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2. A Cooperação Transfronteiriça no Noroeste Peninsular

2.1. A criação da Euro Região

O Norte de Portugal e a Galiza são regiões periféricas que se encontram distantes dos centros de poder. Esta periferia a nível geográfico implica muitas vezes uma “marginalização” que desemboca em problemas de desenvolvimento económico e social sustentável (Dominguez Castro, 2008: 129). No caso galego e no Norte de Portugal comprova-se a existência de grandes disparidades e assimetrias; desta forma ambas as regiões tornaram-se um dos objetivos principais da Cooperação devido aos seus valores per capita muito baixos e taxas de desemprego muito elevadas, tendo em conta outras regiões europeias. Esta zona tornou-se assim uma zona prioritária de ação da Política Regional Europeia. A Euro Região Norte de Portugal-Galiza foi constituída em 2008 no seguimento da composição do Agrupamento Europeu de Cooperação Transfronteiriça (AECT) cuja principal função passa pela execução de programas ou projetos de cooperação territorial cofinanciados pela UE, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), do Fundo Social Europeu (FSE) e/ou do Fundo de Coesão. A formação desta Euro região prende-se com o processo de regionalização em que a iniciativa se baseia na política regional e de desenvolvimento da União Europeia. Na atualidade podemos afirmar que os AECT executam os programas de cooperação transfronteiriça, transnacional e inter-regional e a sua ação passa pelo fortalecimento da política regional, pelo desenvolvimento de atividades económicas entre outras, e passa ainda pelo desenvolvimento da cooperação bilateral, sendo um fruto da constante globalização e evolução da Cooperação Transfronteiriça. Pela sua importância, falaremos nestes Agrupamentos, mais adiante na investigação.

A Euro Região formada pela Galiza e pela Região Norte possui uma superfície de 50.863 km² que corresponde a 8,5% do território Ibérico. É necessário destacar que é a Galiza que possui uma maior superfície territorial com cerca de 29.574 km² (Rio Fernandes et al. 2006:131). A nível populacional falamos em cerca de 6,4 milhões de habitantes em todo o território da Euro Região, sendo que a maior percentagem de

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população se encontra no Norte de Portugal: 3.689 milhões de habitantes que representam35,4% da população portuguesa (www.eurocidadechavesverin.eu e INE). O território Galego, apesar de possuir uma maior extensão, possui apenas 2,7 milhões de pessoas. É necessário destacar que os principais atores da Euro Região são a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal (Xunta de Galicia e CCDR-N) e o Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular que assumem os papéis de administração e organização do território e consequentemente, o planeamento e execução de muitos dos projetos para o desenvolvimento da Euro Região.

Quadro 1: Território e População da Euro Região Norte de Portugal – Galiza em 201112

Quadro 2: Grupos etários na Euro Região em 201113

0-15 anos 16-64 anos 65 + anos

Espanha 16,0% 66,7% 17,3%

Portugal 15,9% 65,0 % 19,0%

Euro Região 14,6% 65,8 % 19,6% Norte de Portugal 16,2% 66,7% 17,1%

Galiza 12,6% 64,6% 22,8%

Como é possível reparar nas tabelas acima, constata-se o envelhecimento da população espanhola e portuguesa e consequentemente no território da Euro Região. O facto do território espanhol e da sua população residente serem superiores a Portugal agrava a situação nacional. Temos menos população residente e menos território, no entanto,

12 www.eurocidade.eu e INE (consultado a 5-11-2015)

13 www.eurocidade.eu e INE (consultado a 5-11-2015)

Superfície Km2 População residente Densidade populacional Espanha 505.988,0 46.815.916 92,5 Portugal 92.151,8 10.562.178 114,6 Euro Região 50.863,0 6.462.610 127,1 Norte de Portugal 21.289,0 3.689.682 173,3 Galiza 29.574,0 2.772.928 93,8

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possuímos percentagens de população idosa muito próximos da realidade espanhola. Destaque-se ainda a percentagem da população idosa na Euro Região: 17,1% no Norte de Portugal e 22,8% na Galiza.

De facto, as Euro Regiões são o resultado da organização Europeia e do aproveitamento de características sociais e culturais que as aproximam. A história das relações entre a Região Norte e a Galiza remontam ao período anterior ao dos Estados-nação. Existe uma proximidade que assenta numa tradição cultural, linguística e económica que se tornou indispensável para a criação da Euro Região (Ribeiro e Silva, 2012: 189). É certo que no tempo da Gallaecia Romana, da Idade Média e até na Contemporaneidade, não é possível falarmos em Cooperação; o mais correto é falarmos em entreajudas e permutas. Ao longo dos tempos foram-se sacralizando certas práticas que se revelaram frutíferas para ambas as partes. No entanto nunca se esqueceram as rivalidades específicas de uma vizinhança partilhada. É certo que não falamos apenas em cooperação entre a Região Norte e a Galiza; falamos num estímulo à cooperação local, entre municípios e empresas locais. A Cooperação Transfronteiriça é uma das grandes razões para a existência de Euro Regiões em que a política regional da União Europeia é o principal estímulo (Ribeiro e Silva, 2012: 191).

É possível observar a Europa e verificar que as regiões assumem cada vez mais um papel preponderante na diminuição das assimetrias económicas e sociais. A Associação de Regiões Transfronteiriças Europeias e o Comité das Regiões desempenham funções comoseja o apoio ao desenvolvimento regional e local ajudando na captação de fundos que estimulam a coesão nesses territórios. Importa destacar que são organismos ligados ao associativismo e que revelam a importância dos movimentos associativos em questões de Cooperação entre regiões. É importante destacar que não só as associações e os atores locais e regionais possuem a génese da iniciativa das Euro Regiões; estas não seriam possíveis se não existisse o incentivo dos programas europeus de financiamento como a Iniciativa Comunitária Interreg-A (Medeiros, 2009: 85). O que acontece no seio da Euro Região cujas regiões são objeto de estudo neste trabalho é que a cooperação Transfronteiriça é mais intensa entre o eixo Minho-Galiza mas que para usufruir do verdadeiro sentido do termo Euro Região, precisa de retificar certos factores como a partilha de infraestruturas e recursos (Medeiros, 2009: 87).

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2.2. A Região Norte e a Galiza: características, atributos e Cooperação