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O contrato temporário de trabalho e o tele-ensino: estratégias de flexibilização dos direitos trabalhistas ou um mecanismo de universalização do acesso ao ensino?

5 A POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BÁSICA NO PERÍODO DE 1995 A 2002: expressões da política neoliberal

5.1 O contrato temporário de trabalho e o tele-ensino: estratégias de flexibilização dos direitos trabalhistas ou um mecanismo de universalização do acesso ao ensino?

A análise até aqui empreendida leva-nos ao entendimento de que, além dos elementos mencionados, ações de outra ordem48 podem ser compreendidas e identificadas no âmbito da política de educação básica no Maranhão, visando à promoção da aceleração dos estudos para atender as exigências da macropolítica dentre as quais destacamos duas:

flexibilização e descentralização. À luz da nossa análise, percebemos que estas se

materializaram no contrato temporário e no programa tele-ensino, ambos elementos reveladores do cumprimento da agenda neoliberal.

Conforme exposto no item anterior, os programas desenvolvidos no Maranhão com a chancela do MEC e do Banco Mundial visavam à universalização do ensino. Desse modo, a correção do fluxo escolar em um período muito curto fez com que no Estado aflorasse uma demanda reprimida maior por ensino e, consequentemente, uma maior exigência de número de vagas e de contingente de educadores. Na visão do governo, essa demanda seria temporária, até a geração do fluxo escolar, visto que, posteriormente, os sistemas de ensino trabalhariam com os alunos somente na idade compatível com a série.

Segundo um sujeito da pesquisa, o Maranhão

Resistiu bastante a implementar tais adequações, contudo, o foco da sua política educacional a partir de 1995 esteve voltado a corrigir o Fluxo Escolar, exigência

48 Segundo Cavalcanti (2002), os elementos de descentralização, gestão da Qualidade Total, aumento da produtividade que já tinham sido implementados no sistema educacional maranhense através de uma série de programas, articulados entre si, garantiram certa unidade dentro do princípio da política que foi então se ordenando no contexto educacional maranhense.

essa feita pelo Banco Mundial financiador dos projetos educacionais no Brasil. (Entrevistado 1).

Nesse sentido, era preciso ampliar a rede de atendimento em função do aumento do número de matrículas, voltado, principalmente para o ensino médio da capital São Luis. A partir de então, o Estado teve que alugar prédios na capital e criar os anexos (escolas temporárias, segundo o governo).

O SINTEP/UPAON-AÇU49 publicava em seu Boletim de 01/03/2000:

A “desvalorização do magistério” praticada no Estado do Maranhão, a educação vem sendo sistematicamente precarizada pela falta de professores, servidores e especialistas nas escolas. Já são três anos que o estado vem mantendo um seletivo para contratar professores para prestarem serviços sem ter nem um só dos direitos previstos na legislação trabalhista, respeitados.

Além disso, tal processo seletivo tem sido feito à revelia da possibilidade de fiscalização do interessado, de tal forma que fraudes, declarações falsas têm sido uma constante nesse processo. Tem-se que enfatizar ainda que a não construção de escolas novas, vem implicando em funcionamento de escolas, em prédios que oferecem risco de vida e de saúde para todos, em alguns casos, até com situações de desabamento, como foi o caso do BCA, na Rua do Sol.

A tentativa de atender a demanda do Ensino Médio na capital, além da necessidade da criação de espaços (prédios), gerou uma demanda de pessoal, principalmente professores; assim, o Estado teria que realizar novas contratações. Vale ressaltar que até então essas eram feitas sem nenhum critério técnico, apesar da Lei Federal nº 8.745/1993 vigorar em âmbito federal desde essa época. Do ponto de vista técnico, o Estado formalizou esse processo de contratação temporária por meio do processo seletivo simplificado garantido por meio da Lei nº 6.915/1997 que estabelecia os critérios para a contratação temporária para atender a maior demanda no ensino médio a título de excepcionalidade.

Vale citar uma colocação do entrevistado 1:

O estado não teria uma demanda contínua e duradoura, por isso, o processo seletivo de contratação de professores temporários era o procedimento mais adequado a essa perspectiva temporária. Pois a ideia era atender ao máximo a demanda reprimida que posteriormente decairia e, assim não era necessário fazer o Concurso Público que não se justificaria para preenchimento das vagas temporárias.

Essa é uma visão parcial da política educacional empreendida na época, focalizada na ideia da necessidade imediata para atender o significativo aumento da

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Em São Luís (MA), 16 de junho de 1999, no Auditório da Biblioteca Pública “Benedito Leite”, na cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão, foi realizada a Assembleia Geral de fundação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública da região metropolitana dos municípios de Paço do Lumiar, Raposa, São José de Ribamar e São Luís - SINTEP/UPAON-AÇU.

demanda50, todavia houve um descaso na questão fundamental da qualidade do ensino que também passa pela via do trabalhador como parte do quadro efetivo do Estado.

Esse argumento utilizado pelo entrevistado em muito define a visão governamental de viabilizar a ampliação do número de vagas buscando dar conta de uma demanda até então reprimida, mas com baixa produtividade, insuficiente e inadequada formação. O Estado, na perspectiva de atender um maior contingente com a sua política, lança mão do expediente de aceleração dos estudos, principalmente para gerar o fluxo de progressão escolar, uma exigência do Banco Mundial e, consequentemente, corrigir a idade/série gerada pelo significativo índice de evasão e repetência escolar. Nesse sentido, promove a regularização do contrato temporário de trabalho via seletivo simplificado e institui o programa de aceleração de estudo no ensino básico via tele-ensino.

Estes dois elementos da política de educação básica do governo Roseana Sarney serão abordados nos tópicos seguintes.

5.2 O Contrato por tempo determinado (Lei nº 6.915/1997): o caráter de