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A política educativa do Estado Novo construiu uma nova identidade profissional do docente, apresentando-o como um modelador de almas das futuras gerações. Essa representação dava enfoque à formação ética e ideológica e desvalorizava a competência pedagógico-científica do professor primário. Importava proceder a uma caracterização socioprofissional do professor primário no período da Ditadura Militar e do Estado Novo, para que pudéssemos compreender se a visão redutora do ensino primário se refletiu na sua formação e carreira profissional. Optámos por iniciar essa caracterização nos finais da monarquia e prolongá-la até finais da década de 50, no sentido de identificarmos linhas de continuidade ou de rutura.

A exigência de uma habilitação profissional, no período republicano, para o exercício do magistério primário levou-nos a considerar a evolução do processo de formação de professores. A análise das várias reformas foi feita com base na regulação, em textos da imprensa da educação, relatórios de estágios, relatórios de inspetores, e em documentação dos Arquivos das Escolas do Magistério Primário de Faro e de Lisboa e do AHME. Procurámos equacionar a forma como essas reformas espelhavam o ideário do regime, a sua ação política de controlo sobre alunos e professores das escolas de formação e ainda a sua visão simplista do ensino primário.

O exercício da profissão, numa escola pública, permitia ao professor ingressar na carreira docente. Abordámos a sua origem social e a evolução do seu estatuto profissional, no sentido de percebermos quais as alterações introduzidas na carreira docente, em relação ao período republicano. Para a nossa análise consideramos dados do Anuário Estatístico de Portugal e das Estatísticas da Educação, textos da imprensa de educação, e o espólio documental do AHME, com principal destaque para os registos biográficos de professores. Para a caracterização do professorado primário interessava considerar ainda o quotidiano escolar. A prática do professor decorria num espaço preciso, a sala de aula, e desenvolvia- se temporalmente ao ritmo do calendário escolar e do seu horário letivo. O quotidiano do docente não se restringia à prática pedagógica, sendo a sua atividade marcada por um excesso de burocratização. O trabalho administrativo era um mecanismo de controlo indireto da docência por parte da DGEP, desenvolvido ao longo do ano letivo, e que o docente cumpria voluntariamente, porque entendia que se enquadrava nos seus deveres profissionais. A função pedagógico-política de formação das gerações futuras e da

comunidade local era valorizada pela administração escolar. Identificámos algumas das estratégias da administração escolar para difundir os princípios do regime, como as comemorações e a participação dos professores em campanhas eleitorais.

Procurámos caracterizar essa vivência quotidiana, ainda que indiretamente, através da regulação, da imprensa da educação e do espólio documental do AHME e dos Arquivos das Escolas do Magistério Primário de Lisboa e do Algarve.

A formação

A importância dada à escola primária como espaço de socialização e de formação de cidadãos conduziu a que o Estado criasse, na década de 60 do século XIX, as escolas de formação de professores, designadas por Escolas Normais, segundo Nóvoa, para controlar o grupo profissional dos professores primários447. Em 1862 era criada a Escola Normal

Primária de Marvila, em Lisboa, para os alunos do sexo masculino. Quatro anos mais tarde, no Calvário, entraria em funcionamento, em regime de internato, a escola para o sexo feminino.

No ano de 1878, o currículo foi ampliado448. No primeiro grau foram introduzidas as

disciplinas de Canto Coral e Ginástica. No segundo grau constavam, para os alunos do sexo masculino, as disciplinas de Escrituração, Rudimentos de Física, Química e História Natural, e Princípios de Economia Rural, Industrial ou Comercial, de acordo com as condições específicas das localidades onde se situavam as escolas de formação. Para o sexo feminino foram acrescentadas, no segundo grau, as disciplinas de Escrituração, Economia Doméstica, Desenho de Ornato e Rudimentos de Ciências Físicas e Naturais. Para o exercício da docência era dada preferência aos candidatos com o diploma de aprovação no ensino normal de primeiro ou segundo grau, seguidos dos candidatos com diploma de habilitação para o ensino complementar ou elementar. No caso de não existirem candidatos, as câmaras municipais, que eram as entidades responsáveis pela

447 Nóvoa, A. (1992). Formação de Professores e Profissão Docente. In A. Nóvoa (Coord.), Os professores e a sua formação (pp. 4-5). Lisboa: Dom Quixote.

448 Decreto de 2 de maio de 1878 do ministro Rodrigues Sampaio. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx

contratação dos professores, podiam temporariamente nomear pessoas consideradas idóneas, depois de ouvida a respetiva Junta Escolar449.

No início do século XX, em 1901, tornou-se obrigatório a posse de um diploma de uma Escola Normal para o exercício da docência. A Direção Geral da Instrução Primária defendia que uma boa instrução dependia da existência de bons professores e que a sua preparação deveria ser realizada nas Escolas Normais e de habilitação para o magistério450.

A oferta formativa era constituída pelas Escolas Normais de Lisboa, Coimbra e Porto, que funcionavam em regime de separação de sexos, e as escolas de habilitação para o magistério em regime misto. Entre os anos de 1896 e 1902 foram criadas dezoito escolas de habilitação para o magistério, a funcionar nas capitais de distrito, com uma oferta formativa mais simplificada do que a das Escolas Normais451.

Com a reforma de 1901, os programas de todas essas escolas passaram a ser iguais, em harmonia com os programas do ensino primário, e a duração do curso passou de dois para três anos. Essa alteração deveu-se a não se exigirem grandes habilitações aos candidatos à matrícula. A parte prática do curso passou a ser feita nas escolas elementares anexas às escolas de formação, futuramente designadas por escolas de aplicação, onde os alunos treinavam a lecionação de lições aos alunos que as frequentavam.

A lecionação nas Escolas Normais passou a ser feita por concurso público, a que podiam concorrer indivíduos com habilitação legal para o exercício do magistério. Era dada preferência aos professores, de ambos os sexos, com mais de cinco anos de bom e efetivo serviço.

Os candidatos à matrícula, nas escolas de formação, tinham de possuir a idade mínima de 16 anos e a idade máxima de 25 anos. A habilitação mínima exigida era o exame da instrução primária e o exame de admissão à escola que o candidato pretendia frequentar. Nas vésperas de implantação da República, a oferta de formação para o exercício do magistério era numerosa. As reformas republicanas, no entanto, reduziram o número de

449 Decreto de 2 de maio de 1878, p. 55. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 450 Decreto n.º 8, de 24 de dezembro de 1901. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016) 451 Por ordem cronológica foram criadas as Escolas de Évora, Vila Real, Braga, Bragança, Aveiro, Castelo

Branco, Guarda, Viana do Castelo, Viseu, Angra do Heroísmo, Faro, Leiria, Pota Delgada, Beja, Funchal e Horta.

escolas com os objetivos da melhoria da qualidade do ensino e da qualificação profissional dos docentes452.

Na reforma do ensino infantil, primário e normal de 1911 determinou-se a obrigatoriedade de posse de título de habilitação legal para o exercício do magistério, passado pelas Escolas Normais. Passaram a existir apenas três escolas de formação de professores, as Escolas Normais em Lisboa, Coimbra e Porto, a funcionarem em regime de coeducação de sexos e de externato provisoriamente.

A partir de 1911 passou a existir um curso geral comum a ambos os sexos e um curso especial diferenciado de acordo com o género. Os princípios pedagógicos da Educação Nova estavam presentes nessa reforma educativa e marcavam o ensino das escolas de formação. Foram ainda criados cursos complementares, como um de lições de coisas453 e

um curso colonial.

O curso passou a ter a duração de quatro anos e a sua estrutura curricular era composta pelas seções literária, científica, pedagógica, artística e de ciências aplicadas. Considerava- se que o ensino deveria ter um carácter prático e, para o seu desenvolvimento, eram criadas instituições auxiliares, junto às escolas, como uma biblioteca e um museu, um ginásio, laboratórios, um campo experimental agrícola, oficinas, um boletim, uma escola infantil e duas escolas primárias para o sexo masculino e para o sexo feminino.

Os seus professores eram nomeados pelo governo, através de concurso público, ao qual podiam concorrer indivíduos habilitados com o curso da Escola Normal Superior e professores primários454. Os professores primários tinham direito à um terço dos lugares

das Escolas Normais, aos quais podiam concorrer através de concurso de provas públicas455.

452 Nóvoa, A. (1987b). Le Temps des Professeurs. Analyse socio-historique de la profession enseignante au Portugal (XVIIIe – XXe siècle). Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, p. 671.

453 Ver a esse propósito a página 194.

454 O quadro dos professores das Escolas Normais dividiu-se, com a reforma de 1911, em ordinários e

agregados. Os primeiros eram em número de dez e possuidores de habilitação da Escola Normal Superior. Os segundos correspondiam aos docentes das seções artística e de ciências aplicadas. O seu número dependia do número de oficinas e laboratórios existentes em cada uma das escolas.

455 Podiam ainda existir professores interinos em caso de necessidade, sendo habilitados pela Escola Normal

Superior. Art.º 131º do Decreto de 29 de março de 1911. Disponível em http://tinyurl.com/zortfmx (15 de dez. 2016)

O crescimento do número de alunos começou a ser objeto de reflexão por parte da administração escolar, situação que justificava, na reforma de 1911, a possibilidade de o governo limitar o número de matrículas em situações de excesso de professores primários. Apesar da redução da idade mínima de matrícula dos candidatos à matrícula de 16 para 15 anos, a administração escolar preocupava-se com qualidade profissional dos futuros docentes. Nesse contexto passou a ser exigido o diploma de aprovação no curso das Escolas Primárias Superiores ou na classe correspondente dos liceus, e ainda aprovação no exame de admissão à Escola Normal.

Também se registaram, em 1911, alterações nos exames de admissão, com particular enfoque na avaliação de competências que se consideravam essenciais a um futuro professor e de conhecimentos relacionados com os programas do ensino primário. Essa situação poderia ser comprovada através do programa para os exames de admissão que foi publicado pelo Regulamento de 11 de agosto de 1911456. Segundo o artigo 1º desse

diploma, os alunos eram submetidos a um conjunto de provas escritas e orais. As provas escritas incluíam uma composição, a resolução de um problema de Aritmética e um de Geometria, e um desenho à vista de objetos. Os candidatos do sexo feminino tinham ainda uma prova de lavores. Não eram admitidos às provas orais, os candidatos que tivessem em duas ou mais disciplinas média inferior a oito.

No final do curso, os alunos tinham um exame final constituído por provas teóricas e práticas. A aprovação no exame conferia ao aluno-mestre o diploma de habilitação para o exercício do magistério.

A reforma de 1914 introduziu novas alterações, como um novo aumento da oferta formativa. Foram criadas três Escolas Normais em Lisboa, Coimbra e Porto, que substituíram as anteriores, e dezassete Escolas de Habilitação para o Magistério. Permitia- se ainda a abertura de novas escolas sob requerimento e expensas das Juntas Gerais de Distritos, cabendo apenas ao Estado as despesas inerentes aos vencimentos do pessoal docente e não docente. No caso dos Açores, a primeira escola teria 2/3 do seu financiamento a cargo do Estado.

456 O programa incluía conteúdos programáticos de Português, Francês, Aritmética, Geometria, Desenho,

Geografia e História, Elementos de Ciências Físicas e Naturais, e Noções de Educação Cívica. Ver a esse respeito o Decreto de 12 de agosto de 1911. Diário do Governo n.º. 187, I Série, de 12 de agosto de 1911.

A duração do curso foi novamente reduzida para três anos. A idade mínima de frequência regressou aos 16 anos e mantiveram-se as habilitações exigidas na reforma de 1911. Os conteúdos do programa do exame de admissão tornaram-se, no entanto, mais aprofundados, quando comparados com o programa de 1911, e aumentou o número de disciplinas sobre as quais recaía a avaliação457.

A conceção da educação como fator de progresso levou à valorização do papel do professor primário e a um aperfeiçoamento científico do curso de formação para o magistério. Passou a existir um curso teórico comum aos alunos de ambos os sexos e cursos práticos458, sendo alguns diferenciados segundo o género do aluno. Nos dois últimos

anos do curso, os alunos-mestres eram obrigados a praticarem nas escolas anexas às Escolas Normais, com o objetivo de se habilitarem na processologia aplicada ao ensino infantil ou primário.

Os professores diplomados nas novas escolas passaram a ter preferência nos concursos de provimento para as escolas infantis e primárias. Nessa perspetiva, a formação profissional dos professores em exercício de funções, diplomados pelas antigas Escolas Normais e de habilitação para o magistério, também foi contemplada. Foram criados, nas novas escolas de formação, cursos de aperfeiçoamento, e os professores que os frequentavam podiam requerer admissão ao exame final e o diploma em caso de aprovação459.

No ano de 1919 foi feita uma nova reforma da instrução primária460, pelo Ministro

Leonardo Coimbra, que não alterou a estrutura de funcionamento das escolas de formação. O curso continuou a ter a duração de 3 anos461 e a prática dos alunos-mestres continuou a

457 Leitura e Gramática Portuguesa, Interpretação do Texto e Redação; Língua Francesa (leitura, tradução e

retroversão); História Universal e Pátria; Geografia Geral e Corografia de Portugal; Aritmética, Geometria e Álgebra Elementar; Elementos de Física e Química; Rudimentos de Zoologia, Botânica, Geologia e Mineralogia; Desenho Linear e Ornato.

458 Os cursos práticos eram: Desenho Linear e Projeções, Trabalhos Manuais e Modelação, Música e Canto

Coral, Ginástica Pedagógica, Noções de Economia Rural, Jardinagem e Horticultura, e Noções de Economia Doméstica, Costura e Lavores.

459 Art.º 15º da Lei n.º 233, de 7 de julho de 1914. Diário do Governo n.º 111, I Série, de 7 de julho de 1914. 460 O Decreto 5787-B, de 10 de maio de 1919. Diário do Governo n.º 93, I Série, de 10 de maio de 1919. 461 Incluía as disciplinas de Língua e Literatura Portuguesa, História da Civilização relacionada com a

História, História da Instrução Popular em Portugal, Geografia Geral, Corografia de Portugal e Colónias, Matemáticas Elementares, Ciências Físico-Químicas e Naturais, Noções de Higiene e Higiene Escolar, Psicologia Experimental e Pedologia, Pedagogia Geral e História da Educação, Metodologia, Educação Social, Noções de Direito Usual e Economia Social, Legislação Comparada do Ensino Primário, Noções de Economia Doméstica, Noções de Agricultura e Economia Rural, Modelação e Desenho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Coral, Educação Física e Costura e Lavores.

ser desenvolvida, durante o curso, em escolas do ensino primário existentes junto das Escolas Normais.

A idade mínima para a matrícula manteve-se, embora se introduzisse a novidade de poderem matricular-se alunos que completassem os 16 anos até ao dia 31 de dezembro. Exigia-se aos candidatos as seguintes condições: robustez física, vacinas em dia, bom comportamento moral e civil, e aprovação no exame final do curso das escolas.

A reforma de 1919 determinava que as escolas de formação passassem a Escolas Primárias Superiores, com efeitos a partir de dia 1 de julho, e terminava com as Escolas de Habilitação para o Magistério462. Nas cidades de Lisboa e Porto foram criadas duas escolas,

face à densidade populacional desses centros urbanos. Iniciaram atividade, gradualmente, as Escolas Normais de Lisboa, Coimbra e Porto, Braga e Ponta Delgada, e foi ainda criada uma escola de formação em Santarém463.

O programa do exame de admissão às Escolas Normais e as provas escritas não sofreram modificações, segundo o disposto no Regulamento do Ensino Primário e Normal, publicado a 29 de setembro de 1919464. Foram regulamentados os exames finais do curso,

compostos por provas escritas, orais, práticas e pedagógicas relacionadas com as disciplinas integrantes do currículo das escolas. As provas escritas eram em número de quatro e divididas em duas seções: redação, execução de uma cópia de um objeto e resolução de um problema de desenho geométrico, um problema de Física ou de Química, e dois problemas de Matemática. As provas práticas passaram a integrar provas de Ginástica, Música, Canto Coral, Trabalhos Manuais, e de Lavores para as alunas.

As provas orais incidiam sobre as disciplinas que integravam o currículo e serviam para avaliar os conhecimentos científicos, pedagógicos e culturais dos alunos-mestres. As provas pedagógicas eram compostas por uma dissertação sobre um tema de Pedagogia, Metodologia, Pedologia, Educação Física ou Organização Escolar, seguida de argumentação feita por um dos membros do júri. Integravam ainda uma lição dada a uma

462 Decreto n.º 5504, de 5 de maio de 1919. Diário do Governo n.º 93, I Série, de 5 de maio de 1919. 463 Decreto n.º 5505, de 5 de maio de 1919. Diário do Governo n.º 93, I Série, de 5 de maio de 1919.

464 Definiam-se como provas práticas uma manipulação de Física e uma Química. No caso dos candidatos do

sexo feminino era também exigida uma prova prática de costura e lavores. Decreto n.º 6137, de 29 de setembro de 1919. Diário do Governo n.º 198, I Série, 29 de setembro de 1919.

classe sobre um conteúdo programático e uma lição de Ginástica a uma classe, ambas seguidas de argumentação.

As escolas primárias anexas às Escolas Normais funcionavam em regime de separação de sexos. O número de alunos era limitado a 25 alunos, para que aí pudessem praticar os alunos do segundo e terceiro anos do curso, nas diversas classes que integravam a escola. Os alunos do último ano ficavam responsáveis, durantes três dias consecutivos, pela direção integral de uma classe, embora com a assistência de professores da Escola Normal. As aulas práticas eram avaliadas mensalmente, na reunião do Conselho Escolar, composto pelo diretor e professores efetivos da escola465. Nessa reunião era feita uma avaliação

quantitativa e elaborado um parecer sobre as aulas práticas realizadas por cada aluno. Os alunos do terceiro ano, para além das práticas nas escolas anexas, deveriam visitar, acompanhados por professores, as escolas primárias situadas na zona e nos arredores da escola. Procurava-se preparar os alunos-mestres para a sua vida profissional, através dessas visitas, designadas por “missões”466, em número mínimo de três, e que deveriam

obrigatoriamente incluir uma escola primária rural.

As várias funções sociais exercidas pelos professores nas comunidades onde lecionavam, no domínio assistencial, justificavam que se determinasse que os alunos-mestres do terceiro ano fizessem visitas a instituições ligadas à educação e assistência a crianças, mas também a museus e a estabelecimentos que lhe possibilitassem o desenvolvimento das competências necessárias à sua futura profissão.

A nomeação de João Camoesas para a pasta da instrução marcou a história da educação em Portugal com a apresentação de um projeto de reforma global do ensino no ano de 1923467.

Desse projeto constava uma proposta inovadora de criação de Faculdades de Ciências da Educação, nas Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra468, elaborada por pedagogos

defensores dos princípios da Educação Nova, como era o caso de Faria de Vasconcelos. Nas faculdades passariam a existir sete cursos destinados à formação de profissionais na

465 Ver a esse propósito AH-ESELx, Actas do Conselho Escolar da Escola do Magistério Primário de Lisboa,

1915-1926.

466 Art.º 360º do Decreto n.º 6137, de 29 de setembro de 1919. Diário do Governo n.º 198, I Série, 29 de

setembro de 1919, p. 2088.

467 Proposta de lei sobre a reorganização da educação nacional. Diário do Governo n.º 151, II

Série, de 2 de julho de 1923, pp. 2258-2273.

área da educação, sendo um desses cursos destinado à formação de professores primários. Essa proposta não foi, todavia, concretizada dada a sua rejeição pela Câmara dos Deputados.

A mudança de regime político não se fez imediatamente sentir na orgânica de funcionamento das escolas. Nos finais da década de 20 foi reduzido o número de escolas

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