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Os elementos da escola (direcção, pessoal docente e não docente)

4. Os actores do bullying

4.4. Os elementos da escola (direcção, pessoal docente e não docente)

Embora não desempenhem um papel tão activo e directo na ocorrência dos episódios de bullying, a postura evidenciada pelo Presidente/Director da escola, pelos professores e pelo pessoal não docente pode determinar uma maior ou menor incidência do fenómeno.

Como representante máximo da instituição, o Presidente/Director da escola desempenha uma função indispensável e serve, como enfatizam Hill & Hill (1994: 28), de “modelo constante do nível de comportamento expectável dentro do estabelecimento de ensino.” Acrescentam que uma postura de maior visibilidade da sua parte pode determinar uma redução do número de episódios de violência, pelo que sugerem uma maior proximidade junto dos seus alunos com visitas regulares às salas de aula para promoverem conversações com eles. O Presidente desempenha, igualmente, uma função de grande importância no apoio e na grande determinação que deverá demonstrar e incutir junto dos seus professores e do seu pessoal não docente no combate e na resolução de situações relacionadas com esta e quaisquer outras manifestações de violência.

Sharp & Thompson (1995: 24-25) corroboram este ponto de vista, pois defendem que os Presidentes devem “demonstrar aberta e publicamente o seu compromisso de combate a quaisquer manifestações de bullying.” Este comprometimento decorrerá de um investimento pessoal em termos de dedicação e de dotação de recursos financeiros e materiais que facilitarão o desenvolvimento e a implementação de uma política global de escola de combate ao bullying a dinamizar por todos os elementos da comunidade educativa.

Os professores podem assumir, de igual forma, um papel mais activo e relevante na prevenção e na resolução de situações de agressão repetida. Olweus (2005: 26) frisa, a este propósito, que “as atitudes dos professores face aos problemas de agressão/vitimação provocados pelo bullying são determinantes para a sua maior ou menor ocorrência na escola e na sala de aula, em particular.” Concentrados nas suas responsabilidades de carácter pedagógico, nos programas a cumprir, no processo ensino-aprendizagem realizado em contexto de sala de aula, os docentes podem ser levados inconscientemente a descurar e a subvalorizar determinados tipos de interacções que vão ocorrendo entre alunos. Olweus

(2005: 20) refere que aproximadamente 40% dos alunos do ensino primário e cerca de 60% dos que frequentam o secundário mencionaram em resposta a um questionário que os seus professores tentaram ‘pôr fim’ a uma situação de bullying ‘de vez em quando’ ou ‘quase nunca’e que os docentes raramente tinham dedicado actividades lectivas para discutirem questões relacionadas com esta temática. Esta postura pode evidenciar, como já referimos, que, por um lado, os docentes não a consideram como sendo de tratamento prioritário ou, pode querer sugerir que existe um desconhecimento da sua parte que permita a identificação ou, pelo menos, a desconfiança de que um dos seus alunos se encontra envolvido(a) numa situação de vitimização. Cremos que esta pode ser parte da explicação, pois acreditamos que todos os docentes se preocupam com o bem-estar e a segurança dos seus alunos; no entanto, não deixa de ser preocupante que uma grande percentagem de situações de agressão aconteça em plena sala de aula, na presença do educador.

Excluindo o caso particular do 1º Ciclo do Ensino Básico, os recreios, os campos de jogos e os restantes espaços exteriores das escolas são escassamente supervisionados pelos adultos nos intervalos entre as actividades lectivas e no decorrer da hora de almoço. Esta situação contribui inevitavelmente para que sucedam episódios de agressão entre alunos. No estudo realizado por Olweus em Bergen, por exemplo, foi possível comprovar uma clara relação negativa entre a ‘densidade de adultos’ durante os intervalos e o número de situações relacionadas com bullying. Se considerarmos que os recreios se apresentam como o local onde se verificam mais situações de agressão, pensamos que deverá ser reequacionada a forma como se olha para estes espaços mediante o reforço da sua vigilância, a valorização e diversificação das actividades realizadas pelos alunos ou, como iremos ver no Capítulo seguinte, apostando no seu melhoramento.

A tarefa de vigilância, quando existe, compete aos auxiliares de acção educativa que, dada a pouca formação profissional possuída nesta área, se deparam com extremas dificuldades para identificarem, de forma clara, situações de bullying e para não as confundir com qualquer outro tipo de brincadeira entre alunos. Uma aposta na formação contínua (a incluir no Política Global de Intervenção e Combate ao bullying) contribuirá, de igual modo, para que os não docentes adquiram as competências indispensáveis (saber identificar, saber dialogar, saber mediar conflitos…) para lidar eficazmente com situações de agressão, prevenindo, sempre que possível, a sua ocorrência e sempre que não o consigam que optem pela estratégia mais adequada para solucionar a contenda.

4.5. Os pais

Confrontados, por norma já numa fase adiantada do processo, com o cenário inesperado de que os seus filhos se encontram envolvidos numa situação de bullying, ora na qualidade de agressores ora como vítimas, os pais deparam-se com grandes dificuldades em lidar com o problema. O desconhecimento pela melhor postura a adoptar neste contexto resulta, em primeiro lugar, do facto de, à semelhança do que sucede noutras ocasiões, pensarmos que estas são problemáticas que apenas afectam os outros. Em segundo lugar, a dificuldade aumenta com a falta de formação dos pais para lidarem correctamente com o bullying. Hoje em dia, existem inúmeros sítios na Internet que aconselham os pais a lidar da forma mais adequada com situações de bullying, transmitindo conselhos práticos aos encarregados de educação, disponibilizando linhas telefónicas de apoio ou promovendo fóruns de discussão on-line. A experiência de Olweus (2005: 21) permite-lhe concluir que os pais dos alunos envolvidos nestes episódios não estão familiarizados com esta problemática e, quando o estão, apenas dialogam com os seus filhos acerca de algumas das suas vertentes.

O estado de espírito dos pais revela-se ambivalente, pois, como frisa Young (1998: 33), eles “encontram-se normalmente preocupados, transtornados e frustrados porque se sentem impotentes para defenderem os seus filhos, receando, ao mesmo tempo, que qualquer intervenção da sua parte possa apenas degradar, ainda mais, a situação.” Mellor (1997: 1) reforça esta perspectiva e chama a nossa atenção para o facto de estes sentimentos de revolta e frustração levarem frequentemente os familiares dos agredidos a tomarem medidas precipitadas que apenas contribuem para um agravamento da situação. Deve evitar-se, por outro lado, como aconselha Mellor (1997: 7), qualquer tipo de confronto directo com os pais do jovem que alegadamente agride o nosso filho, ou, se for esse o caso, com os que acusam o nosso de ser o agressor. As discussões deste género apenas contribuem para que os ânimos se exaltem ainda mais e poderão deteriorar a condição do jovem agredido. Daí que o mesmo autor (Mellor, 1997: 8) aconselhe os pais a pensarem, acima de tudo, na segurança física e emocional do jovem e nas consequências nefastas que uma reacção intempestiva pode acarretar no relacionamento futuro entre pai(s) e filho.

Perante a denúncia do filho de que está a ser alvo de agressões repetidas por parte de alguém na escola, aconselha-se que o encarregado de educação se dirija ao estabelecimento de ensino e comunique o sucedido. Young (1998: 33) refere que alguns pais se lamentam que ninguém na escola os ouve ou os leva a sério perante um relato de uma situação de bullying e que frequentemente são acusados pelos professores, ou directores de turma, de serem pais demasiado protectores ou de estarem a provocar uma tempestade num copo de água. Mesmo que este cenário possa ocorrer, os pais não devem desistir e, se for caso disso, deverão tentar falar com o Presidente/Director da escola, de forma a expor o problema para que possa ser encontrada uma solução.

Seja qual for o procedimento adoptado, Mellor (1997: 6) relembra que “os jovens vítimas de bullying carecem do apoio dos seus familiares, dos professores e dos amigos”, pelo menos para servirem de amparo e para poderem partilhar as suas angústias e os seus medos.

Coloroso (2003: 143-144), por seu turno, aconselha os pais a educarem os seus progenitores no sentido de reforçarem a sua auto-estima, a pensarem por si e a encararem as contrariedades da vida como problemas que devem ser resolvidos. Este tipo de postura perante a vida promoverá nos jovens a necessidade e a vontade de falarem com os pais para solicitar apoio, pois são sabedores que estes adoptarão uma postura instrutiva e construtiva e não contribuirão para que a situação se agrave.

Termina, alertando (Coloroso, 2003: 145-146) os pais para os cinco comportamentos que não devem adoptar, e que passaremos a referir:

1. Não tentar minimizar, explicar ou justificar o comportamento do bully;

2. Não tentar resolver o problema na vez do filho e de forma precipitada; 3. Não aconselhar o filho a evitar o agressor;

4. Não aconselhar o filho a ripostar à agressão; e