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III. PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DA ESCOLA MILITAR

3.2. Depois da escola

As transformações sofridas pelas instalações e áreas militares de Realengo, após a extinção da Escola Militar, são narradas em seguida. Os dados procedem, em grande parte, de pesquisas de campo na localidade. Desse modo, a ausência de um maior número de referências bibliográficas, principalmente em relação aos períodos mais recentes, deve ser atribuída ao fato de que as informações decorrem de um esforço original de registro e sistematização de observações próprias.

Figura 32 - Ruínas da Fábrica do Realengo.

Ruínas das oficinas da Fábrica de Cartuchos do Realengo, desativada em 1977. Fotografia de Anderson Viana, ano 2010.

Considerado inadequado para o desenvolvimento das atividades da Escola Militar, o prédio do Realengo não foi descartado como sede para outras instituições militares. Em 1º de setembro de 1945, mesmo ano em que a escola foi definitivamente transferida para

Resende267, foi instalado nas antigas dependências o recém criado Centro de

Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo268. O Centro foi transformado, em 1955, na Diretoria de Aperfeiçoamento e Especialização269 e posteriormente transferido para o edifício sede do Ministério da Guerra, na praça da República. Subordinado à Diretoria de Ensino do Exército, tinha como função coordenar a realização de cursos de aperfeiçoamento e especialização de oficiais e sargentos, sendo constituído pelos seguintes órgãos:

- A Escola das Armas, na Vila Militar270. - A Escola de Motomecanização, em Deodoro. - A Escola de Transmissões, na Vila Militar.

- A Escola de Instrução Especializada, em Realengo271.

- A Escola de Sargentos das Armas, destinada ao aperfeiçoamento dos segundos- sargentos e terceiros-sargentos, e à seleção de sargentos para as Unidades-Escola. Esse estabelecimento funcionou em Realengo apenas até 1949, quando foi desligado do Centro de Aperfeiçoamento e Especialização e transferido para a cidade de Três Corações, no sul do estado de Minas Gerais, passando à subordinação da Diretoria do Ensino do Exército272. - O Grupamento das Unidades-Escola, composto pelos Regimento-Escola de

Infantaria, Regimento-Escola de Cavalaria, Regimento-Escola de Artilharia, Companhia- Escola de Engenharia, Companhia-Escola de Transmissões, Companhia-Escola de Saúde

e Companhia-Escola de Indentência, todos sediados na Vila Militar de Deodoro.

267 O primeiro ano do curso de formação de oficiais já havia funcionado na Escola Militar de Resende

durante o período letivo de 1944. Decreto-Lei nº 6.012, de 19 de novembro de 1943. Cria a Escola Militar de Resende, e dá outras providências.

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Decreto-Lei nº 7.888, de 21 de agosto de 1945. Cria o Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo, e dá outras providências.

269 Decreto nº 37.973, de 22 de setembro de 1955. Modifica a alínea "a" do art. 5º do Decreto-Lei nº 7.888,

de 21 de agosto de 1945, que cria o Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo. Altera, parcialmente, a estrutura do Estado Maior do Exército e da Diretoria Geral do Ensino, e dá outras providências.

270 Transformada em Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, conforme a Lei nº 758, de 11 de julho de 1949.

Modifica a alínea "a" do art. 5º do Decreto-Lei nº 7.888, de 21 de agosto de 1945, que cria o Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo.

271 Decreto-Lei nº 5.636, de 30 de junho de 1943. Cria o Centro de Instrução Especializada, com sede na

Capital Federal. Foi transformado na Escola de Instrução Especializada pelo Decreto-Lei nº 7.888, de 21 de agosto de 1945, acima citado. A EsIE dividia o quartel da Escola das Armas até 1949, quando foi transferida para instalações próprias em Realengo, ampliadas nas décadas seguintes. Localiza-se em Realengo ainda hoje, na rua Marechal Abreu Lima, nº 450, ocupando uma área de 288.000 metros quadrados entre a linha férrea, do lado oposto da Escola Militar, e a avenida Brasil.

272 Decreto nº 27.543, de 5 de dezembro de 1949. Transfere de sede a Escola de Sargentos das Armas e dá outras providências.

- O Núcleo de Recompletamento das Unidades-Escola, órgão de recrutamento destinado a manter os efetivos em praças de fileira, especialistas e cabos do Grupamento de Unidades-Escola.

- O Curso Especial de Equitação, nomenclatura alterada em 1954 para Escola de

Equitação do Exército, que ocupou as dependências do antigo Departamento de Equitação

e de Educação Física da Escola Militar do Realengo.

Em 1947, foi criado e instalado no primeiro pátio do edifício da extinta escola o

Serviço de Publicações do Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo, que

realizava serviços gráficos e impressão de material didático para as unidades subordinadas ao Centro. Com o rápido crescimento da demanda por seus serviços, foi necessária a realização de obras de adaptação das instalações para comportar o maquinário gráfico adquirido. O Serviço de Publicações foi transformado, em 1948, na Oficina Impressora

General Gustavo Cordeiro de Farias, denominação alterada em 1949 para Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias. O estabelecimento permaneceu em

Realengo até 1977, quando foi transferido para Brasília, nas instalações do Quartel General do Exército.

Entre 1949 e 1977 o Estabelecimento Cordeiro de Farias dividiu o quartel do Realengo com o 3º Batalhão de Carros de Combate273, removido do Derby Club para possibilitar a construção do estádio do Maracanã. Com a transferência da gráfica para Brasília, em 1977, o prédio do Realengo passou a ser ocupado exclusivamente pelo 3º Regimento de Carros de Combate pelos vinte anos seguintes.

O ano de 1977 também foi marcado pela extinção da Fábrica do Realengo, assim como de outras fábricas de material bélico vinculadas ao Exército, que tiveram seu patrimônio transferido para a Indústria de Material Bélico do Brasil. As grandes áreas da fábrica permaneceram sob guarda dos militares, sem uso mais específico do que, eventualmente, a utilização como um pequeno campo de instrução. Apenas uma área edificada, no cruzamento da rua Doutor Lessa com a avenida Santa Cruz, passou a ser utilizada como aquartelamento pela Companhia de Material Bélico do 19º Batalhão Logístico.

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Transformado no 3º Regimento de Carros de Combate, conforme a Portaria Ministerial nº 37-Res, de 21 de dezembro de 1971. Embora o Decreto-Lei nº 6.451, de 28 de abril de 1944, tenha como ementa a transferência da sede do 3º Batalhão de Carros de Combate para a cidade de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul, somente sua Companhia de Carros de Combate Leve foi transferida, dando origem ao 3º Batalhão de Carros de Combate Leve, atual 29º Batalhão de Infantaria Blindado.

A Escola de Equitação do Exército permaneceu no Realengo até dezembro de 1995, quando foi transferida para a Vila Militar de Deodoro, deixando desocupadas as antigas instalações do Departamento de Equitação e de Educação Física da Escola Militar do Realengo. Ao final de 1996, também foram transferidos do bairro a Companhia de Material Bélico, para o município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, e o 3º Regimento de Carros de Combate para instalações localizadas junto ao Campo de Instrução do Gericinó. Com essas mudanças, todas as áreas do bairro que ainda se encontravam sob jurisdição do Exército permaneceram vazias, com exceção do antigo edifício da Escola Militar, que passou a sediar o Comando da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, a 1ª Companhia de Comunicações Blindada, o 36º Pelotão de Polícia do Exército e a 7ª Companhia de Engenharia de Combate Blindada. Estas unidades também ocuparam por pouco tempo o quartel do Realengo, sendo extintas ou transferidas para a Região Sul do país, após 2004.

Figura 33 - Detalhe da fachada da Fábrica do Realengo.

Detalhes arquitetônicos da fachada da "Área I" da Fábrica de Cartuchos do Realengo, no trecho voltado para a Avenida de Santa Cruz. Fotografia de Yukimi Takanaca, ano 2009.

No mesmo período, foram firmados acordos entre os Ministérios do Exército274, da Educação, do Planejamento, Orçamento e Gestão, a Gerência do Patrimônio da União

274 Comando do Exército, subordinado ao Ministério da Defesa, a partir de 1999. Lei Complementar nº 97, de

9 de junho de 1999. Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas.

no Rio de Janeiro e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, que redistribuíram as áreas militares do Realengo, propondo novos usos públicos para algumas delas ou simplesmente realizando sua venda para grupos particulares.