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A coordenação do PLANO DIRETOR, antecedentes históricos e legais

Em Caeté-MG como em tantos outros municípios mineiros e brasileiros, o PLANO DIRETOR foi postergado até o tolerável pelo Estatuto da Cidade, pois tanto prefeitos, quanto vereadores podem ser punidos por improbidade administrativa caso não concluíssem o processo até Outubro de 2006. De acordo com informações do Sr. Joélcio 37 ( nome fictício), o município teria tentado iniciar o processo

há duas gestões, porém o trabalho ateve-se somente a reuniões internas, sem a participação dos cidadãos. Agentes dos quadros da prefeitura, como outros representantes do Estado e ainda outros segmentos sociais chegaram a acreditar que o PLANO DIRETOR seria um trabalho executado pelo poder público e apresentado à população. Tal processo “uma exigência de Lei” e que não representa a

37 Entrevista concedida em 16/11/2005, Caeté.

“salvação da pátria”38 - iniciou-se numa cidade que não tem o hábito de planejar suas ações como

Caeté. Para este agente do Estado, o PLANO DIRETOR, embora a propaganda o consagre como eficaz, corria o risco de tornar-se um daqueles instrumentos que viram papel, além de estar sujeito à descontinuidade.

A atual gestão municipal (2005/2008)39 definiu como coordenadora dos trabalhos do PLANO

DIRETOR, a Secretaria municipal de desenvolvimento econômico, agricultura e meio ambiente – SEDEAMA. A pasta foi assumida no início do mês de outubro de 2005 e sofreu inúmeras deliberações no sentido de alcançar maior celeridade e eficiência, encontrando vários desafios. Um deles visa a estruturação de procedimentos para a realização de políticas públicas em segmentos correlatos, mas bastante amplos na condução das ações específicas que são; a política agrícola, a política ambiental e, mais abrangentemente, a política de desenvolvimento do município. O planejamento desta pasta alcança a estruturação de procedimentos que nortearão a política ambiental no município. Ressalta-se a estruturação dos procedimentos internos; capacitação da equipe de trabalho, fluxograma de processos internos, rotinas de notificação para infrações ambientais, procedimentos para licenciamento ambiental de empreendimentos diversos. Voltados à atuação externa aponta-se; educação ambiental, planejamento de revegetação de áreas, solução de conflitos na área de exploração de recursos naturais e destinação de resíduos entre outros40. Resta lembrar que ainda se desenvolve a política

agrícola e pecuária e o desenvolvimento econômico de modo amplo, além de requerer o acompanhamento das atividades do comércio, serviços e indústria. Outra exigência não menor é a coordenação dos trabalhos de elaboração do PLANO DIRETOR, processo bastante complexo por si, tanto pelo aspecto da exigência legal quanto pela exigüidade de tempo que se dispõe para esta realização quanto aos aspectos políticos, jurídicos e econômicos que envolvem. Para tais propósitos; administrativos, econômicos e ainda, para o equilíbrio econômico da taxa de câmbio entre os diferentes capitais, assegurando ao Estado sua superioridade enquanto concentração de capitais num

metacapital (BOURDIEU, 1996a) foi preciso nomear para tal tarefa um agente à altura de tal desafio.

Um agente cujo habitus lhe garantisse o sentido do jogo (BOURDIEU, 1996a), em curso, mesmo que não se sentisse no jogo de imediato, mas posteriormente. Tal agente, possuidor do discurso tecnoburocrático, seria capaz de lançar mão de todo este capital já adquirido em lutas passadas em

38Conforme apontou em entrevista o Sr. Getúlio, outro agente do Estado, com grande capital administrativo, político junto à PMC, em 16/11/05, nas dependências da PMC.

39Das eleições municipais em 2004 foi eleito como prefeito Ademir C. Carvalho (PL), advogado, a partir da coligação PL / PP / PTB / PMDB / PSBl tendo recebido 11.497 votos (51,55%) dos 22.303 votos nominais. O 2º colocado, Lucas Coelho (PSDB), recebeu os restantes 10.806 votos (48,45%), podendo-se observar uma pequena margem de diferença entre os candidatos. Fonte:< http://www.tse.gov.br/internet/index.html> Acesso em jul. 06.

40Tais informações foram obtidas ao longo da pesquisa em diálogo com o Secretário de meio ambiente, bem como com seus assessores.

prol de fazer valer a dominação simbólica imposta pelo Estado (BOURDIEU, 1996a). Agente este, não somente possuidor de títulos auferidos pelo Estado, o que lhe assegura capital técnico, político, simbólico, porque reconhecido. Mas investido numa posição – Gerente da Apa Sul 41 – a qual ocupa somente quem acumulou conhecimento e habilidades para atuar junto ao poder juridificador – condições essenciais para integrar o campo do licenciamento ambiental (CARNEIRO, 2005) - parte integrante do Metacapital do Estado.

Segundo alguns agentes da PMC, o processo de estruturação do PLANO DIRETOR já teria sido iniciado em meados de 2005. Mas, as atividades relativas à operacionalização da elaboração do PLANO DIRETOR somente desenvolveram-se continuamente a partir de fevereiro de 200642. Até

então, os trabalhos tinham um caráter preparatório, muito mais voltado à rotinas internas do que à interação com a sociedade. Tal financiamento se deu por meio do PROGRAMA MONUMENTA abarcando recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, da União, dos Estados e Municípios, sendo realizado pelo Ministério da Cultura e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com apoio da UNESCO43, cujo detalhamento se dá adiante.

Com base na estrutura que a SEDEAMA traçou para o início dos trabalhos - poucos estagiários, um único sujeito responsável por toda a estratégia de realização do PLANO DIRETOR44, equipamentos de informática obsoletos e em número inferior à demanda, causando contingenciamento para a realização das tarefas, e até mesmo um sistema inadequado de arquivos (físico e informatizado) - infere-se ineficácia na alocação de recursos diversos por parte do Estado na elaboração do PLANO DIRETOR. O constante acompanhamento do Coordenador, em termos logísticos, administrativos, agendamentos, alocação de outros profissionais necessários aos vários eventos não foi o bastante para assegurar maior êxito nas ações. Concepções arcaicas da diferença entre o público e privado - reveladas pela precariedade da oferta de equipamentos do próprio Estado para a realização dos trabalhos do Plano Diretor - decorrem também do cerceamento de uso promovido por seus agentes. Esses que deliberam

41A Apa Sul é uma área de proteção ambiental situada ao Sul da RMBH nomeada APA-Sul/RMBH, Proposta e consolidada, em 1981, regulamentada em junho de 1994 (Decreto Estadual nº. 35.624) é composta por 13 municípios e ocupa uma área total de 166.254 ha é um local considerado de relevante interesse, do ponto de vista ambiental, que deve ser manejada de forma a assegurar o desenvolvimento de atividades econômicas locais e o bem estar das populações humanas residentes, num esquema sustentável. A demanda por sua criação partiu inicialmente de uma associação de proprietários de “residências de fins de semana” na localidade de São Sebastião das Águas Claras. Fontes:

http://www.ief.mg.gov.br/images/stories/quadrosUCs/anexo6_areaprotecaoambiental.pdf

http://www.semad.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=32&Itemid=46 acessados em 22/6/07. 42O Termo de Referência é datado de 10/1/2006.

43 As informações sobre o programa Monumenta foram obtidas no site <www.monumenta.gov.br>Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi fundada em 16 de novembro de 1945, sendo o Brasil estado-membro desde 1946.

44Tal sujeito, Srª Luciana, em vários momentos teve de recorrer à ajuda da população para a realização dos eventos, mal podendo contar com estagiários que contam também com outras atribuições que não aquelas do processo em si.

sobre questões ligadas ao Estado como prolongamento de seus domínios pessoais, como se o patrimônio público integrasse seu próprio corpo físico. Desta forma, o uso de um recurso pertencente ao Estado, para uso em benefício da coletividade - como um carro, uma televisão, um retro projetor – utilizado pela SEDEAMA para as atividades de elaboração do Plano Diretor, teria seu uso permitido, consoante o “estado de humor” do agente detentor do respectivo recurso. Deste modo, quando não houvesse interesse desse agente detentor em ceder o equipamento à SEDEAMA, os funcionários desta deveriam buscar outros meios de realizar o trabalho. Inclusive com a ajuda de moradores dos locais onde se realizasse um determinado trabalho, como no caso das oficinas de esclarecimento.