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A África na política externa brasileira do século XXI

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Academic year: 2021

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NATHALIA THAYS SCHMIDT

A ÁFRICA NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA DO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM DA COOPERAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE

Florianópolis 2012

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A ÁFRICA NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA DO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM DA COOPERAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Márcio Roberto Voigt, Dr.

Florianópolis 2012

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Para minha família, alicerce e fonte dos sentimentos mais puros de amor e carinho.

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Em primeiro lugar, gostaria de oferecer o meu maior agradecimento aos meus pais Vendelino e Neide por todo carinho, atenção e dedicação oferecidos em todos esses anos. Obrigada, por não medirem esforços na concretização dos meus objetivos, e por sempre motivarem meu caminho em busca de minhas determinações e escolhas.

Agradeço aos meus irmãos, aos familiares, aos amigos que conservo desde a infância e aos amigos que o destino fez nossos caminhos cruzarem, por oferecerem sempre braços estendidos para me confortar em meio as minhas crises de insegurança e preocupação. A minha irmã Alexsandra e meu cunhado Alex em especial, por me proporcionarem um lar nesses quatro anos de formação superior quando minha decisão foi sair de Salete e vir morar em Florianópolis. Como também, aos meus pequeninos Isadora, Arthur e Ágatha, sobrinhos e afilhada que modificam dias cinzentos para coloridos somente com um sorriso.

Agradeço ao meu orientador, professor Márcio Voigt, por aceitar me orientar e dedicar seu tempo na realização conjunta do presente trabalho, por me ouvir e por ter paciência em me oferecer auxílio.

Agradeço a todos os professores, colegas e amigos que conheci e convivi nesses quatro anos de formação, que acompanharam meu desenvolvimento e me encorajaram a cada semestre em busca da concretização. Hoje, sou uma somatória da experiência desenvolvida nesses anos, no qual julgo transformadora.

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A única forma de combater os males do mundo é eleger a guerra, a miséria e a intolerância como inimigos da humanidade. É imprescindível construirmos o império da solidariedade e do Direito – condição inescapável para que possamos opor-nos as barbáries de nossa época. (SEITENFUS, 2012).

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Este trabalho tem por objetivo principal estudar os processos de cooperação Sul-Sul da política externa brasileira na área da saúde realizados na África a partir do início do século XXI. Os objetivos específicos elencados para concretizar tal estudo foram compostos por: discutir o tema de cooperação nas abordagens das Relações Internacionais, compreender a inserção da África na política externa brasileira, e verificar as políticas de cooperação entre Brasil e os países africanos na área da saúde. Em suas características e formas, a monografia caracteriza-se em sua natureza como uma pesquisa básica, analisada de forma qualitativa, de investigação exploratória, utilizando-se de procedimentos bibliográficos e documentais. A partir do exposto, através da investigação foi possível analisar as abordagens teóricas de cooperação nas Relações Internacionais, por meio da concepção da teoria liberal aporte da nascente de cooperação, e uma visão do governo do século XXI, na autonomia pela diversificação e de eixos combinados. Sendo possível assim, verificar o amplo engajamento brasileiro no âmbito da cooperação técnica no continente africano. Principalmente, elegendo seus maiores esforços na Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa e no Fórum de Diálogo IBAS, enaltecendo a área da saúde em amplos programas e discussões. Podendo destacar, portanto, que dentre os principais resultados encontra-se a cooperação nas seguintes áreas: HIV-Aids, Nutrição, Bancos de Leite Humano, Vigilância Epidemiológica, Geminação de Hospitais, Fármacos e Imunobiológicos. Depreendendo para o século XXI, a inserção da África de forma incisiva, dilatando a cooperação pelo desenvolvimento conjunto e coligando a extensão de suma importância como a saúde.

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This work aims to study the South-South of Brazilian foreign policy processes, conducted in Africa, about health cooperation from the beginning of the XXI century. The specific objectives listed to achieve with this study were composed of: discuss the subject of cooperation in the approaches of International Relations, understand the inclusion of Africa in Brazilian foreign policy, and verify the policies of cooperation between Brazil and African on the health scene. In its features and forms, the monograph is characterized in its nature as a basic research, with a qualitative analysis, an exploratory research using bibliographic and documentary procedures. Based on that, was possible with the research, to analyze the theoretical approaches to cooperation in international relations, through the conception of liberal theory contribution from the source of cooperation, and a vision of the government of the XXI century, in autonomy through diversification and combined actions. Also, was verified the broad engagement within the Brazilian technical cooperation on the African continent. Mainly, electing its best efforts within the Community of Portuguese Speaking Countries and the IBAS Dialogue Forum, highlighting the broad area of health programs and discussions. May emphasize, therefore, that among the main results is cooperation in the following areas: HIV-AIDS, Nutrition, Human Milk Banks, Surveillance, Twinning Hospitals, Pharmaceuticals and Immunobiological. Expanding cooperation and joint development, granted the inclusion of Africa in the XXI century international scene, unifying a theme with such importance as health.

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ABC – Agência Brasileira de Cooperação ARVs – Antirretrovirais

BRICS – Acrônimo em referência aos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul CPLP – Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa

CSONU – Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas CTPD – Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento DTS’s – Doenças Sexualmente Transmissíveis

EUA – Estados Unidos da América FHC – Fernando Henrique Cardoso FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

HIV/AIDS – Siglas em inglês para Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

IBAS – Acrônimo em referência aos países Índia, Brasil e África do Sul MRE – Ministério das Relações Exteriores

MS – Ministério da Saúde

OMC – Organização Mundial do Comércio OMS – Organização Mundial da Saúde ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas

PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PECS – Plano de Cooperação em Saúde

PEI – Política Externa Independente SUS – Sistema Único de Saúde

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1 INTRODUÇÃO ... 10

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 10

1.2 OBJETIVOS ... 12 1.2.1 Objetivo geral ... 12 1.2.2 Objetivos específicos ... 12 1.3 JUSTIFICATIVA ... 12 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13 1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 16

2.1 COOPERAÇÃO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS UMA ABORDAGEM TEÓRICA... ... 16

2.2 A INSERÇÃO DA ÁFRICA NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA ... 21

2.2.1 O Renascimento das Relações com a África e a Política Externa do século XX... 21

2.2.2 A Política Externa do Século XXI e a Inserção Efetiva da África ... 25

2.3 A COOPERAÇÃO TÉCNICA BRASILEIRA NA ÁREA DA SAÚDE NA ÁFRICA .... 30

2.3.1 A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Cooperação em Saúde ... 36

2.3.2 Cooperação em Saúde no Âmbito do Fórum de Diálogo IBAS ... 42

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 46

REFERÊNCIAS ... 49

ANEXOS ... 54

ANEXO A – Declaração do Estoril CPLP ... 55

ANEXO B – Declaração de Brasília IBAS ... 58

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1 INTRODUÇÃO

A política externa brasileira do início século XXI vem se moldando para as novas perspectivas do cenário internacional. As relações Norte-Sul até então utilizadas como foco primordial passam a ser suavizadas, projetando e difundindo a visão para outros focos. Surge então, uma nova dinâmica na busca por integrações de países socialmente e economicamente semelhantes.

O berço dessa procura encontra-se na cooperação Sul-Sul dos Estados, no multilateralismo e na horizontalidade das relações internacionais. Integrando o fortalecimento de assuntos primordiais para o desenvolvimento e a segurança internacional. No atual prisma, a temática da saúde nas relações do Brasil juntamente com o continente africano, representa parcerias estratégicas para consolidar um tema crucial para o sistema internacional e as relações sociais, na identificação e ampliação da solidariedade internacional.

Neste primeiro capítulo, o trabalho se desenvolve com a seguinte temática: a exposição do tema e do problema, demonstração dos objetivos gerais e específicos no qual a pesquisa aspira alcançar, a justificativa da opção do tema, a metodologia científica a ser utilizada no desenvolvimento do trabalho, e, por fim, a estrutura da pesquisa.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Após as duas Grandes Guerras Mundiais e principalmente após a Guerra Fria, a comunidade internacional começou a analisar os países em desenvolvimento além das relações exteriores e comerciais, emergindo a cooperação e a solidariedade como meio para a concretização de um sistema mais humanitário.

A temática das políticas governamentais brasileiras de cooperação Sul-Sul no continente africano em uma análise sob a ótica da saúde, apresenta um diagnóstico para a nova percepção de governança dos países emergentes no cenário atual.

Porquanto em uma breve análise do sistema internacional pode-se dizer que problemas relacionados com a falta de desenvolvimento das nações, estão intimamente interligados a algumas necessidades primordiais do ser humano. Dificuldades essas, relacionadas com a fome, a pobreza extrema, as doenças, a falta de saneamento básico entre outras tantas que assolam a desigualdade desde a fundamentação de cada país.

Considerando que a saúde pública é um direito fundamental do ser humano, no qual o grande assegurador deve ser o Estado, e essa se revela um grande desafio para muitos

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países. Existe a necessidade de a comunidade internacional tomar ações para tentar alterar o quadro existente. Emergindo suportes e programas de caráter global ou regional para suprir e desmantelar tal deficiência. (ALMEIDA, 2010)

Acrescenta-se o fato de o continente Africano ser permeado por extremos problemas, sejam esses relacionados com a desigualdade social, as guerras civis, o narcotráfico, problemas sociais e econômicos. E não obstante, no campo da saúde as debilitações do sistema tornam-se ainda mais visíveis, sejam pelas epidemias devastadoras de malária ou as de doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), chamando atenção para o vírus do HIV-Aids. Tais fatores comprometem em todas as faces o desenvolvimento dos países africanos. (VIZENTINI, 2007).

O Brasil, por sua vez, também possui graves problemas estruturais, porém possui reconhecimento internacional por ter um sistema de saúde de acesso universal, uma política de acesso a medicamentos relacionados ao HIV/AIDS, e amplos programas sociais na área da saúde, que correspondem a experiências e modelos para serem repassados para vários países que possuem diversos problemas internos relacionados à saúde. Tornando-o grande ator no auxílio e no aprendizado conjunto da cooperação técnica na área da saúde. (AGENCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2007).

Nesse contexto, a cooperação técnica surge como uma importante ferramenta para o auxílio da promoção das relações exteriores e a afirmação dos países no cenário internacional, pois aliar o auxílio mútuo de países emergentes compõe um panorama de desenvolvimento continuo e aprimorado em busca do desenvolvimento e de inserção nas Relações Internacionais.

Para tanto, a política externa inovadora do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010) ressaltou a importância do Estado brasileiro, como também consolidou mudanças positivas no cenário internacional. Proporcionando a busca pela combinação dos eixos horizontais, representadas pelas cooperações das nações emergentes. Caracterizando fator estratégico e suma importância para o crescimento econômico e político dos Estados envolvidos. (PECEQUILO, 2008).

Todos os direcionamentos da política externa perante tais mudanças e percepções no cenário atual, norteiam o desenvolvimento do trabalho e conduzem para a fundamental pergunta de pesquisa: como se comportou a política externa brasileira na cooperação da saúde no continente africano no século XXI?

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1.2 OBJETIVOS

Os objetivos tornam-se imprescindíveis para a realização da pesquisa, evidenciando e identificando o que se anseia aferir no decorrer do TCC. Com o intuito de expor as metas que se desejam alcançar, os objetivos são apresentados na forma de Objetivo Geral e Objetivos Específicos, expostos a seguir.

1.2.1 Objetivo geral

Considerando a política externa brasileira do início do século XXI, o trabalho possui como objetivo geral identificar as relações exteriores brasileiras de cooperação Sul-Sul no continente africano, especificadamente na busca de abranger e destacar a cooperação no âmbito da saúde.

1.2.2 Objetivos específicos

Em consonância com o objetivo geral, os objetivos específicos classificam-se como elementos a serem desenvolvidos no transcorrer do trabalho:

- Discutir o tema de cooperação nas abordagens das Relações Internacionais; - Compreender a inserção da África na política externa brasileira;

- Verificar as políticas de cooperação entre Brasil e os países africanos na área da saúde.

1.3 JUSTIFICATIVA

O estudo das Relações Internacionais é considerado um fator primordial e estratégico para entender as grandes transformações ocasionadas durante o decorrer dos anos no sistema internacional, sejam estas de caráter político, econômico ou de cunho social. Pelo viés político do trabalho, o estudo das relações exteriores no cenário internacional, apresenta suma importância para explicar o papel do Estado como ator em instância regional e internacional.

A cooperação Sul-Sul em particular surge na política externa brasileira como um instrumento de ampla importância para a afirmação do Estado brasileiro como ator global,

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constituindo uma forma de abrir espaço para a sua inserção estratégica na comunidade internacional.

O campo da saúde por sua vez, emana um tema frequente e de grande importância nos debates internacionais, refletindo como uma ação internacional para assegurar a saúde como direito humano e bem público. Exigindo assim, estudos para o aperfeiçoamento de mecanismos institucionais e profissionais de saúde para tratar do tema. Estabelecendo também, uma nova visão das instituições acadêmicas mundiais para suprir a demanda de recursos humanos dedicados ao tema.

Além da área da saúde, as relações brasileiras com o continente africano nos últimos anos vêm se intensificando tanto nas relações políticas quanto nas econômicas, tornando-se um conhecimento de importância para órgãos e empresas, sejam privadas ou governamentais.

No que tange a UNISUL, o trabalho configura-se no presente momento como um tema inédito, uma vez que ainda não fora analisado por outro acadêmico. Transformando-o em um objeto de valor para a base de dados da instituição.

Por fim, as razões pessoais que estimularam a escolha do tema estão intimamente interligadas com aspirações no campo da saúde. Diante do exposto, unir a pesquisa de um campo extremamente importante, juntamente com um continente com deficiência em tal sistema, aliando as políticas governamentais brasileiras de cooperação técnica, atrai a realização para que o trabalho seja concretizado.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para identificação da pesquisa é necessário classificá-la em suas clássicas características e formas, pois conforme Marcantonio, Santos e Lehfeld (1993, p. 23):

Pesquisar é uma operação natural e necessária a todos os indivíduos. Nesse sentido, o termo é aplicado, genericamente, como sinônimo de busca, de indagação. Para alcançar a qualificação como um processo de investigação científica, requer o emprego da metodologia científica com o objetivo de descrever, explicar e compreender um objeto de pesquisa.

Pela natureza do trabalho, o desenvolvimento concentra-se na busca de produzir conhecimento, porém sem aplicação prática prevista. Denotando o sentido de pesquisa básica. No que concerne esse modelo, para Luciano (2001, p. 12): “Pesquisa básica: Tem por objetivo

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produzir novos conhecimentos para o avanço da ciência, embora sem aplicação prática prevista. Seu objeto de investigação é a verdade e os interesses universais”.

Quanto à abordagem do problema, a pesquisa atende os requisitos de qualitativa. Portanto, o estudo, norteará a fonte direta por meio de coleta de dados, resultando em um estudo descritivo das relações exteriores brasileiras em cooperação na África. Em relação ao exposto, para complementar, ainda segundo Luciano (2001, p. 12), indica a pesquisa qualitativa como:

Considera a existência da relação entre realidade e o sujeito, ou seja, a indissociabilidade entre o fenômeno e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzida em números. A interpretação do fenômeno e o seu significado é determinante no processo de pesquisa qualitativa, porém não demanda a utilização de métodos técnicos estatísticos.

Na classificação do alcance de seus objetivos gerais, o trabalho é caracterizado no grupo de pesquisas exploratórias, pois o tema e a busca consistem apenas em levantar informações sobre o objeto. Dessa forma, o campo de trabalho é delimitado na política externa brasileira de cooperação na área da saúde, especificadamente no continente africano, visando à base no aprimoramento de conhecimentos de outros autores. Conforme Gil (1991, p. 45), a pesquisa exploratória se define como:

Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado.

Quanto aos seus procedimentos, a pesquisa atua no campo bibliográfico, sendo realizada e embasada considerando os levantamentos bibliográficos já trabalhados por outros autores. Dessa forma, o trabalho se concretiza com base em livros sobre o estudo das Relações Internacionais, da Política Externa, como também relacionados com a cooperação estruturante em saúde. Nesse sentido, Severino (2007, p. 122), ilustra:

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente registrados.

Para a complementação e o aperfeiçoamento da pesquisa torna-se necessário também levantar o procedimento da pesquisa documental. Consistindo na busca em

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documentos referentes a tratados ou acordos, ações que caracterizam a cooperação do Brasil com os países africanos, ou a posição da política externa brasileira frente à cooperação. Nesse sentido, a pesquisa documental, segundo Marconi (2001, p.56): “Refere-se a documentos de arquivos públicos em geral, como documentos oficiais e publicações parlamentares; arquivos particulares, isto é, domiciliares; fontes estatísticas, documentos jurídicos etc”.

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

A presente pesquisa está estruturada em três grandes sessões. A primeira comporta a introdução da pesquisa, aclarando e propondo a pergunta, o objetivo geral, os objetivos específicos, a justificativa e a metodologia empregada no decorrer da monografia.

A segunda sessão corresponde ao referencial teórico, dinamizando em princípio as abordagens teóricas sobre cooperação, e projetando na sequência a exposição da inserção da África na política externa brasileira no recorte do século XX, e, posteriormente, a efetivação do século XXI. A investigação das políticas de cooperação técnica na área da saúde no continente africano será exposta em seguida, demonstrando a relação brasileira nesses moldes, priorizando para a identificação da cooperação em saúde na Comunidade de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) e o Fórum de Diálogo IBAS.

A terceira e última sessão satisfaz às considerações finais, ampliando ainda, para algumas sugestões de posteriores aspirações de investigações relacionadas ao tema do trabalho. Após tais exposições, dará à sequência de fechamento as referências utilizadas no decorrer do trabalho, e, por fim, serão disponibilizados nos anexos, as declarações e o memorando referentes à CPLP e o Fórum de Diálogo IBAS.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, em primeiro momento, buscar-se-á introduzir o tema da cooperação em um enfoque teórico das Relações Internacionais, destacando a teoria Liberal onde nascem as abordagens sobre cooperação. Como também, os estudos dos direcionamentos da política externa na vertente contemporânea.

Em seguida, será exposta a inserção do continente africano no âmbito das políticas brasileiras, congregando os governos do século XX e posteriormente a fixação efetiva no século XXI, relacionando os direcionamentos da política externa brasileira com o cenário internacional.

No terceiro momento será estabelecida a composição das parcerias brasileiras de caráter Sul-Sul e a construção da cooperação visando especificadamente à área da saúde. E, para concluir, serão expostos alguns dos programas de cooperação técnica brasileira na área da saúde no continente africano, ostentando o destaque para as cooperações prioritárias estabelecidas no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa e no Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul.

2.1 COOPERAÇÃO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS UMA ABORDAGEM TEÓRICA

Para tentar explicar o cenário internacional, como também as políticas governamentais de cooperação no século XXI, torna-se necessário estruturar as abordagens incidentes sobre cooperação no âmbito das Relações Internacionais, promovendo, em tese, as motivações que levaram os atores internacionais na busca pela cooperação, constituindo os objetivos a serem apresentados na presente subseção.

A tradição liberal é a teoria que fundamenta as organizações internacionais e o direito internacional como condutores de cooperação e ordem no sistema internacional, respaldando a racionalidade como característica intrínseca para a transformação das relações sociais e o alcance do progresso. (HERZ; HOFFMANN, 2004).

Mesmo acreditando em uma visão positiva da natureza humana, a teoria liberal não deixa de reconhecer em até certo ponto o ser humano nas suas atitudes egoístas e competitivas. No entanto, acreditam no interesse recíproco, onde esse deriva em ações sociais cooperativas e colaborativas seja no âmbito nacional ou no internacional. Tal posicionamento conduz o pensamento de que, a guerra e o conflito, podem ser evitados na interação de povos

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que procuram reciprocamente a utilização da razão na busca pela cooperação benéfica. (JACKSON; SORENSEN, 2007).

Partindo da premissa que a concepção da sociedade se dá pela singularidade dos indivíduos, sendo os últimos, capazes de construir seus caminhos, e proporcionando a cooperação como forma de convivência e interação. A resultante desse alinhamento de pessoas se estenderia para o Estado, consequentemente constituindo um governo predisposto à cooperação. (PECEQUILO, 2004).

Em contribuição, os neoliberais acreditam como os realistas que o sistema internacional é anárquico. Contudo não com o olhar de uma anarquia pragmática, ou seja, uma anarquia de um sistema onde a junção de atores internacionais em busca do aperfeiçoamento e do desenvolvimento mútuo coexistem. Como profere Nogueira e Messari (2005, p. 91): “há situações em que os Estados podem ter interesses comuns nos quais, dependendo de como o contexto está estruturado, o resultado pode ser a coopera ção, e não o conflito”.

Logo, para a discussão e a procura da cooperação no âmbito do liberalism o político de Rawls (1997, p. 43), a cooperação social pode ser analisada mediante três elementos apontados pelo mesmo: Primeiro, a cooperação não compete a ser socialmente coordenada, sendo desenvolvida por meio de regras e procedimentos mutuamente aceitos pelos cooperantes; Segundo, a cooperação compreende a importância dos justos termos da cooperação, denotando a reciprocidade como meio de proferir as devidas funções de cada país requeridas, onde o resultado será obtido por meio de benefícios produzidos pela cooperação e sendo distribuídas de forma justa e partilhada ao longo das gerações; Terceiro, a cooperação social requer a ideia de vantagem, ou bem, racional de cada participante, pois demonstra o objetivo a ser alcançado mediante cada participante por meio da cooperação.

A posição dos Estados e de seus governos, considerando as razões que os induzem à cooperação, como também avaliando esses como Estados constitucionais modernos. Podem ser abrangidos pela questão da modernização e a utilização da razão nos seus relacionamentos internacionais, nos argumentos de liberais, conforme Jackson e Sorensen (2007, p. 154):

[...] a modernização é um processo que requer progresso na maioria das áreas da vida e amplia o campo de ação através das fronteiras internacionais. O progresso significa uma vida melhor para, no mínimo, a maioria dos indivíduos. À medida que eles utilizam mais a razão nas questões internacionais, as chances de cooperação aumentam.

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O sentido de Estado constitucional para liberais concentra-se como uma entidade constitucional, que estabelece e impõe o estado de direito, respeitando os direitos fundamentais do ser humano; considera nessa visão que o mundo organizado por Estados constitucionais que se respeitam mutuamente, poderiam com o tempo conquistar um espaço de paz. (JACKSON; SORENSEN, 2007).

Nesse sentido, os arranjos para organizar os relacionamentos dos Estados internacionalmente, são embasados nas instituições internas da sociedade civil, promovendo o aperfeiçoamento humano com suporte em nações democráticas. Segundo Pecequilo (2004, p. 140):

[...] havendo o predomínio da democracia como prática e valor haverá a possibilidade da criação de uma estrutura que conduza naturalmente à paz e à cooperação. Por esta lógica, países democráticos, devido às características internas de seu regime político, não agem agressivamente ou são naturalmente propensos ao conflito, favorecendo e impulsionando as perspectivas de cooperação e paz.

Na visão de autores funcionalistas, a cooperação aparece como um mecanismo na construção da paz. Segundo Nogueira e Messari (2005, p. 77): “para os funcionalistas, as estratégias de cooperação e integração eram mais eficientes, técnica e racionalmente, na promoção do crescimento econômico e na distribuição de benefícios sociais”.

Porém na visão da interdependência, o desejo do alcance da paz e da prosperidade não é o ponto de partida para a análise da cooperação internacional, mas esta deve ser diagnosticada por meio da política mundial contemporânea, perante os problemas que decorrem das assimetrias de poder. (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).

Todas as matrizes de pensamento da teoria liberal apresentadas conferem o embasamento para a cooperação. Entretanto, no caso brasileiro vale ressaltar alguns pontos para a utilização da abordagem de cooperação no sistema internacional no século XXI, mesmo que o aporte de cooperação seja da teoria liberal, deve-se levar em conta que a cooperação no molde Sul-Sul possui sua afirmação na política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva, sendo este, direcionado pela ideologia de esquerda do seu Partido dos Trabalhadores (PT), perpetra assim, que seu governo possua a visão de cooperação de forma diferenciada.

Conforme Ribeiro (2009, p. 189):

[...] a política externa do governo Lula é um dos setores que melhor reflete as posições tradicionais do PT, pois o discurso e a prática diplomática convergem para a construção de alianças preferenciais com parceiros no âmbito das relações sul-sul.

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Sinal disso é que o continente africano passou a ser encarado como uma das áreas de maior investimento em termos diplomáticos do governo [...].

Pode-se entender conforme Pecequilo (2008, p. 136), que a política brasileira de século XXI assume uma postura de mudança da tendência extremamente voltada para a hemisférica-bilateral onde imperavam as relações Norte-Sul, para a projeção do Estado brasileiro em um direcionamento das relações Sul-Sul de tendência global-multilateral.

Em outras palavras, o governo Lula é marcado pelo direcionamento de sua política externa voltada para as parcerias estratégicas com os países emergentes, porém sem o afastamento de países do norte. Portanto sua política assume e ressalta uma combinação dos eixos horizontais e verticais. (PECEQUILO, 2008).

Conforme Pecequilo (2009, p. 204):

Na escala de prioridades da política externa, o eixo horizontal de parcerias Sul-Sul, ligadas à tradição global multilateral surge no topo da agenda, refletindo a recuperação da identidade nacional com um país de Terceiro Mundo. Este perfil de potência média em desenvolvimento, que pode ser definida com um grande Estado periférico, hoje emergente, não representa confrontação ou oposição ao eixo vertical. Trata-se de uma adaptação necessária das tradições e princípios clássicos da política externa, atualizando-os para o status e agenda nacional do século XXI.

Dessa forma, a agenda do século XXI busca consolidar uma postura autônoma do Brasil no cenário internacional, motivado com a estruturação de um ambiente externo de cooperação e gradualismo, juntamente com a ampliação de uma agenda voltada para o bilateralismo, visando à característica brasileira de global trader and player. (PECEQUILO, 2008).

Conforme Pinheiro (2004, p. 64), as análises da atuação brasileira no cenário internacional estão aludidas com os paradigmas de americanismo e o globalismo, sendo o americanismo, uma definição do direcionamento da política externa brasileira no alinhamento de seus governos para as relações com os Estados Unidos; e o globalismo, uma alternativa a esse, buscando dinamizar as relações exteriores e aumentando o poder de barganha do Brasil, até mesmo perante os Estados Unidos.

Pode ser auferido aqui, que os direcionamentos das estratégias econômicas durante os governos do século XX e XXI caracterizam-se diferentes, no entanto, sempre convergiram na busca pelo desenvolvimento brasileiro. No plano da política externa, o ponto comum refere-se às ideias, valores e doutrinas que direcionaram suas posições pela busca pela autonomia, por meio da aproximação dos países hegemônicos ou pela diversificação das

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parcerias; ou ainda, de uma maior participação no contexto das organizações internacionais. (PINHEIRO, 2004).

Conforme Pinheiro (2004, p. 68):

[...] a história nos revela que tanto o conceito de desenvolvimento quanto o de autonomia são socialmente construídos. Seja como for, não há dúvida que, como ressaltado por alguns diplomatas e analistas, a busca de autonomia continuou sendo uma constante da nossa política externa mesmo que por tal se tenham definições bastante diferentes – autonomia na dependência, autonomia pela distância,

autonomia pela participação [...].

A relação do governo Lula na construção da autonomia, conforme Vigevani e Cepaluni (2007, p. 282), mudou o viés da “autonomia pela participação” utilizada pelo seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (FHC) pelo viés da “autonomia pela diversificação”. Diversificou assim, as relações brasileiras no contexto internacional, em busca de sua afirmação nessa conjuntura, apontando a cooperação Sul-Sul como ferramenta de sua política externa e sem deixar como citado, de buscar o desenvolvimento como predicado dos posicionamentos brasileiros.

Em contribuição, nas palavras de Vigevani e Cepaluni (2007, p. 275):

[...] consideramos ambos os governos (FHC e Lula da Silva) como representantes de tradições diplomáticas brasileiras distintas, apresentando diferenças nas ações, nas preferências e nas crenças, buscando resultados específicos muito distintos no que diz respeito à política externa, mas procurando não se afastar de um objetivo sempre perseguido: desenvolver economicamente o país, preservando, ao mesmo tempo, certa autonomia política.

Em relação à definição da autonomia pela diversificação, segundo Vigevani e Cepaluni (2007, p. 283), pode ser entendida como:

[...] a adesão do país aos princípios e às normas internacionais por meio de alianças Sul-Sul, inclusive regionais, e de acordos com parceiros não tradicionais (China, Ásia-Pacífico, África, Europa Oriental, Oriente Médio etc.), pois acredita-se que eles reduzem as assimetrias nas relações externas com países mais poderosos e aumentam a capacidade negociadora nacional.

Para entender a dimensão das mudanças de política principalmente avaliadas no relacionamento com a África, além da abordagem teórica deve-se levar em consideração uma análise dos governos brasileiros e seus alinhamentos no cenário internacional. Remete a compreensão e avaliação do posicionamento brasileiro frente à cooperação no continente

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africano, incumbindo a análise histórica das relações Brasil-África no transcorrer dos anos, e justificando a exposição do contexto da política externa brasileira voltada para África.

2.2 A INSERÇÃO DA ÁFRICA NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Esta subseção será caracterizada pela compreensão da inserção da África nos direcionamentos das relações exteriores. Primeiramente, analisada pelos enfoques iniciais das relações brasileiras com o continente africano demonstrando os percalços e limitações das políticas do século XX. E, posteriormente, o aprimoramento das relações do início do século XXI.

O Brasil possui uma grande conexão em sua história com o continente africano, iniciada e principalmente marcada pelo regime da escravidão. Com a abolição da escravatura em 1888, os direcionamentos dos governos do final do século XIX até a metade do século XX foram caracterizados pelo interesse da elite brasileira em moldar sua saúde, educação e costumes conforme os países europeus. A resposta dessa matriz de política é o desinteresse pelos países africanos, pois as sociedades dos anos 1930 e 1940 ainda herdavam a hierarquia e os costumes do sistema escravista. (SARAIVA, J. 1994).

Os anos marcados pelo afastamento das relações com o continente africa no segundo Saraiva J. (1994, p. 264), são conhecidos como “esquecimento da África”, e o mesmo alega que o silêncio também pode ser considerado uma forma de se fazer política internacional.

As relações entre os vizinhos atlânticos revigoram-se somente nos anos de 1961, marcando um renascimento nas relações entre ambos, caracterizado pela nova posição brasileira em sua política externa, de autonomia política e afastamento do alinhamento com os Estados Unidos da América (EUA), e a ascensão das políticas após a década de 60 do século XX.

2.2.1 O Renascimento das Relações com a África e a Política Externa do século XX

As políticas iniciadas no governo de Jânio Quadros no ano de 1961 e em complementaridade com o de João Goulart (1962 a 1964) foram um marco para as relações exteriores do Brasil. A instauração da Política Externa Independente (PEI), norteou um novo papel do Brasil nas relações exteriores. Conforme Vizentini (2003, p. 29): “A Política Externa

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Independente constituiu um projeto coerente, articulado e sistemático visando transformar a atuação internacional do Brasil”.

A política externa brasileira sofreu grandes transformações na década de 60. Devido a várias mudanças no cenário internacional, o Brasil deixou de voltar-se totalmente para o sistema regional e inseriu-se no campo internacional. Nesse contexto, a África entrou na pauta de discussões da política externa brasileira. O Apartheid na África do Sul foi alvo de severas críticas internacionais de Jânio Quadros. Como também, Angola e Moçambique obtiveram o apoio brasileiro para suas independências da dominação de Portugal, constituindo uma afirmação da nova política externa, adentrando em um dos princípios da PEI, no que tange o apoio à descolonização completa de todos os territórios ainda submetidos. (VIZENTINI, 2003).

As aspirações para o continente formataram a inédita posição de um presidente brasileiro perante os países africanos, e segundo Saraiva J. (1994, p. 290):

A partir de 1961, o relatório anual do Ministério das Relações Exteriores passou a incluir uma seção especialmente dedicada aos assuntos africanos, incluindo todas as posições e decisões do Brasil no seu relacionamento com o continente. O relatório de 1961, na sua nova seção, justificou o nascimento da Divisão da África como uma demonstração da importância especial que o governo brasileiro passava a dedicar ao relacionamento com os novos países africanos.

Quadros defendia que o Brasil possuía pretensões comuns com a África, grande parte dessas pretensões pertenciam ao cunho econômico/comercial, mas marca-se também a procura simultânea pela paz no sistema internacional. Conforme Leite (2011, p. 120):

[...] parece lícito afirmar que o Brasil engajou-se ativamente na cooperação Sul-Sul entre os anos de 1961 e março de 1964. Os Governos brasileiros acompanharam a tendência de intensificação da coordenação de políticas entre os países em desenvolvimento em torno de demandas não só em termos políticos, por meio da defesa dos princípios da não intervenção, da autodeterminação dos povos e do desarmamento, mas também no âmbito econômico, por intermédio do pleito por maior integração econômica entre os países, sobretudo os latino-americanos, da afirmação do comércio como promotor do desenvolvimento, culminando na arregimentação de latino-americanos, asiáticos e africanos para a formação de uma frente unida em prol do desenvolvimento.

Contudo o inédito direcionamento das relações Brasil-África dura um período curto. Com o fim do regime democrático no Brasil devido ao golpe militar de 1964, quando as relações exteriores brasileiras com a África, que, até então, tinham sido reformuladas pela instauração da PEI, deixam de ter tanta importância nas relações exteriores; identifica, segundo Saraiva J. (1994, p. 301): “O período que vai de 1964 a 1969 é, de uma maneira

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geral, um período de recuo nas relações do Brasil com a África, quando comparados com os avanços realizados na chamada Política Externa Independente”.

A resposta desse afastamento configura-se pelo direcionamento liberal do Governo Castelo Branco (1964-1967), enfatizando e priorizando a defesa interna e externa da ameaça comunista, alinhando sua política internacional para os Estados Unidos. (SARAIVA, J. 1994).

A reativação das relações com a África conforme havia sido instaurado no período da PEI, volta a ser promovida somente no terceiro governo militar, de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), reafirmando a África como ator relevante no sistema internacional e incluindo-a novamente na agenda da política externa brasileira. O quarto e o quinto governos militares, correspondendo aos de Ernesto Geisel e João Figueiredo nos anos 1974 até 1985, mantiveram e reforçaram a tendência da política africana do Brasil. (SARAIVA, J. 1994).

Nas palavras de Fingermann (2012, p.131):

Em 1970, os governos Médici e Geisel voltam a prestar atenção na África, e ações são tomadas para se estreitar os laços com o continente. A visita do diplomata Gibson Barboza em 1972 a nove países da África negra é um claro exemplo desse esforço oficial, que visava acima de tudo auxiliar no projeto nacional-desenvolvimentista por meio do suprimento de petróleo. Essa política pragmática em relação aos países africanos aumentou as exportações de manufaturados brasileiros e levou a instalação de algumas empresas brasileiras no continente, em particular, em Angola.

Portanto, a política externa Brasil-África nos três últimos governos militares obteve relevância novamente nas relações exteriores; conforme Saraiva (1994, p. 307), essa relevância deve-se essencialmente a quatro fundamentos: Primeiro, pelo projeto de manutenção do nacional-desenvolvimentismo (expansão e modernização lideradas pelo Estado), vinculando a África através de uma inserção internacional mais estratégica e eficiente; Segundo, perante o pragmatismo econômico e comercial, pois fez com que novos mercados e parceiros estratégicos fossem concretizados. Como também a vulnerabilidade brasileira no campo energético fez com que a África Negra entre na política de suprimento de petróleo; Em terceiro, com a política africana o Brasil compôs certa influência na região do Atlântico Sul, onde os interesses brasileiros foram desenvolvidos através de estímulos pacíficos e pelas relações econômicas; Em quarto e último lugar, o Brasil procurou construir um sistema de cooperação através de novas vinculações de países de expressão portuguesa na África Negra.

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A transição do regime militar para o democrático na metade da década de 80, na área da política externa não demonstrou modificações perante o continente africano. Diante do exposto, o governo de José Sarney (1985-1990) concebeu uma política de continuidade internacional africana dos últimos governos militares. (SARAIVA, J. 1994).

Todavia, o início da década de 90 é marcado por grandes acontecimentos no status quo, sendo caracterizado pelo fim da Guerra Fria e do sistema bipolar, emergindo a Nova Ordem do sistema neoliberal. Configura-se uma posição brasileira voltada para o estreitamento dos laços da política internacional com os países considerados de Primeiro Mundo, fazendo com que o Brasil retroagisse nas suas relações horizontais. Conforme Vizentini (2003, p. 81): “O Brasil afastou-se, em larga medida, de sua anterior diplomacia mundial e multilateral, voltando-se a alinhar-se aos Estados Unidos e a desenvolver uma política mais centrada nas Américas”.

Os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998 e 1999-2002) foram marcados segundo Vizentini (2003, p. 94) por uma “expansão do universalismo da política exterior do Brasil” quando FHC direcionou a política externa em uma diplomacia pessoal: em busca de uma integração regional do Mercado Comum do Sul o “MERCOSUL”; No estímulo pelas relações bilaterais na diversificação de países estratégicos; na procura de trazer o ideal do multilateralismo para as organizações econômicas multilaterais em particular para a Organização Mundial do Comércio (OMC); E no esforço de concretizar a imagem do Brasil na promoção de potência internacional para o alcance de uma cadeira permanente na Organização das Nações Unidas (ONU) no tocante ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSONU).

Semelhante, conforme Pecequilo (2008, p. 139), com a ratificação do Tratado de Não Proliferação em 1998 juntamente com a estabilidade econômica do Brasil apresentada pelo Real, representavam a prova de responsabilidade nacional, que conforme a mesma:

Segundo os cálculos governamentais, esta dinâmica levaria ao reconhecimento do país como pilar da nova ordem. Estas contribuições positivas, que substituíam a barganha, garantiriam uma espécie de ‘bilhete de entrada para o Norte’ e a realização dos propósitos nacionais.

Calcando o governo de FHC em uma diplomacia presidencialista, seguindo o ideário liberal, que conforme Lechini (2008, p. 65):

[...] considerava a aproximação com o Terceiro Mundo obsoleta e anacrônica. A África não estava entre as prioridades do novo governo e apenas alguns países eram

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mencionados de maneira tangencial. Junto com a política seletiva, aprofundou-se a distância entre o discurso e as ações [...].

Contudo, em 2001, com a nova presidência dos Estados Unidos, marcado pelo unilateralismo e de prioridade para a Eurásia, fez com que o então presidente dos EUA, George W. Bush se afastasse das relações com seus vizinhos continentais, devido, em grande parte ao atentado nos Estados Unidos em 11 de setembro do mesmo ano, como também a luta contra o narcoterrorismo e a preocupação com a tríplice fronteira: Brasil; Paraguai; Argentina. (PECEQUILO, 2008).

Devido ao estreitamento das relações Norte-Sul, o governo de FHC, no final de seu mandato rearticulou o Brasil na nova conjuntura internacional iniciada pelo pós 11 de setembro, realocando as necessidades da política externa e sua diplomacia para a inserção internacional voltada para a vertente multilateral e a aproximação horizontal com os países do Sul. (SARAIVA, M. 2007).

Os direcionamentos do cenário internacional levaram os últimos anos do governo FHC a realizarem a manobra para o âmbito da cooperação visando à integração Sul-Sul do século XXI, pois FHC alterou sua política externa do eixo vertical para o horizontal, reintegrando países emergentes, sendo que as políticas de seu sucessor Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, promoveriam de forma mais ativa.

2.2.2 A Política Externa do Século XXI e a Inserção Efetiva da África

Na sequência, o estudo discutirá o pleno desenvolvimento da cooperação Sul-Sul das relações Brasil-África, relacionando os direcionamentos da mudança presidencial brasileira com os contemporâneos posicionamentos do Estado frente ao continente na conjuntura do século XXI.

Os dois governos do presidente Lula (2003-2006 e 2007-2010) sinalizaram de forma incisiva a nova visão e inserção do Brasil no status quo do século XXI, em um direcionamento para incrementar as ligações com a comunidade internacional, redefinindo a cooperação como fator preponderante. Nele, as relações estritamente direcionadas ao Norte deixaram de ser prioritárias e as relações Sul-Sul entraram no panorama estratégico. (PECEQUILO, 2008).

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Em termos práticos, o governo brasileiro suplantou a passividade do anterior e buscou alianças fora do hemisfério como forma de ampliar seu poder de influência no âmbito internacional a partir da mencionada postura ativa e pragmática.

A mudança do posicionamento brasileiro em suas relações exteriores remeteu uma alteração da percepção de sua imagem como ator. Reordenou determinados “padrões prévios” relacionados por outros países em relação ao Brasil, onde a então “fraqueza” fora substituída pela afirmação como potência média e nação emergente, caracterizando a necessidade por uma diplomacia de alto perfil, condizendo com suas capacidades e necessidades. (PECEQUILO, 2008).

Nesse sentido, a África surge no governo de Lula como forma de potencializar as relações entre ambos, destacando o continente como direcionamento fundamental da sua política externa, sendo autodefinida como afirmativa e propositiva. (VIZENTINI; PEREIRA, 2008).

Os discursos logo no início do mandato confirmavam o empenho do governo em aprimorar a cooperação Sul-Sul. Entre suas manifestações sobre o contexto, há a mensagem pelo rádio do então presidente Lula, à África, em Brasília, no dia 8 de agosto de 2003:

A África é uma referência indispensável para a formação de nosso povo e de nossa cultura. E é muito mais que isso. É um continente que, como o Brasil, anseia e luta por liberdade, justiça social, democracia e desenvolvimento. Temos muito a aprender uns com os outros, temos muito a contribuir uns com os outros. Temos experiências para compartilhar. Temos inúmeras riquezas, materiais, espirituais e simbólicas para trocar. E tenho certeza de que vamos fazer isso, cada vez mais. Quero deixar aqui uma mensagem de muito otimismo em relação ao futuro da nossa amizade. O caminho entre a África e o Brasil já foi um caminho de escravidão. Que essa rota seja agora utilizada para proporcionar prosperidade e felicidade para o povo brasileiro e para o povo africano. (BRASIL, 2007, p. 157).

A inserção do continente africano na política externa brasileira ocorre de forma agressiva, porém estruturada durante os oito anos de governo do presidente Lula. Manifesta-se como uma tentativa de recuperar o tempo perdido, no qual as oportunidades foram contidas, superando ainda, os períodos correlacionados com o silêncio nas atividades políticas e ascendendo projetos de cunho altruísta comuns. (CASTRO, 2011)

A superação do período de silêncio perante o continente africano pode ser relacionada com as afinidades da cooperação do início do século XXI, como havia sido constituída na antiga instauração da PEI. Pois, segundo Leite (2011, p. 181):

Respondia ao desejo de setores da opinião pública, como comunidade afrodescendentes, que reivindicavam o reconhecimento e a promoção da cultura

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africana. O país mostrava que, assim como no plano doméstico preocupa-se em ajudar a população negra na realização de maior justiça social, no plano externo, também tencionava auxiliar os povos negros africanos na realização de suas potencialidades, tendo em vista a presença de 76 milhões de afrodescendentes que convertia o Brasil na “segunda maior nação negra do mundo”.

Com a arena cultural amplamente interligada para desenvolver a política de aproximação, o campo diplomático recebeu grandes investimentos e atenção nos primeiros quatro anos do governo Lula. De tal maneira, que foram reabertas muitas embaixadas desativadas no período de FHC, como também, foram implantadas novas representações diplomáticas e um consulado geral, inteirando treze novos postos, totalizando, de dezoito para trinta embaixadas brasileiras e dois consulados gerais no continente africano. Essa ação resultou em um grande firmamento para as relações com o continente, pois após tais medidas, despertou o interesse de vários países africanos em constituir postos diplomáticos no Brasil. (RIBEIRO, 2009).

Outra vertente dilatada para o estreitamento das relações diplomáticas firmou-se por meio do aumento do número de tratados assinados com os mais diversos países da África. Acordos esses, que em sua especialidade se desenvolveram principalmente em mecanismos de consultas políticas e comissões mistas, promovendo a composição de diversos acordos de cooperação relacionados nas mais distintas áreas. (RIZZI et. al., 2011).

As viagens de Lula ao continente africano também possuíram grande relevância. Diferente do governo anterior do presidente FHC, no qual as visitas presidenciais incluíram apenas quatro países africanos, Lula totalizou a soma de dez viagens à África em seus mandatos, ressaltando uma frequência anual, no qual compôs a visita a mais de dez países africanos e em todas as regiões continentais. E em suma observância, foi o primeiro presidente brasileiro a realizar uma visita ao Leste africano. (RIZZI et. al., 2011).

O aprofundamento brasileiro nas relações com a região fez com que, o governo de Lula, procurasse priorizar não só em seus discursos a aproximação com os países africanos. Para tanto, outro fator primordial da busca pela aproximação, foi o Departamento da África (DEAF) do Itamaraty, compreendendo países e instituições multilaterais e regionais de cooperação e integração. Instaurado como anteriormente citado de “Divisão da África” no governo de Jânio Quadros, incumbindo grande relevância nos estudos e aplicações da política externa relativa à África. (LECHINI, 2008).

Todos os direcionamentos do continente africano no cenário internacional do início do século XXI também prospectaram as alianças com o governo brasileiro. Devido em

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grande parte, pelo momento positivo vivido pela África, que, caracterizou-se segundo Leite (2011, p. 179), pela:

(i) Estabilização política de países lusófonos como Angola e Moçambique, após décadas de guerra civil, (ii) o fim do apartheid na África do Sul e o engajamento desse país no renascimento africano, (iii) a intensificação da integração do continente, por meio de iniciativas, como a criação da União Africana e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, e (iv) o crescimento econômico de dezenas de países, como Namíbia, Botsuana, Nigéria e Argélia, sustentado pela elevação dos preços do petróleo e de minerais, as maiores fontes de renda de boa parte Estados.

No campo da geopolítica, a questão da posição estratégica da África do Sul, surgindo como mediadora nos conflitos da África, que segundo Mapa (2011, p. 11): “reforçaria uma tendência à estruturação de uma ordem mundial multipolar, na qual a África Austral configuraria como polo de poder vinculado à Ásia, Oriente Médio e América do Sul”. Conferiu nesse panorama, o surgimento no primeiro ano do governo Lula em junho de 2003, a criação do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul o IBAS.

Vale observar que, como o IBAS, o aperfeiçoamento da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), remeteu grande importância na geopolítica, pois a afinidade linguística proporcionou a facilidade de transmissão de conhecimento no domínio da cooperação. Portanto, tanto o IBAS como a CPLP compõem na área da saúde os maiores esforços da política externa, os quais serão expostos e analisados com maior ênfase posteriormente, na parte sobre a África e a cooperação técnica brasileira na área da saúde.

Em consideração às críticas sob a condução da política externa voltada para a cooperação, muitas essas, relacionadas a argumentos referentes aos problemas internos, nos quais, deveriam ser primeiramente solucionados para depois cooperar, Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do governo Lula, reinterou em seus discursos a posição adotada pelo Brasil:

A Constituição de 1988 foi clara ao estabelecer que o Brasil deve fundamentar suas relações internacionais com base na prevalência dos direitos humanos e na cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. Portanto, ao elaborar e implementar projetos de cooperação internacional Sul-Sul fundados na solidariedade para com países mais pobres, o Governo brasileiro age em cumprimento ao disposto em sua Carta Constituinte. Além disso, o estágio de desenvolvimento alcançado pelo Brasil, entre diversos países que vinham se beneficiando intensamente da cooperação internacional nas últimas décadas, resultou em crescentes demandas a algumas instituições brasileiras, tanto por países interessados na experiência brasileira como por organismos internacionais. A esse respeito, o Governo brasileiro, reconhecendo a importância que a cooperação técnica internacional havia representado para o desenvolvimento nacional, considerou que o Brasil deveria dar

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um retorno compatível com os benefícios dela obtidos e, por isso, tem colocado sua experiência à disposição dos países interessados. (COOPERAÇÃO SAÚDE, 2010, p. 4).

Cabe destacar que a questão da cooperação técnica no âmbito africano, foi inserida de forma priorizada no governo Lula com o intuito do ideal de cooperação, reforçando uma coordenação conjunta dos países do cone Sul para a multilateralização das relações internacionais. Projetando as reformulações no âmbito da ONU no que tange a reforma do CSONU e a democratização política e econômica da ordem mundial. (LEITE, 2011).

Na visão de Menezes e Ribeiro (2011, p. 14):

[...] ao destinar ao tema da cooperação Sul-Sul um lugar de destaque em sua diplomacia, a gestão Lula da Silva renova a importância da imaginação e de novas possibilidades entre as nações historicamente dependentes da ajuda das nações do Norte e recoloca a periferia como sujeito de seus projetos e possibilidades na ordem internacional assimétrica, violenta e hierárquica.

Esboçando o campo da cooperação técnica no governo de Lula como meio de desenvolvimento conjunto dos países do Sul, não correspondendo a uma ajuda assistencialista, mas de transferência de conhecimentos do Brasil aos países africanos, deixando de lado as relações estritamente comerciais e tornando-se um instrumento fundamental para a política externa brasileira. (LEITE, 2011).

Em síntese, o espaço da cooperação Sul-Sul na política externa brasileira no governo de Lula, concebeu características notáveis e de grande relevância; estabeleceram ao tema, amplitudes nas questões internas e externas de suas políticas, conduzindo o Brasil nas relações internacionais como ator com relevância global, caracterizado para as novas percepções do cenário e das relações internacionais das quais participa.

Todos os direcionamentos da política externa brasileira do século XXI de inserção na África correspondem às buscas da cooperação e de prospecção do Brasil no cenário internacional, conectando a relação dos Estados como atores globais, na acepção de suas diplomacias projetarem-se internacionalmente de forma diferenciada na busca por objetivos universalistas. Respaldando assim, o próximo item a ser analisado, que constitui verificar as políticas de cooperação entre Brasil e os países africanos na área da saúde.

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2.3 A COOPERAÇÃO TÉCNICA BRASILEIRA NA ÁREA DA SAÚDE NA ÁFRICA

A subseção será composta pela proposta de compreender as políticas de cooperação brasileira na área da saúde no continente africano, demonstrando os projetos trabalhados e os acordos assinados nesse contexto, dando ênfase posteriormente para os projetos prioritários do governo na área da saúde, primeiramente na CPLP e por fim no Fórum de Diálogo IBAS.

A cooperação internacional propondo a área da saúde possui seu marco com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Regulamento Sanitário Internacional, no ano de 1948. Sobressaltando a primeira organização da saúde e regras para o campo de doenças infecciosas em domínio global. (ALMEIDA et. al., 2010).

Atualmente, a comunidade reforçou os laços para o progresso do desenvolvimento internacional e da saúde, por meio da Declaração do Milênio no ano de 2000, firmando o compromisso de 189 nações na Assembléia Geral da ONU, em substanciar a ação universal em prol dos oito Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, a serem atingidos no prazo de 25 anos. Os oito objetivos elencados são compostos: Redução da pobreza; Atingir o ensino básico universal; Igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade na infância; Melhorar a saúde materna; Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental; Estabelecer uma parceria mundial para o

desenvolvimento. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O

DESENVOLVIMENTO, 2012).

Para tanto, a construção de parcerias brasileiras no caráter Sul-Sul, motiva-se em uma política na interação do auxílio mútuo, e na área da saúde especificamente; compreende a construção conjunta de trocas de aprendizado e experiências. De tal maneira, que origina o conceito de “cooperação estruturante em saúde”, no qual visa à interação dos países com o intuito do desenvolvimento nacional, baseando-se na construção de capacidades. São essas, interligadas com a formação de recursos humanos, o fortalecimento organizacional e o desenvolvimento institucional, rompendo com a tradicional transferência passiva de conhecimentos e tecnologia, promovendo o fortalecimento dos sistemas. (ALMEIDA et. al., 2010).

O comprometimento da cooperação Sul-Sul brasileira visando o desenvolvimento preza não ferir a Soberania e a Autodeterminação das nações conforme os direcionamentos da sua política externa, no qual se pode identificar:

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A cooperação técnica sul-sul brasileira caracteriza-se pela transferência de conhecimentos, pela ênfase na capacitação de recursos humanos, pelo emprego de mão-de-obra local e pela concepção de projetos que reconheçam as peculiaridades de cada país. Realiza-se com base na solidariedade que marca o relacionamento do Brasil com outros países em desenvolvimento. Fundamenta-se no princípio constitucional da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. A cooperação técnica brasileira é livre de condicionalidades e construída a partir da manifestação de interesse de parte dos parceiros (“demand driven”). (BRASIL, 2012a)

A relação dos países em desenvolvimento, promovendo o auxílio mútuo determina o conceito da cooperação técnica entre países em desenvolvimento (CTPD), e seus sinônimos de “cooperação técnica horizontal” e “cooperação Sul-Sul”. Tais termos denotam a proposta final de enaltecer a dinâmica dos países do eixo Sul na busca de consolidar seus desenvolvimentos internos perante os países desenvolvidos. (IGLESIAS PUENTE, 2010).

Os projetos brasileiros no campo da CTPD segundo o período de 1995-2005, analisados por Iglesias Puente (2010, p. 156), evidenciados no Quadro 1, demonstram a importância do continente africano na cooperação Sul-Sul. Com quantidade de atividades relevantes e porcentagem de projetos de proeminentes, sendo esses projetos, sobretudo, como afirma o próprio autor, concentrados em maior parte nos países de língua portuguesa a CPLP.

Quadro 1 – A distribuição geográfica de projetos e atividade da CTPD no período 1995-2005

Fonte: Iglesias Puente (2010, p. 156).

Mesmo a África constando em terceiro lugar no período avaliado, ressalta-se que as primeiras áreas analisadas estão em campos de proximidade territorial brasileira, ao contrário do continente africano e sua divisão atlântica.

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Os projetos e atividades desempenhados na área da cooperação técnica, científica e tecnológica durante o período de 2005 a 2009, demonstram o empenho brasileiro em exercer a cooperação nesse molde, ultrapassando o total de recursos federais disponibilizados de R$ 252,6 milhões. Apresentam conforme o Gráfico 1, um singelo crescimento nos primeiros anos do levantamento e consideráveis números a partir do ano de 2007, com o aperfeiçoamento e intensificação crescente da cooperação. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2010).

Gráfico 1 – Recursos anuais despendidos em Cooperação Técnica, Científica e Tecnológica no período de 2005-2009 (em R$ milhões).

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Agência Brasileira de Cooperação (2010, p. 34).

Possuindo temáticas trabalhadas pela CTPD nas mais distintas áreas, conforme dados de Iglesias Puente (2010, p 161), ilustrados no Quadro 2, compreende as distribuições das relações dos projetos e atividades desempenhados pela CTPD por áreas temáticas. Segundo o mesmo, pode-se dizer que:

[...] a dimensão da variedade e amplitude de campos do conhecimento abarcados pela cooperação técnica horizontal brasileira. Essa característica bem reflete o grau de avanço obtido pelo Brasil em setores estratégicos para o desenvolvimento econômico e social e sua condição de país emergente no cenário internacional.

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Quadro 2 – Distribuição de projetos e Atividades de CTPD por área Temática (1995-2005)

Fonte: Iglesias Puente (2010, p. 161).

A diferença entre projetos e atividades, pautados no Quadro 2, esta relacionada com o tempo e a sistemática metodológica adotada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), no qual a primeira consta mais completa, pois seu tempo de duração é maior e para sua implementação, existe a obrigatoriedade de sua oficialização, ao contrário das atividades, que possuem em geral curta duração e não necessariamente tenha sido objeto de registro específico. (IGLESIAS PUENTE, 2010).

Em análise ao Quadro 2, a área da saúde depois da agropecuária comporta os números mais significativos em projetos da CTPD. Para tanto, o Ministério da Saúde (MS) reflete seu papel fundamental, no qual, programas de cooperação na área DST/HIV/AIDS, estão entre os projetos de reconhecimento internacional. (IGLESIAS PUENTE, 2010).

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Reconhecimento esse, derivado do engajamento brasileiro desde o ano de 2001 em relação à síndrome do HIV/AIDS, na busca internacional pela diminuição nos preços de medicamentos importados e pela produção nacional de antirretrovirais, assumindo características de alcance universal ao acesso desses medicamentos para a população. A abrangência da postura brasileira culminou em um conjunto de organizações não governamentais (ONGs) em apoiar tal iniciativa, como a organização britânica Oxfam e a Médicos Sem Fronteiras. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2010).

Outro fator preponderante da promoção e solidificação brasileira na área da saúde, caracteriza-se pelo Brasil possuir internamente um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS), consolidado com a Constituição Federal brasileira de 1988. Todos esses direcionamentos, prospectados na área da saúde pelo país originaram a demanda de outros países em desenvolvimento em buscar a cooperação brasileira nesse campo, aumentando expressivamente os recursos dedicados ao tema a cada ano, em 2005 o total anual investido na cooperação em saúde era de R$ 2,78 milhões, e em 2009 o valor superado foi de R$ 13,8 milhões. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2010).

A parceria interna entre o MS, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a coordenação dos projetos por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), fomenta a atuação internacional brasileira na cooperação técnica na área da saúde. Essa parceria possibilitou que no continente africano sejam desenvolvidas cooperações em diversas extensões da saúde, com programas nas áreas de Malária, HIV-Aids, Sistema Único de Saúde, Nutrição, Bancos de Leite Humano, Vigilância Epidemiológica, Geminação de Hospitais, Fármacos e Imunobiológicos. (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2007).

Contribuindo para os projetos no combate a HIV/AIDS, fator preponderante dos problemas mais agravantes da saúde pública em Moçambique, no ano de 2003, o presidente Lula convencionou a implantação de uma unidade produtora de medicamentos antirretrovirias em Moçambique. Nos anos posteriores entre 2005 e 2007 foram realizados estudos de viabilidade, e a efetivação do projeto realizou-se no ano de 2008. Iniciando a abertura para o registro de medicamentos em Moçambique, compra de equipamentos e a capacitação de profissionais a serem completados até o ano de 2014. (COOPERAÇÃO SAÚDE, 2011a).

Segundo notícias da Fundação Oswaldo Cruz (2012a), com a realização da parceria entre o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) com uma

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