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3 A CONTRARREFORMA DO ESTADO E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL

3.1 A contrarreforma do Estado e as políticas educacionais nos anos de

Conforme já evidenciamos, desde a década de 1970, as formas e funções adotadas pelo Estado são questionadas e decorrem em consequência das próprias crises imanentes ao próprio sistema de produção capitalista e, é claro, dos caminhos escolhidos para sua superação em função das transformações do modelo produtivo, da mundialização. Isso tudo repercutiu profundamente no mundo do trabalho e, consequentemente, veio a se refletir na definição da

modo do pensamento liberal. Portanto, a reforma segundo Behring e Boschetti (2008) ficou caracterizada no Estado de Bem-Estar social que colocou o Estado como instituição intervencionista e reguladora do movimento livre do mercado.

política educacional. Como a educação se articula às objetivações materiais da estrutura econômica da sociedade, não por mera coincidência, a sua movimentação e organização.

Adapta-se aos modos de formação técnica e comportamental adequados à produção das formas particulares de organização do trabalho e da vida. O processo educativo forma aptidões e comportamentos que lhes são necessários, e a escola um dos seus locais privilegiados. (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2007, p. 09).

Todo o processo de reorganização da educação brasileira a partir de 1980 acompanha o reordenamento da foma-Estado, assim como acompanhou em outras épocas. Tal alinhamento se ordena em função da crise econômica e do desmonte da estrutura que dava constituição ao Estado-providência (a regulação estatal que tratamos anteriormente) nos países do capitalismo central ou a sua expressão nos países periféricos. No caso, a economia brasileira sofreu desgastes na sua capacidade de poupar e investir e na sua capacidade de administrar atividades exclusivas do Estado como serviços sociais e científicos e na produção de bens e serviços voltados para o mercado muito em função da crise.

O Brasil submergiu em profunda crise nos anos de 1980 e início de 1990. Crise esta que é destacada da seguinte forma por Shiroma, Moraes e Evangelista (2007, p. 39): “Crise econômica, iniciada ainda em 1979, quando os banqueiros internacionais, diante da elevação da taxa de juros e recessão nos Estados Unidos da América, passaram a cortar os créditos para o Brasil”.

Por isso, essa política passou a ser extremamente adequada aos tempos de crise e se organiza como sendo um receituário, quer dizer, como orientações/condições que implicam uma ação desregulamentadora do papel do Estado, passando a desempenhar funções sociais muito restritas, incluindo-se a própria política educacional. E, obviamente, esta sofre todas as influências do conjunto de indicações para a “nova” organização do Estado e das suas políticas. Assim, a função do Estado deveria se restringir à regulação e coordenação, particularmente, no nível federal e à progressiva descentralização vertical dirigida à esfera estadual e municipal, da função executiva nas áreas de prestação de serviços sociais e de infraestrutura.

Contudo, no discurso oficial, as perspectivas governamentais visavam aperfeiçoar a máquina pública. Para isso era preciso mudar o sistema jurídico-legal notadamente no sentido da ordem constitucional com o discurso de que era necessário também mudar o conceito de gestão pública voltado para uma gestão ágil e com maior grau de autonomia, capaz de enfrentar os desafios do Estado contemporâneo, da minimização do Estado, tanto na

sua estrutura administrativa quanto econômica, voltado a uma administração gerencial capaz de realizar tal objetivo de dinamicidade, de uma feição mais enxuta capaz de gerar atuação eficaz no livre movimento do capital.

Nessa perspectiva, à época, o governo trabalhava a visão de um Estado moderno que coadunava com um Estado mais leve e, portanto, mais ágil. A grande crise econômica dos anos de 1980 reduziu a taxa de crescimento dos países do capitalismo central e imprimiu nos países em desenvolvimento – no caso o Brasil - a necessidade de redefinir a sua estrutura e seu papel político-administrativo em busca da governabilidade.

Por conseguinte, a questão pautada foi o perfil que deveria assumir a política pública, em particular, a dirigida aos setores sociais, consequentemente, Estado mínimo políticas sociais mínimas, focalizadas na extrema pobreza. Dessa forma, tais mudanças partem de um receituário, acordado a partir dos princípios do Consenso de Washington18 que expressou, de fato, um verdadeiro “consenso” voltado para um novo modelo de regulação estatal. Esse processo partiu de um acordo unânime entre nações ou grupos que negociaram questões de interesse comum (Gentili, 1998), ou seja, a implementação das diretrizes políticas (hegemonia neoliberal no contexto de um capitalismo mundializado) para a América Latina, que em essência não foi nada consensual. No entanto, os seus proponentes partiram do pressuposto de que esse seria o único caminho viável, tendo em conta as péssimas condições econômicas e políticas em que se encontravam as sociedades latino-americanas.

Percebe-se com isso que vem à tona a determinante econômica, estrutural, que passa a interferir no ordenamento da superestrutura – o Estado e suas instituições - levando-a a se adequar às demandas da esfera estrutural. A educação, como parte constituinte da dimensão superestrutural, ordena-se no próprio movimento do capital e de suas crises, apesar de que devemos perceber uma força contraditória imanente quanto ao próprio movimento estrutural.

Cabe destacar que não existiu uma imposição ou conspiração internacional contra os países da América Latina. O que ocorreu, na realidade, foi um estabelecimento de uma série de acordos19 econômicos e políticos que ganharam características estratégicas entre as nações, entre governos orientados para garantir o desenvolvimento e estabilidade econômica, política e cultural de um sistema capitalista já definitivamente vitorioso, uma vez

18 Cf. WILLIAMSON, J.(org.). Latin american adjustment: how much has happened?. Washington: Institute for International Economics, 1990. Para conhecer detalhadamente o consenso, consultar este escrito do seu principal “organizador” (J. Williamson), no qual ele delineia seus fundamentos.

19

desaparecida a ameaça do socialismo real20. O capital passa a se sentir bem à vontade para sair de uma vez por todas do desvio a que fora obrigado a se submeter no pós-guerra que estabeleceu a regulação estatal.

Observou-se uma hegemonia do pensamento contrarreformista caracterizado como um novo liberalismo no contexto do capital mundializado e em crise. Essa ideia se concretizou com as privatizações das empresas estatais e com o livre ingresso de capital externo, sem que fossem consideradas as consequências socioeconômicas, políticas e culturais, especialmente para os pobres dos países em desenvolvimento, no caso, o Brasil. Caracterizou-se, assim, um retorno ao Estado liberal clássico em detrimento do Estado social, quer dizer, o mercado emerge como forte elemento de intervenção nas relações não só econômicas, mas político-administrativas e culturais.

A justificativa premente desse panorama, segundo as prerrogativas político- ideológicas do articulador principal desse processo, Bresser Pereira, foi ratificada no documento intitulado a Reforma do Estado nos anos de 1990. Tais prerrogativas perpassavam pela estatização e privatização que também foram objetos de amplo debate ideológico. No entanto, na época para ele esse debate já estava superado. Existia então um relativo consenso que culminava em uma visão única, a da natural regulação do mercado na economia, e não do Estado configurar-se como mediador desse processo. Para tanto, era necessário um processo de privatização das instituições públicas e desregulamentação do trabalho, segundo versão oficial em função da crise fiscal do Estado, isto é, dado o comprometimento da capacidade de receita do Estado não compatível com as demandas sociais que gerariam despesas sociais e científicas, por exemplo, a educação não poderia permanecer como monopólio estatal, tampouco ser privatizada. A palavra-chave utilizada nesse momento pelo governo era a de publicização, significando transferência de responsabilidade desse setor para a esfera pública não estatal.

O motor principal para que essa perspectiva se instaurasse no Brasil esteve articulada a uma reação da classe burguesa à crise do capital que se iniciou em meados dos anos de 1970 e, consequentemente, promoveu os desvios que o Estado necessitava sofrer para promover o retorno ao seu curso normal, ou seja, voltar-se inteiramente à ação de construir as bases constitucionais e materiais fundamentais para o livre movimento do capital: “menos Estado mais mercado” (AZEVEDO, 2004, p. 11).Portanto, a integração da economia não se

20 Pregava a propriedade pública ou coletiva e administração dos meios de produção e distribuição de bens e de uma sociedade pautada pela igualdade de oportunidades e de meios para todos os indivíduos com um método mais igualitário em contraposição ao capitalismo.

daria mais no âmbito das nações. Pois as relações já não eram mais estabelecidas no âmbito dos países e governos, mas entre setores privados das grandes corporações, que formam redes econômicas com a minimização dos estados nacionais, estabelecendo um poder supranacional, isso é o que significa a hegemonia do mercado, a mundialização da economia sobre as economias nacionais.

Segundo Gentili (1998), a todo o momento eram dadas explicações, por parte do governo, de que as soluções para esse período de crise poderiam vir da auto-organizaçãodos próprios brasileiros, através da mudança não de competitividade empresarial, mas, de uma mentalidade administrativa que se confrontasse com o burocratismo. A construção do consenso sobre essa nova forma de administrar perpassa por um posicionamento individual, visando maior responsabilização, buscando maior eficiência e rendimento laboral, de atualização tecnológica, quer dizer, da decisão individual de querer crescer estando livre de toda carga do Estado que o fazia lento com sua amplitude envolvendo-se, inclusive, com o setor produtivo, pois sem a tutela dele o indivíduo também seria livre para buscar individualmente a sua própria formação.

Vale destacar, entretanto, que todo esse processo hegemônico, não se reduziu, é claro, apenas à construção de uma política de consentimento, mas também a uma poderosa estratégia de coerção com a ideia do pensamento único trabalhada exaustivamente. É por isso, que os pobres e as minorias encontravam-se em situações menos favoráveis para reagir dentro de um contexto nacional e mundial em mudança, onde passavam a predominar as leis de mercado como regulador e distribuidor da riqueza e da renda e o desenvolvimento de tecnologia de ponta, bem como o conceito “utilitarista de democracia”, pois como enfatiza (AZEVEDO, 2004, p.10) “compreendendo-se que, na medida em que se potencializa as habilidades e a competitividade individuais, possibilitando a busca ilimitada do ganho, o mercado produz, inexoravelmente, o bem-estar social”, fato este que na história econômica nunca foi possível se materializar, muito pelo contrário. Nesse sentido, é que Marx afirmava ser preciso conhecer a anatomia da sociedade civil, burguesa, e daí empreender estudo sobre a economia política para encontrar os antagonismos e contradições imanentes ao sistema de capital.

É diante de tal conjuntura, isto é, da mundialização do mercado e do racionalismo econômico que no governo FHC, em 1995, foi elaborada uma estratégia política adequada à nova conjuntura – Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado brasileiro (PDRE) - que definiu os objetivos, diretrizes e estratégias necessárias para a mudança de conceito da

administração pública brasileira. No entanto, este plano é transcendente à mera esfera administrativa.

Nesse processo, de acordo com tal documento, deflagrou-se um debate entre a questão referente a público, privado, estatal e não estatal. O PDRE determinava que com o estabelecimento da crise passava a existir a necessidade reexame das relações Estado- sociedade onde esse redimensionamento abriria novas perspectivas para a democracia.

É certo que este plano buscava criar as condições necessárias para a reconstrução da administração pública sob bases “modernas” e “racionais”, mas à luz da razão do mercado, a reorganização das estruturas administrativas culminaria no reordenamento da máquina estatal sob o prisma de três categorias: privatização, desregulamentação(flexibilização) e

descentralização. A privatização é caracterizada pela transferência de empresas e serviços

públicos para a iniciativa privada e seria necessário realizar reformas constitucionais para fomentar esse processo de transferência (venda) de empresas estatais para a iniciativa privada. Em relação à desregulamentação destaca-se que esse preceito parte da necessidade do Estado diminuir a interferência sobre a economia, deixando o mercado livre. Já a flexibilização refere-se ao custo elevado da produção e ao custo Brasil. No entanto, essa perspectiva se ordena não só em objetivos, mas também em estratégias práticas de eliminação ou diminuição de direitos e de conquistas dos trabalhadores, partindo de propostas de mudanças no texto constitucional através de Emendas à Constituição tanto na área administrativa quanto previdenciária (aposentadorias e pensões dos servidores públicos).

A formação do necessário consenso teve fundamentalmente a participação dos meios de comunicação, que perpassava pela unificação do pensamento em torno das medidas executadas da contrarreforma do Estado brasileiro, que a priori sofreu oposição, mas o poderio do governo no sentido do marketing fez arrefecer o processo de oposição ao neoliberalismo. Portanto, não foi possível viabilizar oposição significativa às medidas governamentais, o que contribuiu para a hegemonia neoliberal no Brasil.

A descentralização é uma estratégia de transferência de responsabilidade da esfera federal a estados, municípios, sociedade civil e iniciativa privada. Daí o Estado se ordena como mero regulamentador do processo de transferência. Na educação isto ocorreu através da reforma educacional, isto é, alteração no arcabouço jurídico (constitucional e infraconstitucional), onde se destacam a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/96 e o Plano Nacional de Educação (PNE). Nesse sentido, a descentralização da educação se constituiu como tendência moderna dos sistemas educativos em nível mundial sob a perspectiva oficial de realizar mudanças que afetassem o conjunto e toda a estrutura do

sistema educacional. A questão fundamental é que tais mudanças pouco tiveram a ver com questões propriamente educativas, pois as preocupações estiveram voltadas muito mais à adequação ao novo cenário de mudanças de perfil do Estado de provedor e regulador para o modelo forte e mínimo elaborado por Bresser Pereira, o Estado neoliberal.

Do ponto de vista prático, a reforma implicou no ajuste do Estado, já que foi caracterizada pela flexibilização da estabilidade e pela perda de direitos do funcionalismo público com o discurso ideológico de aumento de empregos, questões essas contrárias ao discurso oficial da época que propugnava valorização dos servidores públicos, motivação profissional, remuneração condizente com o mercado de trabalho nacional, etc.

Convém ressaltar que nesse projeto de âmbito nacional de questões afetas à nação brasileira, os organismos internacionais desempenharam um papel fundamental no cenário mundial e, especialmente, nos países de capitalismo periférico, corporificou-se como uma das características mais evidentes dessa forma de hegemonia. Gentili (1998) diz que tais instituições são ferramentas poderosas e pouco dissimuladas que tendem a garantir e perpetuar a hegemonia estadunidense,na configuração do novo cenário mundial que se seguiu ao fim também da Guerra Fria.

Esses organismos atuam no Terceiro Mundo promovendo ou impondo dificuldades a certas propostas de reformas constitucionais legislativas, afetando, por exemplo, no Brasil, o avanço conquistado no âmbito da nova Constituição Federal de 1988. A força antagônica na dimensão educacional se deu com os denominados movimentos constituintes, como exemplo, citamos no campo de luta educacional a IV Conferência Brasileira de Educação, realizada em Goiânia em 1986, da qual resultou o documento intitulado “Carta de Goiânia”21, que, em meio à perspectiva de um Estado tensionado à vertente social, lutava pela ampliação dos direitos democráticos e trabalhistas, mesmo com um relativo grau de organização dos trabalhadores. Pode-se afirmar, portanto, que essa Constituição sofreu um verdadeiro ataque neoliberal no início dos anos de 90, pois os proponentes dessa concepção a identificavam como atrasada e perdulária. Nesse sentido, a política educacional foi negativamente afetada, inviabilizando o projeto de uma escola democrática.

Tais ataques culminam com a interferência nas instituições que desempenham o planejamento das políticas sociais (implementadas ou não implementadas) pelos governos

21 Documento elaborado pelos educadores contendo propostas a serem incorporadas à Constituição de 1988 no título referente à educação.

locais. O que estava em jogo além do reordenamento econômico, político e pedagógico era a garantia do pagamento da dívida externa por parte dos países devedores, por isso, as reformas ou ajustes no Estado se mostravam também tão necessários.

Diante desse cenário, as políticas sociais são concretamente um instrumento em que se expressa a subordinação à lógica econômica, dando apoio aos programas de ajuste do Estado e construindo as bases fundamentais à hegemonia do mercado frente ao novo patamar de acumulação e de regulação do capital e do trabalho22. Segundo Gentili (1998), as políticas sociais são assim pensadas como um componente indissolúvel dos processos de reestruturação econômica e planejadas a partir da ótica de um exacerbado reducionismo tecnocrático. É o caso da mudança do conceito de administração pública denominada de gerencial propalada como a redenção do Estado brasileiro. Torna-se essencial destacar que desde 1993 o BID passou a ser a principal fonte de crédito multilateral do Brasil.

Dessa forma, todas as dimensões no que concerne à política social, dentre elas a educação, têm subsídios financeiros advindos dessa instituição. Tais propósitos de mudanças interferiram sobremaneira nas questões macro (as grandes questões e definições que atingem o todo da economia) e, necessariamente, terminaram culminando em reforma dirigida também à esfera específica da educação sob os auspícios dos princípios técnicos e ideológicos da lógica do custo-benefício e da ênfase na necessidade de considerar, como, prioritária, a obtenção de uma crescente taxa de retorno dos recursos investidos por esses organismos. Pois é justamente por não ter o Estado um caráter social, mas sim, uma natureza mercantil, que essas instituições financeiras condicionam os limites e o conteúdo da política social implementadas nos países pobres e em desenvolvimento, estabelecendo precondições necessárias ao alcance de objetivos que coadunam com a perspectiva do mercado, tratando de um irrefutável êxito objetivando o ajuste econômico, social e cultural dessas nações.

É fato que na América Latina ainda que as políticas sociais não tivessem sido implantadas de maneira universalizante e equitativa, já o movimento de crises cíclicas do capital imputava a necessidade de que o Estado tomasse outro rumo. Daí, a hegemonização do princípio da economia de mercado globalizado, a hegemonia do capital transnacional mundializado, refreando qualquer projeto de uma política social integral como forma de atender às necessidades humanas, o que estruturaria as bases para uma sociedade justa. Ao

22 Após a Segunda Guerra Mundial as grandes potências mundiais se reuniram e criaram três instituições em 1945: FMI, BIRD e BM, que não se limitaram a desempenhar as tarefas próprias de simples agências de crédito (avalistas), mas passaram a exercer função política e estratégica fundamental nos processos de ajuste e reestruturação neoliberal e do próprio modo de produção capitalista.

invés disso, ocorreu um movimento contrário, uma avalanche destruidora de tal perspectiva, fundamentalmente nos países periféricos e em desenvolvimento.

Assim, no início da década de 1990, período pós-redemocratização e de luta dos movimentos que reivindicavam mudanças no sistema educacional, o Brasil, face às crises estabelecidas no padrão de acumulação do capital em nível mundial e inconsistência na sua própria economia, submeteu-se às demandas de reestruturação de forma muito clara e organicamente estruturada, culminando na contrarreforma neoliberal, alinhavando o Estado às novas demandas do capital, fundamentalmente da desnacionalização da indústria e da economia.

O novo padrão de desenvolvimento exigia mudanças conjunturais – no sentido do ajuste interno e da estabilização econômica, preparando o país para uma adequação ao contexto da denominada mundialização do capital. Assim, a centralidade das mudanças estava sobre o custo do Estado, no financiamento do setor público, de modo que a reforma administrativa não estava separada da contrarreforma do Estado que, no entanto, não passava a ser uma questão somente econômica, mas também política. Pois a ideia é a de que quando há uma significativa crise no sistema do capital, sua origem é buscada no mercado ou no Estado. Assim, a crise de 1929 foi centrada no mercado. Já a crise de 1980 funda-se na sustentação do Estado social, no Brasil, com características socializantes, principalmente descritas na Constituição de 1988, descaracterizando a dimensão econômica da crise.

Sobre a política de reestruturação, de acordo com Williansson (2000, apud MELO, 2004), Washington tornou-se um núcleo ou centro de decisão norte-americano, significando para o Brasil e para a América Latina um reordenamento político, econômico e social desta região sobre os critérios dos organismos internacionais o FMI, BM, BIRD, CEPAL, dentre outros, forjados no Consenso de Washington (1989). A agenda advinda desse consenso reorganizava a política e a economia traduzida pela liberalização, desregulamentação, privatização, focalização e descentralização das políticas sociais, o que