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CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Imagem do País de Origem

2.2.2 A criação e a construção do estereótipo

Nascido na imprensa escrita, o termo estereótipo significava apenas o nome de uma fôrma compacta resultante do processo de estereotipia:

Processo pelo qual se duplica uma composição tipográfica, transformando-a em forma compacta, mediante modelagem de uma matriz, sobre a qual se vaza metal- tipo (FERREIRA, 1995).

Porém, com o tempo, essa palavra adquiriu uma conotação psicossocial, sendo empregada também como sinônima da tendência do ser humano à categorização.

(...) to categorize is to render discriminably different things equivalent, to group objects and events and people around us into classes, and to respond to them in terms of their class membership rather than their uniqueness (BRUNER, GOODNOW e AUSTIN, 1956, p. 3).8

Assim, o estereótipo pode ser entendido como “uma matriz de opiniões, sentimentos, atitudes e reações dos membros de um grupo, com características de rigidez e homogeneidade” (SIMÕES, 1985, p. 207). É a

Classificação de grupos (...) com signos demasiadamente simplificados e generalizados que representam, de forma implícita ou explícita, um conjunto de valores, juízos e pressuposições quanto ao seu comportamento, suas características ou sua história (O’SULLIVAN et al., 2001, p. 92)

Nas ciências sociais, a utilização desse termo foi registrada pela primeira vez em 1922, com a publicação da obra Public Opinion, de Walter Lippmann, na qual diversas concepções nacionalistas etnocêntricas ocorridas durante a 1ª Guerra Mundial eram analisadas sob o prisma de representações que cumpriam as funções de seleção e simplificação das informações, criando uma estrutura no mundo das estimulações externas (LIMA 1997, p.

170).

Quando crianças, treinamos os olhos para capturar sinais reconhecíveis do mundo,que nos permitam entender o que se passa ao nosso redor. Os sinais evoluem para idéias, no âmbito da arte, da filosofia, dos códigos morais e sociais etc, e, por fim, para imagens. Porém,

8 (...) categorizar é conferir indiscriminadamente diferentes coisas como equivalentes, agrupar objetos

e eventos e pessoas ao nosso redor em classes, e responder aos mesmos em termos de sua classificação antes que em termos de sua individualidade (BRUNER, GOODNOW e AUSTIN, 1956, p. 3, tradução nossa).

esse processo individual toma traços coletivos na medida em que somos ensinados sobre o mundo antes que possamos vê-lo ou experimentá-lo (DUNLOP, 2007, p. 29). Quando uma pessoa toma contato com algo novo, que se assemelha às categorias já aprendidas ou ensinadas, seu esforço para processá-lo diminui, fazendo com que a individualidade do novo dê espaço à generalização. Desta forma, ela reduz a complexidade do mundo real por meio de processos de inferência, categorização e juízo de valores (SIX e ECKES, 1991 apud Lima, 1997, p. 173). Informações incongruentes com as expectativas dos indivíduos são freqüentemente filtradas, tendo sua importância reduzida nos processos de análise mentais (RENN e CALVERT, 1993, p. 449-450).

Surgem, dessa maneira, os estereótipos, conhecimento aprendido, que fica armazenado em nossa memória. Quando estimulados por fatores externos, os estereótipos transformam-se em um processo mental inconsciente que é automaticamente ativado e aplicado (REEL, 2007, p. 3). É um processo cognitivo, que visa economizar esforço e atenção em uma atividade, em prol das demais.

Os estereótipos são utilizados pelas pessoas para identificar os membros de uma categoria (exemplo: este indivíduo é um professor; esta peça de madeira é uma cadeira) ou mesmo conceitos mais específicos (exemplo: o McDonalds é um restaurante para refeições rápidas; as rosas são flores) (ALLEN, 2001). Uma vez que as pessoas têm em suas mentes os conceitos que definem uma categoria, passam a utilizá-lo para facilitar a compreensão do mundo a sua volta.

Genericamente, os estereótipos possuem três características importantes: (1) são abusivos, pois se aplicam de maneira uniforme a todos os membros de um grupo (admitindo poucas exceções); (2) são extremos, geralmente atribuídos de forma superlativa; e (3) são mais frequentemente negativos do que positivos (SIMÕES, 1985, p. 207).

O fato de os estereótipos estarem mais ligados a aspectos negativos com relação ao objeto/pessoa/país estereotipado reside em uma de suas importantes funções, que é a de legitimar as formas de dominação e poder já existentes por meio da depreciação dos que podem eventualmente contestá-las. “Abandonar o estereótipo, seria assim perder o sentido impregnado à realidade, ameaçando a sua própria segurança, necessidade de afiliação e conformidade às regras sociais” (LIMA, 1997, p. 182-183), fato que ajuda a explicar a resistência à mudança dos estereótipos ora estabelecidos, mesmo quando em confronto com uma realidade que os contradiga.

Aos efeitos dos estereótipos, somam-se as respostas racionais e também emocionais de alguns indivíduos que muitas vezes não desejam realizar classificações generalizadas do

mundo. Informações incongruentes com as categorias já aprendidas, se trabalhadas pela mente logo após a sua codificação, podem alertar as pessoas de que algo não está correto em sua forma de ver o mundo, amenizando o processo de estereotipia. Porém, passado algum tempo da decodificação, a informação inconsistente tende a ser esquecida ou distorcida, e os estereótipos passam a substituir os lapsos de memória por “bons palpites” como se fossem estímulos originais. Neste contexto, o que uma pessoa leva para observar uma situação torna- se mais importante do que aquilo que ela realmente vê (RENN e CALVERT, 1993, p. 452- 458).

Por isso, dizemos que a estereotipia:

(...) não é uma mera forma de substituir ordem pela grande desordem ou confusão da realidade. Não é meramente uma redução. É todas estas coisas e algo mais. É a garantia do nosso auto-respeito; é a projecção no mundo do nosso sentido, do nosso valor, da nossa posição, dos nossos valores (Sumner apud Lima, 1997, p. 180).

(...) do ponto de vista psicossocial, um estereótipo é uma crença generalizada, que combina cognição com afectividade (constituindo, portanto, uma atitude) e que caracteriza de forma invariante um objecto estímulo (LERNER e HULTSCH, 1983

apud LIMA, 1997, p. 181).