• Nenhum resultado encontrado

A Coerência da Estrutura de Comando e Controlo

No documento A Afirmação Militar da União Europeia (páginas 68-72)

CAPÍTULO 2 – A ARQUITETURA DE GESTÃO DE CRISES DA UE

2.6. A Coerência da Estrutura de Comando e Controlo

O planeamento militar é um processo interativo, através do qual é feita uma análise dos fatores relevantes e do seu provável impacto na missão ou operação militar. Esta análise é feita em quatro níveis, de acordo com a Figura 5.

No primeiro nível, o controlo político implica a definição de objetivos políticos e estratégicos, dando o enquadramento no qual as operações militares irão decorrer, definindo a sua natureza e finalidade e certificando-se de esta decorre de acordo com as decisões do Conselho.

O Conceito de Gestão de Crises (Crisis Management Concept – CMC), aprovado pelo Conselho, dá o enquadramento conceptual, descrevendo as atividades de PCSD, para enfrentar a crise no âmbito do conceito de “Comprehensive Approach” da UE (UE, 2014a:9), definindo os objetivos políticos estratégicos para o empenhamento da UE. Ao nível estratégico implica a análise dos objetivos políticos, o estado final desejado, restrições e constrangimentos e, também, a análise das capacidades adequadas de modo a antecipar o desenvolvimento das possíveis opções militares face às capacidades existentes ou que se prevejam que possam ser disponibilizadas pelos EM (UE, 2014a:11).

A direção estratégica das operações no âmbito da PCSD é decidida pelos EM, numa lógica intergovernamental, por consenso, exercida através do Comité Político de Segurança, e deve ser traduzida, num planeamento credível e documentação coerentes, que são operacionalizados através de um diálogo entre o nível político, os comandantes da operação e os estados-maiores.

Estruturas de Comando e Controlo da União Europeia

Fonte: Weisserth, Hans-Benhard (2012b) “Command and Control Options” in Jochen Rehrl e Hans- Benhard Weisserth (eds.) Handbook on CSDP, (2ª ed.). Viena: Ministério da Defesa e dos Desportos da República Federal da Áustria, 60. (Adaptado).

No segundo nível, civil e militar estratégico, são transpostos os objetivos políticos e estratégicos para diretivas, conceitos e planos, que possibilitem que a operação seja planeada e conduzida. A estrutura de comando e controlo de PCSD terá de fazer o planeamento da operação, tendo em conta os objetivos da campanha, as modalidades de ação e os recursos disponibilizados pelos EM, de tal forma que a missão possa ser cumprida, o que exige que haja um equilíbrio, entre a lógica intergovernamental que garante os interesses dos estados e a lógica institucional de quem planeia e executa a missão.

O terceiro e quarto nível compreendem o nível operacional e o tático. Segundo o conceito acordado pelo Comité Militar em 2006, o Battle Group da UE é uma força militar multinacional de nível tático, de cerca de 1500 militares, apoiada por meios aéreos e navais, capaz de conduzir operações independentes e está na dependência de um Force Headquarter (FHQ), Quartel-General (QG) de nível militar operacional, que por sua vez está dependente de um Operational Headquarter (OHQ), QG de nível militar estratégico (UE,2012).

A falta de coerência verifica-se entre os níveis civil e militar estratégico. Ao nível civil estratégico, no Serviço Europeu de Ação Externa (EEAS), o Civilian Planning and

Conduct Capability (CPCC) desempenha as funções de um QG de nível estratégico, para o

planeamento operacional e conduta de missões civis (Haber, 2014:40). O Diretor do CPCC

acumula como Comandante Operacional Civil (CivOpCdr). Para que houvesse uma abordagem coerente e consistente, era urgente dotar o EEAS com uma capacidade de planeamento militar semelhante, o que até ao momento não aconteceu, por falta de vontade política, criando uma estrutura funcional, que articulasse as capacidades civis e militares (Silva, 2013:1070). A co - localização dos níveis de decisão político estratégico e militar estratégico teria vantagens relacionadas com a sua multinacionalidade, permanente disponibilidade e sinergia civil militar, características essenciais para melhorar a capacidade de resposta rápida nas operações de gestão de crises.

No nível, operacional, os FHQ e no nível tático, os Battle Group, para operações da UE, são constituídos de uma forma ad hoc pelos EM conforme a vontade e a disponibilidade demonstrada. No âmbito deste estudo, os exemplos mais relevantes, de operações tipo Battle Group foram executados durante as operações Artemis (UE, 2003a), EUFOR RD Congo (UE, 2006), e EUFOR Tchad/RCA (UE, 2009).

No nível militar estratégico, na ausência de uma estrutura permanente de comando e controlo militar, a UE tem quatro opções estratégicas para comandar e controlar as operações militares.

Opções Militares de Comando e Controlo

Fonte: Bodescu, Alin (2014) “Training and Recruitment for Military Operations” in Jochen Rehrl (ed.)

Handbook for Decision Makers – The Common Security and Defense Policy. Viena: Ministério da Defesa e

dos Desportos da República Federal da Áustria,79.

Figura 6

Para as missões militares mais exigentes têm duas opções. Pode recorrer aos meios e capacidades da NATO através do acordo Berlin Plus ou pode recorrer aos meios e capacidades dos EM. Neste caso, o OHQ será fornecido por um dos cinco EM que disponibilizaram o seu OHQ: França, Alemanha, Grécia, Reino Unido e Itália.

Para outras missões, o Estado Maior Militar da União Europeia (EUMS) pode ativar o Centro de Operações para planear e conduzir uma operação autónoma, que requer uma resposta civil e militar, desde que não haja um OHQ identificado (Weisserth,

2012b:60) e, também tem a responsabilidade de ser capaz de levantar um OHQ para exercer o comando e o controlo de uma operação militar (Wosolsobe, 2014: 38). Apesar de existir a capacidade esta só é operacionalizada após uma decisão do Conselho, pelo que as soluções42 são sempre temporárias e dependentes da vontade política.

Existe ainda uma quarta opção, utilizada na EUTM Somália e EUTM Mali, em que as funções do OHQ e do FHQ são desempenhadas por um único QG (Bodescu, 2014:79).

Como iremos tentar provar com o nosso estudo de caso, no capítulo terceiro, a criação de um OHQ permanente no EEAS e de um FHQ permanente viria preencher esse vazio, conseguindo-se assim a coerência vertical (Gebhard, 2011:107), em ambos os níveis, com uma total integração entre o OHQ e o FHQ, com pessoal treinado e qualificado, disponível para executar o trabalho de estado-maior, coordenação civil militar e para fazer a ligação e a coordenação aos diferentes níveis.

No documento A Afirmação Militar da União Europeia (páginas 68-72)