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Capítulo 1 Enquadramento da actividade do treinador de judô

1.1. O judô no Rio Grande do Sul

1.1.1 A criação do judô

Judô, ou “caminho suave”, é o esporte idealizado pelo professor Jigoro Kano, em 1882 no Japão, sendo difundido como um tradicional método de Educação Física e moral através da luta.Como modalidade competitiva, é disputado em uma área quadrada de tatames, com as dimensões de até dez por dez metros, com os atletas distribuídos em sete categorias, de acordo com o peso. Atualmente, um dos competidores usa kimono azul e o outro, branco, facilitando a identificação pelo público, durante os combates. O sistema de pontuação leva em consideração os seguintes aspectos: posição que o atleta projetado toca o solo, tempo de imobilização e aplicação eficaz do forçamento da articulação do cotovelo ou do estrangulamento.

Quando o judô foi sistematizado, o Japão passava por uma época de profundas mudanças sociais. A abertura dos portos japoneses ao mundo, decretada pelo Imperador Mutsuhito, no ano de 1865, inaugurou um período que ficou conhecido como a Renascença Japonesa e que ficou marcado pela expansão de contatos comercias e diplomáticos do Japão com países ocidentais e pela derrocada dos poderes feudais. Segundo Ruas (1998), o Japão sofreu um processo de ocidentalização e os aspectos sociais, culturais e

econômicos sofreram impactantes transformações. Esse movimento

transformador pôs fim à era dos Shoguns, representantes do Japão feudal, passando o poder a ser exercido de fato e de direito pelo (ou em nome do) imperador. Instalou-se no arquipélago o Estado de Direito, onde todos são iguais perante a lei. Em conseqüência destas mudanças sociais, econômicas e políticas, os Samurais viram esvaziada a sua função social guerreira, e a sua missão de ser a guarda pessoal do Shogun. Neste período de declínio das prerrogativas dos samurais, os valores éticos e morais que acompanhavam as modalidades de combate no Japão feudal perderam consistência, fazendo

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mergulhar o ensino das lutas numa crise de identidade, na busca de se adaptar aos novos tempos. O judô aparece, neste contexto de crise, com um desígnio marcadamente formativo e em reação à degradação dos valores das artes marciais. Conforme Ruas (1998), Jigoro Kano não se conformava com os rumos que o jiu-jtisu tomava nesta época em que alguns mestres ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, através de lutas simuladas, cobrando de quem fosse assistir. Esta prática, na visão de Jigoro Kano, “prostituía e degradava uma arte marcial” e por isso ele evitou o termo jiu-jtisu; para não ser confundido com a escola “Jikishin Ryou” na época uma escola de

jiu-jtisu, que também utilizava o termo “judô”, designou seu método de Judô

Kodokan, apesar de “soar um pouco longo” (CALLEJA, 1974.) .

O método criado por Jigoro Kano nasceu baseado em outras artes marciais praticadas e estudadas por ele (Virgílio, 1986, Franchini 2005). Segundo Robert (1973), Jigoro Kano fez a síntese das melhores técnicas do

jiu-jtisu, escolheu os golpes mais eficazes e os mais racionais, eliminou as

práticas perigosas e incompatíveis com o fim elevado que visava, aperfeiçoando a maneira de cair e aperfeiçou o princípio do amortecimento das quedas.

Robert (1973) comenta que o método estabelecido por Jigoro Kano teve grande rejeição pelos cultores profissionais do jiu-jtisu, que valorizavam o

shin-ken-shobu (vencer ou morrer, lutar até a morte).

Do ponto de vista das técnicas de luta, o judô se diferencia da maioria das artes marciais orientais por não apresentar entre as suas técnicas competitivas golpes de impacto como chutes ou socos, embora existam técnicas de impacto denominadas de atemis que, como citado anteriormente, não podem ser utilizadas na competições, sendo desta forma muito pouco treinadas ou ensinadas nas academias. É baseado principalmente em técnicas de arremesso e técnicas de domínio no solo, tais como imobilizações, estrangulamentos e chaves de braço.

Quando criou o judô, Jigoro Kano pretendeu, segundo Franchini (2007), criar um método de educação física integral e acreditava que este seria um modelo eficaz para a educação do físico e do espírito. Sentindo a

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necessidade de dar um caráter educativo ao judô, escreveu o seu criador: “A principal diferença entre o judô Kodokan e o antigo Jiu-jtisu pode ser resumida como a elevação de uma simples técnica a um princípio de vida. O judô Kodokan baseia- se em dois pontos fundamentais: máxima eficácia com o mínimo de esforço e prosperidade e benefícios mútuos”.

(KANO, 1907, pg 36)

“A arte (jitsu) é cultivada, mas a doutrina Dô é a essência do judô” (Kano,1986). Com este pensamento, Jigoro Kano justificou a criação do judô. JU significa suavidade, leveza; e DÔ significa caminho, “estrada” não apenas para o treinamento de técnicas de ataque e defesa, mas para um sistema de educação integral do indivíduo.

Atualmente, segundo Franchini e Dorneles (2005), a Confederação Brasileira de Judô possui federações filiadas em todos os Estados do país, e a modalidade é amplamente praticada em escolas, clubes e academias de ginástica. Porém, o número de atletas registrados é ainda conhecido por estimativas e estas indicam a existência de cerca de duzentos mil praticantes na condição de filiados (vinte mil em São Paulo e três mil e quinhentos no Rio de Janeiro), incluindo, portanto, participantes regulares e registrados. Outras estimativas, ao nosso ver não são dados confiáveis, pois se baseiam em estimativas de órgãos interessados hora em aumentar ou diminuir os números. Se efetiva, esta cifra corresponde a um total dez vezes maior do que aquele encontrado em 1971 pelo Diagnóstico da Educação Física e Desportos no Brasil, isto é 22.842 atletas registrados nas federações (COSTA, 1971). Quanto aos praticantes, as estimativas têm variado, desde o final da década de 1990, entre um e dois milhões, por diversas fontes, o que corresponde mesmo na avaliação mínima a um dos esportes mais praticados no Brasil (DRIGO, 1999). Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos de Esportes Aquáticos e Terrestres do Estado de São Paulo – SEEAATESP, havia cerca de 4 mil academias e associações de judô no país, em 2003, em levantamento feito junto ao Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) do Ministério da Fazenda. Esta cifra, em que pese sobreposição de registros, confirmaria em parte a estimativa maior de praticantes de judô no país. Hoje, o Brasil situa-se entre as sete nações mais competitivas do mundo na modalidade, oscila entre as três

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melhores nos Jogos Pan-Americanos,e tem a hegemonia no nível sul- americano (COB, 2001).