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Diretrizes Curriculares para a formação do bacharel em Educação Física da ESEF

CAPÍTULO 2 CURRÍCULO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA E

2.2 Diretrizes Curriculares para a formação do bacharel em Educação Física da ESEF

A Escola Superior de Educação Física de Pernambuco (ESEF-UPE), lócus de nossa pesquisa, em seu Projeto Político Pedagógico informa que com as mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais ocorridas na sociedade contemporânea surgiram inquietações por parte do corpo docente e discente em atender aos diversos contextos e segmentos sociais nos quais o profissional de Educação Física pode intervir levando a instituição a uma dinâmica de reestruturação curricular. Essa reformulação respeitou a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que preza pela qualidade do ensino, sobretudo do ensino superior, bem como o Parecer CNE/CES nº 776/97 que apresentou às orientações para as diretrizes curriculares de graduação plena recomendando que

as novas diretrizes curriculares devem contemplar elementos de fundamentação essencial em cada área do conhecimento, campo do saber ou profissão, visando promover no estudante a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente [...] (CNE/CES, parecer nº 776/97).

Na perspectiva de atender aos preceitos da nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases), a ESEF, ao materializar a reformulação curricular contemplando as modalidades Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, teve como um dos seus objetivos esclarecer os questionamentos feitos em relação à identidade acadêmico-científica e atuação do profissional de Educação Física, dentro dos parâmetros sugeridos pelo Plano Nacional de Educação para a formação de profissionais críticos, reflexivos e autônomos, incentivando a prática do aprender a aprender, indissociando ensino, pesquisa e extensão.

É importante registrar que, segundo o Projeto Político Pedagógico da instituição cada curso tem uma identidade própria e uma organização curricular também própria mesmo apresentando missões comuns que são:

 Construção de um conhecimento pedagógico, técnico e científico;

 Compreensão das relações existentes entre os conhecimentos biológicos, filosóficos, científicos, pedagógicos, técnico-funcionais e da cultura do movimento, na intervenção do profissional de Educação Física nos diversos contextos;

 Compreensão dos fenômenos socioculturais, políticos e econômicos do país como forma de intervir qualitativamente nas mudanças sociais pelo exercício profissional e da cidadania plena;

 Produção e difusão de conhecimento e a criação e desenvolvimento de novas tecnologias, buscando a qualificação da intervenção profissional;

 Atuação competente com vistas a promover a cidadania plena dos vários atores sociais, respeitando os indivíduos, suas necessidades, possibilidades, deficiências e limitações, as diversas etnias e os diversos grupos sociais;

 Atuação profissional dentro de parâmetros éticos na intervenção com o público-alvo, com profissionais de áreas afins;

 Conscientização da importância da manutenção do egresso em processo de educação continuada;

As missões estabelecidas pelo Projeto Político Pedagógico da instituição pesquisada nos levam a uma compreensão de que esta se mostra interada das diversidades sociais e culturais onde está incluída a categoria Idoso.

Ao conhecermos um pouco do Projeto Político Pedagógico da ESEF-PE, fica claro que cada formação tem uma identidade própria, um campo de atuação e um público alvo específico, o que caracteriza os dois formatos (Licenciatura e Bacharelado) como diferentes. No entanto, isso não exclui a sua base pedagógica para as intervenções, ao contrário, de acordo com o que está previsto no Projeto Político Pedagógico, o curso de graduação em Educação Física (Bacharelado ou Licenciatura) deve formar

um graduado para agir pedagogicamente em diferentes tempos e espaços sociais com as mais distintas expressões da cultura do Movimento Humano para que este, por sua vez, ofereça à sociedade bens sociais/humanos que favoreçam os sujeitos a serem usuários ativos e críticos de tais expressões desta cultura [...] (ESEF – PE, 2001).

Por isso, é imprescindível uma aproximação com disciplinas pedagógicas e teórico- metodológicas para subsidiar os seus planejamentos e práticas, de forma a entender e atender uma demanda diversificada da sociedade.

Ao visitarmos a obra de Perrenoud (2001), entendemos que a formação do profissional de Educação Física, para atender as demandas da sociedade contemporânea, deve estar balizada na capacidade de concretizar com responsabilidade, autonomia, reflexão e criticidade os objetivos e compromissos que esse profissional tem consigo, com sua profissão e com a sociedade, independente de ser ele licenciado ou bacharel.

Assim, reforçamos a importância de disciplinas pedagógicas na formação do bacharel, uma vez que este terá sua atuação materializada em torno do humano e do agir pedagógico. Entende-se que agir pedagógico se configura como uma situação/ação em que há, sistemática e intencionalmente, uma teleologia no processo/produto da formação humana, especificamente no que concerne à apropriação de uma Cultura do Movimento (agonístico, artístico, lúdico, estético, anátomo-fisiológico) (Projeto Político Pedagógico – ESEF- PE).

A ESEF propõe realizar a formação do bacharel em Educação Física em torno do agir pedagógico da cultura do movimento. Para tanto,

orienta-se por princípios que atendem a uma perspectiva de Educação Física, entendida como ação técnico – pedagógica, voltada para o aumento das oportunidades de inclusão social na perspectiva de um desenvolvimento sustentável de sua especificidade – o trato com a cultura do movimento (ESEF – PE, 2001 ).

Como princípios estabelece a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, a contemporaneidade no trato com os conhecimentos e tecnologias, flexibilização na integralização do currículo, a aprendizagem através das experiências reais, a criticidade, a criatividade e a interdisciplinaridade.

Nesse momento, fazemos um resgate das ideias apontadas por Freire (1996), Nóvoa (1999), Tardif (2007), Schön (2000), Zeichner (2008) e Pimenta (2008) quando nos falam das competências necessárias ao educador/professor. Esses autores nos trazem subsídios para entendermos que a formação profissional deve estar em sintonia com as demandas sociais no que concerne não somente aos conhecimentos técnico-científicos, teórico-práticos, mas sobretudo com a formação de um profissional apto a considerar as necessidades do humano com o qual atuará, independentemente da faixa etária.

Por isso a necessidade de organização curricular pautada nesses princípios que tem como pretensão uma formação crítica, reflexiva, com bases epistemológicas fundadas pela existência do homem e na sua transformação.

Para tanto, configurando-se o bacharel como profissional que atua em espaços não escolares, mas com o humano, reforçamos a importância de na sua formação estarem presentes conhecimentos pedagógicos que superem a presença de conteúdos subsidiados na execução e na repetição de gestos e movimentos, pautados em modelos já existentes, o que por vez não permite a autonomia e a criatividade de execução dos movimentos daquele que o imita. Sobre o papel de docente que o bacharel assume durante a sua atuação profissional, Taffarel e Santos Júnior (2010, p. 34) dizem que “no caso da Educação Física, em última análise, o reconhecimento de que onde quer que atuemos (escola, academias, clubes, praças etc.) o que nos unifica e nos dá identidade é o trabalho docente”.

Muitas vezes nos limitamos a entender atuação pedagógica ou trabalho pedagógico como componente exclusivo do trabalho escolar e docente. Entretanto, Libâneo (2008, p. 55) esclarece esse equívoco ao escrever:

[...] o trabalho pedagógico não se reduz ao trabalho docente, embora o trabalho docente seja um trabalho pedagógico. Vai daí que a base comum de formação do educador deve ser expressa num corpo de conhecimentos ligados à pedagogia e não à docência, uma vez que a natureza e os conteúdos da educação nos remetem primeiro a conhecimentos pedagógicos e só depois ao ensino, como modalidade peculiar da prática educativa.

Esta abordagem nos leva a uma reflexão sobre o papel do bacharel. Será este um educador, um professor, um professor profissional, ou somente um técnico?

Definimos o professor profissional como uma pessoa autônoma, dotada de competências específicas e especializadas, que repousam sobre uma base de conhecimentos racionais, reconhecidos, oriundos da ciência, legitimados pela Universidade, ou de conhecimentos explicitados oriundos da prática (PERRENOUD, 2001, p. 25).

Destarte questionamos: estará a formação do bacharel desvirtuando-se dos conhecimentos que permitem a sua atuação junto ao humano por desconhecer-se como professor na sua atuação prática? O que as diretrizes curriculares direcionadas à formação desse profissional propõem no que concerne a suas competências?

As diretrizes curriculares propostas pelo MEC/CNE para os cursos de graduação em Educação Física (bacharelado) dizem que os bacharéis em Educação Física devem assegurar a:

 Autonomia institucional;

 Articulação entre ensino, pesquisa e extensão;  Graduação como formação inicial;

 Formação continuada;  Ética pessoal e profissional;

 Ação crítica, investigativa e reconstrutiva do conhecimento;  Construção e gestão coletiva do projeto pedagógico;

 Abordagem interdisciplinar do conhecimento;

 Indissociabilidade teoria-prática e articulação entre conhecimento de formação ampliada e específica. A ESEF em seu Projeto Político Pedagógico esclarece que a opção pelo formato de dois cursos não se deu no rumo das dicotomias, mas pela caracterização e demandas sociais brasileiras, sobretudo pernambucanas. Para esta instituição, tanto o licenciado quanto o bacharel devem ter suas práticas pautadas no agir pedagógico, eliminando com isto a visão de que somente os licenciados devem ter formação e atuação pedagógica, e que a formação do bacharel deve estar inserida numa perspectiva técnica e de pesquisa.

Para compor essa afirmação, nos apoiamos em um dos objetivos traçados pela proposta curricular do curso de Bacharelado em Educação Física da ESEF, onde diz que essa formação deve

articular os eixos estruturantes, de forma a permitir aos futuros bacharéis a visão de totalidade do fenômeno da Educação Física nos seus diferentes contextos, visando uma formação, ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, possibilitando a formação de agentes promotores de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável (ESEF – PE, 2001).

Com isso, a opção feita por essa Instituição parece apontar para um olhar diferente sobre o bacharelado, que embora por muitos seja visto como um curso de formação puramente técnico, repetitivo e acrítico, na ESEF parece tentar conciliar os elementos pedagógicos, técnicos e científicos na busca por uma formação crítica, reflexiva e em sintonia com as demandas sociais.

O bacharel em Educação Física, uma vez atuando com públicos de faixas etárias diferentes e atividades diversificadas, necessitará, assim como o licenciado, de subsídios teórico-metodológicos para conhecer e entender os conteúdos da atividade ministrada e a partir daí seguir com a elaboração e a aplicação dos programas de exercícios. Este, em sua atuação prática, mesmo não sendo um professor (licenciado), também constrói e reconstrói

junto ao público trabalhado novas formas de pensar, entender e vivenciar o movimento humano.

Sobre os elementos supracitados, acreditamos serem necessários mais estudos e reflexões para que possamos compreender melhor os caminhos da Educação Física, e com isso lançar um olhar mais crítico sobre o currículo (Licenciatura e Bacharelado) no que concerne às demandas sociais e à atuação desses profissionais.