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3. EXPLICITANDO A METODOLOGIA

3.1 A Construção Investigativa

Esta investigação teve como base o modelo qualitativo, pois o conhecimento das questões humanas é irrefutavelmente subjetivo, decorrente dos signos, ações, contextos nos quais os sujeitos estão inseridos e da individualidade das pessoas, assim, procuramos responder às indagações da investigação e considerando a natureza social da realidade. A abordagem qualitativa relaciona dinamicamente o mundo real e o sujeito, trazendo vínculos entre o mundo objetivo e a subjetividade.

A forma assumida (tipo) de pesquisa foi o estudo de caso, já que Molina (2004, p. 95) nos revela que “o estudo de caso não é em si uma eleição metodológica; é, sobretudo, a eleição de um objeto a estudar”.

O objeto de estudo, e conseqüentemente o caso a ser estudado, foi composto por três acadêmicos (Acadêmico A, Acadêmico B e Acadêmico C) do segundo semestre do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSM, na disciplina “Laboratório de Educação Física II”, para que possamos compreender os posicionamentos que os mesmos têm sobre as representações esportivas no mundo de suas vidas.

Em se tratando de estudos qualitativos, temos que considerar a existência de problemas que necessitam uma microinvestigação e, relacionando o estudo de caso com a etnografia, pode-se denominar de ‘microetnografias’ as investigações que focalizam aspectos muito específicos de uma realidade maior (MOLINA, 2004, p. 95).

A escolha desta disciplina para o estudo etnográfico justificou-se pelo fato de que é o primeiro contato dos acadêmicos, após o ingresso no curso de Licenciatura em Educação Física, com as modalidades esportivas hegemônicas nas escolas da Educação Básica.

Para tanto, concordamos com Stake (1994 apud MOLINA, 2004, p. 95) que destaca que: “quando elegemos estudar um caso, podemos estudá-lo de muitas maneiras”. Ao mesmo tempo em que este estudo de caso é caracterizado como um “caso único com subunidades, quando se toma múltiplas subunidades dentro do caso” (MOLINA, 2004, p. 97).

Para tanto, utilizamos a análise crítica do discurso como interpretação das informações e a etnografia crítica para os direcionamentos no campo de investigação na disciplina observada.

A investigação foi composta pelas seguintes subunidades/etapas que interagem entre si:

1) as análises etnográficas foram realizadas através de temáticas evidenciadas, após a transcrição das cinco aulas gravadas, e estas foram selecionadas pela semelhança das argumentações nos encontros;

2) a análise da história de vida dos três acadêmicos, selecionados na etnografia, a partir de uma entrevista com o objetivo de identificar fatos e situações relevantes sobre o movimento humano, também para compreendê-los enquanto sujeitos que transformam e são transformados pelo ambiente educacional onde estão inseridos, inclusive suas significações sobre a escolha do Curso de Licenciatura em Educação Física.;

3) a análise documental do Projeto Político Pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSM, implantado em 2005, com o propósito de conhecermos a organização e estrutura das disciplinas oferecidas pelo curso nos dois primeiros semestres; e

4) uma entrevista coletiva com os três acadêmicos ao final da referida disciplina com o propósito de proporcionar diálogos reflexivos utilizando as temáticas nela desenvolvidas.

Ainda, esta investigação também pode ser caracterizada como ‘heurístico’, ou seja, “enquanto amplia a compreensão do leitor sobre o caso em questão, podendo, ao mesmo tempo que coloca o descobrimento de um novo significado, ampliar a experiência de alguém sobre aquele fato ou, ainda, confirmar o que já se sabe” (MERIAN, 1988 apud MOLINA, 2004, p. 97).

Os procedimentos adotados para a investigação estão mais bem explicitados nos itens que se seguem, tais como:

Campo de investigação

O local do caso foi o Curso de Licenciatura em Educação Física, no CEFD da UFSM, na disciplina “Laboratório de Educação Física II” (DEC 1000) encontrada seqüencialmente no segundo semestre do corrente curso, na qual acompanhamos as aulas práticas e teóricas da referida disciplina, especificamente nas argumentações sobre os esportes (individuais e coletivos) nas implicações para a Educação Física Escolar.

Para a realização da pesquisa etnográfica, o investigador necessitou adentrar no campo de investigação e, para isso, Wittrock (1989) coloca que a observação participante é uma técnica na qual o investigador se introduz no mundo social dos sujeitos estudados, observa e trata de averiguar o que significa ser membro desse grupo.

A permanência no campo de investigação, ou seja, na disciplina de “Laboratório de Educação Física II” durou um semestre letivo, nas terças-feiras, das sete horas e trinta minutos até as dez horas, e foram 15 (quinze) encontros ao todo, no período do dia vinte e quatro de abril até o dia quatorze de agosto do ano de dois mil e sete.

Ao mesmo tempo, Quantz (1992) nos revela que a etnografia crítica exibe uma multiplicidade de vozes ao redor de tópicos particulares. Entendemos que essa metodologia investigativa contribuiu para a nossa atuação na sala de aula, na observação e participação, com o professor e acadêmicos.

A partir das concepções/posicionamentos dos acadêmicos durante a etnografia, o acompanhamento da disciplina “Laboratório de Educação Física II”, e mais precisamente na sala de aula, ocorreu a escolha dos “três acadêmicos” que atenderam aos seguintes requisitos: a) Pronunciavam-se em voz alta e clara na sala de aula; b) Narravam opiniões, experiências e conceitos sobre os esportes durante as discussões na sala de aula; c) Compareceram na maioria dos encontros da referida disciplina; e, d) Demonstraram interesse em participar das entrevistas, história de vida e diálogo reflexivo.

No entanto, Quantz (1992) concentra em alguns temas, tais como conhecimento, valores, sociedade, cultura e história do discurso crítico que procura distinguir a etnografia crítica de outras aproximações etnográficas, podendo clarificá-lo em etnografia educacional.

As análises etnográficas foram realizadas através de temáticas evidenciadas, após a transcrição das cinco aulas gravadas, e estas foram selecionadas pela semelhança das argumentações nos encontros.

Instrumentos de pesquisa

Usamos como instrumento de pesquisa o Projeto Político Pedagógico (UFSM, 2004) do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSM, implantado em 2005, com o propósito de conhecermos a organização e estrutura das disciplinas oferecidas pelo curso nos dois primeiros semestres, ou seja, relacionando os objetivos de cada disciplina destes semestres com o posicionamento dos três acadêmicos sobre suas participações e aproveitamento dos conhecimentos vivenciados.

Aonde, os objetivos da disciplina “Laboratório de Educação Física II” (UFSM, 2004) do citado curso, são: a) Possibilitar acesso às várias culturas dos Jogos Esportivos Coletivos (Basquete, Futebol, Handebol e Voleibol, e suas transformações), democratizando o processo das práticas e do conhecimento dos esportes; e, b) Conhecer e refletir sobre as diferentes características e elementos técnicos e táticos dos Jogos Esportivos Coletivos.

À vista disso, os objetivos dessa disciplina vão ao encontro dos objetivos desta investigação.

Para tal, utilizamos a etnografia crítica, que:

Se sustenta nos procedimentos da etnografia e nas referências teóricas da tradição crítica, o que possibilita uma interação entre o sujeito e o objeto de estudo. Além disso, promove exercício do pensamento dialético entre a teoria e a prática, entre o fato e a reflexão, entre a objetividade e a subjetividade, já que tanto o investigador como o investigado estão impregnados do contexto mais amplo (MOLINA NETO, 2004, p. 116).

Desta maneira, pretendeu-se compreender as concepções dos sujeitos da pesquisa a fim de analisar a construção de significados e a formação de valores durante o seu processo formativo retratar a realidade histórica na qual pertencem e construir subsídios para reflexão e emancipação do discente.

Utilizamos o diário de campo para anotações referentes a organização e comportamento dos acadêmicos durante, principalmente, as aulas práticas que ocorreram no Ginásio Didático II e no campo de Futebol.

Segundo Feil (1995) o diário de campo é o instrumento pelo qual o pesquisador registra, descreve, ordena informações, toma novas decisões e produz conhecimento ou, em outras palavras, é nele ou através dele que o pesquisador resgata e contrói a história do grupo ou pessoa, tira implicações teóricas e define alternativas de intervenção. É utilizado durante o processo investigativo e importante para direcionar as ações de pesquisa.

Para o aprofundamento das temáticas evidenciadas no campo de investigação realizamos a gravação e transcrição de cinco encontros da disciplina “Laboratório de Educação Física II” em sala de aula, para que pudéssemos obter um material mais completo para a análise conforme os objetivos da pesquisa. Para isso, pedimos a permissão aos sujeitos do contexto, ou seja, professor e acadêmicos.

Realizamos uma entrevista semi-estruturada, a partir de um roteiro (ANEXO A), que foi gravada através de um aparelho de MP3, marca Foston, e transcrita.

Segundo Lüdke e André (1996, p. 34) “a entrevista semi-estruturada se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações”.

As entrevistas provenientes da história de vida dos acadêmicos foram realizadas entre os dias dez e dezessete do mês de agosto no ano de dois mil e sete, e a entrevista coletiva ocorreu no dia vinte e cinco do mês de outubro no ano de dois mil e sete.

A construção de um roteiro organizado para a realização das entrevistas deu-se com a intenção de acompanhar os processos formativos dos acadêmicos, considerando as fontes histórico-sociais.

A técnica de análise dos dados

Escolhamos a análise crítica do discurso como técnica para a análise dos dados, pois além da etnografia realizada na disciplina “Laboratório de Educação Física II” também realizamos uma entrevista semi-estruturada para que pudéssemos trabalhar com a história de vida dos acadêmicos e uma entrevista dialógica ao final da referida disciplina.

Rogers (2004) explica que as pesquisas que usam análise crítica do discurso podem descrever, interpretar e explicar as relações entre linguagem e assuntos educacionais importantes.

Essa metodologia de investigação contribuiu para a interpretação das narrativas e/ou história de vida e para o diálogo reflexivo, ou seja, na interpretação e análise das informações coletadas nas gravações com os sujeitos da investigação.

A análise crítica do discurso, para Rogers (2004), começa com suposições do uso da linguagem, isso implica em sempre e inevitavelmente estar construindo e ser construído pelo contexto social, cultural, político e econômico.

Para tanto, Fairclough (1995 apud ROGERS, 2004) comenta que são esboçados três contextos importantes para análise crítica do discurso, são eles: o local, o institucional e a sociedade.

Na realização desta pesquisa, optamos pelas seguintes interpretações terminológicas quando nos referimos à análise crítica do discurso:

- Cholliaraki; Fairclough (1999 apud ROGERS, 2004) comentam sobre a “análise”, com referências a gênero, discurso e estilo como as três propriedades da linguagem que são operadas dentro e entre o local, institucional e domínios sociais. Uma análise crítica do discurso usa este jogo de procedimentos movendo continuamente uma micro e uma macro- análise dos textos. Este recurso movimentado entre lingüística e análise social é o que faz da análise crítica do discurso uma metodologia sistemática, no lugar de uma casual análise do discurso e poder.

- a interpretação de “crítico”, (ROGERS, 2004) no qual explicita e busca problemas sociais para resolvê-los pela análise e acompanhamento da ação social e política.

- concordamos com Fairclough (1992 apud ROGERS, 2004) que define o “discurso” como sendo mais do que o uso da linguagem: é uso da linguagem, que se falamos ou escrevemos, visto como um tipo de prática social.

Estes conceitos de análise, crítico e discurso foram selecionados para direcionar coerentemente as interpretações das informações coletadas para a presente pesquisa.

Destacamos que tanto na educação básica como na educação superior as reflexões/interpretações do micro com o macro ambiente são passíveis de análise nas perspectivas sociais, econômicas, políticas e culturais, na utilização da linguagem para compreender o sentido e o significado das diferentes atuações e de estarmos no mundo.

Notamos que a análise crítica do discurso e a etnografia crítica utilizam teorizações decorrentes da teoria crítica da Escola de Frankfurt (ROGERS, 2004; QUANTZ, 1992), pois vão ao encontro dos pensadores críticos tais com Horkheimer, Adorno e Habermas, citados no embasamento teórico desta pesquisa.