• Nenhum resultado encontrado

A consequência da presunção de verdade e sua influência na subjetividade

A natureza humana permite aos indivíduos perceber e narrar a verdade, contudo, esta presunção de verdade pode ser facilmente abalada, eis que os seres humanos são dotados de condições particulares que integram a personalidade de cada testemunha e fazem com que seus depoimentos sejam incertos e inseguros.

A presunção da veracidade humana é a base para a valoração da prova testemunhal. Malatesta (1996, p. 319) discorre o fundamento dessa afirmação:

O fundamento, portanto, da afirmação de pessoa em geral, e do testemunho em especial, é a presunção de que os homens percebam e narrem a verdade, presunção fundada, por sua vez, na experiência geral da humanidade, a qual mostra como na realidade e no maior número de casos, o homem é verídico; verídico, pela tendência natural da inteligência, que encontra na verdade, mais facilmente que na mentira, a satisfação de um bem ingênito; verídico, pela tendência natural da vontade, a quem a verdade aparece como um bem e a mentira como um mal; verídico, enfim, porque esta tendência natural da inteligência e vontade é fortificada no homem social não só pelo desprezo da sociedade para com o mentiroso, mas também pelas penas religiosas e penas civis que se erguem ameaçadoras sobre sua cabeça.

O fundamento para a credibilidade do testemunho seria a presunção de que determinada testemunha não queira ludibriar ou omitir fatos, falando tão somente a verdade. A veracidade adquire valoração através de requisitos objetivo e subjetivo, sendo que os primeiros são perceptíveis, de forma direta, aos olhos do magistrado.

Nos requisitos subjetivos para a valoração da prova é que são demonstradas com maior clareza as presunções de veracidade, visto a dificuldade de perceber a subjetividade na testemunha. Malatesta (1996, p. 393) ilustra:

Quanto aos requisitos subjetivos, estes, ao contrário, muitas vezes, não se tem conhecimento exato da sua existência ou inexistência na testemunha particular. Ora, sendo certo que, precisamente quando falta o conhecimento positivo ou negativo dos requisitos da credibilidade, é que a presunção de veracidade se afirma fazendo-o supor e visto que este conhecimento falta principalmente em se tratando de requisitos subjetivos, compreende-se como a presunção da veracidade tenha sua maior eficácia relativamente à credibilidade subjetiva da testemunha.

A credibilidade da fala verdadeira é a base para toda prova testemunhal, porém deve ser medida pelas condições próprias de cada testemunha, podendo ser valorada positivamente, restritamente ou extinta na sua totalidade, quando constituir erro que acarrete na sua incerteza probatória.

Se a testemunha deve narrar a verdade é o magistrado que deve valorar e avaliar os testemunhos. Apesar do poder que lhe foi conferido, o magistrado é humano, e por mais imparcial que seja não há como não se falar no seu subjetivismo no momento de analisar as provas e julgar a lide. Para Gesu (2010, p. 159):

O juiz não é a mera boca da lei, resumindo-se tão somente a dar uma solução ao problema a partir da simples aplicação do fato à norma. Ao sentenciar, o magistrado diz o que sente. E o papel do sentimento do juiz é algo fundamental, evidenciado pela própria etimologia da palavra “sentença”, a qual tem origem no verbo “sentire”. Por meio da sentença o juiz experimenta uma emoção, ele sente e declara o que sente.

Os juízes devem estar convictos quando da tomada da decisão que vai dar fim a uma lide, a certeza dos fatos que envolvem o crime tem que ser absolutamente segura. O convencimento é afastado dos vícios e predomina a naturalidade do magistrado, ou seja, as provas são sopesadas por sua iniciativa e não das apreciações realizadas por terceiros.

A prova deve ser referida como a certeza do processo, sendo a responsável pala condenação judicial, ela vem a ser o meio pelo qual a certeza subjetiva se relaciona com a verdade, formando a convicção do juiz. Malatesta (1996, p. 85) afirma que a prova é a relação particular e concreta entre a convicção e verdade, constatando que a natureza de toda relação é determinada pela natureza dos seus limites, sendo na consideração da verdade objetiva e na convicção subjetiva que vão ser encontrados os princípios supremos da prova em geral.

Contudo, a obtenção da prova real é impossível, pois a realidade dos fatos é pretérita, e devido a esse lapso temporal existente, torna-se extremamente difícil demonstrar os detalhes do fato e as percepções humanas envolvidas.

O magistrado deve ter o máximo de subsídios probatórios a fortalecer a probabilidade delitiva e sua autoria para que possa condenar sem correr o risco de cometer um equivoco, do qual dependerá a liberdade de uma pessoa. Lopes Jr. (2006, p. 285) refere:

Em suma, o processo penal tem uma finalidade retrospectiva, onde, através das provas, pretende-se criar condições para a atividade recognitiva do juiz acerca de um fato passado. As partes buscam sua captura psíquica (para mantê-lo em crença), sendo que o saber decorrente do conhecimento desse fato legitimará o poder contido na sentença. Ou seja, o poder do juiz não precisa da “verdade” para se legitimar, até porque, sendo ela impossível de ser obtida no processo, teríamos de assumir que o poder é ilegítimo. Logo, diante do excesso epistêmico da “verdade”, importa é o convencimento, formado a partir do que está e ingressou legalmente no processo.

Mais do que simplesmente julgar sem exprimir os anseios que carrega desde criança, tal como o hábito, a decisão tem que ser imposta de forma raciocinada. Malatesta (1996, p. 51) refere:

O convencimento deve ser raciocinado, não determinando de que natureza devem ser as razões que legitimam o convencimento. E muitas vezes, as preocupações e prevenções subjetivas da pessoa dão um tal peso a motivos fúteis, que os fazem considerar-se como razões suficientes. Ora, é importante pra a noção do convencimento judicial acrescentar que as razões que o determinaram devem ser de natureza tal que criem a convicção em qualquer outra pessoa razoável, a quem sejam expostas.

Para que a sentença seja justa, propõe Malatesta (1996, p. 77):

Deverá, quem julga, estar portanto prevenido, não só contra aquela primeira espécie de engano que leva a rejeitar como incríveis fatos que, em verdade, são críveis, mas também contra esta outra espécie de engano que leva a admitir, como críveis, fatos incríveis. E, por conseguinte, deverá ele, com espírito sereno, ávido somente de verdade, colocar-se fora e acima daquelas correntes apaixonadas de ideias e daqueles ambientes viciados, motivados na multidão, tanto pelas fascinações irracionais do bem, como pelos medos irracionais do mal.

A consequência da presunção de verdade advém da influência negativa na subjetividade judicial de valoração da prova testemunhal, uma vez que sendo frágil o meio probatório, o mesmo pode acarretar em decisões judiciais injustas. Para que esta subjetividade do magistrado seja afastada completamente, propiciando uma decisão de todo justa, a subjetividade presente nos depoimentos deve ser excluída, analisando-se tão somente a verdade real.

Sempre que uma testemunha prestar seu depoimento, supõe-se que a mesma fale a verdade, seja como um instinto natural aos humanos ou como forma de obediência às leis. Esta presunção de que ela diga a verdade deve ser tida como parâmetro, ao menos, ao tempo do início da sua declaração, até que por outro motivo não haja desconfiança de que esteja proferindo inverdades.

A valoração da prova testemunhal devido a sua exclusividade de utilização nos processos judiciais, bem como a consequência da subjetividade judicial nos julgados estaduais e nacionais serão devidamente comprovadas no item a seguir.

Documentos relacionados