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CAPÍTULO 3 – AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO ASSISTENTE

3.2 A COLETA DE DADOS: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO FOCAL

O grupo se reuniu no dia 06 de julho de 2012, no período da manhã, dia em que são realizadas reuniões e atividades internas deste Conselho. O encontro durou 1 hora e 5 minutos, e participaram quatro dos cinco membros integrantes do Conselho Tutelar, sendo que a ausência de um membro justificou-se por laudo médico. A Lei Municipal n° 5.305/2010, em seu art. 1°, parágrafo único, refere a composição do Conselho por cinco membros titulares e cinco suplentes. A equipe do Conselho Tutelar em Ijuí é composta por dois secretários, quatro motoristas e cinco conselheiros.

O encontro foi previamente agendado, planejado e organizado, conforme a disponibilidade dos horários dos conselheiros. Após os participantes estarem devidamente acomodados, feitas as devidas apresentações, foi solicitada a permissão para que a coleta de dados fosse gravado em um aparelho MP3 e explicitado todas as etapas para que a pesquisa pudesse ser realizada. Nesse momento a pesquisadora leu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram coletadas as assinaturas dos participantes, reforçando que os dados serão apenas para fins científicos vinculados ao presente trabalho de conclusão de curso. Foi entregue a cada participante uma via do referido Termo.

Dentre os membros que estavam presentes no encontro observou-se que em relação à formação exigida para a atividade, conforme consta no art. 13, inciso 1°, item III do Regimento Interno, estes possuem a seguinte formação escolar/acadêmica:

− Dois concluíram o ensino superior – Bacharelado em Direito e Serviço Social;

− Dois possuem curso superior incompleto.

Em relação ao perfil dos conselheiros, três participantes do estudo são do sexo feminino e um é do sexo masculino. Quanto a sua idade, esta varia entre 30 e 38 anos.

Para facilitar a atividade, adotou-se um roteiro com três questões abertas, as quais tiveram o propósito de nortear as discussões, de acordo com os objetivos inicialmente propostos pela pesquisa:

1) Como é a rotina diária do trabalho desenvolvido pelo Conselho Tutelar? 2) Qual o entendimento que vocês têm sobre o trabalho do Assistente Social?

3) Se neste espaço estivesse inserido um Assistente Social, qual seriam as atribuições que ele poderia desenvolver?

Percebeu-se muita espontaneidade entre os participantes ao longo das discussões, o que facilitou a compreensão e o diálogo entre os sujeitos e a pesquisadora. Os conselheiros tutelares demonstraram interesse sobre o assunto e quando era feito um questionamento, sempre havia um dos integrantes pronto para responder, não se limitando à resposta, mas indo além do questionamento. Também falavam muito sobre o processo de trabalho desenvolvido na instituição, explicando os procedimentos necessários para a aplicação de medidas ou notificações, os quais foram cordialmente disponibilizados por meio da apresentação dos formulários de atendimentos que são aplicados quando necessário. Percebeu-se que há um domínio das atribuições a que estão dispostos, pois nos relatos dos atendimentos sempre citavam o artigo da lei a que estavam se referindo.

No dia do encontro uma das integrantes do grupo estava no seu período de plantão, e por diversas vezes fez uso do celular, o que não impediu sua participação ativa na atividade.

A Lei Municipal n° 5.305/2010, em seu capítulo VIII, aborda a organização interna do Conselho Tutelar, sendo que o papel de coordenador se destaca pela sua importância e responsabilidade. A coordenação é composta pelo coordenador, vice-coordenador e dois secretários, com mandato de 12 meses, sendo permitida a reeleição. A coordenação é escolhida pelos próprios conselheiros tutelares titulares, na primeira seção do colegiado. Na falta ou impedimento do coordenador, assume o seu vice, o 1° ou o 2° Secretário, e assim sucessivamente. A atual coordenação está a cargo da Conselheira Titular Luciana Albrecht.

Em relação à organização do Conselho Tutelar, os atendimentos são diários, sendo que uma vez por semana, sempre nas sextas-feiras, o atendimento é interno, momento em que são realizadas reuniões, estudos de casos e trabalhos burocráticos. Há sempre um conselheiro de plantão e outro responsável pelos atendimentos na sede.

No encontro com os conselheiros, sujeitos participantes do estudo, estes informaram que as demandas chegam por meio de três possibilidades: via documentação, por telefone, e

atendimento ao público. A documentação refere-se a uma ocorrência formalizada, como por exemplo, na Delegacia de Polícia, quando é registrado um fato que envolve criança, adolescente ou Lei Maria da Penha. Enquadram-se também as demandas encaminhadas via documentação de escolas, quando se percebe que uma criança não está matriculada, ou quando ocorre a infrequência escolar.

Os casos considerados mais “comuns” pelos conselheiros são a falta de vaga em creches e escolas, o envolvimento de adolescentes com drogas, os espancamentos ou maus tratos pelos pais ou responsáveis, o abuso sexual e a violência de pais alcoolistas e drogaditos. Dentro desta esfera de atendimento as demais demandas estão relacionadas a reclamações sobre ameaça e violação dos direitos de crianças e adolescentes e de suas famílias, em que são realizadas orientações e encaminhamentos.

A primeira questão do roteiro foi sobre a rotina diária do trabalho desenvolvido pelo Conselho Tutelar, ao que os membros do Conselho responderam:

A organização de atendimento é feito por escalas, na qual sempre há uma conselheira de plantão, e uma fazendo atendimento ao público no sobreaviso. Como suporte as outras 03 (três) conselheiras ficam fazendo o trabalho burocrático. Salientou-se que um dos fatores que envolvem mais tempo é esta atividade, quando um atendimento é realizado, vários são os encaminhamentos da rede de proteção, estes são por meio de ofícios. (Conselheiro A).

É intensa, pois há o atendimento à população por telefone, no sobreaviso, recebendo e verificando denúncias; respondendo ofícios ao Ministério Público, Fórum, Delegacia, solicitando o acompanhamento da rede de proteção. Muitos atendimentos e conversas sobre os casos que atendemos. (Conselheiro B).

De segunda à quinta-feira, com atendimento interno, denúncias, ofícios à rede de proteção pedindo encaminhamentos. (Conselheiro C).

Dá muito trabalho, mas poucos resultados práticos. Vejo o Conselho Tutelar, como órgão que tem seu resultado a longo prazo – geracional, mas com índices baixos (falta de comprometimento de uma maneira geral). Há uma carência de tempo e material informatizado para a realização dos encaminhamentos, o trabalho burocrático se torna um problema diante das demandas vultosas. (Conselheiro D).

As falas acima revelam que o trabalho burocrático é uma das dificuldades encontradas na rotina dos conselheiros, ou seja, é uma atividade que ocupa determinado tempo, conforme se depreende na fala “o que prende é a questão burocrática”. Os participantes afirmaram que poderiam estar atuando em mais atendimentos, dando andamento às demandas que se apresentam à instituição, mas a parte burocrática de certa forma propicia o acarretamento e o acúmulo de trabalho.

O excesso de burocracia das diversas organizações impede um acesso imediato dos usuários aos serviços, sobretudo àqueles que se encontram em maior precariedade social e cultural. Neste sentido, as atividades profissionais estabelecem relações entre as intenções profissionais e as demandas sociais que aí se materializam. Tais fazeres mobilizam mecanismos institucionais articulados a processos sociais que se estabelecem de forma particular na organização em que a profissão se encontra instalada.

A realidade apresentada refere-se à rotina dos conselheiros e, neste contexto a burocracia apresenta-se como um dos entraves na organização e funcionamento da instituição. Outro apontamento que se destacou foi a relação com a Rede de Proteção, acionada pela necessidade de um atendimento urgente, em que é preciso um atendimento conjunto com outro profissional, no caso, o assistente social. Ao perguntar se a rede funciona, a resposta foi: “desenvolve-se um trabalho limitado” e “a rede tem que funcionar, mas não funciona”. A resposta se justifica pelo excesso de demandas em todas as áreas.

Os conselheiros destacaram ainda o despreparo dos profissionais nas linhas de atendimento (Rede), em que a comunicação entre os profissionais é interpretada de forma incorreta, relatando que “não existe uma equipe organizada para o atendimento dessas

demandas”.

[...] o conselho tutelar não executa suas decisões, mas promove, indica, determina que suas deliberações sejam cumpridas pelas entidades governamentais e não governamentais que prestam serviços de atendimento à criança, ao adolescente, às famílias e à comunidade em geral, caracterizada pela essência da assistência social nas diversas áreas. E para promover a execução de suas decisões, o Conselho Tutelar pode: a) requisitar serviços públicos nas áreas da saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. (LIBERATI; CYRINO, 1993, p. 158).

É importante salientar o fato de que no momento em que o usuário procura atendimento, os seus encaminhamentos devem se desenvolver de forma a garantir a sua totalidade quanto ao acesso e efetividade de direitos. Reforçado pelo Código de Ética, é dever do assistente social contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados.

Na sequência, a segunda pergunta da entrevista referia-se ao entendimento dos conselheiros sobre o trabalho do Assistente Social, os quais responderam:

O assistente social é técnico, tem possibilidades de outro olhar, que muitas vezes o conselheiro não percebe. Para tanto, o CREAS tem 03 (três) assistentes sociais e 03 (três) psicólogos, quando necessário auxiliam o conselho tutelar nas demandas que

se apresentam. Este número de profissionais é pouco para uma demanda considerável. (Conselheiro A).

O assistente social é o que vai fazer a visita na família, tendo um olhar diferenciado e planejado, encaminhando a família aos projetos e atividades necessárias para melhorar a situação da família. Ser alguém ativo e que trabalhe em equipe.

(Conselheiro B).

Fundamental, mediador com conversas mais sensíveis e uma visão mais ampla da situação vulnerável em relação a casos mais complexos. (Conselheiro C).

Fundamental, necessário. A visão técnica no trabalho do conselho tutelar faz com que hoje se tenha subsídios para que se possa rever a medida protetiva e de fato perceber o usuário como sujeito de direitos. Há fundamento no trabalho.

(Conselheiro D).

Esta última fala expressa a necessidade de haver profissionais assessorando os membros do Conselho Tutelar, o que se justifica pelas dificuldades encontradas perante as demandas que se apresentam no seu dia a dia. Os depoimentos dos conselheiros revelam a importância deste profissional, pois as relações do Conselho Tutelar com o Assistente Social estão diretamente ligadas por se tratar de demandas relacionadas à família, às crianças e aos adolescentes. Percebe-se certa euforia por parte dos membros no que diz respeito ao profissional da área do Serviço Social na possibilidade de atuar na instituição sendo que uma das falas expressou: “Seria um sonho!!!! A percepção do assistente é mais ampla que o de um

conselheiro”.

Observaram-se também nos comentários que os conselheiros muitas vezes tentam desempenhar o papel do assistente social, justificando a carência de profissionais trabalhando conjuntamente (fragilidade da Rede de Proteção) no caso dos encaminhamentos, sendo que os conselheiros fazem/encaminham os atendimentos por não haver outra opção. Mesmo assim, procuram orientar a população da melhor forma possível, mas sentem certa fragilidade em algumas situações.

É importante ressaltar que a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei n° 8.662/93), que dispõe sobre a profissão do Assistente Social e da outras providências, em seu art. 4° afirma ser competência do Assistente Social: Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; [...].

De acordo com Iamamoto (2005, p. 49), alimentado por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano tem ampliado as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho num momento de profundas alterações na sociedade contemporânea.

Articular de maneira especial as possibilidades de garantias de direito, utilizando-se da análise de profissionais não só de Serviço Social, mas também de outras áreas afins, como Direito, Sociologia, Psicologia, Antropologia, contribui para assessorar a eficácia da atuação dos membros do Conselho Tutelar.

A terceira e última questão refere-se às atribuições do Assistente Social no espaço do Conselho Tutelar, ao que os conselheiros responderam:

O contato é direto com o Serviço Social, não se consegue desenvolver um trabalho que não estejam presentes as duas partes (Serviço Social e Conselho Tutelar), um precisa do outro, cada um com sua especificidade, ou seja, o conselho tutelar faz a averiguação e por meio de um relatório o conselheiro relata tudo o que pode ser útil. Estes dados servirão como alicerce para o assistente social ter uma noção de que demanda se trata, se é urgente ou não. O Conselho Tutelar pode requisitar serviços públicos (conforme ECA art.136), sendo que o profissional assistente social, quando é solicitado seus serviços, acompanha o caso, faz visita domiciliar, orientação, e encaminhamento e inclusão nos projetos e elabora estudo social.

(Conselheiro A).

Auxiliar nas intervenções dos conselheiros, realizando visitas em conjunto, auxiliando no atendimento ao publico e junto a rede realizando estudos sociais.

(Conselheiro B).

Idem resposta da n° anterior. (Conselheiro C).

Poderia acompanhar o trabalho, poderia sugerir encaminhamentos, efetuar/sugiro estudos a situações posteriores as medidas; poderia auxiliar-nos dentro das expectativas de sua profissão. Precisamos de equipe. (Conselheiro D).

Percebe-se na fala destes sujeitos que consideram importante a presença do Assistente Social nas atividades do Conselho. Segundo os conselheiros, nos casos excepcionais de acolhimento a crianças e adolescentes é necessário acionar uma assistente social do CREAS a fim de avaliar o caso da necessidade do acolhimento ou não. Em sua fala o conselheiro afirma:

Se tivéssemos um assistente presente na instituição, meu Deus do Céu, teríamos mais resultados. (Conselheiro A)

Há preocupação do grupo em agilizar com mais eficiência os encaminha-mentos que se referem à criança e ao adolescente, principalmente quando uma criança precisa ser abrigada.

Ainda com relação às atribuições do assistente social, foi salientado que não se consegue acompanhar e dar continuidade em muitos casos depois da realização dos primeiros atendimentos. Um assistente social inserido na instituição poderia auxiliar em atividades que

envolvem usuários no acesso a garantia de direitos, bem como, fazer triagens, encaminhamentos e avaliações conjuntas, orientação sócioeducativa, acompanhar e realizar visita domiciliar, quando necessário realizar estudo socioeconômico, inserindo os usuários em programas sociais disponíveis, auxiliando os conselheiros no manejo das demandas para que estas não se percam.

Em alguns casos se perdem porque as medidas de proteção não são eficazes, não se consegue acompanhar aquela família, e se o projeto em que ela foi inserida realmente está dando o resultado esperado. (Conselheiro D).

Esta fala refere que se poderia trabalhar com os conselheiros na forma de consultoria e assessoria, enriquecendo o trabalho desenvolvido pelos profissionais. Em relação às demandas que se apresentam na instituição, este indicativo poderá qualificar a forma de atendimento em que crianças e adolescentes são envolvidos.

Apresentados os depoimentos dos conselheiros, sujeitos desta pesquisa, em resposta ao grupo focal realizado, passa-se a descrever as possibilidades de inserção do assistente social no universo do Conselho Tutelar, tendo como base o estudo oral realizado.

3.3 AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO AO

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