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Esta seção destina-se a identificar, de maneira sucinta, como a complexidade surgiu e analisar como é percebida no ambiente organizacional. A partir do século XX o tema complexidade ganhou referência teórica, construída a partir das transformações nas ciências naturais e matemáticas. O impacto desta revolução científica, de acordo com Kuhn (2005), ecoou na Lógica, na Cibernética, na Química, na Biologia e nas Ciências Sociais.

A associação do tema à área da cibernética proporciona um entendimento de como os sistemas podem aprender a se auto-organizar em ambientes mutáveis e como funções determinísticas simples podem dar origem a comportamentos altamente complexos e muitas vezes imprevisíveis (LEVY, 2000; LUHMANN, 1995). A ordem em tais sistemas é vista se manifestando de forma imprevisível, porque os padrões de comportamento emergem em formas irregulares, mas semelhantes, por meio de um processo de auto-organização regido por certo número de regras a fim de gerar uma ordem simples (BURNES, 2005). Amagoh (2008) explica que o paradigma da complexidade rejeita os modelos ontológicos mecânicos que manifestam a causalidade linear entre seus eventos e efeitos, e se concentra em compreender como as peças em nível micro, de um sistema complexo, afetam o comportamento emergente e o resultado geral em nível macro. Faucher, Everett e Lawson (2008) complementam que, a teoria da complexidade enfatiza a importância das relações não lineares dentro de um sistema. Assim, o conhecimento dos elementos de um sistema não é o mais importante, mas sim obter compreensão de como aqueles elementos se relacionam de modo a formar sistemas de retroalimentação. Wheatley

(2012) afirma que à medida que se observa os elementos de interação de um sistema é possível notar o surgimento de um padrão de comportamento. Nesse processo o novo só é possível emergir, porque ocorre em sistemas não lineares com diferentes dimensões e interações.

Sob o prisma organizacional, a complexidade está atrelada as formas de conectividade de diferentes unidades. Para Levy (2000) a teoria da complexidade oferece novas percepções, métodos analíticos e marco conceitual que têm animado estudiosos da gestão. Nesta perspectiva, Dooley (2002) define complexidade organizacional como a quantidade de diferenciação existente dentro dos diferentes elementos que constituem a organização.

Steger, Amann, Maznevski (2007) identificaram quatro fontes principais geradoras de complexidade, que interagem em conjunto para criar o ambiente atual das organizações, a saber: a) a diversidade que as organizações globais enfrentam em todos os aspectos do próprio negócio; b) a interdependência que estabelece uma relação da organização com todo seu ambiente global criando oportunidades, mas também desafios em rede; c) a ambiguidade determinada pelo excesso de informações no mundo dos negócios, demonstrando pouca clareza sobre a forma de interpretar e aplicar insights tornando difíceis de determinar as relações de causa-efeito; e por fim, d) o fluxo que surge de mudanças constantes em diferentes direções e ao mesmo tempo, sinalizando que as soluções previstas e concebidas já não podem ser utilizadas nos novos processos ou contextos organizacionais.

Mason (2007) acrescenta que a complexidade é definida por uma medida de heterogeneidade ou diversidade de fatores internos e externos organizacionais, tais como departamentos, clientes, fornecedores, ambiente sócio-político, cultural e tecnologia. À medida que a complexidade de um sistema aumenta a capacidade de compreender e utilizar as informações para planejar e prever se tornam mais difíceis. Com o tempo, o aumento da complexidade leva a uma maior mudança dentro do sistema. Steger, Amann, Maznevski (2007) complementam que, embora a complexidade crie situações imprevisíveis, os gestores precisam delinear um sistema de consciência inicial e compreender que o caos é simplesmente um grau de complexidade com regras e direções que não são totalmente percebidos. Tal consciência inicial não precisa de sistemas sofisticados ou de muito trabalho. Para os autores, é uma mentalidade, uma sensibilidade que emite “sinais fracos” que indicam mudanças emergentes e previsões para serem compreendidas. Complementando a ideia de caos, Burnes (2005) defende que o caos pode ampliar pequenas mudanças no

ambiente, fazendo com que a instabilidade necessária transforme um padrão existente de comportamento para um novo, mais apropriado, onde possam espontaneamente auto-organizar-se para produzir uma estrutura diferente de padrões de comportamento.

Buffenoir e Bourdon (2013) destacam que nas últimas décadas as organizações têm passado por uma reconfiguração em suas estruturas devido a fatores de mercado e hierarquia interna. Tal comportamento é predominantemente peculiar às organizações complexas que dependem de grandes redes abertas e combinam três tipos de interdependência - com o meio ambiente; com seus próprios componentes; e, finalmente, entre seus próprios componentes. Essa complexidade é reflexo do ambiente interno, onde tecnologias e processos formam o núcleo das atividades da organização, caracterizado pela existência de múltiplas relações com parceiros externos, permeando as fronteiras organizacionais, que se tornam porosas devido à complexidade de dinâmicas causais em suas evoluções internas.

Maimone e Sinclair (2014) acrescentam que nas organizações complexas é comum a existência de um espaço organizacional, físico ou não, onde a mudança emergente começa inspirada na ação e nas interações sociais, nos padrões recursivos de comportamentos e nas relações com os processos da organização. De acordo com a teoria da ordem implícita de Bohm (2008), tudo é interligado no nível quântico que cria uma interdependência de todos os componentes em um sistema natural, conceito que, por analogia, pode ser aplicado nos sistemas organizacionais.

Sob o prisma da gestão do conhecimento, Faucher, Everett e Lawson (2008) afirmam que o surgimento da teoria da complexidade indica um estado de alerta para o campo da gestão do conhecimento. A teoria da complexidade oferece a oportunidade de novas metáforas para transmitir o conceito de conhecimento, permitindo melhor representação de seu significado holístico e complexo. Para os autores, os modelos existentes não mostram o sentido holístico e complexo do conceito de conhecimento. Esta falta de compreensão integrada retém a gestão do conhecimento e dificulta a compreensão do sistema cognitivo. Os autores concluem com a ideia de que insights da teoria da complexidade facilitarão a realização do próximo estágio de evolução da gestão do conhecimento. Ahern, Leavy, Byrne (2014) propõem o gerenciamento de projetos complexos como uma forma de resolução de problemas complexos em contextos de incerteza enfrentados na gestão do conhecimento. O entendimento do nível de complexidade e incerteza no

domínio do problema tem sido muito utilizado para distinguir diferentes níveis de aprendizagem organizacional, ou na criação de conhecimento.

Compreender a complexidade inerente aos ambientes organizacionais pode contribuir no entendimento de como a criação de conhecimento emerge em diferentes níveis de interações da estrutura do sistema organizacional. Na próxima seção apresentam-se algumas dimensões importantes evidenciadas pela gestão do conhecimento no tratamento do conhecimento organizacional. E também, mostra a evolução da teoria da criação de conhecimento.