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REFORMA ADMINISTRATIVA DO ESTADO DO MARANHÃO: expressões do neoliberalismo na política educacional no período de 1995 a 2002.

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO. JAMES DEAN BRITO BASTOS. REFORMA ADMINISTRATIVA DO ESTADO DO MARANHÃO: expressões do neoliberalismo na política educacional no período de 1995 a 2002.. São Luís 2012.

(2) 2. JAMES DEAN BRITO BASTOS. REFORMA ADMINISTRATIVA DO ESTADO DO MARANHÃO: expressões do neoliberalismo na política educacional no período de 1995 a 2002.. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Mestrado em Educação, sob a orientação da Prof.ª Dra. Maria José Pires Cardozo, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação.. São Luís 2012.

(3) 3. REFORMA ADMINISTRATIVA DO ESTADO DO MARANHÃO: expressões do neoliberalismo na política educacional no período de 1995 a 2002.. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Mestrado em Educação, sob a orientação da Prof.ª Dra. Maria José Pires Cardozo, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação.. Aprovado em:. /. /. BANCA EXAMINADORA. ________________________________________ Prof.ª Dra. Maria José Pires Cardozo Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Orientadora. _________________________________________ Prof.ª Dra. Maria Eunice Ferreira Damasceno Pereira PPGPP - Universidade Federal do Maranhão. _________________________________________ Prof.ª Dra. Francisca das Chagas Silva Lima PPGE - UFMA. São Luís 2012.

(4) 4. Aos meus familiares, em especial, a minha irmã Otília, também mãe e dindinha..

(5) 5. AGRADECIMENTOS. A todos aqueles que acreditam que é preciso transformar, mesmo sabendo que os homens fazem sua própria história, embora não a façam como querem. Não a fazem sob as circunstâncias somente da sua própria escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado, como afirma Marx (1997). A minha família, em especial, que me permitiu alçar voos mais altos de descobertas e vivências desde muito cedo. A minha esposa, Sylvia, e a minha querida filha, Maria Clara, o meu muito obrigado. A minha orientadora, Prof.ª Maria José Pires Cardozo, pelas valiosas orientações, pela segurança, sinceridade, paciência, dedicação e pelo diálogo aberto e livre dos novelos formais. Aos amigos Júlio e Conceição, pois sem os instantes e encontros de estudos e debates não seria possível chegar até aqui. Ao meu querido amigo Rosenverck pelo valoroso apoio, preciosa orientação e organização, o que me ajudou significativamente a chegar até esse momento. Ao grande camarada Paulo Rios pela valiosa convivência que me permitiu sonhar junto, orientado pelo seu referencial de luta. A minha amiga Dolores pelas suas significativas e valiosas contribuições e exemplo de sonhar e resistir. Ao meu grande amigo Carlos Augusto pela convivência na época da graduação, pósgraduação e pelo grande auxílio e incentivo para que chegasse até aqui. Ao professor Máuri de Carvalho que plantou as células embrionárias dos estudos marxistas. Aos colegas da 11ª turma do Mestrado em Educação da Universidade Federal do Maranhão, pelo aprendizado, em especial, ao Dannilo e ao Jhonatan pela amizade, pelo companheirismo e pela valorosa ajuda. Aos professores sujeitos desta pesquisa pelas suas valiosas contribuições. A todos os professores e professoras do Programa de Pós-graduação em Educação e a Gisele. Às funcionárias da biblioteca e ao Júlio (xerox). A Deus, ao Mestre Jesus, aos espíritos guias, que são minha fortaleza, meu sustentáculo e minha fonte de inspiração..

(6) 6. Por fim, a todos aqueles que me ajudaram neste estudo, “após ter percorrido milhas e milhas longe daqui eu nem cochilei, os mais belos montes escalei, apesar de que nas noites escuras de frio e solidão chorei”, o meu muito obrigado porque valeu a pena..

(7) 7. RESUMO. Este estudo situa-se na linha de pesquisa Estado e Gestão Educacional. Nele analisamos os impactos das transformações econômicas e suas repercussões sobre as diretrizes educacionais implementadas nos anos de 1990, no sentido de adequar a estrutura educacional às exigências oriundas do grande capital. Na tentativa de integrar a parte, isto é, as expressões do neoliberalismo no trabalho docente ao todo, caracteriza-se o Estado, a Política, as Crises do Capital, a Reforma do Estado, a contrarreforma e as suas consequências no âmbito educacional nacional e local. Discutimos os vieses políticos e econômicos no Maranhão a fim de perceber a presença dos múltiplos determinantes da macropolítica na estrutura administrativa do Maranhão e os encaminhamentos dados na política local de educação básica. A organização do trabalho pautou-se na abordagem histórico-crítica, uma vez que a realidade é contraditória e multifacetada, e esta pesquisa tem o interesse fundamental de aproximar ao máximo essas expressões da realidade estudada. Nesse sentido, fez-se o uso da entrevista semiestruturada, enquanto procedimento metodológico. De acordo com a concepção da totalidade dos sujeitos da pesquisa existe um processo intenso de precarização do ensino e do trabalho docente na Rede Pública de Ensino, ou seja, na infraestrutura e de trabalho, na forma de contratos dos professores temporários, bem como nas suas condições salariais. Constatou-se que, na compreensão dos entrevistados, em primeiro plano, na visão do governo, seria dado o grande salto de qualidade na educação básica do Maranhão, enquanto os dirigentes sindicais e pesquisadores, numa análise antagônica, percebem a política educacional como mecanismo de permanência e aprofundamento da precarização do ensino e do trabalho docente, já que o objetivo principal dessa política visava ao aspecto quantitativo das matrículas e à geração do fluxo escolar que influenciariam de imediato nos empréstimos junto ao Governo Federal e aos organismos mundiais. Palavras-Chave: Crise do capital. Reforma do Estado. Contrarreforma. Política Educacional. Precarização..

(8) 8. ABSTRACT. This study is in the line of research State and Educational Management. It analyzed the impacts of economic transformations and their impact on educational guidelines implemented in 1990, in the sense to adapt the educational structure demands from big capital. In trying to understand the part, I mean, the expressions of neoliberalism in education policy in the State of Maranhão in the period 1995 to 2002, total, initially characterized the State, politics, Crises of Capital, the reform of the State, the Catholic Reform and its consequences within national educational and local. We discuss about the economic and political biases in Maranhão to perceive the presence of the multiple determinants of macro policy in the administrative structure of Maranhão and forwards provided on basic educational policy. The Organization of this research took in historical-critical approach, since the reality is contradictory and multifaceted and this poll has the fundamental interest of bringing the most studied reality. Accordingly, while methodological procedure made sure the use of documentary and bibliographic research, through field more or less structured interview. In bibliographic search worked with several authors, among which we highlight: Marx (1983), Coggiola (2009), Lenin (2010), Kosík (1976), Frigotto (1999), Mészáros (2005), Shiroma (2007), Silva (2001) and Luz Junior (2009). Showed that in the design of the subject of the search, there was an intense process of precarization teaching and teaching work in public school education, I mean, in infrastructure and working, in the form of temporary teachers ' contracts, wage conditions of temporary teachers. It was noted that the understanding of the subject of research in the foreground by the hand of Government was the great leap of quality in basic education of Maranhão by the subject of the research leaders and researchers perceive antagonistically analysis existed educational policy as a mechanism of permanence and deepening insecurity teaching and teaching work, because the main goal was to the quantitative aspect of registrations and the generation of school flow that would immediately on loans the Federal Government and world organisms. Key-words: Crisis in the capital. Reform of the State. Catholic Reform. Precarious Employment. Educational Policy..

(9) 9. LISTA DE SIGLAS. ADCT. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. BEM. Banco do Estado do Maranhão. BID. Banco Interamericano de Desenvolvimento. BIRD. Banco Interamericano para a Reconstrução e Desenvolvimento. BM. Banco Mundial. LDBEN. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. CEASA. Central de Abastecimento S/A. CEGEL. Centro de Ensino Fundamental e Médio Governador Edison Lobão. CLT. Consolidação das Leis Trabalhistas. CEMAR. Centrais Elétricas do Maranhão. CEPAL. Comissão Econômica Para América latina. CONEDs. Congressos Nacionais de Educação. COPEMA. Companhia Industrial de Produtos Agropecuários do Maranhão. PDDE. Programa Dinheiro Direto na Escola. EMATER. Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Maranhão. EMAPA. Empresa Maranhense de Pesquisa Agropecuária. ENEM. Exame Nacional do Ensino Médio. EUA. Estados Unidos da America. FHC. Fernando Henrique Cardoso. FAPEMA. Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão.. FGTS. Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. FMI. Fundo Monetário Internacional. FUNDEF. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental. FUNDESCOLA. Fundo de Fortalecimento da Escola. GAE. Gerência Adjunta de Educação. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IDH. Índice de Desenvolvimento Humano. INSS. Instituto Nacional do Seguro Social. IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. LDB. Lei de Diretrizes e Bases.

(10) 10. LDO. Lei de Diretrizes Orçamentárias. MARE. Ministério da Administração e Reforma do Estado. MEC. Ministério da Educação e Cultura. MOSEP. Movimento de Oposição Sindical na Educação Pública do Maranhão. OEA. Organização dos Estados Americanos. ONU. Organização das Nações Unidas. PAE. Programas de Ajuste do Estado. PFL. Partido da Frente Liberal. PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. PNE. Plano Nacional de Educação. PNUD. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. PROCAD. Programa de Capacitação Docente. PRODAMAR. Empresa de Processamento de Dados do Maranhão. PROEP. Programa de Expansão da Educação Profissional. PSDB. Partido da Social Democracia Brasileira. SAEB. Sistema de Avaliação da Educação Básica. TELMA. Telecomunicações do Maranhão. UFMA. Universidade Federal do Maranhão. UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. USIMAR. Usina Siderúrgica do Maranhão.

(11) 11. SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO. 12. 2. O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: CRISES DO CAPITAL E AS INTERVENÇÕES DO ESTADO. 23. 2. 1 Crise atual do capitalismo, reestruturação produtiva e contrarreforma do Estado 31 3. A CONTRARREFORMA DO ESTADO E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL. 3.1 A contrarreforma do Estado e as políticas educacionais nos anos de 1990. 40 41. 3.2 As políticas educacionais no contexto da contrarreforma do Aparelho do Estado brasileiro 58 4. A REFORMA ADMINISTRATIVA E EDUCACIONAL NO ESTADO DO MARANHÃO NOS MARCOS DA REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO. 71. 4.1 A Reforma Administrativa do Estado do Maranhão no contexto da Reforma do Estado brasileiro 72 5. A POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BÁSICA NO PERÍODO DE 1995 A 2002: expressões da política neoliberal. 89. 5.1 O contrato temporário de trabalho e o tele-ensino: estratégias de flexibilização dos direitos trabalhistas ou um mecanismo de universalização do acesso ao ensino? 105 5.2 O Contrato por tempo determinado (Lei nº 6.915/1997): o caráter de excepcionalidade torna-se regra geral. 107. 5.2.1 O Tele-ensino: desregulamentação do trabalho?. 120. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 128. REFERÊNCIAS. 133. APÊNDICES. 137. ANEXOS. 140.

(12) 12. 1 INTRODUÇÃO. Para situar o objeto de pesquisa é necessário considerar o ponto de onde partimos. Portanto, inicialmente consideramos que a compreensão não abstrata da política, do Estado e da sua natureza deve ser a que mais se aproxima do propósito de compreender a política de educação básica do estado do Maranhão, buscando definir a sua natureza no tempo presente como visão que sustenta as especificidades de uma dimensão mais ampla da ação política, por um viés que nos permita a compreensão mais aproximada dos elementos de sua constituição relacionados entre si, e as suas diversas dimensões caracterizadas como expressões do neoliberalismo. O termo política pode ser entendido como campo da atividade humana que se ordena sob um conjunto de meios que permite ao homem regular, administrar, intervir sobre a vida na polis (espaço público) e/ou interagir com a natureza, buscando alcançar fins coletivos e/ou individuais por meio da arte da retórica1, do convencimento, da persuasão. Outro meio é o domínio do homem pelo próprio homem sob o exercício da força, da coerção. Tais mecanismos instituem o poder político (o Estado) a partir da sociedade civil, que é apenas uma das formas de poder humano, uma vez que existem ainda o poder econômico e o ideológico. No poder político (sociedade política) é possível valer-se da força como meio para exercer a vontade de outrem, na intenção de alcançar um fim desejado como também é possível a retórica. Duas dimensões que podem ser consideradas o poder supremo buscando alcançar a vontade geral, coletiva. O Estado, ao longo do tempo possuiu liberdade absoluta, portanto deveria sofrer limitações que o transformassem. Nesse sentido, na versão moderna passa a possuir liberdade relativa e se institui como construtor humano de uma atuação relativizada onde afloram as relações contraditórias que variam de acordo com a natureza que cada Estado adquire. Com a compreensão do que é política no sentido mais original, não podemos nos abster de compreender o que é o Estado na sua concepção moderna, a partir da qual o. 1. Arte da retórica: para que o homem possa exercer o poder é preciso conversar, persuadir, convencer sem o uso da força (Estado Moderno). Assim, este ganha no início um caráter de atuação impessoal com o exercício legítimo da força física (exercer o poder, punir) e também um espaço que abriga uma administração burocrática profissional, ou seja, um todo organizado racionalmente para administrar de forma neutra..

(13) 13. conceito de política adquire novos contornos. Com a instituição do Estado Moderno que, segundo Gruppi (1980), nasce da conformação jurídica liberal, o Estado unitário, dotado de um poder próprio, independente de quaisquer outros poderes, surgiu primeiramente na França, na Inglaterra e na Espanha, no século XV. Assim, do ponto de vista da política, o Estado consiste na dominação do poder político da configuração da sociedade política capaz de atuar sobre os homens ou mesmo sobre o território. Portanto, a política desempenhada pelo Estado, ou seja, pelas instâncias da superestrutura criadas pela sociedade civil não se restringe somente ao espaço público, mas ao espaço privado. A igualdade jurídica é princípio fundamental do Estado liberal. Nesse sentido, para o liberalismo a igualdade política contrasta com a igualdade material. Assim, diante de algumas conceituações, é possível afirmar que a ação do Estado, isto é, a natureza da política que a institui, originalmente deveria ser concebida como um instrumento consciente de intervenção na realidade e criação de um destino nacional. Tal encaminhamento ganha um sentido adequado à conciliação das contradições, como mero instrumento técnico de administração – de aparência neutra, a serviços dos desejos selvagens e bárbaros do capital, que parece ignorar as contradições e os antagonismos entre as classes sociais, escamoteando a sua verdadeira natureza de sociedade dividida em classes e, por isso, que o seu princípio fundamental é da igualdade política desconexo da igualdade material. Essa aparência de atuação universal do Estado mostra-se no dito equilíbrio jurídico de razão ética, mas, contraditoriamente, acaba por não ser capaz de sustentar tal igualdade na sociedade civil cindida em classes, pois há sempre uma correlação entre a posição econômica e a posição política das classes, o que culmina num poder político decisório, resultando, assim, numa distinção concebida na democracia burguesa entre sociedade política e sociedade civil, separando o homem, inclusive, das relações de produção. Partimos do pressuposto de que as mudanças na feição do Estado foram ao longo da História uma transformação necessária à manutenção da sua natureza, adequada à perpetuação da sociedade de classes mantendo relativamente intacta a sua estrutura, quer dizer, reestruturando o modelo de produção capitalista ao longo do processo histórico. Impõem-se as mudanças e adequações que não interferiram na natureza do Estado Moderno, isto é, na estrutura econômica, mas nos ordenamentos e configurações da superestrutura, quer dizer, interferem nas políticas sociais, na sua forma de apresentação e administração. Diante de tal premissa, faz-se necessário analisar o Estado como ser ordenado no sentido de legitimar a concepção ideologicamente elaborada na perspectiva de uma atuação universal que escamoteia a realidade contraditória. Desta forma, termina-se por situá-lo como.

(14) 14. mecanismo de intervenção que contribui para a consolidação da estrutura econômica, política e social capitalista sem antagonismos e contradições inerentes ao próprio sistema, assim como a própria educação passa relativamente a ser um intermediador dessas relações. Após o exposto, ressaltamos que o interesse pela temática proposta neste estudo, ou seja, o de estudar a reforma administrativa do Estado do Maranhão e as expressões do neoliberalismo na política educacional no período de 1995 a 2002 surgiu da minha atuação como professor da rede pública estadual de ensino do Maranhão, desde o ano de 1994, no Centro de Ensino Fundamental e Médio Governador Edison Lobão (CEGEL). No ano seguinte, Roseana Sarney assumiu o governo do Estado, em meio à eleição de Fernando Henrique Cardoso, figurando, nesse contexto, as reformas de ambos os governos, com destaque para a reforma da Educação. Nesse período, o governo do Estado criou os Colegiados Escolares2. Mesmo frente às diversas contradições de concepção e encaminhamento das questões educacionais, esse espaço possibilitou, em alguns casos, discussões interessantes sobre as políticas implantadas pelo governo federal, seguidas em âmbito estadual. O processo de eleição estabelecido no interior da instituição de ensino nos possibilitou ser eleito como representante do Ensino Médio com a maioria expressiva dos votos dos professores deste nível de ensino, nos conferindo uma legitimidade política importante ao debate e as discussões. Essa experiência no Colegiado Escolar me oportunizou estudar os mecanismos de gestão da Educação em nível escolar, desde o financeiro até o pedagógico, possibilitando também o debate externo, junto à Secretaria de Educação. Outra experiência de fundamental importância que me aproximou do tema deste estudo foi a criação, em maio de 1997, do Movimento de Oposição Sindical na Educação Pública do Maranhão (MOSEP). Meu envolvimento com essa organização me fez estabelecer uma série de relações, fornecendo-me múltiplos elementos, tanto para a minha atuação nesse movimento quanto para a minha relação com o meu objeto de estudo, pois isso me fez imergir num conjunto de relações em que o meu fazer político é ao mesmo tempo um aspecto do meu objeto de investigação. Essa minha atuação, portanto, faz parte da minha vida, da minha identidade social.. 2. Estrutura de gestão “democrática”, constituída por representantes eleitos pela comunidade escolar. Espaços de decisão restritos à gestão das políticas já definidas, principalmente, em nível federal. Contudo, capaz de estabelecer debates e encaminhamentos alicerçados ao princípio democrático, quer dizer, sob a luz de uma democracia limitada e vigiada adequada ao discurso ideológico da descentralização da execução e não da elaboração da política, dos projetos e programas educacionais..

(15) 15. O movimento tinha uma característica fundamental – a luta em defesa de uma Educação Básica pública e com qualidade. Vislumbrava, com a sua atuação política, a melhoria das condições de trabalho dos profissionais da educação, possibilitando, dessa forma, nossa presença em fóruns de discussões coletivas com o universo dos demais trabalhadores da educação pública no Maranhão. Visava, com isso, esclarecer os professores sobre as consequências das mudanças conjunturais que ocorriam no Estado, nesse período. Essa vivência cotidiana despertou o meu interesse em investigar a organização e implementação da Política de Educação Pública no Estado, no período de 1995 a 2002 no contexto das reformas neoliberais. Dessa forma, ingressar no Mestrado em Educação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foi uma oportunidade que encontrei para a apropriação e o aprofundamento de elementos que me possibilitassem ampliar meu conhecimento. Além disso, o curso me propiciou a ruptura com o senso comum, mesmo estando organicamente ligado à realidade e às suas singularidades políticas e obviamente à temática educação, haja vista o cenário político em que o governo desse período estava inserido e no qual também estávamos, como trabalhadores da educação. O presente estudo foi desenvolvido a partir da compreensão dos aspectos da crise do capital e da reestruturação produtiva, em nível internacional, nacional e em local da reforma administrativa e educacional alinhada a esse contexto macro. Norteou-se também na reforma do Estado capitalista no Brasil e na consequente reforma educacional em âmbito nacional e, por extensão, na reforma administrativa que ocorreu no Estado do Maranhão. Para este processo de implementação da reforma e modernização foram empreendidas diversas ações que passaram a configurar um novo modelo de gestão das políticas públicas, as quais promoveram mudanças na estrutura administrativa e no modo de encaminhamento, denotando o descentralismo como forma de administração moderna, sendo que tal perspectiva caracterizava o alinhamento às políticas administrativas da esfera federal. Esse novo paradigma de gestão, em vigor a partir de 1995, está em conformidade com o padrão definido nas diretrizes nacionais e internacionais de contrarreforma do aparelho de Estado e de reestruturação do modo de produção capitalista. Essa nova estrutura administrativa é analisada por Silva (2001), como sendo um mecanismo direcionado ao estabelecimento de novas relações administrativas entre as esferas nacional e local. Com esse programa de reestruturação administrativa, o Maranhão se destacou no cenário nacional como um dos estados da federação pioneiros na materialização da modalidade gerencial de administração, caracterizando uma forte inclinação neoliberal. Tal fato se tornou ainda mais evidente no segundo mandato da governadora Roseana Sarney, pois.

(16) 16. nessa segunda fase a reforma administrativa empreendida acompanhou fielmente as recomendações apresentadas pelo MARE e implementadas em todo o país. A partir da compreensão da reforma administrativa do Estado do Maranhão busco encontrar, especificamente, nas singularidades da Política de Educação Básica implementadas no Estado do Maranhão, os elementos do contexto neoliberal, expressões que configuraram um processo político de alinhamento com a macropolítica brasileira, estruturado ao longo do governo FHC e suas consequentes implicações na política de educação básica e nos direitos dos educadores, com a desregulamentação e flexibilização via tele-ensino e contrato temporário. Partimos da compreensão da política educacional como modalidade de política social localizada no bojo do projeto político, social e educacional nacional. Tendo como foco as categorias política neoliberal da minimização e desregulamentação do Estado e sua influência na construção e condução do projeto político e educacional no Estado do Maranhão, relaciono as principais questões norteadoras do presente estudo: como se dão as inter-relações e o movimento do capital entre as esferas internacional, nacional e local? De que forma a política educacional no Estado do Maranhão, no período de 1995 a 2002, esteve em acordo com as políticas de cunho neoliberal? Como a política de Educação Básica pública no Estado do Maranhão se tornou instrumento de concretização das orientações neoliberais? Com base nesses questionamentos, que se concretizam como meu interesse epistemológico, acredito delinear o percurso investigativo pretendido. Para tanto, busco compreender a contrarreforma do Estado e a política educacional brasileira no contexto da crise do capital, analisando a reforma administrativa do Estado do Maranhão, no período de 1995 a 2002, a partir dos determinantes da macropolítica neoliberal. Analiso, também, a implementação da política da Educação Básica pública como instrumento de concretização das orientações neoliberais na esfera local. Nessa perspectiva, considero importantes as falas de algumas personagens que vivenciaram esse período como partícipes diretos dessa conjuntura – tanto os educadores quanto os técnicos da Secretaria de Educação, na época, Gerência Adjunta de Educação (GAE). Falar em crise do Estado significa dizer que a crise econômica pode resultar em crise política, sem anunciar o próprio fim do capitalismo. Essa crise se define como uma crise fiscal, caracterizada pela crescente perda do crédito por parte do Estado e pela poupança pública, que se torna negativa. O esgotamento da estratégia estatizante de intervenção do Estado, de acordo com o Plano Diretor da reforma do aparelho do Estado brasileiro, revestese de várias formas: o Estado do Bem-Estar Social nos países desenvolvidos; a estratégia de.

(17) 17. substituição de importações no terceiro mundo; o estatismo nos países comunistas; e a superação da forma de administrar o Estado, isto é, a superação da administração pública burocrática. Nesse caso, segundo Silva (2001, p. 72), “temos uma crise do conjunto das relações sociais”, isto é, uma crise estrutural, pois vai da dimensão econômica à dimensão política. As categorias norteadoras da reforma do aparelho estatal no Maranhão foram basicamente as mesmas do Plano Diretor que orientou a reforma do aparelho do Estado encaminhada pelo governo federal, visando à desestatização, à desregulamentação, à flexibilização e à privatização dos bens e serviços públicos na gestão pública. Com isso, transferiu-se para o setor público não estatal a responsabilidade pela prestação dos serviços públicos. Além disso, tais reordenamentos foram guiados pelos critérios da “eficiência” e da “racionalidade administrativa”, descritos na própria lei que institui as mudanças administrativas, elementos que destacaremos a seguir. Assim, o destaque que se dá à sintonia existente entre as instâncias transnacional, nacional e regional / local, segundo Silva (2001), permite que se compreenda o modo como as políticas da esfera local garantem a realização dos interesses do capital nos circuitos nacional e transnacional, favorecendo a garantia das vantagens políticas à estrutura de poder local. A implementação da reforma administrativa no Estado do Maranhão, a princípio, incluiu ações realizadas no primeiro mandato de Roseana Sarney, das quais destacamos a pungente necessidade de organização do arcabouço legal, o que levou à aprovação da Lei Estadual nº 6.272, de 6 de fevereiro de 1995, que dispunha sobre a reorganização administrativa do Estado, reorientando a administração direta e indireta, no sentido de alterações na estrutura, na composição, na natureza, nas competências e nas atribuições dos órgãos públicos. Além disso, extinguiu secretarias e autarquias e privatizou empresas públicas como a COPEMA, a USIMAR e a CEASA. Outro dispositivo legal que contribuiu para a concretização da reforma foi o Decreto nº 114.397, de 2 de fevereiro de 1995. Procurei apresentar o todo interligado, mostrar a relação entre as partes e elaborar uma critica do geral para o particular. Nesse sentido, o início deste trabalho confunde-se com o começo da minha vida profissional, durante os anos que se seguiram à minha nomeação como professor da rede pública estadual de ensino, em 1995. Ao longo desse tempo, envolvime na totalidade e fiz escolhas pedagógicas e de caráter político mais transcendente ao espaço escolar. Tal peculiaridade forneceu-me as primeiras razões para me ocupar com a escolha do objeto principal da pesquisa. Dessa forma, faz-se oportuno trazer à cena as afirmações de.

(18) 18. Marx (1983, p.11), contidas na nota da obra Crítica à Economia Política para análise no contexto social: Necessário partir do concreto para atingir o abstrato, uma vez claramente estabelecido os conceitos, regressar ao concreto para enriquecê-lo com toda a complexidade das suas determinações.. Trago a partir dessa vivência as inquietudes que me alimentaram e me moveram na tentativa de entender o cotidiano educacional, social e político, quer dizer, o concreto, intrínseco ao fazer pedagógico. Daí, a passagem pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, em nível de Mestrado, fez-nos dar vazão ao desejo de prosseguir com a competência de realizar, portanto, o objetivo de transformar o concreto em Concreto Pensado, quer dizer, a realidade analisada e reconstruída a partir de uma análise acurada capaz de organizar a compreensão do real, e a partir dessa premissa sentir-me autorizado para fazer juízo sobre as tendências políticas desse tempo, quer dizer, sobre o governo Roseana Sarney, e retornar intumescido por esse manancial de conhecimento que transformou uma visão estrita em uma visão social, política e econômica mais ampla. Para a constituição desse entendimento e dessa análise estabeleci o conjunto do texto em cinco capítulos: 1. Introdução; 2. O modo de produção capitalista: crises do capital e as intervenções do Estado; 2.1 Crise atual do capitalismo, reestruturação produtiva e contrarreforma do Estado; 3. A contrarreforma do Estado e as políticas educacionais no Brasil; 3.1 A contrarreforma do Estado e as políticas educacionais nos anos de 1990; 3.2 As políticas educacionais no contexto da contrarreforma do aparelho do Estado brasileiro; 4. A reforma administrativa e educacional no Estado do Maranhão nos marcos da reforma do Estado brasileiro; 4.1 A Reforma Administrativa do Estado do Maranhão no contexto da reforma do Estado brasileiro; 5. A política pública de educação básica no período de 1995 a 2002: expressões da política neoliberal; 5.1 O contrato temporário de trabalho e o tele-ensino: estratégias de flexibilização dos direitos trabalhistas ou um mecanismo de universalização do acesso ao ensino?; 5.2 O Contrato por tempo determinado (Lei nº 6.915/1997): o caráter de excepcionalidade torna-se regra geral; 5.2.1 O tele-ensino: desregulamentação do trabalho? Espero com isso que essa forma traduza a minha maneira de ver agora a dimensão educacional e as relações com os determinantes econômicos, políticos e sociais em que está mergulhada. Essa visão está alicerçada em um método capaz de explicitar a essência do concreto, libertando o objeto da forma idealista o qual se encontra originalmente exposto na visão oficial da superestrutura, isto é, do governo. Diz Marx (1983) que a “humanidade só.

(19) 19. levanta os problemas que é capaz de resolver” [...]. Assim é que, compreendendo as nossas limitações concretas, pesquisamos o concreto, analisamo-lo e o redefinimos dentro das nossas limitações e das nossas próprias contradições pessoais, elaborando uma síntese. Seguiremos o formato definido anteriormente, na perspectiva de esboçar a melhor compreensão do nosso pensamento dialético no passo do processo de tese, antítese e síntese. Nesse sentido, Damasceno (2010) afirma que, para se conhecer realmente o objeto de uma pesquisa, tem-se que abarcar e estudar seus diferentes aspectos, suas ligações, mediações e contradições, ou seja, suas múltiplas determinações. Deve-se considerar o objeto no seu desenvolvimento, no seu movimento próprio, na sua transformação. Nesse sentido, o método dialético contribui para a integração entre a parte (o fenômeno estudado) e o todo (teorização). É importante que tal perspectiva se alicerce na compreensão de que a parte (educação) deve ser reconhecida como fato sócio-histórico que só adquire significado pleno quando inserido e integrado ao todo (a sociedade nas suas múltiplas determinações política, econômica e cultural), à teorização, passando a dar-lhe coerência, com isso evidenciando suas singularidades (essência) que se mostram desde sua elaboração até a sua implementação. Conforme Kosik (1976), a realidade contém unitariamente o fenômeno e sua essência. Desse modo, apreender um fenômeno significa indagar e descrever a sua essência, como a coisa em si se manifesta naquele fenômeno e como, ao mesmo tempo, nele se esconde. Compreender um fenômeno, portanto, implica buscar a sua essência. Para tanto, deve-se partir de sua manifestação fenomênica, buscando-se apreender o objeto em sua plena concretude – não numa pseudoconcretude, na mera configuração aparente do fenômeno social. Assim, atuar dialeticamente propicia uma compreensão mais aprofundada sobre a realidade, operando com o movimento que vai do todo às partes e destas ao todo, pois um elemento só adquire significado quando inserido no conjunto que lhe dá coerência. Proponho-me, então, a buscar o objeto deste estudo com base na perspectiva delineada acima, pois tal compreensão denota elementos estruturais e pontuais que se interagem e ordenam num movimento entre todo e parte que, numa compreensão dialética, terminam por atuar na reprodução das relações econômica e na manutenção da sociedade capitalista. Logo, as mudanças na concepção de Estado, na economia e nas políticas sociais se refletem na elaboração e na implementação da política educacional também na esfera local. Defino como período da pesquisa o governo Roseana Sarney, nos dois mandatos que exerceu, de 1995 a 1998 e de 1999 a 2002..

(20) 20. Tenho clareza de que era necessário proceder a uma revisão da bibliografia disponível sobre o assunto em pauta, numa perspectiva dialético-crítica, capaz de fundamentar a nossa análise sobre a empiria que se quer estudar. Para tanto, revisitei as produções acadêmicas sobre o assunto em pauta, buscando demonstrar o que outros já disseram e acrescentando o que ainda não foi dito ou explorado pela pesquisa educacional no Maranhão, numa perspectiva crítica e comprometida com o desvelamento das singularidades políticas na dimensão educacional. Portanto, busco elaborar um estudo sustentado por análises alinhadas a essas perspectivas criteriosas, abstraídas da empiria, investigadas e alicerçadas num referencial teórico fundamentado na perspectiva dialética. Para tanto, é necessário utilizar um referencial teórico significativamente abrangente, pois, como afirma Damasceno (2010), isso se faz necessário para dar conta da realidade empírica que pretendo analisar. Este trabalho busca desmitificar, ultrapassar o senso comum, que enxerga a realidade por um viés único, em direção à compreensão da realidade da política educacional maranhense numa dimensão científica macro, como uma totalidade que se insere como parte de outra totalidade. Alicerçado no pensamento dialético, analiso, sob essa perspectiva, a política educacional, considerando que a educação se ordena num campo de forças sociais em contínuo conflito. A educação, portanto, tem que ser estudada como instrumento político, que tanto pode estar a serviço da reprodução social, quanto da transformação. Por sermos parte do cotidiano, não queremos simplesmente mergulhar nele, mas submergir com a atitude de sujeito do conhecimento, transcendendo o olhar cotidiano comum, o que significa ir além do conhecimento utilitarista. Essa perspectiva metodológica, capaz de ir para além do aparente, faz-nos perceber, como conceitua Vásquez (1977), que a pesquisa educacional aqui deverá ser tomada como práxis, isto é, como elemento central do marxismo – guia da transformação, mecanismo capaz de capturar o objeto de conhecimento na sua realidade contraditória, buscando extraí-lo do campo meramente utilitarista. Para isso, é necessário transcender o olhar e o convívio cotidiano com esse objeto, pois a essência do objeto cognoscível não se manifesta de maneira direta, nem tampouco de maneira imediata, tal como se apresenta, na sua aparência. Para o estudo proposto, as análises e o entendimento sobre a macroeconomia e a macropolítica e especificamente sobre a política educacional em nível nacional e local, compreendidos como resultantes do movimento entre esses elementos sociais, buscamos elaborar compreensão dessa integração entre parte e todo. Contudo, em função de limites pessoais, elegi como procedimentos de pesquisa a revisão bibliográfica e documental, assim.

(21) 21. como entrevistas semiestruturadas, com roteiro previamente organizado por meio das incursões nesse rico manancial investigativo, sobre a política educacional do governo Roseana Sarney para tentar analisar as questões levantadas na presente pesquisa. Assim, o objeto de estudo, abstraído do contexto sócio-histórico, foi analisado por meio de pesquisa bibliográfica sistemática, com o objetivo de aprofundar as categorias teóricas centrais – política educacional e neoliberalismo. Foram ainda empreendidas entrevistas semiestruturadas com os sujeitos que vivenciaram essa política tanto do ponto de vista da esfera governamental quanto da perspectiva dos atores que a questionaram. Na pesquisa documental, analiso o conjunto de leis constitucionais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e as Leis Estaduais nº 6.272, nº 7.356 e nº 6.915, bem como os programas e planos de governo, que tratam da Educação Básica pública maranhense. Tais análises se direcionaram no sentido de perceber as relações desses elementos com o conjunto das reformas neoliberais, bem como as contradições entre os objetivos oficiais e suas aplicações práticas no contexto das políticas educacionais maranhenses, no período de 1995 a 2002. A pesquisa de campo foi realizada mediante a aplicação de entrevistas semiestruturadas e envolveu seis sujeitos3 os quais compunham o universo da educação básica desde a administração direta, perpassando por instituição de pesquisa educacional e representantes sindicais que pudessem analisar e emitir opinião precisa sobre os fatos ocorridos no período recortado. O desenvolvimento desta pesquisa ocorreu por meio de uma relação dinâmica entre sujeito e objeto, evitando a adoção de procedimentos rígidos, visto que a obtenção de informações. não. requer. meras. técnicas,. mas. estratégias. investigativas. pensadas. metodologicamente de forma a controlar e assegurar o desvelamento científico do objeto. Tal procedimento exige a necessária vigilância epistemológica apontada por Gonçalves (2008), a qual possibilitará o relacionamento dos determinantes históricos com os fatos singulares, num processo de articulação e interação constante. Isso permite, durante o processo de construção teórica, alterar, retirar e/ou inserir etapas de acordo com a dinamicidade do objeto estudado. Por isso, tais elementos passam a ser fruto tanto da pesquisa bibliográfica e documental e de campo, quanto dos embates constantes entre o sujeito da pesquisa (eu) e o seu objeto. Esse movimento envolve, na sistematização e na análise, a constante interação orgânica com os objetivos pretendidos. Os diversos olhares e o estudo das categorias tanto me 3. Aos sujeitos da pesquisa foi atribuída, respectivamente, uma numeração 1, 2, 3, 4, 5 e 6, como forma de resguardar a identidade de cada um..

(22) 22. fazem avançar e confrontar as minhas próprias contradições (limitações), resultando em dúvidas e certezas, quanto enfrentar as contradições e os antagonismos do próprio objeto epistêmico. Nessas contradições afloram as minhas próprias limitações, mas diante de tal contexto é que as questões levantadas se corporificam, ganhando uma nitidez crescente. Como culminância de todo esse processo, o trabalho dissertativo surge para mim como resultado de uma descoberta, de encontro de um tesouro. Cumprir tal exigência para finalização do curso de mestrado tem sido, antes de tudo, uma mistura de prazer e angústia, certezas e incertezas, verdades cristalizadas e outras que sucumbem ante os rigores científicos. Trata-se, portanto, de um profundo diálogo com determinados autores, alguns corroborando visões minhas, outros provocando veemente rejeição. Com relação aos primeiros, minha reação é de encantamento, pois gostaria de escrever como eles. E assim vem aflorando para mim o objeto, assumindo forma e gosto, numa simbiose capaz de construir conceitos, reafirmando uns e renegando outros, num processo que me faz chegar até este ponto da pesquisa não mais me reconhecendo como o mesmo, mas experimentando uma sensação de renovação – minha e do meu objeto epistêmico. Meu interesse em discutir todos esses assuntos concentra-se no intuito de revelar que as políticas educacionais implementadas na esfera local se ordenam na perspectiva da organização de um projeto político que estabelece e sustenta o poder em nível local. Como nos diz Gonçalves (2008, p. 36), “costuma-se deixar de lado aspectos das práticas de poder que são dispositivos graves para a sujeição do agente social e as demais práticas da vida social, como as práticas e projetos educativos”. Portanto, meu interesse e minha aproximação com a teoria têm me possibilitado desvelar os elementos empíricos encontrados nas relações políticas, principalmente as que estão ordenadas na reforma administrativa do Estado do Maranhão e as expressões do neoliberalismo na política educacional no período de 1995 a 2002. Minha intenção também é poder demonstrar de modo mais sistemático a relação orgânica do fenômeno política educacional nacional e local com a estrutura e natureza do Estado. Embora tal objeto esteja posto, ele nos é desconhecido, estabelecendo uma contradição desafiadora. Apesar desse objeto ser afeto a minha própria sociabilidade, quer dizer, parte de minha atuação política, sua apreensão é complexa e multifacetada. Entretanto, é possível de ser identificado com aplicação do método histórico-dialético que acompanha o movimento histórico do objeto e suas contradições..

(23) 23. Para atender às expectativas acima colocadas, a estrutura do trabalho iniciou-se do diálogo da macroeconomia e da macropolítica para o micro, isto é, encontra-se ordenado a partir de elementos que buscam estabelecer um movimento do capital e das políticas entre o internacional, o nacional e o local, quer dizer, as crises do capital, a reestruturação produtiva e as reformas do estado e da educação no Brasil e no Maranhão..

(24) 24. 2 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: CRISES DO CAPITAL E AS INTERVENÇÕES DO ESTADO. É importante que se conheça, ainda que de forma breve, a história do modo de produção capitalista, o movimento do desenvolvimento de acumulação capitalista, pois somente dessa forma pode-se compreender as inter-relações entre a parte (economia) e o ordenamento do todo (social e político), formando um amálgama a partir da estrutura desde o seu surgimento. Nesse sentido, as análises que Marx empreendeu no tocante à economia política – seu objeto de estudo – deram início às denúncias da organização social europeia no século XIX pari passu com as transformações econômicas capitalistas conformadas ao significativo desenvolvimento econômico e seu avanço sem precedentes, em decorrência do aperfeiçoamento da tecnologia e da ciência, que se estruturavam desde a Revolução Industrial, dando, como disse Marx, um novo alento, criando uma força vivificante que apenas estava no seu início. O advento dessa Revolução fez surgir um novo paradigma socioeconômico, o da produção material capitalista, que se configura, segundo Marx (1989), como a subsunção formal do trabalho ao capital (mais valia relativa) – trabalho abstrato4, criando assim o princípio da dualidade entre trabalho manual e trabalho intelectual, teoria e prática, sujeito e objeto, capital e trabalho, sendo este último estrutura elementar do princípio da contradição e do antagonismo. Significa dizer que o operário só tem valor como instrumento produtivo ou fonte de riqueza ou lucro, e não propriamente como ser humano, separando-se da dimensão de produção para valor de uso. Essa condição passou a ser negada e mutilada na produção capitalista, afirmando-se na produção da dimensão do valor de troca, como um instrumental da produção da mais-valia, do lucro. As novas tecnologias do século XVIII – o capital constante (o tear, a máquina a vapor, etc.), a grande indústria mecanizada, constitui um fenômeno eminentemente social, que culmina com novas formas de exploração do trabalho, ou seja, a mudança da base tecnológica 4. Podemos encontrar no pensamento de Aristóteles (Libro I, p. 980a-993a) um antecedente histórico dessa cisão entre o trabalho e o trabalhador, os que pensam e os que executam, quando este afirma: “Y así afirmamos verdaderamente que los directores de obras, cualquiera que sea el trabajo de que se trate, tienen más derecho a nuestro respeto que los simples operarios; tienen más conocimiento y son más sabios, porque saben las causas de lo que se hace; mientras que los operarios se parecen a esos seres inanimados que obran, pero sin conciencia de su acción, como el fuego, por ejemplo, que quema sin saberlo. En los seres inanimados una naturaleza particular es la que produce cada una de estas acciones; en los operarios es el hábito. La superioridad de los jefes sobre los operarios no se debe a su habilidad práctica, sino al hecho de poseer la teoría y conocer las causas”. Cf. ARISTÓTELES. Metafísica. Madrid: Medina y Navarro Editores, 2003..

(25) 25. é integralmente configurada pelo modo de produção dominante. Coggiola (2009) considera que a primeira revolução tecnológica coincidiu com a Revolução Industrial, começando no século XVIII e concluindo esse primeiro ciclo em 1847 de modo que, pela primeira vez, o trabalho abstrato ganha uma realidade tecnicamente concreta. Por isso, o capital constante (máquinas ou capital não humano) e a exploração do capital variável (força de trabalho ou capital humano) tornam-se forças produtivas, estruturadas contraditoriamente, gerando a mais-valia, o trabalho como dimensão de valor de troca, e potencializando o ciclo reprodutivo, objetivo máximo e incondicional do sistema de produção capitalista. Assim sendo, o trabalhador tem como única propriedade a sua força de trabalho, que também se expressa como valor de troca. Enquanto isso, o proprietário dos meios de produção – o capitalista - busca a acumulação do capital ou a extração da mais-valia, explorando a força de trabalho, determinando sua alienação e sua expropriação. Trata-se, portanto, de uma relação alienante, fetichizada entre sujeito e objeto (mercadoria). Dessa forma, como afirma Marx (1989), a força de trabalho se torna mercadoria, ainda que especial, cuja finalidade é criar mercadorias e valorizar o capital. Converte-se em meio, e não em necessidade primária de realização humana com valor de uso; transforma-se em desrealização humana, na qual o trabalhador frequente e contraditoriamente não se satisfaz através do trabalho, mas se degrada a partir dele. No que tange à transformação dos meios de produção, vale pontuar que, segundo essa visão marxista, a revolução tecnológica deriva das leis de funcionamento do capitalismo em cada uma de suas etapas históricas. É isso que se necessita enfatizar para se compreender o conjunto dos determinantes históricos que influenciarão os elementos da superestrutura. Assim, cada fase do capitalismo vai requerer um sistema formal de apropriação do conhecimento, a educação vai ser concebida em consonância com as destrezas, habilidades e capacidades necessárias ao impulsionamento das forças produtivas, na tentativa de potencializar a produção e a consequente geração de mais-valia, traduzindo-se em conhecimento imediato, utilitarista e devendo ser entendida como produto das relações sociais. O período de 1880 a 1913 é considerado a primeira fase longa de desenvolvimento do capital. Mas já a partir de 1873 ocorre o primeiro grande fator que vai impulsionar a transformação do sistema capitalista, passando de uma fase concorrencial a uma fase monopolista, gerado pela primeira grande crise do capital na era moderna5 e o segundo 5. Segundo Coggiola (2009), o primeiro instante importante para a determinação teórica dos componentes das crises, especificamente capitalista, veio com a Revolução Industrial (1750) que, com seus aspectos originais,.

(26) 26. elemento importante desse processo de desenvolvimento das forças produtivas – está caracterizado como a segunda Revolução Industrial no final do século XIX com o advento da eletricidade e do motor à combustão, que muda a base tecnológica, quer dizer, a fonte energética, superando a combustão advinda do carvão para o motor a explosão e a eletricidade. A grande crise de dimensão comercial e industrial é a de 1847, o que caracteriza essencialmente um fenômeno ligado à natureza intrínseca do sistema econômico capitalista e que, portanto, não é mero acaso ou fenômeno isolado. Contraditoriamente, serve como motor para o reordenamento do padrão de acumulação, culminando com o surgimento de um novo método de organização do trabalho ou de reprodução do capital, tendo como consequência do elemento fundamental do modo de produção capitalista a queda da taxa de lucro, que surge como o primeiro elemento teoricamente causador das crises modernas. As crises que se seguem após o ciclo de prosperidade de 1848 ganham dimensão mundial e se transformam em crises de superprodução, um processo orgânico do sistema de livre comércio. A segunda revolução tecnológica, que emerge em 1890 e decai em 1940, assentase no uso industrial da eletricidade, após a invenção de pilhas, baterias e dínamos, potencializando o processo de produção. É fundamental, nessa segunda revolução, o aparecimento, primeiramente, do motor a explosão (1860) e, em seguida, do motor a combustão interna (1895), tecnologias essas que constituíram a base do automóvel. Destacase a substituição do ferro pelo aço, com as invenções de Bessemer (1856) e Siemens Martin. Também foi importante o desenvolvimento alemão de uma nova química (método Solvay para a produção de alcaloides e síntese de compostos orgânicos) e a difusão de novos produtos de uso geral, como as máquinas de costura e escrever, a bicicleta e o automóvel (COGGIOLA, 1995). Todas essas mudanças caracterizam uma nova fase do capital. Tais fatos abriram o novo século. Assim, o processo de reestruturação produtiva passou, no início do século XX, por um reordenamento necessário ao impulsionamento da concorrência através de um novo ciclo produtivo, o qual é denominado processo de produção Taylorista/Fordista ou americanismo, uma forma de organização do trabalho também nomeada de visão pragmatista da produção capitalista. É por meio dessa raiz epistemológica, ou seja , mudança da base tecnológica que permeia a inovação com máquinas que aceleram mais uma vez o ritmo dos postos de trabalho que se alteram as proporções de trabalho abstrato introduziu alterações no capitalismo, tornando-o, de certa forma, inédito e imprevisto – as crises de superprodução (excesso de mercadorias industriais), para as quais as teorias clássicas não tinham respostas plausíveis, pois essa é uma nova modalidade de crise, quer dizer, até então tinha ocorrido apenas as crises agrícolas de subprodução (1845-1846), de caráter localizado..

(27) 27. contido nas mercadorias e a própria intensificação da produção. Todas as mudanças, principalmente no setor patronal do processo de trabalho, passam da expropriação dos conhecimentos artesanais à universalização do Taylorismo, à produção em massa, o que termina por reduzir ainda mais a autonomia dos trabalhadores, submetendo-os a uma vigilância e a um controle permanente na execução da exigência de rendimento na esteira da produção. Essa nova fase de desenvolvimento do regime de acumulação capitalista, denominada de padrão taylorista/fordista de organização do processo de trabalho, foi mais uma vez seguida de novas exigências: trabalho parcelizado, rotinizado e padronizado; novos conhecimentos e um novo perfil de trabalhador. É que a produção em massa requeria não só a padronização das máquinas, mas também a dos produtos, bem como o controle permanente dos trabalhadores e dos processos de fabricação em série, de maneira a atender a um mercado cuja demanda não parava de crescer, impondo um processo frenético e contínuo para acelerar a circulação do capital e, por conseguinte, a potencialização da produção e da geração do lucro. As características já delineadas do Taylorismo se aliaram ao Fordismo, configurando um novo momento do capitalismo, o qual, de acordo com Teixeira (1998) apud Aglietta (1998, p.55), configurou (...) um novo estágio de regulação do capitalismo: o do regime de acumulação intensiva, em que a classe capitalista intenta administrar a reprodução global da força de trabalho assalariada através de relações mercantis, sob as quais os trabalhadores assalariados adquirem seus meios de consumo.. O Fordismo/Taylorismo, segundo este autor, é um princípio de articulação do processo de produção com o modo de consumo, instaurando a produção em massa, que se torna a chave da universalização do trabalho assalariado. Assim, no regime fordista o operário é transformado num agente social e político integrado nessa sociedade contemporânea para a produção. Nesse processo, a educação passou necessariamente a se alicerçar numa concepção pragmatista/racionalista adequada à perspectiva produtiva da racionalização do tempo, da técnica e da produção em série, visando a uma maior eficácia e a uma maior eficiência produtiva. Configurou-se, assim, uma forma intensiva de acumulação gerada por consequência do maior valor de troca e a menor capacidade do trabalhador se apropriar da condição de compreensão desse processo de negação do próprio ser humano. Nesse processo produtivo, a especialização fragmentava o trabalho numa enormidade de operações.

(28) 28. singulares, por conseguinte, qualquer autonomia do trabalhador. Como afirmam Teixeira e Oliveira (1998), essa especialização excessiva exigia, por outro viés, uma sincronização espacial e temporal das várias operações realizadas pelo trabalhador especializado. Por isso, se o conhecimento formal não cumprisse a função utilitarista/pragmática alinhada necessariamente ao modelo de produção hegemônico, isto é, a função de âncora do desenvolvimento econômico, bem como da conservação das relações dominantes, o seu controle por parte do Estado e da iniciativa privada, durante todo o desenvolvimento da economia de mercado e de seu reordenamento, traduzidas nas reformas educacionais, não ocorreria precisamente no rastro das reformas econômico-sociais conjunturais. A partir de 1929 ocorre a segunda grande crise do capital da era moderna, denominada de a Grande Depressão, quando novamente a economia dos países do capitalismo central (Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, etc.) entra em colapso. Esse momento se configura como um segundo choque econômico. A Revolução Russa de 19176 é um importante fato demarcador da crise capitalista de grande envergadura tanto na área política como econômica. A crise aguda na sociedade capitalista, como forma desenvolvida e qualitativamente diferenciada da sociedade mercantil, consiste na recomposição violenta da unidade entre os processos de trabalho e valorização da mercadoria, ou entre a produção e a mais-valia, separadas contraditoriamente e reunificadas pela própria lei de movimento econômico do capital – a lei do mercado, a utopia liberal da livre concorrência. Além do pósguerra, as contradições para a retomada da curva ascendente da acumulação, da maior taxa de lucro foram estabelecidas e a economia capitalista iniciou um novo ciclo expansivo de reprodução ampliada do capital. Nesse momento, o Estado passa a desempenhar novo papel, adquirindo uma nova forma, que deu surgimento à regulação estatal7 na economia com vistas a garantir a sua natureza determinada no regime de produção capitalista. A crise de 1929 questionou e rompeu com o liberalismo ortodoxo, segundo o qual as forças do mercado seriam capazes de corrigir as suas próprias contradições. É nesse instante que toda a estrutura política e econômica dos países do capitalismo central se reúne, no sentido de prover as mudanças e adaptações necessárias à recomposição do capital. Ela emerge primeiramente nos Estados Unidos da América (EUA), culminando com a quebra da 6. É indispensável ler a análise feita por Emir Sader sobre o assunto. In: SADER, Emir. As aventuras do tema do desenvolvimento no marxismo. Revista Tempo do Mundo, RTM, v. 1, n. 1, dez. 2009, p. 121-135. 7 Conjuntura estatal: é a forma pela qual o Estado se expressa, situado no tempo e no espaço, adquirindo traços específicos (forma-Estado). Nesse sentido, o Estado é uma realidade social que sofre variações e adaptações temporais e espaciais, daí o Estado é efeito e não causa das crises. (Bezerra Farias, 2000)..

(29) 29. Bolsa de Nova Iorque, caracterizando-se como crise da superprodução, o que significa que a concorrência pela inovação gera uma massa de bens superior à capacidade de consumo dos mercados. Assim, a mão invisível do mercado não era suficiente para reverter tal processo de destruição das forças produtivas, contradizendo o próprio arcabouço teórico clássico liberal. Foi necessária uma política intervencionista (regulacionista) do Estado para a superação da crise dos anos de 1930. Esse intervencionismo, defendido pelo suporte teórico de Keynes8, preconizava o fim da liberdade absoluta do mercado, passando a exigir a união entre capital e trabalho, a garantia do pleno emprego, a contenção da busca desenfreada do capital pelo lucro e a promoção do equilíbrio social, elevando a própria natureza do Estado. No plano mundial, é fato que o Keynesianismo influenciou o plano de recuperação das economias, principalmente a estadunidense pelo viés socializante do capital. Essa nova concepção econômica foi implantada no governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt como política de combate à situação econômica caótica, denominada de New Deal (nova ordem econômica), que consistia em o Estado assumir a função de provedor-regulador da reestruturação econômica e da recomposição produtiva, através de legislação aprovada pelo Congresso americano. Dentre os principais dispositivos legais de que lançou mão o governo estadunidense de então, incluem-se o Emergency Banking Act (Lei de Emergência Bancária), decretada assim que Roosevelt tomou posse, criando novas agências governamentais, tais como a Work Progress Administration ( Administração para o Progresso do Trabalho) e a National Recovery Administration (Administração para a Recuperação Nacional) que visava à criação de novos empregos para os quinze milhões de estadunidenses desempregados que o presidente herdara de seu antecessor, Herbert Hoover. Outras leis criaram uma rede de assistência direta para os indivíduos, como a Social Security Act (Lei de Seguridade Social). Essa nova perspectiva político-econômica e o novo formato estatal também influenciaram o processo de nacionalização em vários países da Europa, de que são exemplos a seguridade social na França, o Welfare State (Estado de Bem-Estar) na Inglaterra e outras ações intervencionista-regulacionistas em diferentes países. Isso significa que o Estado se. 8. É por isso que a escola neoclássica ou ortodoxa de 1870 a 1929, que dominou a teoria econômica ocidental, foi perdendo espaço para o pensamento heterodoxo de John Maynard Keynes (1883-1946) ou Keynesianismo, que defendia a intervenção estatal com vista a reativar a produção, que, na verdade, se configurara como a reforma do Estado capitalista, apresentando-se como uma alternativa à revolução russa e à própria crise, tornando-se o pensamento hegemônico no pós-Segunda Guerra Mundial. Naquele momento, o processo de produção taylorista/fordista entra numa segunda fase de ouro de crescimento – os trinta anos gloriosos – começando a partir da reconstrução da Segunda Guerra Mundial e terminando entre 1974 e 1979..

(30) 30. reconfigurou contra os efeitos da tendência à queda da taxa de lucro, assumindo a tarefa de regular a economia. Surge, assim, um novo formato de Estado, que assume um papel decisivo na promoção do desenvolvimento econômico e social favorável às necessidades do grande capital. A partir desse momento, o Estado passa a desempenhar um papel estratégico na coordenação da economia capitalista, promovendo poupança forçada, alavancando o desenvolvimento econômico, corrigindo as distorções do mercado e garantindo uma distribuição de renda mais igualitária. Assim, nessa fase o mundo passou de um período de crise aguda para outro de prosperidade sem precedentes. Keynes se preocupava com saídas democráticas da crise, no que se afastava desse último projeto antes da crise. Assim, o advento dessa conjuntura, que culminou no acordo entre capital e trabalho denominado de Welfare State ou Keynesianismo, o qual elaborou os fundamentos teóricos e ideológicos para uma nova fase do capitalismo, com um novo processo de produção que terminava por fazer novas exigências ao homem e, consequentemente, gerava a necessidade de adaptação às novas perspectivas do trabalho, conferindo ao Estado um novo formato situado nesse tempo de crise. Nessa forma-Estado surgida durante os trinta anos gloriosos9, o regime de acumulação fordista gerou na sociedade um espaço de consumo jamais visto, permitindo que o capitalismo resolvesse seus próprios problemas (retomando o viés de alta, isto é, da taxa de lucro) e as suas próprias crises imanentes. Como nos apontam Teixeira e Oliveira (1998), esse padrão de acumulação do capital se fundamentou num crescimento relativamente equilibrado, acomodando as relações contraditórias entre capital e trabalho. Passada essa fase longa de alta do regime intensivo de acumulação, no entanto, esse ciclo de desenvolvimento culminou com uma nova crise nos primeiros anos da década de 1970, a qual se intensificou nos anos de 1980. Esse processo constituiu a primeira crise do sistema do capital na era contemporânea, desencadeando uma reestruturação que vai do campo político e social ao âmbito econômico. Nesse momento, a conjuntura econômica força o retorno do cabedal teórico clássico, ou seja, as orientações econômicas que apontam a regulação feita pelo próprio mercado – o liberalismo, repaginado como neoliberalismo que passa a embasar as críticas à forma que o Estado adquiriu nos trinta anos gloriosos. Essa forma, denominada regulacionista, constituiu um novo ciclo de crise do capital, que deveria ser repensado, deixando aflorar sua natureza orgânica caracterizada na 9. Esses trinta anos correspondem ao tempo em que vigorou a intervenção incisiva do Estado na economia, fundamentalmente nos países do capitalismo central..

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