verdade, o princípio da igualdade, entendido como limite objetivo da discricionariedade legislativa, não veda á lei a adoção de medidas que estabeleçam distinções. Todavia, proíbe a criação de medidas que estabeleçam distinções discriminatórias, isto é, desigualdades de tratamento materialmente não fundadas ou sem qualquer fundamentação razoável, objetiva e racional. O princípio da igualdade, enquanto princípio vinculativo da lei, traduz-se numa ideia geral de proibição do arbítrio (cfr. por todos acórdão n.º 232/2003, publicado no Diário da República, I Série-A, de 17 de junho de 2003 e nos Acórdãos do Tribunal Constitucional, 56.º Vol., págs. 7 e segs.).” Disponível na integra em

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20060437.html

90 O Acesso ao direito e tutela jurisdicional efetiva, em que a todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objeto de decisão em prazo razoável e mediante

67 Ou seja, no caso dado como exemplo, foi remetida, ao revertido em processo de execução fiscal, uma citação por transmissão eletrónica de dados, via CTT, tendo a mesma sido entregue na caixa postal eletrónica, do revertido, na data de 10 de outubro de 2004, tendo este, apenas acedido à sua caixa de correio eletrónico, a 19 de março de 2015, pelo que, entendeu o Tribunal Central Administrativo Norte, face a estes factos e ao enquadramento legal já feito, que a citação pessoal do revertido, nos termos do n.º 6 do artigo 191.º do CPPT, ou seja, efetuada no 25.º dia posterior ao seu envio, caso o contribuinte não aceda à caixa postal eletrónica em data anterior, não poderá ser aceite. O douto Tribunal considerou que o revertido apenas se poderá considerar citado pessoalmente, através de transmissão eletrónica de dados, em face da lei em vigor à data, os termos do nº 5 do artigo 191º do CPPT, isto é, no momento em que o destinatário aceda à caixa postal eletrónica.

Analisemos então a posição jurisprudencial, enquadrando primeiramente as alterações legislativas relevantes in casu.

Na redação dada pela Lei n.º 3-B/2010, de 28 de abril ao artigo 191.º do CPPT, referiam que, “(4.) As citações referidas no presente artigo podem ser efetuadas

processo equitativo. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos. Principio que cuja violação já foi o estado português condenado pelo Tribunal Europeu do Direitos dos Homens face ao previsto no artigo 6.º, n.º 1, da Convenção Europeia (direito a um processo equitativo). O caso em suma: Na queixa foram suscitadas cinco questões, todas no âmbito do direito a um processo equitativo: a duração do processo interno; a observância do contraditório, devida a não notificação de um despacho e de uma peça processual; a imparcialidade do tribunal, devido a intervenção, no Tribunal Constitucional, de um Conselheiro que interviera já na respetiva formação judicial no STJ; o acesso a um tribunal devido ao valor das custas judiciais no Tribunal Constitucional; e ainda a observância do contraditório em virtude de ter sido acolhido no acórdão proferido pelo STJ um fundamento jurídico que não tinha sido objeto de discussão entre as partes. O Tribunal Europeu considerou que não houve violação da norma citada, na parte referente a não notificação do referido despacho e peça processual e considerou também que não houve violação na parte referente ao valor das custas no Tribunal Constitucional, atendendo aos argumentos que aduzimos. Considerou, porém, violado o artigo 6.º, n.º 1, na parte referente a duração do processo (apesar de reconhecer que também houve contributo da requerente no ?arrastamento? do processo), bem como na parte referente a falta de imparcialidade do tribunal (evidenciando que o juiz Conselheiro em causa era o relator do processo no T.C. e que as questões que foram tratadas nos dois acórdãos estavam estritamente ligadas) e, por fim, na parte referente a não notificação prévia das partes para se poderem pronunciar acerca do fundamento jurídico que o STJ pretendia acolher oficiosamente (uma inconstitucionalidade orgânica que não estava especificamente suscitada, embora estivesse suscitada a inconstitucionalidade), o que considerou constituir uma decisão surpresa. O acórdão foi proferido por unanimidade relativamente a todas as decisões, exceto relativamente a última, ou seja aquela que respeita a não notificação prévia das partes acerca do fundamento de direito que o STJ acolheu oficiosamente, tendo havido dois votos de vencido.

68 por transmissões eletrónicas de dados, que equivalem, consoante os casos, à remessa por via postal simples ou registada ou por via postal registada com aviso de receção. (5.) As citações efetuadas nos termos do número anterior consideram-se feitas no momento em que o destinatário aceda à caixa postal eletrónica.”

O n.º 6 do artigo 191º, do CPPT, com a Lei n.º 3-A/2010, tinha a seguinte redação: “6. Se a citação for efetuada através de transmissão eletrónica de dados e esta for equivalente à efetuada através de carta registada com aviso de receção, o seu destinatário considera-se citado caso se confirme o acesso à caixa postal.”

Com a Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro, a redação do n.º 6, do artigo 191.º e passou a ter a redação aplicável ao caso sub judice, “6. A citação considera-se efetuada no 25.º dia posterior ao seu envio caso o contribuinte não aceda à caixa postal eletrónica em data anterior”, ou seja, retrocedeu na sua amplitude. Ainda com a Lei agora citada, foi aditado o n.º 7, ao artigo 191º, estes com seguinte conteúdo: “A presunção do número anterior só pode ser ilidida pelo citado quando, por facto que não lhe seja imputável, a citação ocorrer em data posterior à presumida e nos casos em que se comprove que o contribuinte comunicou a alteração daquela nos termos do artigo 43.º “

Aqui chegados, a questão que se nos levanta é, essencialmente, determinar se a citação pessoal se efetua apenas no momento em que o executado, nos termos do artigo 191º, n.º 5 do CPPT, acede à caixa eletrónica, como entendeu o Tribunal Central Administrativo Norte, no douto acórdão, ou se a citação pessoal se deve considerar efetuada nos termos do n.º 6 do 191.º do mesmo artigo, que presume a citação efetuada no vigésimo quinto dia posterior ao seu envio, caso o executado (no caso dado como exemplo) não aceda à caixa postal eletrónica em data anterior.

Antes de mais, diga-se que dúvidas não há, nem foram postas em causa, de que o executado tendo aderido ao serviço público de Caixa Postal Eletrónica, nos termos do artigo 4.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 112/2006, de 9 de junho, podia ser citado na execução fiscal através de meios eletrónicos. A Questão de fundo é outra.

É nosso entendimento que nestes casos, ao contrário da posição do Órgão de Execução Fiscal, a presunção iuris tantum, de citação no vigésimo quinto dia posterior ao seu envio, em caso de não acesso à caixa postal eletrónica em data anterior, prevista no n.º 6 do artigo 191.º do CPPT, não vale como citação pessoal, atento que, nestes casos, poderia o Órgão de Execução Fiscal proceder à penhora prevista no artigo 193.º n.º 1 do CPPT, ou seja, se a citação for efetuada por via postal ou por

69 transmissão eletrónica de dados, conforme previsto no artigo 191.º do CPPT, e o postal não vier devolvido ou, sendo devolvido, não indicar a nova morada do executado e ainda em caso de não acesso à caixa postal eletrónica, procede-se à penhora. Contudo, para que possa proceder com a mesma terá de posteriormente ser efetuada a citação pessoal, como resulta do n.º 2 do artigo 193.º do CPPT, ou citação edital, se aquela não for possível, nos termos do disposto no n.º 3 do mesmo artigo.

Neste sentido, Jorge Lopes de Sousa,91 defendendo que, mesmo nos casos em

que se faz a citação por simples postal ou por transmissão eletrónica de dados não concretizada por o citando não aceder à Caixa Postal Eletrónica, é efetuada posteriormente uma citação pessoal, se se efetuar penhora, como resulta do preceituado no artigo 193.º do CPPT. E, havendo citação pessoal, é da efetivação desta que se conta o prazo para deduzir oposição à execução fiscal. Assim sendo, concordamos com a posição do Venerado Conselheiro, pelo que, será forçoso concluir que a citação pessoal do revertido no processo de execução fiscal apenas se efetiva quando comprovadamente acedeu à caixa postal eletrónica.92

4. CONCLUSÕES

A Administração Pública, com surgimento do Estado Global, teria obrigatoriamente de evoluir para uma Administração Pública Eletrónica, através da qual, tem de garantir celeridade, desburocratização e qualidade dos serviços prestados. Esta mudança só foi possível com conjunto de alterações ao modelo Administrativo, nomeadamente no contacto estabelecido entre a Administração e os particulares. Contudo, não nos podemos esquecer que em mais de 20 anos de vigência, para além das alterações legislativas introduzidas em 1996 e 2008, este só foi alvo de mais duas alterações de inconstitucionalidade por parte do Tribunal

91 Jorge Lopes de Sousa, in Código de Procedimento e de Processo Tributário, Anotado

e Comentado, volume III, 6.ª Edição, Áreas Editora, 2011, pág. 429.

92 No mesmo sentido, entre outros, o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, de 30 de março de 2017, n processo n.º 03081/15.9BEPRT. Vejamos o sumário: “1. A

citação pessoal pode ser efetuada por transmissão eletrónica de dados; 2. Efetuada a citação nesta modalidade, ela considera-se realizada na data em que o destinatário acedeu à caixa postal eletrónica; 3. A citação presumida a que alude o n.º 6 do art. 191º do CPPT não corresponde à citação pessoal prevista no art. 192º/1 do mesmo diploma. 4. Nos termos do art. 203º/1-a) do CPPT, o prazo para deduzir oposição conta-se a partir da citação pessoal ou, não a tendo havido, da primeira penhora.” Disponível na íntegra em www.dgsi.pt

70 Constitucional. Após um primeiro projeto em 2013, só no ano seguinte, em 2014, a Assembleia da República aprovou uma lei de autorização, a Lei n.º 42/2014, de 11 de julho, destinada à aprovação de um novo CPA. Precisamente por este código contemplar importantes introduções e alterações ao nível da Administração electrónica, surgiu necessidade de centrarmos o nosso estudo sobre o regime das notificações eletrónicas.

Vimos que a lei procedimental administrativa deixa cair o requisito da urgência. O recurso a meios tecnológicos pode ser efetuado como uma normal tramitação do procedimento administrativo, porém, exige ainda o consentimento dos interessados, ou seja, o novo código abre a porta para que o procedimento possa assentar num contacto digital e à distância entre os seus sujeitos, mas à cautela, torna o uso dos meios eletrónicos como meramente facultativo, mediante consentimento dos particulares. Concluímos, que a administração não se pode ficar só pelo disponibilizar de novos meios tecnológicos adequados, terá que disponibilizar, também, apoio efetivo ao cidadão para o exercício dos seus direitos, de forma que estes não fiquem frustrados com esta alteração radical na relação com a administração pública. Com a entrada dos recursos tecnológicos nas relações entre a administração e os cidadãos, terá que haver sempre por parte da administração a necessária observância dos deveres de informação na área informativa, ou em qualquer outro formato de comunicação, de forma que esta mudança não venha criar uma litigância maior entre ambos.

Face a estas alterações, não restam dúvidas de que a intenção do novo procedimento administrativo é aumentar a comunicação da Administração Pública com os administrados por via eletrónica. A forma mais comum será sem dúvida o uso do correio eletrónico, através de uma caixa postal eletrónica, com a qual se torna viável para a Administração Pública saber se um determinado documento está na plataforma de um determinado particular com possibilidade de acesso pelo administrado. Contudo, para a utilização do correio eletrónico, carece de uma caixa postal ativa, ViaCTT, quer na titularidade do administrado, quer da administração pública. Porém, sabemos que, nem todas as entidades administrativas a que é aplicado o Código do Procedimento Administrativo celebrou contratos com os CTT, no que respeita à utilização do correio eletrónico, e, nem todos os particulares, possivelmente a maioria, têm caixa posta ViaCTT ativa. Aqui chegados, poderemos concluir que, se as comunicações administrativas da iniciativa da Administração

71 Pública tiverem que preencher na íntegra os requisitos previsto no artigo 63.º do CPA, aos quais acresce a necessidade de consentimento prévio e escrito, a atividade administrativa que hoje já se processa por meios eletrónicos pode diminuir drasticamente. No entanto, somos do entendimento de que estará dentro da lógica legislativa da nova lei procedimental administrativa, que a notificação, que tem uma natureza distinta da simples comunicação, deva ser realizada através de um mecanismo formalmente mais rigoroso, ou seja, através do recurso ao “serviço público de caixa postal eletrónica”

Em virtude dos fatos mencionados, não restam dúvidas de que a intenção do novo procedimento administrativo é aumentar a comunicação da Administração Pública com os administrados por via eletrónica, no entanto, para a utilização do correio eletrónico, carece de uma caixa postal ativa, ViaCTT, quer na titularidade do administrado, quer da administração pública.

Levando-se em consideração esses aspetos, recorremo-nos do procedimento tributário, no qual, as comunicações eletrónicas já têm de ser processadas através do ViaCTT, que permite efetivamente o controlo da receção e leitura dos e-mails enviados. Enquanto que, atualmente, no procedimento administrativo, aceita-se qualquer endereço de email que os destinatários facultem ou que conste da documentação remetida, designadamente no papel timbrado das sociedades, facto que permite, desde já, vislumbrar diversos problemas de demonstração da data de receção da notificação por parte dos destinatários, independentemente da qualidade em que os mesmos intervenham. Por todos esses aspetos, o atual Código de Procedimento Administrativo, mesmo com as alterações introduzidas no âmbito das comunicações e notificações eletrónicas, ainda está longe de poder vir a ter um regime igual ao já consagrado na Lei Geral Tributária.