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O Programa Escola Segura desempenha, hoje em dia, um papel de grande relevância na ajuda que fornece às escolas.

Segundo Sebastião e outros (2004: 30), “é a partir de meados dos anos 80 que a questão da segurança nas escolas começa lentamente a transformar-se numa questão que merece a atenção das autoridades educativas.” Em meados desta década, mais precisamente em 1984, é criado o Gabinete de Segurança do Ministério da Educação.

Ainda de acordo com Sebastião e outros (2004: 27), “a primeira medida política, especificamente tomada para controlar o crescimento das situações de violência dentro das escolas, é de 1992, e baseou-se num protocolo entre o Ministério da Educação e o Ministério da Administração Interna” que daria origem, quatro anos mais tarde, à criação do Programa Escola Segura. Nesta fase experimental, foram abrangidos apenas 17 estabelecimentos de ensino. Os objectivos deste protocolo visavam melhorar as condições de segurança física das escolas e definir um conjunto de estabelecimentos de ensino de maior risco (escolas) e de menor risco (não protocoladas), procedendo, para tal, os agentes integrados no programa a acções de vigilância e de patrulhamento das escolas e das áreas

envolventes, ao policiamento dos percursos habituais de acesso às escolas ou a sessões de sensibilização junto dos alunos para as questões da segurança.

Em 1996, o Ministério da Administração Interna publica o Despacho do nº 50/96, de 30 de Setembro com o objectivo de melhorar as condições de segurança física das escolas, melhorar a segurança dos alunos no exterior da escola e nos percursos mais frequentados e promover condições de segurança nas escolas para que a liberdade de aprender e ensinar pudesse ser efectivamente possível. De modo a garantir estes objectivos, foram postas em prática três medidas: em primeiro lugar, passou a verificar-se uma presença regular de polícias no exterior da escola; procedeu-se à criação de um corpo de guardas escolares dependente directamente do Gabinete de Segurança do Ministério da Educação; por fim, houve uma tentativa para treinar os funcionários das escolas para lidar com ameaças vindas do exterior. (Sebastião e outros, 2004: 31)

No ano de 2005 é publicado o Despacho Conjunto do MAI e do ME nº 105- A/2005, de 2 de Fevereiro, que vem regulamentar (“agregar e definir em termos jurídico- formais”, conforme se pode ler no preâmbulo) o Programa Escola Segura. O artigo 2º salienta que “o Programa constitui um modelo de actuação pró-activo, centrado nas escolas, que visa prevenir, evitar e reduzir a violência e insegurança no meio escolar e envolvente, com a participação de toda a comunidade.” Existe, portanto, de forma explícita um reconhecimento por parte das instâncias políticas de que os níveis de insegurança e de violência atingiram patamares de alguma gravidade. Estão definidos como principais objectivos (artigo 3º) os de promover uma cultura de segurança nas escolas; fomentar o civismo e a cidadania; diagnosticar, prevenir e intervir nos problemas de segurança das escolas; determinar, prevenir e erradicar a ocorrência de ilícitos criminais e de comportamentos de risco, nas escolas e áreas envolventes; promover, de forma concertada com os diversos parceiros, a realização de acções de sensibilização e de formação; e recolher informações e realizar estudos que permitam dotar as entidades competentes de um conhecimento objectivo sobre a violência, os sentimentos de insegurança e a vitimação na comunidade educativa.

Pouco tempo depois, em Dezembro de 2006, surge o Despacho Conjunto do MAI e do ME nº 25 650/2006 do dia 19, atendendo a “que foram detectadas algumas fragilidades no operacionalização do Programa Escola Segura, definido em termos jurídico-formais em sede de Despacho Conjunto nº 105-A/2005, de 2 de Fevereiro.” (preâmbulo)

O Programa Escola Segura, conforme nos diz o ponto 2 do artigo 2º, “tem âmbito nacional e inclui todos os estabelecimentos de educação e ensino, públicos, privados e cooperativos, com excepção dos estabelecimentos do ensino superior.”

O objectivo principal da actuação dos agentes de segurança ao dispor deste programa visa prevenir, em colaboração com escola, qualquer tipo de situações de violência e de delinquência dentro dos espaços escolares e nas zonas envolventes aos mesmos. Sebastião e outros (2004: 32) sublinham, no entanto, que “a actuação destes agentes não se confunde com a actuação disciplinar da própria escola, não podendo encontrar-se em conflito com esta, sendo a intervenção apenas possível a pedido expresso do Conselho Directivo.” Prossegue, destacando que “os agentes apenas intervêm quando se deparam com situações inesperadas de violência entre alunos, destruição de bens / vandalismo, assaltos, utilização de armas, ataques de carácter sexual. O essencial da sua actividade procura prevenir o aparecimento deste tipo de situações, procurando identificar e dialogar com os eventuais líderes de grupos, ganhando a sua confiança, ou afastando elementos exteriores às escolas considerados perturbadores.” Refira-se, a este propósito, a importância da visibilidade física levada a cabo pelos agentes policiais, bem como o cuidado em promover uma maior aproximação entre a instituição policial e a população estudantil.

No ‘Relatório de Actividades do Programa Escola Segura’ relativo ao ano lectivo de 2004/2005, e da autoria da Direcção Nacional da Polícia de Segurança Pública é apresentado um balanço do trabalho desenvolvido por aquela corporação no âmbito do programa junto dos estabelecimentos. São destacadas como ‘virtualidades’ “a coordenação ao nível local, que fortalece as sinergias entre as escolas, as famílias, as comunidades locais e as forças de segurança; a promoção de acções de sensibilização e formação orientadas para a comunidade educativa; uma maior sensibilização das famílias, da escola, das forças de segurança, das comunidades locais e da opinião pública para o problema da violência nas escolas; a melhoria da imagem pública das forças de segurança; e, finalmente, a melhoria efectiva da segurança das comunidades educativas, apesar de se verificarem incidentes pontuais em determinadas áreas mais problemáticas.” (PSP, 2005: 5)

Em contraposição, são reconhecidas algumas ‘fragilidades’ sentidas por parte das entidades policiais sentidas no seu relacionamento com a população escolar, das quais se

destacam, conforme podemos ler no relatório, a falta de sentido de pertença ao Programa Escola Segura por parte de algumas comunidades educativas, percepcionando-o como algo exclusivo das forças de segurança; a inexistência da articulação e integração de metodologias e ferramentas de recolha e processamento da informação entre diversos organismos com competências na matéria que permitam a avaliação do programa e a quantificação dos recursos que lhe estão afectos; a inexistência de estudos de vitimação nas escolas que permitam efectuar um diagnóstico objectivo da situação; a não definição de objectivos estratégicos e operacionais, de metas calendarizadas, bem como de identificação dos diferentes níveis de responsabilidade na execução do programa; (PSP, 2005: 5)

Desta auto-avaliação, devemos enfatizar os pontos que dizem respeito à ausência de alguma articulação entre organismos, a insuficiência de estudos que dificulta a real percepção e compreensão dos fenómenos de violência que decorrem no espaço da escola e que determinam a inexistência de objectivos estratégicos de combate e de prevenção.

De acordo com dados referentes ao ano de 1999, encontravam-se abrangidas pelo Programa Escola Segura 3043 estabelecimentos de ensino, estando mobilizados 375 agentes, 183 viaturas, 91 motociclos e 48 scooters.

Quadro nº 10 - Escolas na área da Polícia de Segurança Pública abrangidas pelo Programa Escola Segura em 1999

Total

N.º de Escolas 3043

Elementos Policiais afectos ao Programa “Escola Segura”

375

Viaturas com cores padrão da “Escola Segura” 183 viaturas

Motociclos 91

Scooters 48

Fonte: PSP

Seis anos volvidos, podemos verificar que, de acordo com o Relatório de 2005 (2005: 7), “a PSP tem 320 elementos policiais afectos ao Programa ‘Escola Segura’ em todo o território nacional, incluindo as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, os quais desenvolvem uma acção essencialmente direccionada para a prevenção, vigilância e visibilidade nas áreas escolares”, verificando-se, portanto, uma ligeira desafectação de efectivos e meios comparativamente com o que sucedia em 1999.

Quadro nº 11 - Escolas na área da Polícia de Segurança Pública abrangidas pelo Programa Escola Segura em 2005

Total

N.º de Escolas 2 841

Elementos Policiais afectos ao Programa “Escola Segura”

320

Viaturas com cores padrão da “Escola Segura” 142 viaturas

Motociclos 64

Scooters 47

Capítulo 2 – O Bullying

O Capítulo 2 do nosso trabalho servirá de mote para que possamos estudar e compreender, de forma mais aprofundada, o fenómeno do bullying. Principiaremos por centrar a nossa abordagem ao tema numa perspectiva nacional descrevendo, de forma sucinta, alguns dos estudos efectuados no nosso país em anos recentes para, de seguida, reflectir sobre o trabalho realizado em países de referência nesta área, como o são, na Europa, a Noruega, a Inglaterra, a Espanha e, fora dela, o Canadá, a Austrália e, finalmente, o Japão. Este périplo poderá servir, do nosso ponto de vista, para evidenciar a ‘mundialização’, ou se quisermos recorrer a um termo mais em voga - globalização, do tema cada vez mais evidente com o recurso generalizado às tecnologias de informação por parte dos jovens. Esta análise transnacional reforçará, portanto, a importância que os diversos países têm conferido ao tema.

Procuraremos, ainda, analisar, comparar e confrontar as propostas de definição do termo apresentadas por diversos investigadores; focalizaremos a nossa abordagem nas principais características dos actores que constituem o triângulo do bullying – a vítima, o agressor e a testemunha -, e na forma como eles são inevitavelmente afectados pelo fenómeno.

Consideramos, por fim, justificar-se uma chamada de atenção para o facto de esta ser uma problemática que trespassa múltiplos contextos como são a vida em família, as relações de/no trabalho ou, até, o sistema prisional.