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II. A ESCOLA MILITAR DO REALENGO

2.2. A Escola Militar, em Realengo

2.2.2. A década de 1910

No início da década de 1910, quatro instituições constituíam o centro da vida pública no Realengo: a estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, a Fábrica de Cartuchos, a Escola Militar e a capela de Nossa Senhora da Conceição, já elevada à categoria de freguesia, com a extensão de sua jurisdição demarcada pelos limites do alto da serra de Jacarepaguá até as divisas com São João de Meriti no alto da serra de Madureira, e desde a estrada de Sapopemba até perto de Bangu176. Edificada no meado do século XIX na praça Nossa Senhora da Conceição, onde ainda hoje se situa, a capela constituiu o ponto em torno do qual um modesto comércio começou a se estabelecer no bairro. A limitação da disponibilidade de áreas junto à linha ferroviária, que constituíam propriedade do Ministério da Guerra, deu ao Realengo uma configuração diferente da maioria dos bairros do subúrbio, nos quais os estabelecimentos comerciais se localizavam normalmente ao redor das estações. Nas áreas periféricas, os antigos campos de pastagem cediam lugar ao cultivo de laranjas.

De um modo geral, apesar dos investimentos na Escola Militar e na Fábrica de Cartuchos, a década de 1910 não representou um período de grande evolução urbana para o Realengo. Em 1917, a localidade ainda era considerada como um distrito da freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, possuindo poucos logradouros: o Campo de

Marte, as praças Nossa Senhora da Conceição, Conselheiro Freire Allemão e do Arsenal,

a estrada e o caminho dos Limites e as ruas do Cemitério, Murundú, Rosa de Almeida e

Campanha177, nas quais podem ser encontradas as construções residenciais mais antigas da região. Com exceção das edificações da fábrica de cartuchos e das instalações militares, a única instituição mantida pelo poder público era o cemitério do Murundu, inaugurado em 1895. A canalização do abastecimento de água do bairro só foi iniciada na década seguinte178, abrangendo, além de Realengo, as localidades de Sepetiba, Bangu, Vila Nova do Magarça e Mato Alto, Guaratiba, Rio da Pedras e Ilha do Governador.

176 Carlos de Almeida Barata. Igrejas & Paróquias. <http://www.ids.org.br/files/Cronologia_III.pdf>. Acesso

em 22 de julho de 2009.

177 Decreto nº 12.356, de 10 de janeiro de 1917. Aprova a consolidação das disposições legais e

regulamentares concernentes aos territórios das freguesias urbanas e suburbanas do Distrito Federal, que formam as circunscrições judiciárias das atuais pretorias.

178

Lei nº 3.991, de 5 de janeiro de 1920. Fixa a despesa geral da República dos Estados Unidos do Brasil para o exercício de 1920. Artigos 53, 58 e 60. Autoriza o governo a executar, pela consignação "revisão da rede", da verba 8ª, as canalizações destinadas ao abastecimento de água a Sepetiba, Bangu, Vila Nova do Realengo, Magarça e Mato Alto, em Guaratiba, Rio da Pedras e ilha do Governador. Decreto nº 4.555, de 10 de agosto de 1922. Provê as despesas públicas no exercício de 1922. Continuação das canalizações

Para o ensino militar, o ano de 1913 marcou a entrada em vigor de uma nova regulamentação179. Foram definitivamente extintas a Escola de Guerra e a Escola de Aplicação de Infantaria e Cavalaria, do Rio Grande do Sul, além da Escola de Artilharia e Engenharia e a Escola de Aplicação de Artilharia e Engenharia, da Capital. Reunidas em Realengo, essas instituições passaram a funcionar sob a denominação de Escola Militar e

Escola Prática do Exército.

Figura 8 - Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

Vista da fachada da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, situada na praça de mesmo nome, em Realengo, às margens da antiga estrada Real de Santa Cruz. Fotografia de Anderson Viana, ano de 2010.

A Escola Militar foi concebida como um internato, destinado a ministrar às praças os conhecimentos necessários para a matrícula na Escola Prática do Exército, onde complementariam os conhecimentos para formação do oficial. As condições para a matrícula exigiam o tempo mínimo de seis meses de efetivo serviço como praça em um dos corpos do Exército, exceção feita aos candidatos que possuíssem o curso integral de um dos colégios militares ou apresentassem cadernetas de reservista, comprovando a

destinadas ao abastecimento d'água em Sepetiba, Bangu, Villa Nova do Realengo, Magarça e Mato Alto, Guaratiba, Rio das Pedras e ilha do Governador).

179

condição anterior de aluno de um estabelecimento de ensino onde houvessem recebido instrução militar180.

Os cursos das extintas Escola de Guerra e Escola de Aplicação de Engenharia e

Artilharia funcionariam como anexos da Escola Militar. Isso significa que estariam

reunidos em um único estabelecimento os cursos de infantaria, cavalaria, artilharia e engenharia, emergindo a necessidade de novas adequações do prédio da escola para atender ao aumento do efetivo que o ocuparia. A aquisição de novos equipamentos para as aulas, tais como aparelhos de topografia, cavalos para equitação, material de telegrafia, telefonia e fotografia, também exigiu a execução de novos melhoramentos nas áreas de instrução. No polígono de tiro foi construído um pavilhão sanitário e reconstruído o paiol; foram feitos reparos e limpeza nos armazéns e instaladas novas linhas telefônicas. No picadeiro, foram colocados aparelhos sanitários e melhorada a pista. A enfermaria recebeu pinturas, caiadura externa e teve as janelas guarnecidas com telas de arame, além de receber uma nova mobília181.

Figura 9 - Escola Militar, em data anterior a 1920.

Fachada do prédio da Escola Militar do Realengo em data desconhecida, mas certamente antes das reformas de 1920. Foto do acervo particular do Sr Márcio Dantas Matias, gentilmente cedida para este trabalho.

Com o acréscimo dos novos cursos, foi necessário também reaproveitar outras dependências da extinta escola de tiro, na qual foram preparados dois alojamentos para receber os alunos da Escola de Guerra. Os prédios receberam uma pintura geral, além da

180 Relatório do Ministro da Guerra Vespasiano Gonçalves de Albuquerque e Silva, 1912, anexo A-E-51. 181

realização de outros pequenos consertos. Nas baias foi realizada uma limpeza geral, compreendendo pinturas diversas e a construção de 790,23 metros de calçamento cimentado e sarjetas para desvio das águas pluviais.

Figura 10 - Fachada da Escola Militar, em 2009.

Prédio da Escola Militar do Realengo, em 2009. A fachada atual conserva os elementos da reforma de 1920. Fotografia de Yukimi Takanaca..

Pode ser observado que, apesar das intenções de dotar a escola dos materiais e das instalações necessárias para o desenvolvimento da instrução, as reformas realizadas não iam além de pinturas, pequenos consertos, modificações ou adaptações nas instalações já existentes. No antigo prédio, destinado originariamente a abrigar um efetivo reduzido, as ampliações correspondiam apenas às necessidades mais emergentes. A Escola Militar do Realengo era um local desconfortável, onde a improvisação era a regra. Embora a ampliação do edifício estivesse prevista desde sua ocupação em 1905, as restrições financeiras constantemente impediam a execução desse projeto182. Após quinze anos de funcionamento no Realengo, a escola ainda era composta por um único pátio, tomado por alojamentos; as salas de aula espalhavam-se pelas ruas sem calçamento do bairro, e grande parte dos alunos se hospedava - prática herdada da Praia Vermelha - em repúblicas, quartos alugados como moradia conjunta.

182

A situação de precariedade das instalações da escola prolongou-se até 1919, quando foram finalmente realizadas reformas de maior vulto. O pátio principal recebeu o acréscimo de um segundo andar, onde foram distribuídas as salas de aula e as repartições administrativas; a fachada do prédio foi remodelada em estilo art noveau, que ainda se conserva atualmente; um segundo e um terceiro pátio foram construídos, abrigando alojamentos amplos e mais convenientemente mobiliados; foi construído um pavilhão para a ferraria, uma sala de veterinária e um picadeiro ao ar livre para a instrução de equitação; o pavilhão da enfermaria foi melhorado. As obras de ampliação do edifício foram concluídas em 1920183.

Essas melhorias ocorreram em conjunto com amplas reformulações da estrutura do Exército, postas em prática a partir da administração do Ministro da Guerra Alberto Cardoso de Aguiar e de seu sucessor, Pandiá Calógeras. A contratação de uma missão de instrução militar composta por oficiais do exército francês184 trouxe, entre outras modificações na formação dos oficiais brasileiros, a organização de um curso de aviação, destinado a ministrar aos oficiais e sargentos a instrução de pilotos, mecânicos e observadores de voo185. Também foi criado um curso para oficiais veterinários, que funcionaria junto à Diretoria de Saúde do Exército, e um curso de administração, junto à Diretoria de Administração da Guerra, ambos sob a direção técnica dos oficiais franceses.