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3. Definição e tipos de bullying

3.1. A definição de bullying

Como indica Almeida (1999: 178), não parece existir um vocábulo ou expressão na língua portuguesa que possa servir de tradução directa para o termo anglo-saxónico bullying. Alguns autores propõem expressões equivalentes em português.

Para Costa & Vale (1998: 13), por exemplo, bullying significa «implicar com as pessoas», geralmente alguém mais fraco ou mais novo do que o próprio”. Martins (2005: 103), por sua vez, sugere que “esta expressão pode traduzir-se por vitimação e / ou intimidação entre pares ou por maus tratos entre iguais” (em itálico no original). Ainda para Almeida (1999: 178), existem termos relacionados com este conceito que “capturam” o seu significado, termos como “abusar dos colegas”, “vitimar”, “intimidar” e “violência na escola”; no entanto, explica que “o termo português que nos pareceu mais adequado para a descrição sumária de agressividade/bullying, na perspectiva da criança, foi ‘fazer mal’ por não se importar como o outro.” (Pereira, 1997: 156)

Carvalhosa e Matos, num estudo sobre bullying realizado em 2001 com 6 903 alunos de 191 escolas nacionais do ensino regular, socorreram-se do vocábulo ‘provocação’ (como tradução portuguesa, segundo as autoras) em detrimento do termo inglês. Segundo as autoras do trabalho, o recurso ao equivalente português serviu para se certificarem “de que os jovens compreendiam o que se pretendia dizer com provocação.” (Carvalhosa e outros, 2001: 526) Para tal, e à semelhança do que sucede com o

Questionário de Olweus, foi apresentado o seguinte texto introdutório no início do questionário: “As questões que se seguem dizem respeito a situações de provocação. Deves entender uma acção de provocação quando um aluno (mais velho ou mais forte) ou um grupo de alunos, dizem ou fazem coisas desagradáveis a outro ou gozam com ele de uma forma que ele não gosta nada. Não é provocação quando dois alunos da mesma idade ou tamanho se envolvem numa discussão ou briga.” (Carvalhosa e outros, 2001: 526)

Se consultarmos um dicionário de língua inglesa, verificaremos que um bully – que está na origem da formação do termo bullying - é “uma pessoa que utiliza a sua força ou poder para amedrontar ou magoar aqueles que são mais fracos” (Oxford Advanced Learner’s Dictionary of Current English). Neste sentido, o bullying está relacionado com condutas que têm a ver com a intimidação, a tiranização, o isolamento, a ameaça, os insultos, sobre uma vítima ou vítimas que ocupam esse papel (Martínez, 2002: 18).

Contudo, a complexidade que caracteriza o fenómeno do bullying também se reflecte na dificuldade que existe em encontrar uma única definição para este tipo de comportamento.

De acordo com Olweus (2005: 9) “um aluno está a ser vítima de bullying quando ele ou ela se encontra exposto, de forma repetida e ao longo do tempo, a acções negativas por parte de um ou mais alunos”. Olweus (2005: 9) indica que estamos perante uma acção negativa sempre que “alguém infligir, de forma intencional, - ou pelo menos tenta infligir – dano ou desconforto sobre um terceiro”. Estas acções negativas podem ser levadas a cabo através de “palavras (verbalmente), através de episódios de ameaça, de insultos, de provocações e de gozo. Estamos, ainda, perante um acção negativa sempre que alguém bate, empurra, belisca ou repreende terceiros, fazendo recurso do contacto físico. As acções negativas podem, ainda, ser levadas a cabo sem o uso de palavras ou do contacto físico, quando os alunos utilizam as chamadas «caretas» ou gestos ofensivos, quando excluem intencionalmente alguém de um grupo ou, ainda, quando se recusam a concretizar os desejos do colega” (Olweus, 2005: 9). Seixas (2005: 98) acrescenta como exemplo de comportamentos que têm sido identificados como manifestações de bullying, “os ataques à propriedade (furto, extorsão, destruição deliberada de materiais/objectos)”.

Sharp & Smith (1995: 1) indicam que o bullying representa “uma forma de comportamento agressivo que, para além de ser deliberado, provoca normalmente dor; trata-se, por outro lado, de um comportamento persistente, que perdura, por vezes, ao

longo de semanas, meses ou, até, anos e que faz com que seja difícil para aqueles que são vitimados poderem defender-se. Por trás da maior parte das manifestações de bullying encontramos um abuso de poder e um desejo de intimidar e de dominar”. Formosinho & Simões (2001: 67) completam a definição proposta por estes autores, ao indicar que o bullying inclui “distintos tipos de agressão física ou psicológica”, induz “no outro um sentimento de inferioridade”, assume um “carácter repetitivo” e traduz “uma correlação desigual de forças em que o agressor, seja qual for o contexto, figura numa posição dominante face à vítima e agride-a para sua própria vantagem ou gratificação, nem que seja a gratificação de se sentir dominante”.

Thompson e outros (2003: 53), por sua vez, cit. Besag (1989: 4) acrescentam que o bullying “traduz um comportamento que pode ser definido como o ataque repetido – físico, psicológico, social ou verbal – por aqueles que se encontram numa situação de poder, que é formal ou situacionalmente definido, sobre aqueles que são impotentes para resistir, com a intenção de causar sofrimento para o seu próprio ganho ou gratificação.”

A definição preconizada por Pepler & Craig (2000: 4) indica que, ao falarmos de bullying, estamos perante uma forma de agressão onde existe um desequilíbrio de poder entre o agressor e a sua vítima, sendo que o ofensor (ou ofensores) é sempre mais poderoso que o ofendido (ou ofendidos).

Das definições apresentadas, destacam-se, portanto, três elementos comuns que caracterizam o comportamento levado a cabo por um bully:

Em primeiro lugar, o seu carácter agressivo e a intenção em provocar dor. A agressão supõe dor não só no momento do ataque, mas sim dor continuada, já que na vítima é criada a expectativa de voltar a ser alvo de futuros ataques (Martínez, 2002: 18);

Segundo, o seu carácter repetitivo ao longo do tempo; e

Finalmente, a desproporcionalidade de poder entre agressor e vítima. Como indica Martínez (2002: 18), não existe equilíbrio não só no que diz respeito a possibilidades de defesa, nem igualmente equilíbrio físico, social ou psicológico.

Para Thompson et. al. (2003: 58), apesar da variação que pudemos conferir nas definições que são apresentadas para caracterizar o fenómeno do bullying, são quatro as suas características centrais:

-o comportamento é persistente e sistemático; -o comportamento provoca medo na vítima;

-o comportamento assenta numa desproporcionalidade ou abuso de poder; e -o comportamento costuma decorrer num contexto de grupo.

Coloroso (2003: 16-17) salienta que, quando se foca a problemática do bullying, estamos perante uma actividade consciente e deliberadamente hostil, exercida com a intenção de magoar, provocar medo mediante a ameaça de uma agressão vindoura e criação de um ambiente psicológico de terror. A autora preconiza que o bullying incluirá sempre os seguintes três elementos, já anteriormente expressos no nosso trabalho, que passaremos a enunciar:

-a desproporcionalidade de poder, pois o agressor pode apresentar um ou mais destes predicados: ser mais velho, maior, mais forte, verbalmente mais hábil, estar numa posição socialmente mais elevada, ou mesmo do sexo oposto. Este desequilíbrio de poder pode verificar-se quando, por exemplo, um conjunto de jovens se junta e adquire esse domínio;

-a intenção de magoar, na medida em que o agressor pretende infligir dor emocional ou física, espera que o seu acto produza dor e sente prazer em testemunhar esse sofrimento;

-a ameaça de agressão futura, já que tanto o agressor como a vítima sabem que a agressão pode e provavelmente irá ocorrer novamente.

Coloroso considera ainda que, mediante uma escalada desgovernada dos acontecimentos, devemos acrescentar um quarto elemento:

-o terror, facilitador, deste modo, da intenção do agressor que pode, a partir desta fase, actuar sem recriminação ou retaliação. A vítima, por sua vez, torna-se tão impotente que dificilmente irá retorquir ou contará a alguém o seu sofrimento. O agressor conta, ainda, com a colaboração de terceiros, que assistem a estas investidas envolvendo-se activamente, apoiando o bully, ou simplesmente nada fazendo.