• Nenhum resultado encontrado

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Cooperação em Saúde

2.3 A COOPERAÇÃO TÉCNICA BRASILEIRA NA ÁREA DA SAÚDE NA ÁFRICA

2.3.1 A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Cooperação em Saúde

Sob o alicerce das conexões e características linguísticas da língua portuguesa como idioma oficial de Estado, surge em 1996, na cidade de Lisboa em Portugal, a formação com o intuito de consolidar os países lusófonos, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). (ALMEIDA et. al., 2010).

A CPLP é formada por oito Estados membros, dentre estes, de quatro distintos continentes, o Brasil na América do Sul, Portugal na Europa, Timor Leste na Ásia, e cinco países do continente africano: Angola; Moçambique; Guiné-Bissau; Cabo Verde; São Tomé e Príncipe. (BUSS; FERREIRA, 2010).

O grupo caracteriza-se como um empreendimento em reforçar as presenças dos membros no sistema internacional. Tem como distintivo a cooperação por meio da troca de

conhecimento técnico em áreas estratégicas. Os principais setores desenvolvidos estão conectados com a gestão de recursos humanos, segurança alimentar, saúde pública, gestão administrativa e entre outros. (MENEZES; RIBEIRO, 2011).

No campo focal da saúde segundo Almeida e outros (2010, p. 29):

O modelo de cooperação em saúde adotado para os países da CPLP baseia-se num plano estratégico conjunto de cooperação em saúde (Plano Estratégico de Cooperação em Saúde- PECS), construído com a participação de autoridades dos ministérios da saúde dos oito países e apoiado por “pontos focais” locais, cuja tarefa é identificar interesses e necessidades a partir da mobilização de autoridades nacionais e outros atores. O financiamento vem dos próprios governos e outras fontes nacionais e internacionais.

Mesmo constando com reuniões informais anteriores, o setor da saúde apresentou suas convenções formalmente estabelecidas somente em abril de 2008, na reunião de Ministros da Saúde da CPLP, em Praia, Cabo Verde. Após varias reuniões entre os Conselhos de Ministros e Grupo Técnico de Saúde foi em maio de 2009 que concretizaram a Declaração do Estoril, como consta no Anexo A, a precursora do Plano de Cooperação em Saúde (PECS) para os períodos de 2010 a 2012, promulgando a consolidação de projetos na área da saúde pelos países da CPLP. (BUSS; FERREIRA, 2010).

Portanto, o PECS possui a definição de seus pontos focais mediante o Conselho de Ministros da Saúde, e são coordenados em cada país por meio da Secretaria Executiva da CPLP. O apoio técnico formal é realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Brasil e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Portugal. (ALMEIDA et. al. 2010).

Em destaque, a “Fiocruz África” origina o primeiro escritório internacional que representa a Fundação brasileira em território africano, em Maputo, Moçambique. Iniciativa essa, que tomou seus moldes no governo de Lula, e possui suma importância para o desenvolvimento da cooperação na África e principalmente na coordenação dos projetos da CPLP. (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2012b).

Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (2009, p. 1):

O Plano Estratégico de Cooperação em Saúde da CPLP (PECS CPLP 2009-2012) aprovado em maio de 2009, em Estoril, Portugal, define como sua principal finalidade a contribuição para o reforço dos sistemas de saúde dos Estados Membros da CPLP, de forma a garantir o acesso universal a cuidados de saúde de qualidade. Preconiza também que o estabelecimento de ações de cooperação multilateral em saúde no âmbito da Comunidade deve ter como base os eixos estratégicos e projetos prioritários definidos no âmbito do Plano.

Dessa forma, a agenda de saúde desenvolvida no ano de 2009, segundo dados da CPLP possui sete eixos estratégicos a serem ampliados e trabalhados: Desenvolvimento da força de trabalho em saúde; Informação e comunicação em saúde; Investigação em saúde; Desenvolvimento do complexo produtivo em saúde; Vigilância epidemiológica e da situação de saúde; Promoção e proteção da saúde; Emergências e desastres naturais. Os sete eixos delineados pela Comunidade serão melhores analisados em sua singularidade e ordem elencada logo abaixo. (BUSS; FERREIRA; HOIRISCH, 2011).

A Força de Trabalho em saúde, por possuir propriedade crítica em muitos sistemas, e sendo caracterizada pela falta de profissionais, de escolas de formação e de educação contínua, gera expressão em todos os países da comunidade e torna-se ainda mais visível no continente africano. De tal forma, que para tentar solucionar tais deficiências ficou decidido o engajamento na criação de Observatórios de Recursos Humanos em Saúde nos países africanos, também considerados PALOP, sigla em referencia aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa integrantes da comunidade, e uma rede desses Observatórios no âmbito da CPLP. (BUSS; FERREIRA, 2010).

Na direção dos projetos em questão:

Baseado no eixo de Formação e Desenvolvimento da Força de Trabalho em Saúde, por exemplo, está o Centro de Formação Médica Especializada (CFME) da CPLP. Já decorreram no âmbito do CFME várias ações formativas, como a Oficina de Capacitação em Monitoramento e Avaliação com foco na melhoria dos projetos de Cooperação Internacional em Saúde realizada entre 14 e 18 de março de 2011 e a Formação sobre Reanimação Neonatal e Pediátrico que ocorreu entre 21 de março e 1º de abril de 2011. Atualmente acontece o 1º Curso Internacional de Especialização em Saúde Pública (Ciesp), iniciado em abril deste ano. Esta formação, com caráter de pós-graduação, tem duração de dez meses e tem por objetivo sistematizar a experiência e os conhecimentos médicos daqueles que, com experiência de mais de cinco anos como responsáveis nesta área nos seus respectivos países, nunca tiveram a oportunidade de obter uma especialização em Saúde Pública. Outras ações formativas tais como: Infecciologia; Saúde Materna, infantil e juvenil; e Hipertensão e Tratamento da Ferida e da Dor também devem ter início em breve. (Cooperação e Saúde, 2011b, p. 8).

No campo da formação técnica, com intuito da ampliação de agentes das mais distintas áreas da saúde (enfermeiros, radiologistas, agentes comunitários da saúde etc.), os objetivos concretizam implantar Escolas Técnicas de Saúde nos países da CPLP. E a formação de médicos especialistas em áreas prioritárias pelo Centro Formação Médica Especializada, para ser instituído em Cabo Verde. (BUSS; FERREIRA, 2010).

Como consequência dos investimentos no campo da força de trabalho na área da saúde, faz-se necessário o embasamento de bibliografias e documentos, constando para o

Timor Leste e muitos dos países africanos como algo inexistente. Para tanto, o ponto focado para a Informação e Comunicação em saúde mostra-se plausível, fomentando a criação do Portal CPLP Saúde, de Redes de Bibliotecas Virtuais e de Bibliotecas de Saúde. (BUSS; FERREIRA, 2010).

Para complementar tal iniciativa conforme Buss e Ferreira (2010, p. 111):

Além disso, a OMS (2008) criou o e-português, uma plataforma para apoiar o desenvolvimento de recursos humanos para a saúde nos países de língua portuguesa, através do fortalecimento da cooperação na área da informação, documentação e capacitação em saúde.

Na Investigação da Saúde, os objetivos se findam na cooperação das atividades cientificas e tecnológicas, construindo o aumento dessas bases e buscando a inovação entre os pesquisadores da CPLP. Priorizam as áreas envolvidas com a vigilância em saúde, a gestão de sistemas de saúde e a pesquisa biomédica. Abarcando todos os países por meio dos Institutos nacionais de Saúde. (COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2009).

No quesito supracitado, a CLPL conta com um número considerável de instituições de alta qualidade para o desenvolvimento de estudos e pesquisas na área. Exemplos são compostos pela Fiocruz no Brasil e demais institutos públicos brasileiros que envolvem o tema, como também as redes de universidades portuguesas que contam com instituições do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, o Instituto Gulbenkian de Ciências e as tradicionais e novas Universidades de Portugal. Angola e Moçambique conseguiram estabelecer suas universidades para contribuir com a área, e os demais países da comunidade ainda trilham o caminho da concretização. (BUSS; FERREIRA, 2010).

O ponto focal do desenvolvimento do complexo produtivo de saúde possui alicerce para desenvolver a indústria farmacêutica interna dos países da CPLP, atenuando as dependências externas de insumos para a saúde, e constituindo um processo de diversificação dos mercados internos da saúde e da assistência farmacêutica. Apoiando organizações de serviços de manutenção de equipamentos relacionados à saúde. (COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2009).

A vigilância epidemiológica e da situação de saúde propostos compõe o acompanhamento dos resultados obtidos pelos países membros da comunidade na ampliação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. E com intuito de aprimorar as estruturas de laboratoriais a fim de garantir diagnósticos precisos, visa-se estruturar Laboratórios Nacionais

de Referência em Saúde Publica nos países africanos e no Timor Leste. (COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2009).

Em busca de comunidades saudáveis, a promoção e proteção da saúde, emprega a determinação de projetos-pilotos nos países da CPLP de desenvolvimento local, com ações intersetoriais e de estudos. Visa o aperfeiçoamento contínuo de condições de saúde e de vida, abrangendo programas de escolas saudáveis, saneamento básico e de determinantes sociais da saúde. Nos PALOP e no Timor Leste, compreendem projetos específicos para a implantação de programas de sensibilização de curandeiros, bruxos e outros, considerados médicos e parteiras tradicionais. Ponderando que são bases importantes para muitos países da África, tais agentes “alternativos” decorrem para um programa de sensibilização para a ação de reconhecimento e derivação ao sistema de saúde de patologias específicas. (COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2009).

O último eixo analisado, é composto pelas emergências e desastres naturais, é de suma importância para países de níveis elevados de carência na área da saúde e que não possuem infraestrutura, muito menos se levar em conta as catástrofes naturais imprevisíveis. Fazendo-se necessário a criação de coordenações com núcleos nacionais para o empenho ágil e coordenado, para apoio em situações emergenciais; contempla programas para as crises sanitárias pós-emergências naturais; escassez aguda de medicamentos, surtos epidêmicos e muitos outros. (BUSS; FERREIRA, 2010).

Conforme Buss e Ferreira (2010, p. 112, grifo nosso):

O último passo realizado para a implantação do PECS foi a reunião de ‘parceiros para o desenvolvimento do PECS/CPLP’ (Lisboa, outubro de 2009), na qual Brasil e Portugal anunciaram doações iniciais de USD 250 mil cada e o Banco Mundial se comprometeu com a concessão de um ‘grant’ de USD 500 mil, que passam a compor o Fundo de Saúde CPLP, especialmente criado pelos ministros e secretariado para financiar as ações do PECS. Num gesto emocionante e de

expressiva confiança no processo, o pequeno Timor Leste fez uma doação que chamou ‘simbólica’ de USD 25 mil para ajudar na viabilização do PECS. A partir do exposto, o Quadro 3 demonstra projetos desenvolvidos no continente africano realizados pela Fiocruz, com dados de 2009. Divididos em respectivos países, planos e estágios das cooperações, contempla seis países integrantes da CPLP: Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, e Timor Leste, como também Nigéria, Burkina Faso, Mali e Tanzânia que não participam da comunidade.

Quadro 3- Projetos de Saúde de cooperação com a África, realizados pela Fiocruz, 2009

PAÍSES EM ANDAMENTO EM NEGOCIAÇÃO EM ESTÁGIO

EXPLORATÓRIO Moçambique

(CPLP)

1) Implantação da companhia farmacêutica pública, em Moçambique, com a finalidade de produzir antirretrovirais e outros medicamentos. 2) Fortalecimento do Instituto Nacional de Saúde. 3) Programa de Mestrado em Ciências da Saúde.

4) Criação da Escola Politécnica de Saúde. 5) Capacitação técnica em manutenção de

equipamentos. 5) Criação do Instituto Nacional para a Mulher e a Criança. 6) Capacitação em serviços em saúde maternal e infantil. 7) Implementação do Plano de Cooperação

Estratégica em Saúde (PECS). 8) Fortalecimento do Instituto Nacional de

Saúde (colaboração com IANPHI)

1) Apoio à reestruturação da empresa FARMAC e introdução do

programa “Farmácia Popular”. 2) Apoio ao ensino à distância.

3) Capacitação em monitoramento e avaliação de programas e serviços (parte do acordo trilateral para combate à AIDS entre

Brasil/EUA/Moçambique). 4) Capacitação em monitoramento e avaliação de serviços (parte do acordo trilateral para combate à AIDS entre

Brasil/EUA/Moçambique).

Angola (CPLP)

1) Programa de Mestrado em Saúde Pública. 2) Implementação do Plano de Cooperação

Estratégica em Saúde (PECS).

1) Apoio para a criação da Escola Nacional de Saúde Pública. 2) Apoio ao Programa de Gestão Hospitalar (colaboração com a JICA)

Cabo Verde (CPLP)

1) Criação da Escola Técnica de Saúde. 2) Apoio ao fortalecimento da recém criada

Universidade para formação de

profissionais de saúde. 3) Implementação do Plano de Cooperação

Estratégica em Saúde (PECS). 4) Apoio à participação na Rede de

Escolas Técnicas em Saúde.

1) Apoio à criação do Instituto Nacional de Saúde (colaboração com IANPHI). 2) Criação do Programa de

Doutorado em Saúde Pública.

Guiné Bissau (CPLP)

1) Criação da Escola Técnica de Saúde. 2) Elaboração e Implementação do Plano

de Cooperação Estratégica em Saúde (PECS).

1) Apoio à criação do Instituto Nacional de Saúde (colaboração

com IANPHI). 2) Apoio ao fortalecimento do sistema de saúde. Timor Leste (CPLP)

1) Implementação do Plano de Cooperação Estratégica em Saúde (PECS).

1) Apoio à reestruturação e fortalecimento do sistema de saúde. São Tomé e Príncipe (CPLP)

1) Implementação do Plano de Cooperação Estratégica em Saúde (PECS).

1) Assessoria e apoio técnico ao desenvolvimento do sistema de saúde (serviços, organizações e programas de saúde)

Nigéria 1) Apoio ao fortalecimento da

produção de medicamentos essenciais.

Burkina Faso

1) Assessoria e apoio técnico ao desenvolvimento do sistema de saúde (serviços, organizações e programas de saúde)

Mali 1) Assessoria e apoio técnico

ao desenvolvimento do sistema de saúde (serviços, organizações e programas de saúde)

Tanzânia 1) Assessoria e apoio ao

fortalecimento da produção de medicamentos essenciais.

Em suma característica, os sete eixos estratégicos propostos pela PECS podem ter objetivos e aplicações revisadas dependendo das necessidades de cada país e do problema específico. Como também não cancelam projetos bilaterais ou multilaterais relacionados a determinados países da África e dos integrantes da CPLP. (ALMEIDA et. al., 2010)

As perspectivas para os programas de cooperação no contexto da cooperação Sul- Sul nos países da CPLP são de que esse planejamento, segundo Buss e Ferreira (2010, p. 112): “contribua para melhorar a alarmante situação de vida e saúde de milhões de africanos e timorenses que falam o idioma de Camões e estão ligados por laços históricos, culturais e de solidariedade”.

A CPLP compreende grandes esforços brasileiros para o desenvolvimento e a cooperação técnica no continente africano, em substancial teor indicando os moldes da política externa do século XXI. E além da CPLP, outro projeto brasileiro amplamente visado se concerne através do Fórum de Diálogo IBAS, no qual um país particularmente da África, sendo este a África do Sul fortalece os relacionamentos de caráter Sul-Sul no âmbito da saúde.

Documentos relacionados