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CAPÍTULO 3 A CONSTRUÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO

3.3 Procedimento Microanalítico de Análise de Dados

Considerando a perspectiva de análise de discurso proposta por Fairclough (2008) e sendo para ele a microanálise o momento em que suscita as explicações de como os participantes produziram e interpretaram os textos, esta metodologia teve como objetivo analisar os discursos sobre o idoso no processo de formação do bacharel em Educação Física.

A análise dos dados foi empreendida a partir de três dimensões, as quais chamamos de

Campos de discursividade, sendo esses campos os locais onde são produzidos, mobilizados e

por onde circulam os discursos sobre o idoso no processo de formação profissional do bacharel em Educação Física. Os campos de discursividade nos permitiram identificar as

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O conceito de polifonia é mais amplo que o de intertextualidade. [...] enquanto nesta faz-se necessária a presença de um intertexto, cuja fonte é explicitamente mencionada ou não (intertextualidade explícita x intertextualidade implícita, respectivamente), o conceito de polifonia, tal qual elaborado por Ducrot (1980, 1984), exige apenas que se representem, encenem (no sentido teatral), em dado texto, perspectivas ou pontos de enunciadores diferentes – daí a metáfora “coro de vozes”, ligada, de certa forma, ao sentido primeiro que o termo tem na música, de onde se origina (KOCH, 2004, p. 154).

aproximações, distanciamentos e/ou silenciamentos sobre o idoso, e, ainda, identificar quais as Ideias forças que permeiam esses discursos.

A primeira dimensão, a Política, diz respeito às leis que regularizam e estabelecem diretrizes para a formação do bacharel; a segunda, a qual chamamos de Institucional, envolve discursos que permeiam a formação do bacharel no âmbito da instituição pesquisada (ementas, programas de disciplinas), e por fim, a dimensão Docente, por onde circulam os discursos dos professores formadores. Neste momento da análise, procuramos perceber como esses discursos se aproximam, se distanciam ou são silenciados em relação à temática em estudo: idoso.

O momento de análise foi certamente antecedido pelo momento das entrevistas. Estas, por sua vez, não foram de fácil realização considerando que nem todos os professores estiveram disponíveis, uma indisponibilidade que perpassou por questões de tempo, acadêmicas, pessoais e até mesmo de identificação e interesse pela temática abordada. No entanto, aqueles que se puseram à disposição, trouxeram contribuições singulares tanto para o crescimento da pesquisa, quanto para uma nova forma de olhar e vivenciar a formação do bacharel em Educação Física.

Após realização das entrevistas, seguimos para os procedimentos de análise.

No primeiro momento da análise fizemos a escuta das falas gravadas em áudio com o subsídio MP3, seguidas pela transcrição e leitura minuciosa. A escuta foi um momento de grandes descobertas para nós, uma vez que durante as entrevistas nem sempre conseguíamos registrar em mente ideias que se tornaram essenciais para o avanço do estudo.

Foi também um momento em que nós, pesquisadores, necessitamos de muita atenção e neutralidade para transcrever a fala dos entrevistados totalmente na íntegra, garantindo a veracidade e a essência da sua fala. Foi sem dúvida um momento de muito prazer e relevância na construção deste, por sentir que aquelas pessoas que se disponibilizaram estavam realmente imersas no contexto da pesquisa, e abertas a contribuir com as mais variadas e enriquecedoras colocações.

Assim, entendemos que os momentos de entrevista, escuta e transcrição, concretizaram o momento de dialogicidade entre pesquisador e lócus.

O segundo momento foi direcionado à análise acurada dos dados, apreendidos tanto a partir dos discursos dos sujeitos entrevistados, quanto dos presentes nos documentos do currículo (ementas e programas de disciplinas), com vista à composição do corpus analítico.

Realizamos esse momento respeitando alguns procedimentos sugeridos por Porto (2008), dentre eles a construção de episódios – eventos discursivos e de Ideias Força. Aos

episódios – eventos discursivos - Porto (2008, p. 225) denominou de “[...] pequenos fragmentos do discurso constituídos por um ou mais enunciados que contêm uma sequência temática capaz de permitir a identificação dos objetos e conceitos inscritos no discurso [...]”. Esta mesma autora propõe que os recortes em episódios sejam realizados de forma flexível com o intuito de evidenciar alguns tipos de questões, formulações ou aspectos que mereçam ser enfatizados.

Já Fairclough (2008, p. 110) chamou de episódios de um texto as “[...] partes do texto que consistem de frases que podem ser interpretadas como coerentemente conectadas”. Para Fairclough (2008, p. 113),

coerente é o texto [...] cujas partes constituintes (episódios, frases) são relacionadas com um sentido, de forma que o texto como um todo „faça sentido‟, mesmo que haja relativamente poucos marcadores formais dessas relações de sentido – isto é, relativamente pouca coesão21 explícita.

Tivemos o cuidado de manter o anonimato dos professores, sem deixar que elementos da sua fala fossem identificados por algum leitor; dentre esses elementos, as disciplinas lecionadas, tempo de ensino na instituição, abordagens metodológicas e outros.

Ao selecionarmos os eventos discursivos, tivemos também o cuidado de fazer um recorte da ideia como um todo e não somente de frases soltas, com o intuito de evitar um tendenciamento da interpretação para aquilo que nós pesquisadores acreditamos e defendemos. As categorias analíticas extraídas foram:

1) Formato acadêmico do Curso de Educação Física; 2) Concepções de Homem

3) Áreas de conhecimentos pedagógicos, científicos e tecnológicos; 4) Diversidades sociais e etárias.

O terceiro momento veio após extração das categorias analíticas e teve como objetivo a construção de Ideias Força. Para essa construção demos continuidade ao que propôs Fairclough (2008), de forma que essas se concretizaram como as mensagens, ideias principais no campo das proposições, dos trechos das entrevistas (episódios – eventos discursivos) que nos mostraram uma relação intensa e direta com o nosso objeto de estudo.

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Coesão “[...] como as orações são ligadas em frases e como as frases, por sua vez, são ligadas para formar unidades maiores nos textos” (FAIRCLOUGH, 2008, p. 105).

Lembramos ao leitor que somente após todos os procedimentos de análise (leitura, transcrição, seleção de eventos discursivos e construção de categorias) foi que pudemos extrair as Ideias Forças. Essas por vez foram consideradas como os discursos que fomentam e permeiam a formação do bacharel em Educação Física da ESEF.

As Ideias Forças por nós identificadas foram:

1) A cisão do curso de Educação Física em Licenciatura e Bacharelado foi um momento de fragmentação do conhecimento;

2) A biologia do ser humano como viés da formação do bacharel em Educação Física.

3) A escassez de disciplinas didático-pedagógicas contribui para a formação de um bacharel com perfil tecnicista.

4) Distanciamento, silenciamento e superficialidade na aplicação de conhecimentos concernentes aos grupos minoritários (idosos e pessoas com deficiência).

Com o recorte dos episódios – eventos discursivos e a extração das Ideias Forças -, materializamos os discursos dos sujeitos entrevistados num diálogo entre eles, o pesquisador e as bases teórico-epistemológicas relacionadas com a fala dos entrevistados e a temática estudada. Desse modo pudemos perceber as relações de Interdiscursividade estabelecidas pelos sujeitos em suas práticas discursivas.

Considerando a Interdiscursividade como dimensão do discurso imprescindível na Análise de Discurso proposta por Fairclough (2008), e sabendo que a partir da análise e compreensão desta dimensão poderemos resgatar os sentidos dos discursos que se fazem importantes na construção deste estudo, a construção do capítulo seguinte se propõe a apresentar um recorte dos enunciados que emergiram nas situações de entrevistas realizadas com os professores formadores do curso de Bacharelado em Educação Física da ESEF.