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3. O PROCESSO DE INTERIORIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL

3.1. O CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE MARABÁ

Interessa para este trabalho abrir um parêntese para abordar brevemente o histórico do Campus Universitário da UFPA em Marabá, implantado em 1987, promovendo a formação de professores e a oferta de melhor qualidade no ensino da educação básica, bem como a preparação de futuros professores do ensino superior e a possibilidade de valorização de profissionais da educação no mercado de trabalho. É nesse contexto que, conforme Sousa (2011, p. 184) o Campus de Marabá passa a ofertar em formato intensivo/intervalar (nas férias) os cursos de Licenciatura Plena em História, Letras, Matemática, Geografia e Pedagogia, sendo as aulas ministradas por professores do Campus de Belém, que se deslocavam a Marabá no período das aulas. Para o autor, o Campus de Marabá constitui-se na principal instituição de formação de professores em nível superior nas regiões sul e sudeste do Pará, fundado sobre as diretrizes de ensino, pesquisa e extensão.

De acordo com Sousa (2011, p. 185), em 1988, implantou-se o curso de Licenciatura Curta em Ciências, e em 1990 foi implementada uma nova turma de Pedagogia, ambos no período intervalar. Os objetivos de instalação dessas turmas buscavam atender à qualificação dos professores de ensino fundamental e médio nas regiões supracitadas. Já em 1992, são criados os cursos de Letras, Matemática, Pedagogia e Direito em período regular mais os cursos de Ciências (com habilitação em Biologia) e Ciências Sociais, no período intervalar, além de turmas de pós-graduação, com cursos de especialização em Docência no Ensino Superior, História da Amazônia e em Educação Ambiental totalizando 72 alunos. Nesse período os professores foram contratados via convênio, formando o primeiro quadro docente próprio do Campus de Marabá. (SOUSA, 2011, p. 185).

Segundo Silva (2009, p.117), o Campus de Marabá atua em uma área que abrange 38 municípios das regiões sul e sudeste do Pará, com sede em Marabá, principal polo urbano desta mesorregião. Além do campus-sede, o Campus de Marabá desenvolve suas atividades

em quatro Núcleos de Integração Regional, nas cidades de Jacundá, Parauapebas, Rondon do Pará e Xinguara. Em convênios estabelecidos com prefeituras municipais da região, também foram ofertados os cursos de Licenciatura Plena em Pedagogia, Matemática, Letras, Ciências Sociais e Ciências Naturais em outras localidades, tais como Ourilândia do Norte, São Geraldo do Araguaia, Itupiranga e Canaã dos Carajás.

Conforme afirma Oliveira (2006), na década de 1990 o programa de interiorização foi redimensionado a partir de um projeto integrado de ensino, pesquisa e extensão, para que os cursos passassem a contribuir mais com o desenvolvimento social de cada região paraense. Assim,

foi preciso definir vocações econômicas locais e fazer investimentos estratégicos em áreas que valorizassem esses perfis. Em Altamira, fomentou- se mais fortemente as Ciências Agrárias, atendendo à demanda da economia agropecuária no sudoeste paraense; em Castanhal, ganhou força a Medicina Veterinária, em atenção à forte atividade pecuária; em Santarém, cursos que valorizassem o estudo da rica biodiversidade do Baixo Amazonas, como as Ciências Biológicas, a Física Ambiental, mas também Direito, Sistema de Informações e Processamento de Dados; em Soure, o Turismo, na tentativa de qualificar a atividade desenvolvida tradicionalmente de forma espontânea no arquipélago do Marajó; em Bragança, as Ciências Biológicas, principalmente, e a Engenharia de Pesca, mais recentemente, privilegiando estudos sobre o vasto ecossistema dos manguezais na região e economia da pesca; e em Marabá, as Engenharias de Materiais e de Minas e Meio Ambiente, além de Geologia e Ciências Agrárias, acompanhando as atividades agropecuárias e especialmente minerárias no sudeste do estado (OLIVEIRA, 2006, p. 43).

É interessante perceber na análise das vocações regionais, a ausência da formação de professores, razão inicial da interiorização da Universidade. Nessa segunda fase da interiorização, caracterizada pela criação de bacharelados vinculados à atividade econômica regional (consolidada em 2004), as licenciaturas perdem protagonismo, entre elas o curso de Pedagogia.

Refletindo sobre a pedagogia no Campus de Marabá, Miranda (2004, p. 06) discutia que os campi do interior sofriam carência de condições estruturais favoráveis à sua constituição como universidade em sentido pleno, isto é, realizando suas atividades sobre a tríade metodológica ‘ensino-pesquisa-extensão’. Considerava a autora que, partindo-se da docência como base da identidade do pedagogo, somada à necessária compreensão do processo de pesquisar, observava-se que neste campus, eram facilmente perceptíveis entre os alunos imensas dificuldades na compreensão do processo de pesquisar, visto que os TCC’s

(Trabalhos de Conclusão de Curso de graduação) se constituíam na única experiência discente, realizada somente no final dos Cursos. Outrossim, Miranda (2004) ressaltava que alunos do campus da capital Belém, dispondo de uma estrutura bem melhor que os campi do interior, relatam enfrentar parte dos problemas enfrentados pelos alunos dos campi no que diz respeito à realização dos objetivos do curso de forma geral. Nesta seara, a autora defende a necessidade de se refletir com cuidado acerca do modelo formativo adotado no curso de Pedagogia, respeitando-se as características socioculturais em que se está inserido.

Com o objetivo de contribuir para esta contextualização do Campus de Marabá, citamos Scalabrin (2015, p.04-06), segundo a qual na última década destacam-se duas concepções político-pedagógicas conflitantes no Campus de Marabá, quais sejam, a área da Mineração e a área da Educação do Campo, sendo a primeira em grande medida financiada pela Companhia Vale do Rio Doce (VALE), favorecendo-se a implantação de cursos de Geologia, Engenharia de Minas e Meio Ambiente; na área da Educação do Campo, por sua vez, financiada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), desenvolvem-se os cursos de Agronomia, Letras (Educação do Campo) e Pedagogia do Campo. Nesse contexto, de acordo com a autora, a universidade é chamada a dar respostas a problemas e conflitos oriundos do modelo econômico regional de base fundiária, agrária e extrativista, conflitos estes que se refletem em disputas de poder também em âmbito acadêmico. Como o objetivo da autora é discutir a questão da educação do campo, nota-se a ausência das licenciaturas nessa análise (licenciaturas que, como Letras e Pedagogia, estiveram na base da formação dos cursos PRONERA, embrião dos cursos de licenciatura em Educação do Campo).

Conforme histórico publicado em 2015 no site da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a partir do período citado acima os professores e outros representantes do Campus de Marabá investiram na construção da identidade própria, em um projeto autônomo de Universidade, projeto este consolidado pela lei nº 12.824, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff, lei que criou a UNIFESSPA, por desmembramento da UFPA, visto que o campus

já contava com maturidade acadêmica para recepcionar a nova instituição de ensino superior. Na concepção inicial, a Unifesspa já nasceu como universidade multicampi, sendo constituída pelo Campus de Marabá (sede) e os Campi de Rondon do Pará, Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e Xinguara. Entretanto, a área de abrangência da Unifesspa vai além dos municípios citados, envolvendo os 39 municípios da mesorregião do Sudeste

paraense, além de potencial impacto no Norte do Tocantins, Sul do Maranhão e Norte do Mato Grosso. O objetivo da criação da Unifesspa é possibilitar aos estudantes da região acesso à educação superior pública de qualidade, sem imperativo deslocamento para grandes centros, ensejando a fixação de profissionais qualificados, em cumprimento à função social das universidades públicas, especialmente na Amazônia. (UNIFESSPA, 2015). Nos termos da lei (BRASIL, 2013) a UNIFESSPA é assim descrita no ato da sua criação:

Parágrafo único. A UNIFESSPA, com natureza jurídica de autarquia, vinculada ao Ministério da Educação, terá sede e foro no Município de Marabá, Estado do Pará.

Art. 2o - A UNIFESSPA terá por objetivo ministrar ensino superior,

desenvolver pesquisa nas diversas áreas do conhecimento e promover a extensão universitária, caracterizando sua inserção regional mediante atuação multicampi.

Art. 3o - A estrutura organizacional e a forma de funcionamento da

UNIFESSPA, observado o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, serão definidas nos termos desta Lei, do seu estatuto e das demais normas pertinentes.

Art. 4o - O campus de Marabá da UFPA passa a integrar a

UNIFESSPA.

§ 1o Ficam criados, ainda, os campi de Rondon do Pará, Santana do

Araguaia, São Félix do Xingu e Xinguara, em complemento ao campus de que trata o caput.

Atualmente o antes chamado Campus Universitário de Marabá da UFPA tornou-se os Campus I e II da recém-criada UNIFESSPA (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará). A instituição dispõe de um grande terreno onde já foram construídos e estão funcionando três prédios no Campus do Tauarizinho, conhecido como Campus III, e outras instalações estão sendo construídas onde será instalada Cidade Universitária. (UNIFESSPA, 2015).

Dentre outras atividades ligadas ao ensino, pesquisa e extensão, a UNIFESSPA atualmente oferta cursos de graduação e pós-graduação, desenvolvendo atividades de ensino, extensão e pesquisa1.

1 Em Marabá, nível de graduação, no Campus I, os cursos de Ciências Sociais, Direito, Educação do Campo,

Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica, Geografia ( Licenciatura), Pedagogia (Intensivo) e Sistemas de Informação; no Campus II, os cursos de Ciências Naturais, Engenharia Civil, Engenharia de Materiais, Engenharia de Minas e Meio Ambiente, Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Física, Geologia, Matemática e Química; no Campus III ou Cidade Universitária, os cursos de Agronomia, Artes Visuais, Ciências Biológicas, Ciências Econômicas, História, Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Psicologia (Enfase em Organizações e Trabalho); Saúde Coletiva. No campi de Rondon, os cursos de Bacharelado em Administração e Bacharelado em Ciências Contábeis; em Xinguara, o curso de Licenciatura em História; em São Félix do Xingu, o curso de Letras (Língua Portuguesa); e em Santana do Araguaia o curso de Licenciatura em Matemática. (UNIFESSPA, 2015). A Unifesspa também oferta em Marabá cursos de pós-graduação, como Especialização em Letras, Mestrado Profissional de Letras (PROFLETRAS), Mestrado Profissional em Ensino de Física e o Mestrado Acadêmico - Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na

Considerando a abordagem acima acerca do processo de interiorização da UFPA, pensamos ter exposto minimamente o contexto da implantação das licenciaturas na região, terreno sobre o qual pretendemos encampar nossa pesquisa, especificamente sobre a Licenciatura em Pedagogia.

Importa aqui dizer que o contexto histórico no qual se insere esta pesquisa reflete as lutas dos campi por autonomia e melhoria na qualidade do ensino articulado com pesquisa e extensão, bem como o fortalecimento do quadro docente residente em Marabá.

Amazônia – PDTSA, curso pioneiro na modalidade stricto sensu no Campus de Marabá, do qual este mestrando

é discente. Mais recentemente, esta universidade teve aprovado um curso de Doutorado Interinstitucional de Engenharia Elétrica, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UNIFESSPA, 2015)

4. PRÁXIS PEDAGÓGICA, IDENTIDADE DO PEDAGOGO E ANALISE DE