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A construção do projecto educativo

No documento LIDERANÇA E PROJECTO EDUCATIVO DE ESCOLA (páginas 51-54)

Capítulo I – Liderança e projecto educativo de escola

2. Projecto educativo de escola

2.4 A construção do projecto educativo

A construção de um projecto educativo é algo complexa e morosa. Deverá nascer, indiscutivelmente, de uma reflexão colectiva da escola enquanto organização social, dos seus problemas mais comuns, da procura e preocupação pela qualidade e eficácia e pelo reforço das competências e da autonomia. Essa reflexão deverá partir de um pressuposto básico: o que é realmente um projecto educativo (conceito) e para que se quer que ele sirva (funcionalidade).

Para tal, é fundamental o envolvimento e a participação do maior número possível de elementos de toda a comunidade educativa (pessoal docente, não-docente, alunos, pais, autarquias, associações, etc.) para que se possa perceber como a escola é e como funciona, identificar os seus problemas e definir objectivos e metas a atingir e para que se possa desenvolver um compromisso comum sobre os princípios que irão orientar a maneira como ela actua.

Segundo o Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos estabelecimentos de Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e secundário, aprovado pelo Decreto-Lei 115-A/98, de 4 de Maio alterado pela Lei 24/99, de 22 de Abril, o projecto educativo deve consagrar a orientação educativa da escola e explicitar os princípios, os valores, as metas e as estratégias da escola com vista ao cumprimento da sua função educativa.

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Esta dimensão pedagógica está definida em pelo menos 3 diplomas nacionais. O primeiro é o Regime Jurídico da Autonomia das Escolas aprovado pelo Decreto-Lei 43/89, de 3 de Fevereiro. O segundo surge nove anos mais tarde, no Decreto-Lei 115- A/98, de 4 de Maio, que define o Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos estabelecimentos de Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e secundário e mais recentemente no Decreto-Lei 6/2001, de 18 de Janeiro, que aprovou a Organização e Gestão Curricular do Ensino Básico.

Se um projecto educativo é substancialmente de carácter pedagógico e administrativo, a sua construção não deverá obedecer a uma norma ou padrão. Vários autores apresentam fases ou etapas da construção do projecto educativo, mas nenhum dá uma receita exacta e infalível.

Berta Macedo (1991: 136) identifica quatro fases na construção do projecto educativo: 1ª fase – Génese – é uma fase de reflexão onde se devem colocar algumas questões de raiz: quem participa na discussão; quando se realiza o processo; onde se desenrola; como e sobre o quê se desenrola;

2ª fase – Elaboração do projecto – é a fase em que se define a lógica de funcionamento da escola;

3ª fase – Comunicação;

4ª fase – Realização – acompanhada de avaliação e novas decisões. Já Jorge Adelino Costa (1994: 49) identifica só três fases:

Concepção – engloba não só a elaboração do próprio projecto mas também a criação da equipa responsável pela dinamização do processo, a mobilização da comunidade educativa e a divulgação do documento;

Execução – é a fase da realização prática do projecto através da implementação do Plano Anual de Escola e do processo de ensino-aprendizagem;

Avaliação – refere-se à avaliação do processo, dos resultados e do projecto educativo.

João Barroso (2005) refere que são necessários três tipos de condições para que as escolas possam construir o seu projecto educativo: querer, poder e saber.

51 Primeiro é necessário que haja um compromisso comum, uma vontade geral, uma «cultura organizacional» para que exista uma necessidade de dar um passo à frente. É necessário querer mudar no caminho da qualidade. Depois é necessário ter condições, ter os meios para que se possa desenvolver o projecto, “o que passa nomeadamente pela existência de relações contratuais com a Administração de tutela e pelo reforço de modalidades de partenariado com a sociedade local” (Barroso, 2005: 131). Finalmente é necessário saber, é importante que a escola conheça qual a melhor maneira, quais as melhores práticas para a construção de um projecto educativo, e isto passa por uma cultura de escola aprendente, “por ser capaz de encontrar as metodologias próprias às 3 fases do ciclo de projecto: conhecer o passado; avaliar o presente e construir o futuro.” (ibidem: 131).

Carvalho e Diogo (1994) defendem que o processo de construção do projecto educativo se divide em três fases – Conceptualização, Planificação e Avaliação. No entanto enumeram várias etapas dentro destas fases. Para estes autores, este processo deve passar pelas seguintes etapas:

- A área problemática – esta é a etapa em que a escola se apercebe de que existe algo que gostavam de ver alterado;

- O diagnóstico – é o levantamento das situações que poderão estar a levar a escola a sentir necessidade de mudança. Poderá ser feito através de vários meios de recolha de dados: inquéritos, entrevistas, observação por conjunto de indicadores de qualidade, etc;

- A conceptualização do problema – é quando a escola analisa o problema detectado, tendo os autores citado Obin e Cros (1991) para apresentar seis questões-chave para essa análise: Quem está implicado? De que se trata? Como? Onde? Quando? Porquê?;

Imaginação e escolha de soluções – nesta etapa, a escola deverá reflectir sobre todas as soluções possíveis para a resolução do problema;

- A escolha das acções – Programação – a escolha das acções deve ser feita integrada na estratégia para levar a cabo o projecto;

- Distribuição das tarefas – uma correcta distribuição de tarefas poderá ser o factor crucial para a concretização do projecto e para a implicação de todos os actores;

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- Metodologias pedagógicas – deve escolher qual a melhor maneira para concretizar as acções;

- Avaliação – verificação do estado de concretização das acções.

Os autores são consensuais em relação às fases de construção do projecto educativo. Pode-se alterar a nomeação mas o significado é o mesmo: concepção, execução e avaliação.

São ainda vários os autores que fazem uma chamada de atenção para as dificuldades que se podem colocar na elaboração de um projecto educativo.

Ciscar e Uria, referidos em Costa (1994: 52), alertam para as dificuldades como o “consenso comunitário” e a “improvisação cómoda”. O projecto educativo mais do que qualquer outro projecto dentro de uma escola terá de reunir um consenso total, senão corre-se o risco de haver alguém que não está a trabalhar para o mesmo fim ou na mesma direcção. Esse consenso é muito difícil de atingir. Para isso tem de haver uma discussão séria e objectiva das necessidades e metas a atingir. A “improvisação cómoda” poderá decorrer de não se conseguir alcançar um consenso comunitário. Quando não se sabe por onde ir, pode cair-se no facilitismo e ir por onde os outros já foram. Isso só leva a escola a ter um projecto educativo para cumprir a lei e não um projecto educativo para melhoria do processo educativo e adaptação ao meio escolar. Ainda Costa (1994: 52) refere que Zabalza aponta para um conjunto de variáveis fundamentais para o sucesso deste tipo de projectos:

- Liderança efectiva; - Clima organizacional;

- Articulação e organização curricular;

- Participação e implicação das famílias na vida escolar; - Satisfação e motivação do corpo docente;

- Sentimento de afiliação à escola; - Expectativas positivas de sucesso;

No documento LIDERANÇA E PROJECTO EDUCATIVO DE ESCOLA (páginas 51-54)