Capítulo II: Os Direitos Especiais na Fusão da Sociedade
4. A deliberação da Fusão e o consentimento do sócio
Quanto aos sócios prejudicados, que não tenham seus direitos assegurados, o Artigo 103º nº2 protege a posição destes sócios através do consentimento exigido, pondo em causa a execução da deliberação na falta de consentimento.
Sobre a relação da deliberação da Fusão e o consentimento do sócio existe uma difícil harmonização, por um lado estamos perante um direito de geral, de votar e participar nas deliberações previsto no Artigo 21º nº1 alínea b)e por outro lado o sócio sendo titular de direito especial, prejudicado é necessário que sócio dê o seu consentimento285.
Sobre o direito geral de votar e participar em deliberações, cabe ao sócio votar a favor da fusão, votar contra a fusão ou abster-se.
282
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Direitos Especiais e o Direito de Exoneração em Sede de Fusão, Cisão e Transformação de Sociedades Comerciais, cit., p.324; Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.206; Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.250.
283
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Direitos Especiais e o Direito de Exoneração em Sede de Fusão, Cisão e Transformação de Sociedades Comerciais, cit., p. 324.
284
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Direitos Especiais e o Direito de Exoneração em Sede de Fusão, Cisão e Transformação de Sociedades Comerciais, cit., p.325.
285
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Direitos Especiais e o Direito de Exoneração em Sede de Fusão, Cisão e Transformação de Sociedades Comerciais, cit., p.327; Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit.,p.254.
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4.1. Voto positivo do sócio prejudicado
Nesta situação, essencialmente importa dar resposta à questão: o sócio prejudicado ao votar a favor da deliberação da Fusão consente a afetação dos seus direitos especiais ou se o seu consentimento for ainda exigido, em hipótese pode nessa situação o sócio recusar prestar consentimento? A solução em casos como este será no sentido de que o sócio prestando voto favorável sobre a fusão, consente expressamente na afetação dos seus direitos especiais. Esta solução reúne posições favoráveis de PINTO FURTADO286 e DIOGO COSTA GONÇALVES287.
4.2. O voto negativo do sócio prejudicado
Esta questão apresenta maior complexidade, face à anterior situação em que o sócio prejudicado vota a favor da Fusão. Nesta situação, segundo DIOGO COSTA GONÇALVES, toma-se atenção a duas hipóteses. Numa primeira situação sobre a posição e valor do voto negativo do sócio, a quem se exige o consentimento. A segunda hipótese, sobre a situação do sócio prejudicado que vote contra a deliberação, surgindo em sua esfera jurídica o Direito de Exoneração288.
Sobre a primeira hipótese, no entendimento de DIOGO COSTA GONÇALVES “… o voto
negativo na deliberação social não implica a recusa do consentimento. E isto porque … o voto negativo não tem o mesmo valor axiológico do voto positivo e, por isso, não pode ter a exata valoração jurídica inversa de um voto favorável”.289 O autor defende
que “ … o voto negativo não pode impedir que o sócio venha posteriormente a dar o
seu consentimento. Mesmo que o sócio prejudicado não queira a fusão, votando
286
Cf. FURTADO, Jorge Henrique da Cruz Pinto, Deliberações dos Sócios/Comentário ao Código das Sociedades Comerciais, Almedina, reimpressão da edição de novembro de 1993, 2003, p.252.
287
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit.,p.255.
288
Cf. Artigo 105º do CSC. 289
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.256.
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contra, pode, ainda assim, querer sujeitar-se à vontade da maioria, e consentir, colocando-se na mesma posição dos demais sócios minoritários discordantes.” 290
Sobre a situação em que o sócio prejudicado que vote contra a deliberação, surgindo em sua esfera jurídica o Direito de Exoneração, uma vez que o sócio goza desta faculdade, na hipótese de recorrer ao direito de exoneração, não haverá possibilidade de o sócio permanecer na sociedade ao mesmo tempo, e não prestar o
seu consentimento.291 Segundo DIOGO COSTA GONÇALVES, o não exercício do direito de exoneração
tem valor de um consentimento tácito, ao sócio não é permitido não se exonerar e não prestar consentimento, considerando que a sociedade tem interesses económicos e como tal colocar o interesse social em causa, não seria conveniente.292
Voltando à primeira hipótese, a posição de DIOGO COSTA GONÇALVES é em sentido diverso a de PINTO FURTADO. PINTO FURTADO sobre esta questão defende que o voto contra a fusão sugere a recusa de consentimento293, comparativamente apresenta uma solução mais simples, e tende-se a concordar com esta posição pois considerando que, como foi referido anteriormente, o voto positivo do sócio prejudicado implica o consentimento tácito, é compreensível que se considere que o voto contra a fusão implique a recusa do consentimento.
4.3. Abstenção do sócio
Sobre o sócio que se abstenha de aprovar a fusão, esta questão coloca em posições opostas, PINTO FURTADO e DIOGO COSTA GONÇALVES.
290
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.256.
291
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.257.
292
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição
Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.257. 293
Cf. Diogo Costa Gonçalves, Fusão, Cisão e Transformação das Sociedades Comerciais- A Posição Jurídica dos Sócios e a Delimitação do Statuo Viae, cit., p.257.
103 Segundo PINTO FURTADO “ … Se o sócio, estando presente, participa no
sufrágio emitindo um voto de abstenção, adopta um comportamento de indiferença perante o resultado da votação, aceitando assim de igual ânimo tanto a rejeição da proposta como a sua aprovação…”294
No entanto, sobre esta situação segue-se o entendimento de DIOGO COSTA GONÇALVES, segundo este autor a exigência do consentimento consubstancia-se na exigência da manifestação de uma vontade eletiva do sócio, para a lei a indiferença do sócio não é suficiente295 Vai em sentido contrário a PINTO FURTADO, o sócio abstendo- se da deliberação da fusão, não pode ser entendido como consentimento tácito.