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A crítica à modernidade em Oswaldo Lamartine de Faria

3. PARTE II: SERTÃO E MODERNIDADE

3.2 A crítica à modernidade em Oswaldo Lamartine de Faria

Oswaldo Lamartine traz em seus escritos e ao longo dos seus discursos um posicionamento contrário à modernidade, principalmente aquela modernidade que se fez presente nos sertões, pois o sertão estaria mudando, diferente daquele mundo com o qual o autor havia tido contato. O ambiente, antes ruralizado, passa a ser urbano sofrendo a mudança que antes parecia não se alterar no viver do sertanejo. O espaço passa a ser modificado e suas práticas já não se perpetuam mais como antes, a natureza começa a sofrer a perda de algumas espécies de animais e de suas espécies arbóreas.

O mundo moderno passou a afetar a dinâmica da vida sertaneja, o sertão antigo de Oswaldo Lamartine perdido em suas lembranças já não se encontra o mesmo, por isso seus escritos sobre os sertões do Seridó, escrevendo para que não se perca a tradição presente nos saberes e nos fazeres desse povo, um local hegemônico onde poderíamos encontrar um viver saldável que se construiu na saudade, na construção do eu, tornando o espaço do sertão dizível e visível.

Desse modo, o historiador francês François Hartog (2011), em sua análise sobre o papel da testemunha, diz que as relações estão pautadas no ver o no saber descritos pela

mesma, que ao mesmo tempo em que ela fala do seu presente ela retorna ao passado para esclarecer seu testemunho, fazendo assim de certo modo história. A testemunha esta arraigada à memória e é uma sobrevivente do seu tempo que fala sobre algo que aconteceu ou esta se perdendo ao longo dos anos. Assumindo seu papel de narrador de sua história ou de outrem e consequentemente de uma geração.

Oswaldo Lamartine é testemunha do tempo em que viveu desde sua infância até sua morte, fazendo a ligação com seus escritos de tudo que viu, aprendeu e ouviu sobre os sertões do Seridó. Ele escreveu para que não se perca os ensinamentos por ele aprendidos e que apesar da modernidade ter beneficiado o Seridó em alguns aspectos, fez com que alguns elementos de sua tradição se perdessem e romperem com o que antes era vivido cotidianamente. “As verdadeiras testemunhas são índices a calcular, ao passo que os testemunhos são curvas a construir. As fontes tornam-se dados que, processados devidamente e introduzidos em máquinas, dizem o que eram incapazes de exprimir em estado bruto” (HARTOG, 2011, p. 223). Sendo assim Oswaldo Lamartine esta como testemunha do seu tempo e do seu “eu” e suas obras como fonte de informação sobre os modos como se processavam os costumes em sua época.

Sobre o mundo moderno, Oswaldo Lamartine usa a metáfora de uma “terraplanagem cultural”, onde as mudanças tecnológicas tanto nas áreas sociais e científicas tem modificado todo o sistema anteriormente vivido, pois se vivia mais tranquilamente. Na visão de Oswaldo Lamartine, a sensação é de pertencer um pouco parte de um museu devido aos seus dogmas e resistências a esses novos modelos culturais e de vida. Ao relatar sobre as modificações que sofreu a cidade de Natal e como ela se encontra hoje diz: “a saudade é traçada com os fios de cabelos brancos. Daí o meu desencanto desse Natal estrangeiro. O mesmo vocês vão dizer daqui a 60 anos – é o pedágio da saudade” (CAMPOS, 2001, p. 33). Ele descreve as mudanças no trânsito, na comunicação, nas habitações e na socialização, em comparação ao que ocorria em tempos passados, e também incluiu os aspectos naturais como a poluição do rio Potengi.

Paul Ricoeur (2007), por sua vez, traz um discurso sobre as diferentes modernidades em paralelo com a “nossa modernidade”, o autor mostra que a modernidade esta ligada as representações e as relações históricas presentes nestas por isso o uso do termo “nossa época”. Quando utilizamos destes termos estamos dizendo que o “nosso” se diferencia do anterior, a diferença esta na novidade, no progresso, falamos baseados na modernidade que vemos hoje, mostrando assim as diferenças entre a nossa modernidade de hoje e dos “outros” que se

intitularam modernos anteriormente. A seguir uma definição melhor dessa diferenciação da modernidade:

Portanto, se o conceito de modernidade e, para a história das representações, um conceito repetitivo, o que chamamos de “nosso tempo” se distingue do tempo dos outros, dos outros tempos, a ponto de estarmos em situação de distinguir nossa modernidade das modernidades anteriores. Assim, existe uma concorrência entre dois empregos do termo “modernidade”, segundo designe o fenômeno iterativo que uma história das representações percorre ou a autocompreensão de nossa diferença, ou seja da diferença de nos, tais e tais, sob o império do dístico “nós” que se distingue, então, do descritivo “eles” (RICOEUR, 2007, p. 326-327).

Nesse novo mundo de modificações em que os avanços tecnológicos dominam tudo Oswaldo Lamartine espera poder encontrar a terra prometida de São Saruê, pois “se ainda vagasse por aqui, ia mesmo era para o Reino Encantado do Equador, onde a constituição é A missão abreviada” (CAMPOS, 2001, p. 36). Podemos também perceber que o autor não queria mais permanecer neste local de tantas mudanças, sentia-se deslocado, um exilado em meio à modernidade. Esse seu exílio também está ligado ao fato de ter vivido maior parte de sua vida em grandes cidades sendo o seu desejo permanecer no sertão.

O sertão de Oswaldo Lamartine se encontrava perdido no quintal da sua casa e nos alpendres das casas grandes. O quintal era o local espaçoso onde se tinha contato com a terra e os animais que se ali criavam, as crianças se sentiam mais livres para brincar, enquanto no alpendre encontramos a reunião da família e dos amigos onde se conversava sobre os mais diversos assuntos incluindo as histórias perpetuadas através da tradição oral dos sertanejos. Na imagem a seguir podemos ver uma casa típica de fazenda no sertão seridoense, ao lado encontra-se Oswaldo Lamartine com seu cachorro, Parrudo, pois era uma tradição familiar colocar esse nome em seus animais e para complementar a paisagem da caatinga que se constata com o homem e suas modificações no espaço.

Figura 2: Oswaldo Lamartine e seu cachorro Parrudo na fazenda Acauã/RN - 1998.

Fonte: CAMPOS, Natércia. Conversa com Oswaldo Lamartine de Faria. Natal: Fundação José Augusto, 2001,

p. 25.

Oswaldo Lamartine também faz uma descrição das casas grandes de fazendas do sertão do Seridó. Elas se localizavam geralmente no meio da fazenda, os seus componentes eram o alpendre, salas, corredor, quartos e cozinha, atrás da casa ficava o banheiro e às vezes tinha um quarto para depósito. Na vida que se tinha na fazenda dois elementos faziam parte desse meio: o vaqueiro e a feitura dos queijos de manteiga e de coalho, os quais tiveram mudanças em seus processos de fabricação devido à modernização. O queijo passa a ser feito com leite desnatado e já não dura muito tempo para o seu consumo. Já o vaqueiro sofreu alterações em sua indumentária: passou a se vestir como caubói do Texas (região parcialmente árida dos Estados Unidos) e o cavalo passou a ser também importado.

No ano de 1998, Oswaldo Lamartine passou algum tempo na Fazenda Lagoa Nova ou pé da Serra dos Macacos, mas em seu discurso a seguir percebemos sua ligação com o Seridó: “o meu imperdoável e irreparável erro – de vez que velho não deve mudar de montada em fim de viagem – é não ter considerado que ali era Agreste e não Seridó” (CAMPOS, 2001, p. 61). Nessa época ele havia voltado do Rio de Janeiro devido à morte de sua esposa Maria de Lourdes Leão Veloso da Rocha (1917-1995), também já aposentado se reservou ao local

devido às terras serem de herança de seus pais e ao lado delas ter por vizinhos seus sobrinhos. E ao falar sobre o sertão do Seridó antigo em contraposição ao daquele ano ele nos diz:

DCL – Vmc. Faz parte da civilização solidária do Seridó?

Sim, mas a de um sertão que se foi, aterrado pela “sifilização”. Sobrevivo como um bicho exótico protegido pelo IBAMA, testemunha que sou do sertão das casas-de-fazenda habitadas, onde o nome das fazendas se incorporava ao sobrenome do proprietário. Do sertão onde o primo do primo era parente-irmão e, pisando no pé de um doía no pé do outro. Do sertão onde cada filho de uma família era unido aos outros por sangue e voto. Sertão das casas-de-fazenda clareadas a querosene. Sertão onde se cozinhava em panelas de barro, fogão a lenha e se bebia de jarras de Cantareira. Sertão onde se acordava com o canto dos galos para quebrar o jejum com o leite mungido. Sertão onde a gente banhava nas frias águas das cacimbas e dos açudes. Sertão onde os silêncios eram quebrados pelos aboios, o zoar dos búzios, o bater dos chocalhos e das cancelas, o canto das cantadeiras dos carros-de-boi e o estalar dos chicotes dos matutos. Sertão onde se viajava em burras-de-sela engolideiras de léguas e se arranchava sob telhas amigas. Sertão onde à noitinha, depois da ceia de coalhada, se armava redes nos alpendres para ouvir dos mais velhos a crônica do passado (CAMPOS, 2001, p. 83-84).

Nesta pergunta feita por Diógenes da Cunha Lima mostra uma alegoria quando Oswaldo Lamartine responde sobre o espaço do sertão agora comprometido pela sífilis, pois esta doença sexualmente transmissível dizimou muitas pessoas nos sertões é neste sentido que o moderno passa a contaminar o espaço sertanejo. Desse modo, a modernidade rompeu com os lugares de tradição ao qual viveu Oswaldo Lamartine. Apesar de que o autor se mostra a favor do IBAMA e do DNOCS devido estes órgãos apesar de ser uma criação moderna fazerem a preservação da fauna e da flora dos sertões do Seridó.

Percebemos o viver do/no sertão a partir das próprias vivências do autor, mostrando a grande diferença em que foi o seu viver neste espaço que se modificou ao longo dos anos. Este sertão descrito (do passado) mostra um ambiente ruralizado, pois todos os elementos expostos fazem parte de um viver no campo e não no urbano. Espaço que vive agora com luz elétrica, com transportes, com comidas industrializadas e com uma população que mora em apartamentos. Nesse mesmo sentido, sobre sua infância em Natal, Oswaldo Lamartine relata:

Quando em Natal, manhãzinha, apanhar frutas no sitio da casa; caçar de baladeira; empinar papagaios (raias, bandejas e relógios) de caudas armadas de rocegas (lascas de fundo de garrafa Cinzano presas por taliscas); futebol de botão (ai da visita em dia de chuva que pendurasse capa no cabide lá de casa); peladas de bola-de-meia na Rua Potengi e de borracha e couro no

campo do Triângulo (onde hoje é o Ateneu). Ali se amogotavam os meninos que vinham apanhar água em latas, galões e roladeiras (barris tracionados pelo eixo) e, seduzidos pela bola, esqueciam a obrigação. A pisa era grande quando voltavam para casa. Éramos moleques de calça-curta e felizes (CAMPOS, 2001, p. 16).

Vemos, então, o quanto este viver faz parte do íntimo de Oswaldo Lamartine sempre enaltecendo as práticas exercidas, que o construíram como o homem que foi, e que seu apego a esse tempo passado a esse sertão do nunca mais trouxe para si uma identidade ligada a esse meio, que o fez construir a imagem do sertão do Seridó por meio de seus relatos, escrevendo principalmente para que não se perca os costumes que identificam o espaço, tanto o espaço natureza, como as ações de dominação e a figura do sertanejo intimamente ligado a este local. Como podemos constatar a seguir:

Nessa paisagem bela e desoladora do sertão, há elementos formadores da visualidade que passam a impressão que o homem habitante dessa uma natureza árida, numa ânsia de modificá-la, sente a necessidade de enxertar cores e formas excessivas nos espaços „vazios‟; isto é, passa a reelaborar a sua natureza sob o prisma de multicores. Surge, assim, uma estética festiva e austera, risível e épica, dramática e lírica, espalhafatosa e religiosa, monocromática e colorida, cheia e vazia (ALMEIDA, 2012, p. 29).

Percebemos a grandiosidade da natureza seridoense e suas modificações que se adaptam na região, e que o homem a transforma o espaço antes vazio em cores e formas que tornam esses elementos a caracterização do espaço. Sobre a natureza e suas modificações numa perspectiva moderna trazemos o papel da umburana, uma árvore a qual é muito utilizada para se fazer à arte da xilogravura e a qual Oswaldo Lamartine mais apreciava, e se tivesse nascido uma xerófila queria ser uma umburana, hoje uma planta protegida pelo IBAMA. A umburana representa para Oswaldo Lamartine o espaço de inscrição de suas narrativas, sendo testemunha do tempo/mundo ao qual o autor teve contato.

A umburana, apesar de ser uma árvore protegida pelas políticas de preservação, continua se transformando em arte. Ela é designada pelos que dela se aproximam como doce, feminina. Ela não é cortada, ela se deixa cortar, num jogo ambíguo de sedução. É um corpo/palimpsesto; tudo nele pode ser inscrito. E passa a ser suporte desses signos. Nesse instante, supera a sua condição de simples madeira e passa a ser matriz de mundo repleto de imagens e sonhos. É o momento no qual rainhas, reis, cangaceiros, beatos e valentões ganham forma e povoam o imaginário sertanejo. É a umburana a matriz/matéria desse imaginário (ALMEIDA, 2012, p. 65).

A obra A caça no sertão do Seridó, de 1961, traz alguns dados acerca da fauna e flora do sertão, já se tinha extinguido nessa época 13% das espécies da região incluindo plantas como: o cedro, jabotá, cumaru, pau darco, aroeira e braúna. As abelhas silvestres também desaparecem, conjuntamente com o gato maracajá, o papagaio, a jandáia, o urubu-rei, o macaco, o tatu-bola, o saguim, o tamanduá e a onça vermelha, são alguns dos animais que em alguns casos se encontram extintos e outros em processo de extinção, outros também fazem parte deste processo como a ribaçã que é uma ave migratória e o próprio mocó que hoje já não encontramos nos serrotes na caatinga, mas Oswaldo Lamartine traz ainda algumas espécies que tem sobrevivido como o preá, o peba, o camaleão e a raposa. Nos quadros abaixo podemos constatar sobre a situação da fauna seridoense:

Figura 3: Situação da fauna cinegética do Seridó, por município, em 1959.

Figura 4: Número de abelhas silvestres presente no Seridó em 1963.

Fonte: FARIA, Oswaldo Lamartine de. Sertões do Seridó. Brasília: CGS, 1980, p. 118.

Oswaldo Lamartine apesar de ser um crítico a modernidade ele traz a importância tanto do DNOCS como do IBAMA como elementos definidores do espaço atual do sertão, pois o primeiro ajuda ao sertanejo a enfrentar as intempéries ocorridas pelas secas e o segundo ajuda na prevenção da caça indevida fazendo com que os animais sertanejos sobrevivam por mais algum tempo.

Encontramos então no pensamento de Oswaldo Lamartine o desejo de preservação da natureza, pois apesar de ser contra a modernização nos sertões do Seridó, ele apoia algumas políticas públicas que ajudam a melhorar a vida do sertanejo como também aquelas que trabalham na preservação deste espaço, este fato esta atrelado devido a seus estudos em agronomia, como essas políticas proporcionam a melhoria para o espaço ele não restringe a mesma. Sua crítica então aparece no sentido de perda das práticas anteriormente feitas pelo sertanejo, pois a partir da urbanização do espaço a industrialização e a tecnologia muda totalmente o modo de vida anteriormente vivenciado neste local, apesar de que algumas características ainda permaneçam.

A vida sertaneja seridoense, vivenciada por Oswaldo Lamartine, já não se encontra mais, nas rodas de conversas nos alpendres das casas antigas, a alimentação e a própria natureza estão modificadas, o “sertão de nunca mais”, ficou dentro dos seus escritos, do seu

eu, algo a ser transmitido para as futuras gerações por meio da leitura, gerações que já não tem mais o contato com esse espaço, mas que se identifica ao ler a obra, e sente todo o saudosismo presente em cada linha por ele escrita.

Koselleck (2014) fala sobre o espaço, a história e suas relações. Dimensionando essa relação à natureza, ou seja, a história da natureza, tida hoje como ciência. Também faz uma contraposição entre tempo e história apresentando esta discussão como moderna. “O espaço é algo que precisamos pressupor meta-historicamente para qualquer história possível e, ao mesmo tempo, é historicidade, pois se modifica social, econômica e politicamente” (KOSELLECK, 2014, p. 77). Dessa forma o espaço também se relaciona com a geografia do lugar, a natureza passa também a ser moldada e controlada. “O ser humano sabe se aproveitar do ambiente mesmo sem poder controlá-lo. A isso corresponde o fato de que os espaços de ação mínimos para alimentar famílias ou grupos de caçadores precisavam ser muito maiores do que o espaço disponível aos grupos humanos de hoje” (KOSELLECK, 2014, p. 84).

Lembrando que a história escrita sobre os sertões do Seridó é uma escrita vista de cima, pois o mesmo fazia parte da elite do Estado. Em seu trabalho não encontramos o sertão da morte dos animais, sem água, com sofrimento, encontramos um espaço onde o homem se adapta e molda o mesmo desenvolvendo práticas para sua sobrevivência a partir dos elementos encontrados na natureza hostil dos sertões. Como nos diz Campos (2001, p. 51) “um homem e uma escrita saudosista em que a terra é a paisagem para a memória, o alimento para a construção do rememorado, que se sedimentou na memória como sertão de nunca mais”. Ou seja, a utilização do espaço da paisagem para a construção de sua escrita, como perpetuação do espaço sertanejo, apesar de utilizar de elementos como o homem o qual pratica o espaço moldando este. Ele escreve como um locutor deste espaço do sertão de nunca mais, a partir das práticas apresentadas por ele em seus escritos como a caça e a pesca, e o homem funciona como interventor para o desenvolvimento deste espaço e suas possibilidades. Por isso os livros por ele escritos podem ser afirmados como:

Não será demais afirmar que os livros de Oswaldo Lamartine são livros amorosos. Neles, o escritor revela através da concisão de sua linguagem e do zelo com os seus dados e suas fontes, a profunda afeição que tem por suas raízes, seu lugar. Seus livros são resultado de um sertão que ele constrói a cada página, descoberto pelo Lamartine leitor e investigador, ambos incansáveis – contudo, sempre imersos nas águas da nostalgia (CASTRO, 2015, p. 141).

Percebemos então a relação do eu do autor com a sua escrita que é transpassada ao leitor. Narrativas que tornam a caatinga como paisagem e construção do território utilizando também da tradição oral que é perpassada através das gerações. Entrelaçando o seu viver com o sertão, um desejo de retornar aos tempos de outrora ao sertão de nunca mais. “Não vemos o “sertão do nunca mais” apenas no presente, mas no momento em que cada voz se pronuncia pelas palavras do escritor. Seu tempo é renovado no ato de contar o que se passou “ontem”, e cada nome esquecido ganha um rastro de vida ao receber um espaço na história” (PIÑEIRO, 2014, p. 100). Sendo assim, Oswaldo Lamartine tece uma cartografia do sertão do Seridó como vemos a seguir:

Por lermos um texto repleto de memórias pessoais, outro menos interrompido e enfático na presença do trabalho nas tradições, um terceiro praticamente estudado e exposto com certa impessoalidade, e ainda outro criativo por sua própria apresentação, ampliamos os limites dos sertões, mas concluímos que se busca sua imagem precisa, enquanto todos os outros fatores flutuam pelo traçado dessa “cartografia”. Não apenas por causa do saudosismo tangível na escrita lamartineana, e sim por seu desejo de continuação (mesmo que pela tinta) do sertão que não volta, descobrimos o Seridó de formas diversas, mas voltadas inevitavelmente para a mesma região. Criatividade, imprecisão e lendas não diluem seu espaço e contribuem enquanto contrastes (PIÑEIRO, 2014, p. 115).

A obra descrita acima, Sertões do Seridó (1980), traz uma narrativa tanto na perspectiva do saudosismo em seus escritos, mostrando um sertão natureza e um sertão modernidade que delineia o espaço, ele o descreve tornando-o visível e dizível ao outro, nesse contexto de modernidade ao qual entornamos a discussão está presente em cada prática por ele elencada na obra, pois o sentido de sua escrita é justamente para a perpetuação deste espaço que se perde e ao mesmo tempo um alerta sobre a fauna e flora do sertão do Seridó que esta cada vez mais em processo de extinção no decorrer do tempo como veremos nas

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