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Na organização escolar interagiam atores com interesses, políticos e profissionais, convergentes ou diferenciados. Interessava identificar os interesses que se encontravam subjacentes à construção e reformulação da política educativa da Ditadura Militar e Estado Novo, entre 1926 e 1956, procurando detetar continuidades e ruturas em relação ao período liberal e possíveis influências conjunturais.

Entendeu-se importante uma abordagem sobre os atores ligados à conceção e execução dessas políticas. Os principais protagonistas eram os Ministros e, num segundo plano, encontrava-se o professorado primário de quem o poder político esperava passividade e operacionalização do programa político-pedagógico oficial.

A regulação foi a fonte principal utilizada para a análise da política educativa. Partiu-se do conceito de regulação, proposto por João Barroso, que compreendia a produção de regras que orientavam o sistema e o reajustamento das ações dos atores de acordo com essas regras13. Considerámos como regras todos os diplomas, circulares e orientações da

administração escolar. A análise da ação dos atores ligados ao funcionamento do sistema educativo e o impacto das medidas implementadas levou-nos a recorrer, como fontes, a discursos e conferências proferidos por esses atores, a textos da imprensa de educação, ao Diário das Sessões da Assembleia Nacional, a pareceres da Câmara Corporativa, e às Estatísticas da Educação.

A escola primária ao serviço da Nação

O movimento militar de 28 de maio de 1926 tinha como pano de fundo um país rural e maioritariamente conservador. Os interesses dos grupos económicos dominantes eram divergentes e exigiam, no contexto da crise, uma atuação do Estado consentânea com a satisfação das suas aspirações.

Nos campos pontuava uma “oligarquia agrária” influente, a par de pequenos proprietários e camponeses14. No setor industrial, marcava presença um grupo numeroso de pequenos

industriais e artífices e um pequeno grupo de empresários modernos. A elite mais influente, do ponto de vista económico-social, era composta por financeiros e grandes

13 Barroso, J. (2006). A Regulação das Políticas Públicas de Educação. Espaços, dinâmicas e actores.

Lisboa: Educa.

14 Rosas, F. (1994). O Estado Novo (1926-1974). In J. Mattoso (Dir.), História de Portugal (Sétimo Vol.,

comerciantes ligados ao import-export, localizados principalmente nos núcleos das Associações Comerciais de Lisboa e do Porto.

O grupo dos grandes proprietários agrícolas defendia a conservação do ruralismo e do tradicionalismo, em oposição à transformação trazida pela modernização. A pobreza do campesinato rural continuava a ser uma realidade, obrigando ao emprego de toda a família, no trabalho dos campos, incluindo as crianças, pelo menos de forma sazonal.

A industrialização do país seguia um processo marcado pela debilidade e lentidão, situação que não impediu o surgimento, na primeira metade da década de 30, de uma elite de capitães da indústriaque ganhou peso económico e até político 15.

A pobreza da vida campesina funcionava como principal causa do êxodo rural. A possibilidade de trabalho nas indústrias, existentes nas cidades, era um polo de atração. O aumento da população urbana trouxe problemas habitacionais, mendicidade, alcoolismo e prostituição. Problemas que tinham ocorrido mais cedo em outros países europeus com o desenvolvimento da industrialização.

No país, no período compreendido entre a instauração da Ditadura Militar e o início do Estado Novo, assistiu-se ao desenvolvimento de ações conducentes ao desmantelamento do demoliberalismo e à instauração de um regime autoritário, antiparlamentar e corporativo. Nesse contexto, foi necessário proceder a concessões e a repressões sobre as várias fações apoiantes do Movimento do 28 de Maio de 1926.

Os ideólogos do regime salazarista procuraram a legitimação do novo regime através do princípio do nacionalismo. Criaram-se normativos de ação e de conduta, social e moral, que procuravam orientar os portugueses para a sua passividade e conformismo com um regime que se apresentava como a solução para a crise sentida no período republicano. O discurso nacionalista foi visível, em Portugal, desde os finais do século XIX, e relevante durante o período republicano, embora marcado pelo seu espírito democrático e laico. No salazarismo, esse discurso cortou com o liberalismo e alicerçou-se em acontecimentos e figuras do passado histórico, especialmente nos períodos da fundação e da expansão e nas temáticas da missão civilizadora portuguesa e da defesa do império.

15 Rosas, F. (1994). O Estado Novo (1926-1974). In J. Mattoso (Dir.), História de Portugal (Sétimo Vol., p.

Apresentava-se uma imagem unitária do poder político que, a partir de 1932, se construiu em redor de um chefe, Salazar, e que procurava esconder quaisquer sinais de divergência no seio das forças apoiantes do movimento militar que pôs fim à Primeiro República. Os discursos ideológicos recorriam a práticas memoriais que procuram a legitimação do poder político e funcionavam como um elemento integrador da identidade do indivíduo, através do reforço dos seus laços com a Nação. O Estado identificava-se com a Nação e apresentava-se como dinamizador de um movimento de ressurgimento nacional, assente nos valores do tradicionalismo, ruralismo e moralismo cristão. Estes axiomas eram difundidos pelo regime e utilizados como justificativos da teoria da individualidade da Nação, sobretudo em fase de consolidação do regime e de conjuntura, nacional ou internacional, adversa aos ideais autoritários.

A escola primária tornou-se um dos aparelhos ideológicos do regime responsável pela formação de futuras gerações de portugueses, alinhados com os valores do regime. A modelação das crianças no espaço escolar era feita a partir do exterior, com o objetivo de preparar os homens que a sociedade e o Estado “precisava e lhe convinha” 16. Acabou-se

com a conceção republicana, influenciada pelo movimento pedagógico da Educação Nova, da escola enquanto um local em que a criança se descobria a partir do seu próprio interior e adquiria as ferramentas necessárias para o seu crescimento intelectual.

A preocupação com a formação dos futuros cidadãos e a utilização de instrumentos de controlo não foi uma criação da Ditadura Militar. Desde os finais do século XIX que as elites políticas consciencializaram a importância da escola primária para a construção de uma consciência nacional. Os Estados da modernidade recorriam à escola primária para difundirem a imagem e a herança histórica nacional17, porque era aí que se iniciava a

socialização das crianças, para além da família. A escola era considerada, segundo Maria Isabel João, como uma fábrica de cidadãos nacionais18, dado que aí que se promoviam

ações para a criação de vínculos com a Nação e a construção da consciência e identidade nacional.

16 Conceito de Escola apresentado em Escola Portuguesa, n.º 1, 11 de outubro de 1934, 4.

17 Ver a esse respeito Hobsbawm, E. (2004). A Questão do Nacionalismo, Nações e Nacionalismo desde 1780. Lisboa: Terramar, p. 87.

A valorização da instrução era visível nos inícios do século XX, quando se defendia que o ensino primário era o instrumento fundamental da educação da inteligência e que exercia uma influência poderosa no desenvolvimento moral e material do homem19. Como

estímulo à frequência escolar foram impostas restrições aos analfabetos, passando a escolaridade primária obrigatória a ser indispensável para a candidatura a um emprego público.

O ensino primário foi dividido, em 1902, em primeiro e segundo graus. O primeiro grau era obrigatório e gratuito para ambos os sexos, entre os 6 e os 12 anos. Compreendia o Ensino da Leitura, Escrita, Operações fundamentais da Aritmética e Noções do Sistema Métrico Decimal, Doutrina Cristã e Preceitos de Moral, Rudimentos da Agricultura Prática, Elementos de Desenho Linear, Exercícios de Ginástica Elementar e Trabalhos de Agulha e Lavores para o Género Feminino.

A obrigação do ensino passava pela matrícula e frequência regular da escola, embora não abrangesse ainda as crianças que residiam a mais de 2 km de distância da escola pública ou particular20. O incentivo à frequência levou à instituição de prémios aos alunos, desde

louvores, à inscrição no quadro de honra, e à oferta de estampas ou livros21.

A valorização da educação dos futuros cidadãos conduziu a Primeira República a alterar a organização do ensino primário22. Foi criado o ensino infantil23, com a duração de três anos,

para crianças a partir dos 4 anos. A partir dos sete anos iniciava-se a frequência do ensino primário que passou a estar dividido em três graus: elementar, complementar e superior. O grau elementar tinha a duração de três anos e era obrigatório para as crianças de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 7 e os 14 anos.

A Constituição de 1911, publicada a 21 de agosto, expressava nos seus artigos 10º e 11º, a importância da educação para a formação integral do cidadão. Estipulava-se a obrigatoriedade e gratuitidade do ensino primário elementar e sua neutralidade religiosa, e

19 Decreto n.º 8 de 24, de dezembro de 1901. Regulamentada a reforma pelo Decreto n.º 4, de 19 de setembro

de 1902. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016)

20 Decreto n.º 4, de 19 de setembro de 1902. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 21 Art.º 53º do Decreto n.º 4, de 19 de setembro de 1902. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de

dez. 2016)

22 Decreto de 29 de março de 1911. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 23 A terminologia utilizada era ensino infantil e correspondia à atual educação pré-escolar.

afastava-se do ensino qualquer possível influência da Companhia de Jesus através da manutenção em vigor de toda a legislação que extinguiu essa ordem religiosa24.

O preâmbulo do diploma legal que introduziu a reforma educativa republicana de 1911 mostrava, logo nas primeiras linhas, a importância dada à educação, quando se defendia o princípio que o “homem vale, sobretudo, pela educação que possui”25. A escola primária

era responsável pela formação da “alma da pátria republicana” 26 e afirmava-se que o

ensino do “a, b, c” era essencial para o desenvolvimento do carácter. A escola primária republicana surgia, segundo Luís Grosso Correia, como o motor de aperfeiçoamento do homem, testemunho das influências recebidas do pensamento iluminista e liberal francês27.

Competia ao Estado a valorização da instrução para que os portugueses, no futuro, fossem bons patriotas e cidadãos28.

Na instrução primária devia incutir-se nas crianças o amor à região onde nasceram e à Nação, e o fornecimento de conhecimentos “práticos e utilitários”29 que permitissem o

exercício de uma profissão. Os trabalhos manuais, retirados do ensino primário elementar no contexto da reforma educativa de 1901, passaram a fazer parte da estrutura curricular, podendo ser substituídos pelos trabalhos agrícolas.

Foram introduzidas novas disciplinas como História Pátria, Noções de Geografia, Noções Sumárias de Educação Social, Económica e Cívica, Geometria Prática Elementar, Noções dos Produtos Mais Comuns da Natureza Usados na Agricultura e Indústria, Higiene e Canto Coral. A disciplina de Doutrina Cristã e Preceitos de Moral foi substituída pela Moral Prática e a dos Elementos de Desenho Modelar por Desenho e Modelação.

A importância dada à instrução traduziu-se na criação, em 1913, do MIP, após um intervalo de tempo, entre 1911 e 1913, em que a educação esteve sob tutela do Ministério do Interior (MI)30.

24 Art.º 12º da Constituição de 1911. Disponível em http://tinyurl.com/zwfy4b6 (2 jan. 2017)

25 Decreto de 29 de março de 1911, p. 1911. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 26 Ibidem.

27 Ver a este respeito Correia, L. G. (2010, out.). O Ensino Primário na Primeira República – o homem vale,

sobretudo, pela educação que possui, Seara Nova, n.º 1713. Disponível em

http://www.searanova.publ.pt/pt/1713/dossier/163 (14 jan. 2013)

28 Decreto de 29 de março de 1911, p.1911. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 29 Art.º 12º do Decreto de 29 de março de 1911. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 30 Lei n.º 12, de 7 de julho de 1913. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016)

No período do após-guerra, em 1919, foi publicado o Regulamento do Ensino Primário e Normal31. Por essa lei, foi instituído o ensino primário geral de frequência obrigatória, a

que se seguia o ensino primário superior com a duração de três anos. A obrigatoriedade de frequência passava com essa reforma de três para cinco anos e abrangia as crianças entre os 7 e os 12 anos. O seu principal objetivo era fornecer-lhes as bases de conhecimento e de cultura geral que as preparassem para a vida social32.

Nos finais de 1923 foram introduzidas modificações no regulamento publicado em 1919, nomeadamente através da entrada em vigor de um regulamento de matrícula na escola primária, no sentido de garantir a obrigatoriedade escolar e aumentar a eficácia do trabalho de docentes e discentes33. Foi criado um sistema de multas para os encarregados de

educação que não matriculassem os seus educandos. Em caso de frequência irregular competia ao professor advertir o encarregado de educação e, em casos de repetição de faltas, aplicar uma multa que revertia para a caixa escolar até um total de dez34.

A política educativa do novo regime, instaurado no dia 28 de maio de 1926, foi marcada por uma intenção de clara demarcação, sobretudo no campo teórico, das representações e das práticas da escola republicana. Entendia-se que o período liberal, sobretudo republicano, tinha potencializado todos os defeitos dos portugueses, e que deveria desenvolver-se uma verdadeira revolução nacional que regenerasse as suas almas. Procurou-se desmantelar toda a estrutura da escola republicana sem que se oferecesse uma alternativa político-pedagógica bem definida que guiasse a ação do MIP.

Salazar, consciente da importância da escola primária, iniciou a partir de 1930, ano em que reforçou a sua posição política enquanto Ministro das Finanças e das Colónias, a construção de um projeto educativo de formação integral de um “novo homem” disciplinado, defensor da “pátria no passado, no presente e no futuro”35, e dos valores do

tradicionalismo e do ruralismo. Pretendia-se essencialmente, segundo Fernando Rosas,

31 Decreto n.º 6137, de 29 de setembro de 1919. Diário do Governo n.º 198, I Série, de 29 de setembro de

1919.

32 Art.º 32º do Decreto n.º 6137, de 29 de setembro de 1919. Diário do Governo n.º 198, I Série, de 29 de

setembro de 1919.

33 Decreto n.º 9223, de 6 de novembro de 1923. Diário do Governo n.º 235, I Série, de 6 de novembro de

1923.

34 Art.º 3º do Decreto n.º 9223, de 6 de novembro de 1923. Diário do Governo n.º 235, I Série, de 6 de

novembro de 1923.

formar elites e educar as massas nos princípios ideológicos do regime36. A partir de 1933, o

aparelho ideológico do Estado Novo, através do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), construiu e difundiu um programa de política do espírito37 do qual a escola primária

foi um dos principais pilares ideológicos.

O primado da educação sobre a instrução

Após a instauração da Ditadura Militar sucederam-se os Ministros à frente do MIP. Entre maio de 1926 e janeiro de 1930, a pasta da instrução foi ocupada por nove Ministros. A regulação produzida durante esse período não correspondeu a um plano concertado de implementação de um novo projeto educativo, mantendo-se em vigor a principal legislação republicana relativa ao regulamento e funcionamento do ensino primário.

O período de permanência dos Ministros à frente da pasta da Instrução não possibilitou o desenvolvimento de um programa educativo sistemático e contínuo. A regulação publicada era reveladora do ensaio de medidas que foram objeto de interrupções ou reformulações feitas a curto e médio prazo. Essa problemática foi visível durante o mandato dos dois primeiros Ministros da Instrução Pública da Ditadura Militar, Mendes dos Remédios e Ricardo Jorge.

Joaquim Mendes dos Remédios ocupou a pasta da instrução no primeiro ministério da ditadura. Era professor da Universidade de Coimbra e membro do Centro Católico, e apenas ocupou o cargo entre os dias 3 e 19 de junho de 1926, tendo sido exonerado a seu pedido.

Procedeu à extinção das Escolas Normais Superiores, tendo o seu pessoal docente ficado na situação de adido até nova colocação. A justificação apresentada para a sua extinção referia que, em 1924, essas escolas já tinham sido momentaneamente extintas por se reconhecer que não satisfaziam os interesses pedagógicos subjacentes à sua criação38.

Sucedeu-lhe o médico Artur Ricardo Jorge que apenas permaneceu no ministério até finais de novembro desse ano. Cinco dias depois de assumir a pasta anulou uma lei do seu

36 Rosas. F. (2013). Salazar e o Poder. Lisboa: Tinta da China, p. 181.

37 Ver o programa da política do espírito e a sua operacionalização em Ó, J. R. do. (1999). Os anos de Ferro, o dispositivo cultural durante a “Política do Espírito” 1933-194. Ideologia, instituições, agentes e práticas.

Lisboa: Editorial Estampa, pp. 55-59.

38 Decreto n.º 11730, de 15 de junho de 1926. Diário do Governo n.º 126, I Série, de 15 de junho de 1926, p.

antecessor que considerava os 6 anos, e não os sete anos, como a idade mínima de matrícula na primeira classe e terminou com o regime de coeducação em todos os centros populacionais com mais de 5000 habitantes, desde que existisse mais do que um lugar de professor39. A abertura de escolas mistas, por iniciativa republicana, tinha dado lugar a um

aceso debate sobre os efeitos negativos da coeducação, baseado na diferença do género e na especificidade da educação feminina40.

O seu sucessor, José Alfredo Mendes de Magalhães, também licenciado em Medicina, ocupou a pasta até 18 de abril de 1928 e implementou algumas das mais significativas medidas de rutura com o ensino republicano. Pertenceu ao partido evolucionista, do qual foi dissidente em 191741, e ocupou a pasta da instrução no primeiro governo sidonista.

O ministro foi autor de uma reforma educativa, em 1927, que dividiu o ensino primário em três categorias: ensino infantil (4-7 anos), ensino primário elementar (7-11 anos) e ensino primário complementar (11-13 anos)42. O ensino primário elementar era obrigatório para

ambos os sexos e determinava-se que, nas localidades em que existissem escolas infantis, as crianças que frequentaram com aproveitamento esse nível de ensino podiam matricular- se no 2º ano do ensino elementar.

No preâmbulo do decreto responsável por essa reforma já se começava a esboçar uma visão redutora do ensino primário quando se referia que esse ensino deveria favorecer uma população que, “pela sua situação económica”, estava “impossibilitada de adquirir a cultura indispensável na vida moderna” 43. Não existia um propósito de oferecer os vários

percursos escolares a toda a população e procurava-se conter a frequência excessiva de alunos nos liceus, considerada prejudicial para o ensino liceal44.

39 O ministro publicou o Decreto n.º 11795, de 26 de junho, que anulou a Lei n.º 1880 do seu antecessor com

o argumento que apenas tinha sido aprovada pelo Senado. A lei em questão era datada de 8 de junho e foi publicada no dia 24, para logo ser anulada passados dois dias. Ver Lei n.º 1880, de 8 de junho de 1926.

Diário do Governo n.º 134, de 24 de junho de 1926; Decreto n.º 11795, de 26 de junho de 1926. Diário do Governo n.º 138, I Série, de 29 de junho de 1926.

40 O ministro tomou ainda várias disposições sobre a distribuição dos subsídios das câmaras municipais, após

petição dessas entidades ao governo, para a conclusão de edifícios escolares, material didático e mobiliário escolar e serviços de exames. Decreto n.º 12854, de 17 de dezembro de 1926. Diário do Governo n.º 284, I Série, de 20 de dezembro de 1926.

41 Leal, E. C. (2008). Partidos e programas: o campo partidário republicano português: 1910-1926.

Coimbra: Almedina, p. 53.

42 Decreto n.º 13619, de 17 de maio de 1927. Diário do Governo n.º 100, I Série, de 17 de maio de 1927. 43 Preâmbulo do Decreto n.º 13619, de17 de maio de 1927. Diário do Governo n.º 100, I Série, de 17 de maio

de 1927, p. 770.

O diploma legal determinava que o ensino primário elementar passasse a ser feito em quatro classes. A estrutura curricular sofreu alterações e passou a compreender, para além da Cultura Física, da Higiene e do Canto Coral, as seguintes disciplinas: Desenho, Geometria e Trabalhos Manuais; Leitura, Escrita, Redação e Gramática; Aritmética e Sistema Métrico; Ciências Físico-Naturais e Corografia de Portugal e Colónias, História de Portugal e Educação Cívica.

Essa lei retomou a questão da separação de sexos, ensaiada por Mendes dos Remédios, e determinou que essa regra passasse a ser o regime geral adotado, embora de forma gradual, para evitar despesas desnecessárias e perturbações, uma vez que o ano letivo já estava em curso.

O jornal Federação Escolar publicou vários textos de crítica a algumas das disposições desse decreto. Opinavam que o decreto era testemunho da pouca importância dada pela Revolução do 28 de Maio à instrução para a educação e fortalecimento do povo. Consideravam que o diploma legal pretendia atacar os professores primários quando definia o regime de separação de sexos, com base no argumento que a proibição da lecionação de turmas mistas por professores do sexo masculino estava relacionada com

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