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2. BREVE HISTÓRICO DO CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL

2.1. DA CRIAÇÃO DO CURSO À ELABORAÇÃO DAS SUAS DIRETRIZES

2.1.1. A criação do curso de Pedagogia 1939 a 1962

Discute Vieira (2008, pág. 02) que as transformações no setor econômico, político e social provocadas pela Revolução de 1930, o início da Era Vargas, provocaram modificações também na área educacional em função de ideais pedagógicos pautados no ideário escolanovista, do qual o movimento dos Pioneiros da Educação Nova é uma das expressões em defesa, por exemplo, da formação docente em nível superior, se possível na universidade, essa também objeto de instigantes debates que propunham a sua criação. Nesse contexto, a organização da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no governo Vargas, consistiu numa resposta às questões que se discutiam com relação à reforma educacional, a partir do consenso de que a educação possuía um papel fundamental na construção de um Estado Nacional moderno. Noutras palavras,

o projeto de reformas educacionais era parte destacada do projeto de civilização que propugnava a construção de uma cultura onde a ciência e a técnica sustentariam a racionalização do trabalho; a proposição de políticas públicas; a expansão do mercado; a homogeneização da sociedade; a projeção brasileira internacional; a construção do Estado Nacional. Criar universidades e formar o professor secundário fazia parte dessa estratégia. (EVANGELISTA, 2002, p. 19).

Segundo Evangelista (2002), a criação do curso de Pedagogia culmina uma década, a de 1930, em que diferentes projetos de qualificação do magistério se consolidaram no Brasil. O primeiro foi o Instituto Católico de Estudos Superiores, no Rio de Janeiro, em 1932; o segundo o Instituto de Educação da Universidade de São Paulo, criado por Fernando de Azevedo em São Paulo, em 1934; o terceiro a Escola de Educação da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em 1935, criada por Anísio Teixeira; o quarto projeto, consolidado na Universidade do Brasil, resultou do encerramento tanto da experiência de formação de professores de Fernando de Azevedo quanto da de Anísio Teixeira em 1938, fruto do golpe de Estado que instituiu no Brasil o Estado Novo, em 1937. Extinta a Universidade do Distrito Federal, o estado autoritário de Vargas instalou a Universidade do Brasil e nesta a Faculdade Nacional de Filosofia.

O Curso de Pedagogia, dessa forma, (BRASIL, 2005), foi criado pelo Decreto-Lei n. 1190, de 04 de abril de 1939, por ocasião da organização da Faculdade Nacional de Filosofia, parte da Universidade do Brasil, a qual passou a ofertar, além da Pedagogia e Didática, os cursos de regulares de Filosofia, Matemática, Química, Física, História Natural, Geografia, História, Ciências Sociais e Letras, sendo os cursos distribuídos nas seções de Filosofia, Ciências, Letras e Pedagogia.

Nos termos do Decreto-Lei nº 1.190/1939 (BRASIL, 2005), o curso de Pedagogia tinha como objetivo a formação de técnicos em educação, isto é, professores primários que realizavam estudos superiores em Pedagogia para assumirem funções de administração, planejamento de currículos, orientação a professores, inspeção de escolas, avaliação do desempenho dos alunos e dos docentes, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da educação, no Ministério da Educação, nas secretarias dos estados e dos municípios.

A padronização do curso de Pedagogia, em 1939, é decorrente da concepção normativa da época, que alinhava todas as licenciaturas ao denominado “esquema 3+1”, pelo qual era feita a formação de bacharéis nas diversas áreas das Ciências Humanas, Sociais, Naturais, Letras, Artes, Matemática, Física, Química. Seguindo este esquema, o curso de Pedagogia oferecia o título de bacharel, a quem cursasse três anos de estudos em conteúdos específicos da área, quais sejam fundamentos e teorias educacionais; e o título de licenciado que permitia atuar como professor, aos que, tendo concluído o bacharelado, cursassem mais um ano de estudos, dedicados à Didática e à Prática de Ensino. O então curso de Pedagogia dissociava o campo da ciência Pedagogia, do conteúdo da Didática, abordando-os em cursos distintos e tratando-os separadamente. Ressalta-se, ainda, que aos licenciados em Pedagogia também era concedido o registro para lecionar Matemática, História, Geografia e Estudos Sociais, no primeiro ciclo do ensino secundário. (BRASIL, 2005, p. 02 -03)

Dessa forma, afirma Vieira (2008) a dicotomia entre bacharelado e licenciatura significava que no bacharelado (primeiros 03 anos de estudo) se formava o pedagogo que poderia atuar como técnico em educação e, na licenciatura em Pedagogia (um ano de estudos complementares), formava-se o professor que iria lecionar as matérias pedagógicas do Curso Normal de nível secundário. De acordo com Silva (1999), o curso de Bacharelado em Pedagogia se estruturava em forma de seriação. No 1º ano, as disciplinas Complementos da Matemática, História da Filosofia, Sociologia, Fundamentos Biológicos da Educação; no 2º ano: Estatística Educacional, Fundamentos Sociológicos da Educação; no 3º ano: Educação Comparada e Filosofia da Educação, sendo que havia disciplinas ministradas nos 3 anos, caso da Psicologia Educacional, Fundamentos Biológicos da Educação e Fundamentos

Sociológicos da Educação. Ainda havia disciplinas que eram abordadas nos dois últimos anos, a História da Educação e Administração Escolar. Na Licenciatura em Pedagogia (4º ano), o bacharel deveria cursar Didática Geral e Didática Especial.

Esse processo acarreta, segundo Evangelista (2002) o desaparecimento da formação dos professores primários nas universidades brasileiras do período, o que constituía parte essencial do projeto educativo dos renovadores do ensino, representado por Azevedo e Teixeira. Acerca da dicotomia no curso de Pedagogia, Brzezinski se posiciona da seguinte forma:

A falta de identidade do curso de Pedagogia refletia-se diretamente no exercício profissional. A identidade do pedagogo, então, revelava-se dicotômica, entre ser técnico e ser professor. A ambivalência na identidade derivava de uma situação curricular estranha em que o conteúdo da pedagogia era dissociado do conteúdo da didática e os cursos eram distintos, provocando a ruptura entre conteúdo dos conhecimentos epistemológicos específicos do campo da pedagogia e o método de ensinar esse conteúdo (BRZEZINSKI, 2011, p. 125)

Segundo Warde (1993), outro marco desse período da Pedagogia refere-se à criação do cargo de Orientador Educacional, profissional a ser formado no curso de Pedagogia, através do Decreto-Lei n. 8.558/46, atendendo às determinações do Decreto-Lei n. 4.244/42, Lei Orgânica do Ensino Secundário. A partir da década de 1940, discute a mesma autora, observou-se a necessidade de ampliação dos espaços de atuação do Pedagogo, o qual não dispunha de exclusividade para lecionar nas Escolas Normais dado que o Decreto Lei n. 8.530/46, Lei Orgânica do Curso Normal, definia que todo graduado poderia exercer o magistério no Curso Normal. Dessa forma, uma questão é fortalecida: se o pedagogo podia formar professores da escola normal, por que não poderia ser professor primário? Uma das decorrências desse movimento de ampliação de espaços foi a permissão ao pedagogo de lecionar no ensino primário e no secundário.