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A dança conteúdo artístico

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2.4 O SILÊNCIO NO DISCURSO E GESTO DE INTERPRETAÇÃO

3.1.3 A Dança na Escola Enquanto Linguagem

3.1.4.2 A dança conteúdo artístico

Ao entender a dança como, “conteúdo artístico”, inserido na cultura do movimento, a autora argumenta que é através das funções de sensibilização humana, conjuntamente com o desenvolvimento do espírito crítico e da capacidade expressiva que se impulsionará o sujeito para a busca de transformações sociais. Nesse sentido, Saraiva propõe um estudo de dança que contemple as relações de gênero em uma perspectiva da educação estética (SARAIVA-KUNZ, 2003). A significação na dança se encontra nela mesma, com suas possibilidades artísticas, expressivas e comunicativas como as demais artes, mas com características que lhe são inerentes. O sentido da dança está nela mesma, e é o corpo seu instrumento e obra de arte. A dança é, segundo Saraiva, “[...] compreendida enquanto uma atividade artística e organizada deliberadamente para estabelecer uma relação significativa com um público” (DANTAS, 1997 apud SARAIVA-KUNZ, 2003, p. 78).

A autora amplia os sentidos e os significados da dança dialogando com Hanna (1980), ao dispor a dança como um fenômeno complexo:

[...] a dança pode ser analisada incluindo os pressupostos de que ela é comportamento físico, social, cultural, psicológico, econômico, político e comunicativo, busca uma definição de dança que transcenda as demais correntes e aproxima quatro características que julga ser suficiente para compor a idéia da dança: propósito, intencionalidade rítmica, seqüências culturalmente padronizadas, linguagem não verbal de movimentos corporais e de valor estético. Essas características devem se cruzar, porque independentes são insuficientes para definir a dança, até mesmo porque elas terão pesos diferentes conforme a óptica de análise (SARAIVA-KUNZ, 2003, p. 79).

Nessa concepção, é o sentimento imaginado que governa a dança e não as condições emocionais reais. A dança é uma presença fenomenal que significa uma unidade entre o ser que se move e a dança, que tem no corpo um mediador entre o ser e o mundo. A autora afirma que a dança por ser efêmera, infinita e de inúmeros significados pode se dar a conhecer em uma “[...] atitude fenomenológica que admite conhecer como o ato de desvelar o fenômeno, o que se dá em uma interação de estímulos entre o fenômeno e o observador” (2003, p. 82).

Construindo sua relação com quem dança e quem é dançado, entre o bailarino e o público, reafirmando uma relação direta com a platéia, Dantas acredita que “a função expressiva da arte – e da dança – vai-se resolvendo no processo de criação [...] do mesmo modo, a função expressiva só encontra sua plena realização na relação com o fruidor” (DANTAS, 1999 apud SARAIVA et al., 2006, p. 91).

As reflexões de Benjamin sobre arte aurática e os apontamentos de Saraiva sobre quem dança e quem é dançado, relacionam-se com as ponderações sobre o recolhimento diante da obra de arte, pois se faz necessário um momento em que o observador mergulhe junto com o bailarino/dançarino na trama da composição coreográfica, possibilitando aí sentidos da experiência estética e o desenvolvimento do olhar crítico, que se produzirá posteriormente (BENJAMIN, 1994).

Assim, uma obra tem sentimentos do artista, e quem a contempla mergulha na sua expressividade, e seu entendimento irá depender das suas experiências estéticas anteriores. Nesse caso, é possível perceber que

a expressividade humana tem o caráter de uma linguagem de relação que emerge nas nossas experiências, identificando-se com a constituição temporal de nossa subjetividade. Esse conceito ampliado de expressividade extrapola o âmbito da “expressão artística” e permite-nos compreender experiências expressivas, que abarcam a ação dos não-artistas. Assim, a linguagem de relação é uma operação que “instaura signos”, como outras conceituações no âmbito da dança, mas que não exclui a subjetividade individual, auto- expressão. A expressividade, então, é um fenômeno que associa ou dissocia expressão e representação, conforme o grau de capacitação da pessoa, no âmbito em que a expressividade é requerida (DANTAS, 1999 apud SARAIVA et al., 2006, p. 91, grifos da autora).

De acordo com Saraiva-Kunz (2003), a dança constitui-se como “ser-estar- no-mundo, diferente de formas cotidianas”, em que as experiências vividas por meio dela se manifestam de maneira subjetiva e social e que dependem das vivências

anteriores do sujeito, evidenciando uma compreensão biográfica da dança.26 Portanto, “[...] esse fenômeno que toma forma (aparece) na consciência implícita de si mesmo – de quem dança – na experiência vivida, singular e vital, no fluir vivo e dinâmico se apresenta num todo único e contínuo” (SARAIVA-KUNZ, 2003, p. 91).

A dança é ainda uma aparição, ou seja, um fenômeno da experiência, que se estrutura, reelabora e significa novamente a cada nova experiência, constituindo-se em uma linguagem simbólica. É “[...] abertura de um estado interno, que transforma o corpo num ‘material plástico’, e do qual se pode dizer que ‘corporifica’ esse estado interno. A expressão, então, não é apenas temporal, plástica, espacial, mas sim vivencial” (SARAIVA, 2005, p. 235, grifos da autora).

Na discursividade da autora, é possível observar a presença de uma reflexão aurática, no sentido de que mesmo que uma apresentação de dança exiba repetidas vezes a mesma coreografia isso não significa ser a mesma dança, pois é possível observar nesse processo uma unicidade da obra.

Para Saraiva (2003), a dança é importante na escola visto que faz parte de um entendimento do saber e fazer humano ainda que essa esteja sendo considerada supérflua porque não faz parte da racionalidade e do saber necessário à produção da sociedade industrial, ou ainda, “[...] porque não instrumentaliza o fazer necessário a ser mão-de-obra barata, nessa mesma sociedade” (SARAIVA; FIAMONCINI, 2003). Em relação a esse aspecto, podemos pensar as seguintes questões: para que serve essa aprendizagem? Qual a sua utilidade? A dança nesse sentido é tida como passa-tempo, supérflua, banal e geradora de situações preconceituosas.

Nos dizeres de Saraiva, a dança vem sendo entendida por vários autores/as “[...] como expressão da vida e como linguagem social, como manifestação de introspecção e de interação com o meio, como ato de apreensão e de reação aos fenômenos do universo” (SARAIVA-KUNZ, 2003, p. 96). Daí a importância de fazer parte do universo do conhecimento escolar, já que a dança vale por ela mesma com seus princípios e caráter pedagógico.

A dança produz sentido para a autora à medida que exterioriza o mundo imaginado, demonstra sentimentos, e reflete as transformações do ser no todo. Essas

26De acordo com Saraiva (2003, p. 107), biografia da dança é conceitualmente o significado formulado que a dança tem para cada pessoa. Assim, a partir da compreensão da “biografia de corpo” na dança de Fritsch, na história de vida das pessoas e interações sociais se desenvolvem as relações com o corpo e o movimento e reciprocamente com o movimento e a dança.

qualidades da arte e da dança as deslocam do imediatamente dado, revelando outras possibilidades do homem de ser, estar e fazer parte do mundo, possibilitando o questionamento da mecanização dos sentimentos e dos movimentos que a sociedade moderna impõe (SARAIVA-KUNZ, 2003). Portanto, a dança gera condições essenciais na formação de sujeitos críticos e emancipados.

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