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A Contribuição Gramsciana para Compreender as Relações entre Estado e

CAPÍTULO 1 FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL E HEGEMONIA

1.3 A Contribuição Gramsciana para Compreender as Relações entre Estado e

Para compreender como ocorrem as relações e articulações entre Estado e sociedade civil e em que instâncias ocorrem a prevalência, a manutenção de determinada hegemonia sobre o modo de ocupação, apropriação e uso dos recursos ambientais do território da bacia do Araranguá, busca-se aqui as abordagens de Antônio Gramsci sobre Estado Ampliado, Sociedade civil e Hegemonia.

Antes, porém, de abordar essas categorias gramscianas, busca-se em Bobbio (1999); Bobbio (2003) uma descrição das diferentes concepções de outros autores sobre as categorias Estado e sociedade civil na análise por ele empreendida em duas fontes principais: a história das instituições políticas e a história das doutrinas políticas.

Ao estudar o desenvolvimento histórico e teórico dos conceitos de Estado e sociedade civil, Bobbio, tipifica as diferentes concepções em: a) os jusnaturalistas (Hobbes, Rousseau, Locke, Kant), que não opõem Estado/sociedade civil, mas estado de natureza (sociedade natural) ao estado civil (sociedade política ou civil), identificam a sociedade civil com o "estado não-natural", com a "sociedade política", com o Estado; b) Hegel, que

caracteriza o Estado como conservação e superação da sociedade civil em que esse modelo conforma um sistema não divisível em vários setores autônomos, ou seja, há uma clara visão de totalidade; c) Marx e Engels que não mais opõem categorias pré e pós-estatais (natural e civil), mas contrastam sociedade civil/Estado, ou estrutura/superestrutura. Em discordância com Hobbes e Rousseau, este Estado não seria a eliminação do tenso estado de natureza e a instauração da paz, mas a substituição da "guerra de todos contra todos" pela luta de classes. Contrapõem-se a Locke e Kant e também a Hegel, pois o Estado não é apenas a superação da sociedade civil, mas é um reflexo, uma conseqüência, um produto dela. Sociedade civil e a estrutura econômica são, para Marx, a mesma coisa; e o Estado, parte da superestrutura, é um resultado da sociedade civil e não uma esfera independente e com racionalidade própria.

Sobre as concepções de Antônio Gramsci e a compreensão das categorias e conceitos por ele elaborados, Semeraro (2006) considera que primeiro é importante considerar o contexto histórico em que são elaborados. O autor recorda que Gramsci teve uma existência relativamente curta (1891-1937), mas viveu intensamente eventos históricos importantes que marcaram os rumos da humanidade: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, os levantes operários na Europa, a formação de grandes partidos políticos, a consolidação de regimes totalitários, a depressão econômica de 1929 e a afirmação dos Estados Unidos como potência hegemônica mundial. A essas transformações Gramsci esteve atento ao identificar, naquele cenário, a exemplo de outros pensadores da época, que uma das maiores contradições dos tempos modernos derivava do crescimento vertiginoso da riqueza que não produzia a prosperidade, mas a pobreza e a "plebe” (aspas no original). Diante desse fato, a solução, para ele, deveria ser encontrada na constituição de um "Estado ético" (aspas no original) capaz de ultrapassar os conflitos da sociedade civil e garantir o funcionamento do todo.

Semeraro (2006) aponta que naquele período, por toda parte, se pensava que a saída para a grave crise histórica iria surgir da afirmação de um Estado liberal forte, dos métodos da "guerra de movimento" ou da integração das massas nas velhas formas políticas, e assinala que Gramsci, ao rejeitar as soluções do fascismo e ao criticar as tendências à centralização do poder, sustentava que uma nova civilização só poderia vir à luz pelo ingresso na história das massas livres e democraticamente organizadas.

Com tal percepção, Gramsci desenvolve a teoria do Estado Ampliado, partindo de uma leitura política das teorias marxistas que permite compreender a complexidade das relações observadas entre o Estado e a Sociedade Civil. Na avaliação de Montaño (2002),

Gramsci, contrariamente às concepções marxistas, entende que a sociedade civil pertence ao momento da superestrutura e não ao da estrutura, ao retirá-la da estrutura econômica (como aparece em Hegel e Marx) e integrá-la à superestrutura, determinando que a sociedade civil já não é, como em Marx, o momento das relações econômicas, mas das relações ideoculturais e políticas.

Para Gramsci (1968), o “Estado Moderno” (grifos no original) não pode ser entendido como um sistema restrito à sociedade política com base burocrática e coercitiva, com dimensões limitadas ao uso de instrumentos coercitivos por entidades de governo, mas deve considerar também a multiplicidade e dinamicidade dos organismos presentes na sociedade civil, onde é possível a ação e livre iniciativa dos cidadãos e cidadãs, com base nos seus interesses, nas suas organizações e instituições, na sua cultura e valores e onde se estabelecem as bases do consenso e da hegemonia, com as funções de domínio e coerção sendo suplantadas pelas de hegemonia e consenso, onde a sociedade política é subordinada pela sociedade civil.

Simionatto (1998) contribui na compreensão desse processo ao explicar que Gramsci propõe uma revisão do conceito marxista de Estado. Se em Marx o Estado detinha a exclusividade da coerção e da violência, em Gramsci isso será subdividido em duas esferas, em nível da superestrutura ideológica: a “sociedade política” na qual se concentra o poder repressivo da classe dirigente através da elaboração e do uso de normas e regulações (poder executivo, poder legislativo e poder judiciário); e a “sociedade civil” constituída pelas associações privadas (igrejas, escolas, sindicatos, partidos políticos, clubes de serviço, movimentos sociais, meios de comunicação etc.), nas quais circulam as ideologias que funcionam como cimento da formação social, e por meio das quais a classe hegemônica procura impor à classe não-hegemônica a sua concepção de mundo

Em sua abordagem sobre as idéias de Gramsci, Simionatto (2004) parte do princípio de que o autor percebe a crescente socialização da política e a conseqüente ampliação do Estado22, a partir do momento em que emerge a esfera da sociedade civil não

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Para Gramsci, "o Estado não é apenas a sociedade política, mas a combinação sociedade civil-sociedade política”. Entende-se, assim, que Estado não se reduz à função repressora, mas estende seu alcance também às esferas sociais onde a função ideológica é predominante nos denominados aparelhos ideológicos de Estado, aqui entendidos como as diversas instituições da sociedade civil, sejam elas públicas ou privadas (PORTELLI, 1977, p. 64).

apenas como um espaço de iniciativas econômicas, como em Marx, mas também de manifestação das forças ideológicas e culturais. Para a autora, em Gramsci a idéia de política não é mais o sinônimo da força, mas o momento da hegemonia, da socialização de poderes, da possível direção intelectual e moral na construção de consenso dentro da sociedade civil.

Cabe esclarecer que a superestrutura em Gramsci não se esgota na sociedade civil, mas é igual à sociedade política mais a sociedade civil, ou hegemonia reforçada pela coerção. Nessa concepção, é a sociedade política que desenvolve as funções de ditadura, coerção e dominação, por meio dos aparelhos coercitivos e repressivos, enquanto a sociedade civil tem as funções de hegemonia, consenso e direção, mediante os aparelhos privados de hegemonia. Para Gramsci (1968), a sociedade política e sociedade civil formam um "par conceitual" que marca uma "unidade na diversidade" (aspas no original) e embora o autor insista na diversidade estrutural e funcional das duas esferas, não nega o seu momento unitário.

Semeraro (2006) explica que em Gramsci sociedade civil e sociedade política, apesar de duas esferas distintas e relativamente autônomas, são inseparáveis na prática: a primeira, composta de organismos privados e voluntários, indica a "direção", enquanto a segunda, estruturada sobre aparelhos públicos, se caracteriza mais pelo exercício do "domínio". Nesse sentido, a autora ressalta a importância de considerar que o Estado moderno não pode mais ser entendido como um sistema burocrático-coercitivo. As suas dimensões não podem limitar-se aos instrumentos exteriores de governo, mas abarcam também a multiplicidade dos organismos da sociedade civil onde se manifesta a livre iniciativa dos cidadãos, seus interesses, suas organizações, sua cultura e valores, e onde, praticamente, se estabelecem as bases do consenso e da hegemonia.

A reflexão gramsciana sobre o social e o político evidencia que essas duas esferas não são tratadas desvinculadamente do fator econômico, ou seja, da relação entre infra- estrutura e superestrutura. Na interpretação de Simionatto (2004), essa questão é o que confere originalidade ao pensamento gramsciano: estabelece um novo nexo entre economia e política, entre sociedade civil e sociedade política. Nessa concepção, as esferas da estrutura e da superestrutura não são independentes, pois estrutura e superestrutura se relacionam histórica e dialeticamente.

Ao buscar compreender o relacionamento entre a estrutura econômica e superestrutura ideológica, Gramsci (1976) estabelece uma distinção metodológica entre os

dois momentos que juntos caracterizam a dialética do Estado: em nível de superestrutura ideológica tem-se o momento da “coerção” – presente na instância “sociedade política” e o momento do “consenso” – presente na instância “sociedade civil” que têm o papel de discutir e manter a hegemonia23, o domínio ideológico do grupo que domina o bloco histórico em dado momento, liderando a articulação das diferentes classes ou categorias de agentes sociais ali existentes.

Na instância sociedade civil a hegemonia é assegurada por meio da difusão de idéias, comportamentos, argumentos, informação e valores do grupo ou classe que mantém o domínio no bloco histórico. Para melhor compreensão desse conceito, Portelli (1977, 15) propõe defini-lo considerando-o sob três aspectos: a) o estudo das relações entre a estrutura econômica e a superestrutura (base ideológica da sociedade) que deve ser feito sem dar primazia para um nem para outro elemento desse bloco; b) deve ser igualmente entendido como ponto de partida de uma análise da maneira como determinada ideologia24 integra um sistema social. A compreensão desse processo se dá em função de que um sistema social só é integrado quando se edifica um sistema hegemônico, dirigido por uma classe fundamental que confia a gestão aos intelectuais orgânicos: realiza-se aí o bloco histórico; c) é no quadro da análise do bloco histórico que Gramsci estuda como se desagrega a hegemonia da classe dominante e edifica-se um novo sistema hegemônico.

Os meios para difusão da hegemonia, os chamados aparelhos ideológicos de hegemonia é que se encarregam de decodificar, de transformar os valores da classe hegemônica em normas sociais. Para Portelli (1984), o próprio Gramsci alertou para a importância de se considerar os meios de difusão da ideologia, denominados “materiais ideológicos” quando, ao estudar a Igreja enquanto “bloco de poder”, enfatizou a importância das publicações católicas para a construção de sua hegemonia.

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A concepção de hegemonia em Gramsci é interpretada por Ivete Simionatto como a afirmação de uma capacidade superior de interpretação da história e de solução dos problemas que entende ocorrer no âmbito da sociedade civil, com primazia sobre a sociedade política. Tem a conotação de direção que é exercida no campo da cultura e das idéias, manifestando a capacidade de conquistar o consenso e de formar uma base social (SIMIONATTO, 2004, p. 44).

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Gramsci (1986, p. 16) se refere às idéias hegemônicas que circulam na sociedade e que legitimam um conjunto de valores, os quais, em última instância, refletem as divisões e as lutas sociais e as relações de força da sociedade. É o que mantém coeso o bloco histórico, que permite manter – unidas - classes sociais diferentes e com interesses até opostos, antagônicos. A ideologia é o grande cimento de todo bloco histórico - faz parte de sua edificação (GRUPPI, 1985).

Na interpretação de Simionatto (1998), constituir-se como classe hegemônica significa, sempre segundo a concepção gramsciana, tornar-se protagonista das reivindicações de outros estratos sociais de modo a uni-los em torno de si, realizando com eles uma aliança. Nesse caso, a hegemonia de determinado grupo se perpetua na sociedade através de atividades e iniciativas dessa ampla rede de organizações culturais, movimentos políticos e instituições que difundem sua concepção de mundo e seus valores na sociedade.

Outra abordagem também esclarecedora desse conceito faz Semeraro (2000), ao reconhecer que a nova concepção de hegemonia se alimenta de uma contínua relação de reciprocidade e de conflito que os mais diversos grupos estabelecem democrática e pedagogicamente na sociedade civil, visando ao autogoverno e minando qualquer monopólio do poder, seja ele econômico, político ou militar, qualquer sistema heterônomo, coercitivo e demagógico, considerando que toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica. Em tal ação, não se trata apenas de conquistar o poder, mas de superar a visão de política como esfera separada, estranha, acima do sujeito e das relações sociais. É nesse momento, portanto, que os intelectuais orgânicos25, considerados como agentes sociais do aparelho de hegemonia, exercem seu papel nesse processo. Constituem-se numa camada social que se distingue por exercer “funções de organização no sentido amplo: seja no domínio da produção, da cultura ou da organização pública”. Assegura, conforme Gramsci (1968, p. 3), ao grupo social ao qual se acha organicamente vinculado, através desse exercício, “homogeneidade e consciência de sua própria função”, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político. Ao se caracterizarem como uma camada social diferenciada, ligada à estrutura e encarregada de elaborar e gerir a superestrutura, esses agentes sociais darão, à classe que representam, homogeneidade e direção do bloco histórico, caracterizando o caráter dialético da relação orgânica entre estrutura e superestrutura, não existindo primazia superestrutural sobre o estrutural.

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Na concepção gramsciana todos os homens são intelectuais, mas nem todos desempenham na sociedade a

função de intelectuais (Simionatto (2004). Referenciado pela autora, Gramsci identifica que “cada grupo social,

nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político”. Para Simionatto (op. cit., p. 59), “isso significa que o intelectual orgânico não se considera como aquele que se justapõe a uma classe, a classe é que cria os seus intelectuais, isto é, esses grupos, essas instituições vivem situações, se defrontam com realidades que exigem o desempenho de atividades intelectuais”.

De modo mais específico, Ivete Simionatto complementa essa abordagem, esclarecendo que:

além de organizadores da função econômica, os intelectuais também são portadores da hegemonia que a classe dominante exerce na sociedade civil, seja através das diferentes organizações culturais (escola, igreja, cinema, rádio, TV, imprensa de maneira geral), bem como através dos partidos políticos, que exercem a função de assegurar o consenso das classes dominadas de acordo com os valores da burguesia. Eles são também os organizadores da coerção que a classe dominante exerce sobre as outras classes sociais, através do aparato administrativo, político, judicial e militar (SIMIONATTO, 2004, p. 60-61).

Portanto, como agente social, o intelectual se insere na idéia de ampliação da classe que representa e à qual está vinculado, e isso se dá em função das necessidades políticas do grupo hegemônico. Esse projeto de expansão se dá através dos aparelhos ideológicos – aparelhos de hegemonia, já abordados. Esses, os agentes sociais e os aparelhos de dominação é que são utilizados para o grupo hegemônico fazer valer sua concepção de mundo na sociedade civil.

Considerando os objetivos desta investigação, interessa-nos, com base na abordagem gramsciana, identificar e compreender como se estabelecem as relações e articulações entre a estrutura (econômica) e a superestrutura (ideológica) da sociedade da bacia do Araranguá e mais especificamente as relações entre a sociedade civil e a sociedade política que formam a totalidade social, onde, entende-se, se dá a manutenção e/ou prevalência de determinada hegemonia sobre os princípios que determinam o modo de ocupação do território, apropriação e uso dos recursos ambientais e da água.

Como mostra o Quadro 2, na superestrutura ideológica, mais especificamente na sociedade civil, são vários os aparelhos ideológicos, doravante denominados instituições, que atuam na bacia do Araranguá: escolas, universidades, igrejas, partidos políticos, sindicatos, associações, movimentos sociais e outros. No caso da difusão hegemônica da atividade de mineração, só para citar alguns, identificam-se: o SIECESC (Sindicato das Indústrias Extrativas de Carvão do Estado de Santa Catarina) e a escola SATC (Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina) que buscam em suas atividades divulgar, organizar e defender a atividade extrativa de carvão em Santa Catarina. No caso do arroz, citam-se as associações e cooperativas de irrigantes, sindicatos rurais, indústrias e cooperativas de processamento e comercialização do arroz e revendedores de insumos. O comitê da bacia do Araranguá, apesar de na sua formação participarem representantes da

sociedade política (governo federal, estadual e municipal), na perspectiva desta investigação, está situado no âmbito da sociedade civil devido a prevalência, em sua composição, de membros e instituições que representam os usuários da água (dos setores de irrigação, abastecimento humano, energia elétrica, pesca, lazer, indústria, entre outros) e sociedade civil (ONGs, associações, entidades de classe, universidade, entre outros) na proporção de 20%, 40% e 40%, respectivamente.

Na sociedade política destacam-se as instituições mais diretamente envolvidas nos conflitos socioambientais na bacia do Araranguá que se utilizam da coerção, que se caracteriza pela aplicação da legislação e de instrumentos de gestão para a regulação ambiental das atividades econômicas: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Fundação do Meio Ambiente (FATMA), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Ministério Público Estadual e Federal, Poder Judiciário, Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (CPPA) e governos municipais, estadual e federal.

Quadro 2 - Representação da noção de Estado Ampliado na bacia do Araranguá SUPERESTRUTURA (IDEOLÓGICA)

Sociedade Civil – Hegemonia (Composição)

 Associações e Cooperativas de irrigantes

 ONGs ambientalistas  Movimento pela Vida  Associação de Agricultores  Comitê de bacia

 SIECESC, SATC  Igreja

 Instituições de ensino (UNESC)

Sociedade Política – Coerção (Composição)

 Poder Executivo:

- Municipal, Estadual e Federal - DNPM, FATMA e EPAGRI - Associações de Municípios - Ministério Público  Poder Judiciário: - CPPA  Poder Legislativo:

- Municipal, Estadual e Federal

Donos dos Meios de Produção

 Mineradoras de carvão  Tractebel

 Empresas de revenda de produtos agroquímicos

 Indústrias de processamento do arroz  Grandes produtores de arroz

Força de Trabalho

 Pequenos produtores de arroz  Agricultores familiares

 Agricultores arrendatários  Agricultores meeiros  Mineiros

ESTRUTURA (ECONÔMICA)

Elaboração (livre) do autor com base nas concepções de Gramsci apud Semeraro (2003); Simionatto (2004)

Em nível de estrutura econômica, vemos por um lado aqueles que representam a força de trabalho aqui qualificados como os pequenos produtores de arroz, demais agricultores familiares, agricultores arrendatários e meeiros, que atuam como força de trabalho na exploração agropecuária; e os mineiros, como força de trabalho ligados à indústria mineral. Como donos dos meios de produção, para efeito desta investigação, destacam-se as empresas mineradoras de carvão, Tractebel, indústrias de processamento do arroz, empresas produtoras de arroz irrigado e revendedores de produtos agropecuários.

Ainda situados na estrutura econômica encontram-se os técnicos que executam atividades de planejamento e assistência técnica nos diferentes setores ligados principalmente à indústria, agropecuária e educação, que de acordo com a concepção gramsciana se caracterizam como intelectuais orgânicos e podem atuar na defesa dos interesses do setor ao qual está vinculado. Na interpretação de Semeraro (2006b), com base na concepção gramsciana, faz-se necessário distinguir, nos tempos atuais, a figura do intelectual “orgânico” (aspas no original) do intelectual tradicional. Toda a aglutinação em torno de um processo econômico precisa dos seus intelectuais para se apresentar também com um projeto específico de sociedade. Todo grupo social, ao nascer do terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria também, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que conferem homogeneidade e consciência da própria função não apenas no campo econômico, como também no social e político: o empresário capitalista gera junto consigo o técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito etc.

Como recorda Semeraro (op. cit.) desta forma evidencia-se a designação de intelectuais “orgânicos” distintos dos intelectuais tradicionais: são orgânicos, porque, além de especialistas na sua profissão, que os vincula profundamente ao modo de produção do seu tempo, elaboram uma concepção ético-política que os habilita a exercer funções culturais, educativas e organizativas para assegurar a hegemonia social e o domínio estatal da classe que representam. Para o referido autor, esses agentes sociais, conscientes de seus vínculos de classe, manifestam sua atividade intelectual de diversas formas: no trabalho, como técnicos e especialistas dos conhecimentos mais avançados; no interior da sociedade civil, para construir