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4.2 A Construção da Solidariedade nas Relações Dentro dos Espaços do Projeto

4.2.5 A construção do conhecimento através de cursos oficiais de ensino,

A construção do conhecimento mais sistematizado dentro dos espaços do Projeto

ESPERANÇA/COOESPERANÇA acontece numa continuidade de situações. Em todos os

tempos os integrantes dos grupos estão participando de cursos, seminários, fóruns, como pude

perceber pelas falas. No entanto, nem todos os integrantes participam de todas essas

possibilidades de aprendizagem. Mas, os que participam têm a responsabilidade de trazer

para o espaço de seu grupo os conhecimentos adquiridos naquelas instâncias:

Quanto a construção de seu conhecimento, num nível em que a pessoa está, fica parada, vamos supor assim, nesse sentido então, se motiva, as pessoas... mesmo os catadores. Nós temos várias pessoas no meio dos catadores que são analfabetas, ou semi-analfabetas. Então a motivação é que eles busquem a possibilidade por exemplo, de fazer um EJA. Tem uns quantos que já pediram pra formar turmas nas suas comunidades. Nós estamos buscando junto aqui com as Universidades e outros... Pra ver a possibilidade da gente conseguir formar turmas da EJA tanto primeiro grau, quanto segundo. E, também, as outras pessoas, que por exemplo, já tem o primeiro grau completo, o segundo grau completo, a motivação para de fato, buscar outras perspectivas. Tem uma quantas pessoas que estão cursando hoje, o curso superior. Tem outras pessoas que estão se preparando com o cursinho... Essa é uma meta que nós temos e a gente também fazer parceria com outras organizações que de repente podem formar cursos, qualificar mais esse lado que é uma deficiência que se tem hoje, nos cooperativados. Mas, de certa forma, assim dá pra dizer que a

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Adiles da Silva. Integrante da Coordenação do Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA. Coordenadora da UNIMEL. Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

motivação para a qualificação ela é uma coisa permanente. Assim, um pouco dentro dos eixos que se falava, queria falar uma coisa assim, que é importante, que nós que somos adultos e viemos de uma educação mais tradicional, mais dominadora, podia dizer, assim, no sentido assim, que hoje, todo esse trabalho do cooperativismo, da economia solidária, da autogestão, também de formar novos sujeitos para o exercício da cidadania ela propõe um novo viés na parte da educação. Na parte da formação. Então nós estamos investindo e está no processo de organização uma chamada COOPSOL, uma cooperativa das crianças. Nós já temos um grande grupo de crianças que estão motivadas, pra fazer parte de uma cooperativa que tem como finalidade desencadear, todo o processo também, de formação do cooperativismo mirim, mas também de experiências, tanto de artesanato, como de oficinas, também, a parte de informática, onde a criança, especialmente filhos e filhas ligadas a questão dos grupos, possam ter suas oportunidades...247

Sobre os cursos, quando, antes vinha mais seguido pra nós, acho que vinha pelo governo, né. [...] Como em Pelotas, a gente foi fazer curso em Pelotas. 248

Comecei no ano passado um estudo através do NEJA, mas aí por problemas financeiros, eu estava iniciando no Projeto Esperança, às vezes eu não tinha nem para a passagem de ônibus, aí desisti. Mas, eu ainda estou com essa idéia de voltar.[...]Acho muito importante voltar a estudar. Acho que ainda sempre é tempo de crescer, enfim... Não digo fazer uma faculdade, no caso não sei se vou ter pique para isso, mas pelo menos terminar o segundo grau. Aliás, o primeiro que nem terminei e possivelmente o segundo grau.249

Que eu preciso mudar... Eu tenho muita dificuldade de falar em público, né. E estou fazendo um curso no meu município. A gente tem uma assessoria, tem uns cursos de assessoria com o SEBRAE. Então eu estou fazendo um curso Liderar, que eu iniciei esta semana e está sendo muito bom. E pretendo ir no Fórum Social Mundial também, pra aprender coisas, que eu preciso, né aprender muita coisa sobre esse assunto. A COOESPERANÇA nos muito incentiva a fazer todos os cursos possíveis que a gente pode. Tanto que tá saindo um pela COOESPERANÇA. [...] Cada curso que a gente faz a gente está aumentando a nossa bagagem. Está aprendendo. Uma coisa ou outra a gente sempre aprende.250

Tem pessoas que assessoram. Tem pessoas que vem assessoram os cursos, dão palestras, faz estudo, mas o conhecimento é compartilhado.Mesmo que alguém venha fazer um grupo de estudos, um texto, uma palestra, ou... até pode expor um pouquinho, mas depois cada pessoa fala. Como é que viu, como é que entende, como é que sente. [...] E, também, eles saem, têm reuniões por exemplo da rede da solidariedade, reuniões do CONSEA – Conselho de Segurança Alimentar – do CONSAB e outras reuniões, que tem na cidade... ele participa, com representações. E a pessoa que vai participar, vem e estuda com quem ficou. Então esse vai e vem sempre acontece a nossa aprendizagem. E também, as pessoas aqui desse bairro, com muito carinho é convidada a participar de encontros grandes ...Eles participam a convite para ter oportunidade de crescimento.... Mas sempre há grupos indo. Sempre grupos que vão e quando vão transmitem o conhecimento.251

Até bem pertinho de uma feira do cooperativismo, um mês antes, e ela levou... mandou o estatuto para nós estudar, nosso grupo, pra se associar com a Esperança.

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Irmã Lourdes Dill. Coordenadora do Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

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Iraci. Grupo. Raio de Sol. Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

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Vera. 44 anos. Integrante do Grupo Raio de Sol. Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

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Rogério Giacomini. Grupo AGPC. Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

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Irmã Zoeli. Integrante da Congregação das Filhas do Amor Divino. Coordenadora dos grupos da Comunidade de Nova Santa Rita.

Pra nós ser aliado. Aí a gente estudou e se associamos a COOESPERANÇA. Dali, naquele momento, começamos fazer feira, começamos deixar no Terminal que é um ponto direto, começamos já vim aqui pra Serafim Valandro, que já existia esse ponto de economia solidária. E começamos a fazer feira na Saldanha Marinho. E começou a ter conhecimento e conhecimento e conhecimento... do nosso mel, né? Já em seguida, já a Colméia em Porto Alegre já vieram na COOESPERANÇA, já contatou em nós, veio nos visitar, porque lá é só produto ecológico. Nosso mel já foi pra Colméia. Já fomos pra Expointer em noventa e nove, através da Colméia, através do Projeto Esperança. E, foi tendo aquele conhecimento e junto com o mel, nós já fomos fazendo a figada, né, nossos doces. E fomos caminhando junto.252 ...tentando qualificar o resto dos produtos. Devagarinho, explicando, fazendo formação... pra ver se as pessoas entendem que nós temos que ter um produto diferenciado dum mercado convencional. Se é igual do mercado, eles vão ali no BIG, no Nacional e compram, né? Então nós temos que ter um produto diferenciado. 253

A construção de conhecimentos sistematizados nos espaços do Projeto

ESPERANÇA/COOESPERANÇA permite todas as possibilidades em relação a sua

aquisição. Eles se constroem em várias oportunidades, conforme o enfatizado nas falas, e são

ligados ao interesse dos integrantes dos grupos, pois estes sempre os buscam em relação à

prática exercida nas instâncias de seu projeto e em relação ao maior, que é o Projeto

ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

Os conhecimentos referem-se ao econômico, social e político. Mesmo com uma

grande ênfase aos conhecimentos que enfatizam a cooperação, a solidariedade e as novas

formas de construção de uma “nova economia”, os integrantes dos grupos estão inseridos

numa sociedade de mercado capitalista, sendo assim, buscam aperfeiçoar-se na qualidade de

seus produtos e em formas de atuarem no mercado, que exige a competição. Portanto é de

ter-se em conta que:

A realização dos objetivos dos associados requer organização que administre as articulações e as ações necessárias para que o conjunto funcione com eficiência. Por isso, toda cooperativa, além de ser uma associação, é, também, uma empresa a serviço de seus membros. É uma empresa peculiar, de propriedade dos associados, na qual devem atuar com participação e direitos específicos. Essa empresa tem a finalidade de viabilizar e promover os objetivos que os associados, em conjunto, se propuseram pelo estatuto.

Os aspectos econômicos, administrativos e técnicos são tão importantes no cooperativismo como em qualquer outra organização. Isto é tão verdade que “a maioria dos fracassos nas organizações cooperativas não se devem, provavelmente, à falta de espírito cooperativo, mas à falta de visão empresarial, de conhecimento do mercado e de visão técnico-administrativa”, porque “quando a cooperativa fracassa,

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Adiles da Silva. Integrante da Coordenação do Projeto ESPERANÇA/COOESPERANÇA.

igualmente, sua pretendida projeção social e humana”. (Schneider,1994,p.7 ) e, com elas, seus propósitos sociais e humanos.254

A análise dos aspectos abordados anteriormente permite perceber que nos espaços da

Economia Popular Solidária, mais especificamente nos espaços do Projeto

ESPERANÇA/COOESPERANÇA, a ênfase na construção do solidário abre perspectivas para

que os envolvidos no processo tenham abertura para buscar conhecimentos referentes a

alternativas que possibilitem “desenraizar” o que está constituído. Nesta perspectiva, é

possível que os mesmos conheçam o que hoje serve de estrutura a uma economia que faz

parte de um “simulacro”

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mundial.

Ao se pensar uma economia organizada que não se constitua nos moldes do grande

capital, como no caso específico do Projeto ESPERANÇA/ COOESPERANÇA, a busca

incessante de conhecimentos, de embasamento teórico-prático, necessita ser fortalecida

através de movimentos sociais, ONG’s, políticas públicas, Igreja, universidades.., pois só

assim estrutura-se um novo “construir” do econômico, em que as massas “sobrantes”, as

“bordas” encontrem possibilidades de sobrevivência e dignidade na construção da

solidariedade.

4.2.6 As possibilidades da construção do conhecimento rizomático (Deleuze/Guattari)