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A Constituição como Ato Jurídico Constituição e Sistema Jurídico

No documento Direito Constitucional I (1) (páginas 52-60)

Concepção Tradicional

- A Constituição é a expressão da unidade do sistema jurídico

- Segundo Gomes Canotilho “o princípio da unidade hierárquico-normativa

significa que todas as normas contidas numa constituição formal têm igual dignidade”15

- A Constituição tem uma força prevalente na ordem jurídica

- A Constituição como centro de definição do monopólio da definição de poder

Desconstrução do Modelo Tradicional

Complexidade da ordem axiológica constitucional16

- Determinar a axiologia que alicerça a unidade do sistema jurídico – hoje em dia, o sistema não pode é axiologicamente neutro nem tem unidade valorativa.

- Há o reconhecimento de uma hierarquia de valores e de princípios, na qual uns têm primado sobre outros.

- Certas normas constitucionais sobre direitos, liberdades e garantias são dotadas de aplicabilidade direta e vinculam entidades públicas e privadas (art. 18º) – e até dentro destas há uma certa hierarquia.

15

J.J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, p. 1057

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- Princípio sagrado e inalienável da dignidade da pessoa humana vincula todo o sistema – sempre que se coloque uma situação de concorrência aplicativa ou de tensão entre esse princípio e outro, existe uma prevalência absoluta da dignidade da pessoa humana.

- A complexidade da ordem axiológica constitucional pode ainda resultar da hétero vinculação formal da Constituição formal a valores que se situem numa ordem suprapositiva.

- A unidade adquirida do sistema é um mito (P. Otero)

A Constituição “Não-Oficial” – Permeabilidade factual e informal da Constituição17 - A factualidade social mostra-se sempre passível de gerar processos informais corrosivos do Direito formal – o sistema jurídico revela sempre uma certa permeabilidade ao factual e informal. Essa normatividade informal pode tanto integrar ou complementar o Direito escrito ou subverter e desaplicá-lo.

- O costume é o principal componente dessa informalidade normativa.

- Se observarmos uma desaplicação generalizada e constante de uma norma jurídico- positiva, deparamo-nos com o início de um processo que conduz à falta de efetividade dessa mesma norma – não gera revogação, gera inaplicabilidade.

- A Constituição escrita nunca pode excluir a existência de um Direito Constitucional Não-Escrito, mostrando-se especialmente propícia ao desenvolvimento de um conjunto de regaras informais. Há inúmeros exemplos históricos (Parlamentarização da Carta Constitucional; Inversão de funções políticas da Constituição de 1933)

- Na Constituição de 1976, observamos o desenvolvimento da preponderância do informal:

- Debilitação do estatuto da Assembleia da República - Hipervalorização do papel do Governo

- Alteração do significado das eleições parlamentares/protagonismo do PM - Subversão dos princípios socialistas e revolucionários

- Normatividade não-oficial é o produto direto da uma vivência social integrativa ou subversiva, comportando uma componente democrática sem precedentes – um poder “difuso, anónimo e político” (P. Bonavides)

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- Põe-se o problema: Até que ponto pode a normatividade não-oficial subverter a oficial, e até que ponto é isso compatível com a noção de Estado de Direito? Não pode tocar no essencial do Direito – o respeito pela dignidade da pessoa humana.

Fragmentação da força normativa da Constituição18, que se pode verificar na: Relativização da força constitucional:

- A Constituição é central no ordenamento jurídico, sendo a sua lex superior, gozando de uma força normativa própria, que se procura auto garantir. No entanto, a força normativa da Constituição encontra-se relativizada. Essa relativização começa até dentro da própria Constituição, com os seguintes fenómenos:

- Autodesconstituicionalização – a própria Constituição nega ou retira força constitucional a uma ou várias das suas normas.

- Supraconstitucionalização – normas que gozam de uma hierarquia superior face às restantes – normas supraconstitucionais. Ex: normas limitadoras de revisão constitucional ou cláusulas pétreas.

- Auto Subordinação/Autolimitação Constitucional – Abdicação e renúncia pela Constituição instrumental da sua força normativa típica. Ex: habilitação constitucional de derrogação de normas constitucionais

- Mais uma vez, a hierarquização das normas constitucionais

- Aprisionamento da eficácia das normas constitucionais, através do reenvio constitucional – submissão da Constituição ao legislador ordinário – em vez de ser a lei a mover-se dentro da Constituição, a Constituição move-se dentro da lei.

- Uso abusivo de revisões constitucionais

- Hétero subordinação normativa a uma ordem axiológica superpositiva e ao ius cogens. Ex. DUDH

Concorrência de normas fundamentais:

- No termo da 2ª Guerra Mundial desenvolveu-se um entendimento jusnaturalista sobre os direitos humanos, reconhecendo o Estado como um potencial violador, passando a ser tutelados pelas Nações Unidas

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- As normas integrantes do ius cogens gozam de supremacia hierárquica sobre as normas constitucionais, devido à sua imperatividade internacional

- Submissão da Constituição económica ao Direito Comunitário

Autoria da Constituição – O Poder Constituinte19

Poder Constituinte Formal

Caracteriza-se por:

- Intencionalidade de quem a faz – pretende-se que seja lei constitucional - Tem de obedecer a um Procedimento Próprio

- Expressa-se num ato jurídico escrito

Modalidades/Manifestações - Outorga do texto constitucional

- Por um Rei, com a sua legitimidade monárquica - Decreto do Presidente da República

- Ato de autoridade revolucionária

- Intervenção de uma Assembleia Constituinte - Que tenha só o poder constituinte

- Que tenha o poder constituinte e o poder legislativo normal - Referendos

- Poder Constituinte Originário - Elaborado pela primeira vez - Poder Constituinte Derivado – Modifica o texto constitucional

Poder Constituinte Informal

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Características

- Falta de intencionalidade

- Falta de processo pré-estabelecido

Manifestações - Secum constitutione

- Praeter constituitione - Contra constituitione

Aplicação da Constituição

- Aplicada no território do Estado - É possível ser aplicada no estrangeiro

Constituição e Exercício de Funções do Estado

Exercício Público

- À exceção da função administrativa, todas podem ser exercidas pelo Estado?

- Em qualquer função do Estado, implementa-se o artigo 204º CRP (apreciação de inconstitucionalidade)

Exercício Privado das Funções do Estado

- Função Administrativa – Concessionários, tribunais arbitrários e partidos políticos - Função Técnica – Obras públicas confiadas a privados

Aplicação Externa da Constituição

- 57 -

- Há espaço, em Portugal, para se aplicar legislação estrangeira e vice-versa

Defesa da Constituição

- A Constituição está constantemente sujeita a tentativas de ataque

Defesa Interna da Constituição

Limites Materiais e Cláusulas Pétreas

- Matérias que não podem ser modificadas (v. Art. 288º)

Garantia e fiscalização da superioridade normativa das normas Constitucionais - Garantia implica norma jurídica, só existe em ligação com uma certa norma. A garantia afere-se perante cada comportamento de órgãos de poder político.

O Estado de Excepção

- Pressupostos: agressão efetiva ou iminente por forças estrangeiras, ameaça ou grave perturbação da ordem Constitucional, calamidade pública.

- Critério teleológico – restabelecimento da normalidade constitucional

- Os limites materiais de atuação previstos no art. 19º-6 têm de ser respeitados

O Direito Penal Público

- Código Penal prevê inúmeros crimes contra o Estado

Defesa Externa da Constituição

- Tratado de Amsterdão – UE pode sancionar Estados incumpridores - Respeito pela Declaração Universal dos Direitos do Homem

- 58 - Processos Constitucionais

Os que se inserem dentro do quadro constitucional. Podem ser de dois tipos: - Revisão Constitucional20

- Realizada através de um processo de modificação da Constituição, mantendo-se a sua identificação constitucional

- Tem uma finalidade autorregeneradora e Auto conservadora

- Elimina normas já não justificadas política, social ou juridicamente e adiciona elementos novos e revitalizadores. Pode também consagrar normas previamente consuetudinárias ou de lei ordinária.

- Transição Constitucional 21

- Neste caso verifica-se uma transição constitucional pela qual se provoca uma alteração do próprio texto constitucional.

- Ao contrário da Revolução, na transição, enquanto se prepara a nova Constituição, subsiste a anterior

- Uma transição acontece porque a velha legitimidade se encontra em crise e justifica- se porque emerge uma nova legitimidade.

- Art. 288º - Limites materiais impedem a alteração do regime político

Processos A constitucionais

Aqueles que se enquadram fora dos mecanismos previstos na Constituição Processos Revolucionários22

- Rutura direta e imediata com o projeto constitucional vigente, normalmente pela via da força.

- Implica a criação de uma ordem nova

- “Nada é mais gerador de Direito que uma Revolução, nada há talvez de mais eminentemente jurídico do que o facto ou ato revolucionário” (Jorge Miranda)

20

Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional II, p. 134-138

21

Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional II, p. 85-88

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- A Revolução só pode acontecer com uma série de valores, princípios e critérios, que a legitimam, desencadeando efeitos normativos.

- O derrubo do regime precedente costuma ser seguido de um processo ou ciclo revolucionário. No fim desse período estará fixada a unidade da ordem jurídica. Por vezes segue-se de um período de guerra civil.

Processos Não-Revolucionários

- Normatividade constitucional não oficial, que origina a não aplicação das normas escritas da Constituição, sendo exemplo, desenvolvimento de Constituição económica de matriz capitalista quando a constituição apontava o marxismo. Ver acima.

Dissolução da Constituição Nacional

Globalização Constitucional – o ius commune internacional23

- A Constituição formal encontra-se em alguns dos seus segmentos, diluída numa ordem internacional imperativa

- Prevalência do Direito Internacional

- Progressivo alargamento das normas internacionais de ius cogens

- Esvaziamento crescente das matérias integrantes do domínio reservado dos Estados

- Em tais sectores, em vez de ser a Constituição o fundamento e o critério de validade do Direito Internacional, antes é o Direito Internacional que determina o quadro de valores em que se move a validade das soluções normativas dos textos constitucionais. - “Assiste-se a um efetivo fenómeno de ‘erosão da Constituição’. Deparamo-nos com

uma progressiva dissolução da teoria da Constituição” J.J. Gomes Canotilho24

Integração Política Internacional – a Constituição Europeia

23

Paulo Otero, Legalidade e Administração Pública, p. 226-228

- 60 -

- A integração Europeia, fazendo uma analogia à expansão da influência do ius cogens, também contribui para o processo de dissolução da Constituição.

Projeção Externa da Constituição Nacional

- Tradições Constitucionais comuns como fonte de direito comunitário - Relevância das normas constitucionais no Direito Internacional Público - Interpretação do Direito ordinário nacional por tribunais estrangeiros

As Normas Constitucionais

No documento Direito Constitucional I (1) (páginas 52-60)

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