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CAPÍTULO 3 A CONSTRUÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO

3.4 A construção do corpus da pesquisa

Tendo em vista que na pesquisa qualitativa a quantidade não é o seu foco principal, mas sim a qualidade e o aprofundamento das informações, concordamos com a colocação de Minayo (2008, p. 196) ao dizer que

numa pesquisa qualitativa o pesquisador deve preocupar-se menos com a generalização e mais com o aprofundamento, a abrangência e a diversidade no processo de compreensão, seja de um grupo social, de uma organização de uma instituição, de uma política ou de uma representação.

A partir da colocação feita por Minayo, optamos pela construção de um corpus de pesquisa e não de uma amostragem aleatória, por entender que as informações necessárias para atender as solicitações do nosso estudo vão depender da intensidade dos discursos falados e escritos e não somente da quantidade de informações obtidas a partir destes.

Um corpus se constrói e se amplia à medida que novas informações vão surgindo o que a princípio não nos permite determinar o tamanho da amostra utilizada no estudo.

Assim, nosso corpus se constrói a partir dos textos obtidos através dos discursos dos professores entrevistados22 e dos textos escritos em documentos curriculares como ementários e programas das disciplinas, nos permitindo a compreensão do nosso objeto de estudo.

Barthes (1967, p. 95s apud BAUER; AARTS, 2008) nos traz sugestões para o delineamento do corpus na pesquisa qualitativa. Ele nos chama a atenção para a relevância, a homogeneidade e a sincronia que este deve ter. Desta forma, os assuntos pesquisados devem ter relevância teórica e ter um único foco temático; os materiais devem ter o máximo de homogeneidade (por exemplo: entrevistas individuais não devem ser juntadas à transcrição de grupos focais); e sincronia (os eventos analisados devem ter o mesmo ciclo histórico, ou seja, a mesma ordem de estabilidade e mudança).

Uma vez construído o corpus ele pode ser modificado durante a análise. Isto é, elementos diferentes dos que inicialmente foram considerados podem nos encaminhar para novos questionamentos com o intuito de aprofundar a investigação. Sobre isto nos apoiamos em Fairclough (2008, p. 278) que diz: “o corpus poderia ser considerado não como totalmente constituído antes do início da análise, mas aberto e com possibilidades de crescimento em resposta a questões que surgem na análise”.

Vimos, então, que o corpus é construído, pode ser modificado, mas também saturado. Saturação do corpus “é o critério de finalização: investigam-se diferentes representações, apenas até que a inclusão de novos estratos não acrescente mais nada de novo” (BAUER; AARTS, 2008, p. 59).

Desta forma, o tamanho do corpus da nossa pesquisa estará respeitando o princípio de saturação estabelecido para os pesquisadores sociais, dentre eles Minayo (2008, p. 197) que entende por critério de saturação “o conhecimento formado pelo pesquisador, no campo, de que conseguiu compreender a lógica interna do grupo ou da coletividade em estudo”, no caso deste estudo, as concepções de idoso que permeiam a formação do bacharel em Educação Física.

22

Professores do curso de Bacharelado em Educação Física da Escola Superior de Educação Física de Pernambuco.

Consideramos, ainda, o tempo disponível para a realização do projeto, a extensão a que pode se chegar uma entrevista semi-estruturada em profundidade e fundamentalmente a necessidade de analisar esses dados no seu mais completo realismo, sem correr o risco de estarmos criando “porões de dados”.23

A construção do Corpus na pesquisa qualitativa deve segundo os linguistas seguir algumas etapas e regras básicas. Como regras básicas para essa construção, Bauer e Aarts (2008) sugerem:

1) Selecionar o campo e os sujeitos da investigação; 2) Analisar os materiais investigados24;

3) Ampliar o corpus de dados até que não se tenha mais nada de diferente nos textos

(falados e escritos).

O campo e os sujeitos de investigação

Optamos por analisar a produção e a distribuição de discursos presentes nos documentos curriculares (ementas e programas de disciplinas) e os discursos dos professores, em situação de entrevista, do curso de Bacharelado em Educação Física da Escola Superior de Educação Física de Pernambuco, uma vez que estes estão diretamente relacionados com a formação profissional do bacharel.

A escolha do lócus deu-se por esta ser a primeira instituição pernambucana de formação profissional de educadores(as) físicos a assumir orientação do Ministério da Educação e Cultura de reforma curricular sob a formatação de dois cursos, Licenciatura em Educação Física e Bacharelado em Educação Física.

A Escola Superior de Educação Física (ESEF) foi criada em 1946 através do Decreto nº 1.368 de 15 de maio. Em 1970, por intermédio do Decreto Lei nº 222, de 16 de março, teve autorizada a sua transferência para a Fundação de Ensino Superior de Pernambuco, hoje denominada Universidade de Pernambuco. Atualmente, oferece dois cursos de graduação em Educação Física (licenciatura e bacharelado) com cerca de 800 discentes neste nível de ensino. O conceito na prova do ENADE25 foi 5 (máximo) nas duas últimas avaliações, realizadas em 2004 e 2007.

23

Expressão utilizada por Bauer e Gaskell (2008, p. 60) para fazer referência ao excesso de materiais coletados nas pesquisas qualitativas, mas nunca de fato analisados.

24

Para fins de adequação para o nosso estudo, incluímos no item 2 os procedimentos metodológicos do estudo.

25

O Curso de Educação Física da ESEF teve nota 05 no sistema de avaliação de Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (ENADE) em 2004 e 2007, que representa desempenho “A”, conforme os dados

Diferentemente da licenciatura onde o profissional está habilitado a ser professor em escolas de Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, optamos pela análise do curso de bacharelado que surge das necessidades do mercado em ter um profissional mais generalista.

Segundo dados do Projeto Político Pedagógico da Escola Superior de Educação Física, o bacharel em Educação Física que esta instituição forma terá formação acadêmica e profissional generalista, humanista e crítica, qualificadora de uma intervenção fundamentada no rigor científico, na reflexão filosófica e na postura ética, na busca constante da relação teoria prática; nos conhecimentos biológicos, socioculturais, filosóficos, científicos, pedagógicos e técnicos; através de uma atuação criativa e compromissada com uma sociedade plural e democrática, através de ações de:

 Planejar, programar, organizar, dirigir, coordenar, supervisionar, desenvolver, avaliar e executar programas de Educação Física nos contextos da saúde, do esporte e do lazer assegurando uma prática profissional de qualidade e compreendendo seu papel social.

 Dominar conteúdos a serem aplicados, seus significados em diferentes contextos, sua articulação interdisciplinar, nas mais diversas formas de intervenção nos vários grupos sociais e culturais.

 Conhecer procedimentos científicos de investigação utilizando-se dos métodos adequados que possibilitem o aperfeiçoamento da prática profissional direcionada à construção de sínteses no plano teórico, metodológico e técnico.

 Empreender negócios na área da Educação Física de forma a contribuir com o processo de desenvolvimento sócio-econômico criando postos de serviços nos contextos da saúde, do esporte e do lazer.

Já no que se refere aos sujeitos da pesquisa, concordamos com Chizzotti (1998, p. 83) ao dizer que os sujeitos selecionados para participarem da pesquisa são “reconhecidos como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que identificam”.

A seleção dos sujeitos para a realização da entrevista foi feita de forma aleatória e inicialmente não foi estabelecido o número de professores, por acreditarmos que a pesquisa apresentados no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Disponível no

endereço eletrônico:

http://enade.inep.gov.br/enadeResultado/site/resultados/pesquisaResultados.faces;jsessionid=7C13BE9 A778DBBA1FBDF975BA509AD23. Acesso em 27/02/09.

qualitativa não implica na participação de um número elevado de sujeitos, mas na qualidade e na profundidade dos dados revelados pelos discursos.

No entanto, conhecendo o formato de distribuição das disciplinas que compõem o currículo do curso de Bacharelado em Educação Física da ESEF, objetivamos ter uma representação de cada núcleo temático (Esporte, Lazer, Saúde e núcleo básico de disciplinas obrigatórias) para não corrermos o risco de obter discursos apenas de um núcleo, o que limitaria as possibilidades de percebermos os distanciamentos, as aproximações e os silenciamentos sobre o idoso na formação do bacharel.

Estes sujeitos foram abordados inicialmente pela coordenação do curso, onde foi apresentada a nossa proposta de trabalho e pesquisa para a aprovação ou não desta.

Tivemos aprovação da coordenação e do corpo docente em reunião de pleno. Ciente de que as entrevistas poderiam se realizadas, enviamos via coordenação uma carta de apresentação da pesquisa (APÊNDICE 1) para cada professor que faz parte do quadro docente do curso de Bacharelado para que estes de forma espontânea pudessem manifestar o seu desejo em contribuir para a realização deste estudo.

Uma vez que os professores se mostraram receptivos ao convite, com a autorização de cada um nos foram passados os respectivos contatos (número de telefone celular e/ou residencial) para então marcarmos a entrevista.

Descrevemos no quadro 1 a caracterização dos professores entrevistados, obtida através de um questionário de identificação que constou de formação acadêmica/profissional, maior titulação e atuação profissional.

Quadro 1 - Caracterização dos sujeitos entrevistados considerando formação acadêmica

FORMAÇÃO ACADÊMICA MAIOR TITULAÇÃO

Educação Física Mestre

Educação Física Mestre

Pedagogia Especialista

Educação Física Especialista

Educação Física Doutor

Quadro 2 - Corpus Documental

CAMPOS DE DISCURSIVIDADE MATERIALIDADE DISCURSIVA

POLÍTICO EDUCACIONAL

 Lei de diretrizes e bases para o curso de bacharelado em Educação Física. Parecer nº 215/87 e Resolução 03/87

ACADÊMICO/INSTITUCIONAL

 Programa do Curso de Bacharelado da Escola Superior de Educação Física de Pernambuco

 Projeto Curricular (princípios, competências, habilidades e perfil do profissional em Educação Física).

 Dinâmica Curricular

 Composição Curricular por Dimensão do Conhecimento

DOCENTE

 Entrevista em profundidade com docentes do Curso de Bacharelado em Educação Física de Pernambuco, com áreas de atuação em núcleos temáticos diversos.

3.5 Procedimentos metodológicos, instrumentos, tratamento e critérios de análise dos