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Capítulo II: Direitos Especiais: Evolução no Direito Comparado

4. Ordenamento Jurídico Espanhol

Historicamente, o Direito Comercial Espanhol, divide-se em 3 períodos, nomeadamente, em tempos antigos, idade média e época moderna e a época contemporânea80.

Influenciado pelo Código francês de 1807, a primeira codificação no ordenamento Espanhol surge em 1829, cujo anteprojeto, foi atribuído a PEDRO SAINZ DE ANDINO, sendo que ao Código do Comércio de 1829, é atribuído elevado valor.

Acompanhando mudanças, principalmente no campo económico, surge a necessidade de reforma no direito comercial, assim, surge o Código do Comércio de 1885, cuja preocupação primordial reunia, aliar a necessidade de uma reforma legislativa e a evolução político-ideológica vivida no Séc. XIX.

No Direito Societário Espanhol, o regime jurídico das sociedades por quotas (Sociedad de responsabilidad limitada), sociedades anónimas (sociedad anónima) e sociedade em comandita por ações (sociedad anónimas por acciones) é consagrado pela Ley de sociedades de Capital, aprovado pelo Real Decreto Legislativo 1/2010, de 2 de Julho.

Em matéria de direito dos sócios, são consagradas na Ley de Sociedades de

Capital disposições específicas sobre esta matéria, previsto na Secção I do Capítulo II

do Título IV.

Conforme dispõe o artigo 93º da Ley das Sociedades de Capital, aos sócios cabe-lhes no mínimo:

● a) Direito ao lucro e ao ativo resultante de liquidação; ● b) Direito de preferência na criação de novas ações;

80

Cf. David Supino, Derecho Mercantil, Raducido De La Cuarta Edicíon Y Anotado Extensamente Con Las Diferencial Del Derecho Español, por Lorenzo Benito Madrid La España Moderna CUES11A De Santo Domingo, pp.23-24.

33 ● c) Direito de participação na assembleia geral e ao exercício do direito

de voto;

● d) Direito à informação.

No âmbito das sociedades anónimas, o primeiro grande diploma que regulamentava as sociedades anónimas, surgiu num período posterior ao Código de Comércio de 1885, que mais tarde, demonstrou-se ter um sistema envelhecido face as mudanças significativas que iriam ocorrer no ordenamento Espanhol, assim, face ao desenvolvimento do comércio em Espanha, verificou-se o surgimento de variados instrumentos de comércio.

O primeiro diploma sobre matéria relativa às sociedades anónimas foi aprovado pela Ley de 17 de Julho de 1951, mais tarde, com a adesão de Espanha à Comunidade Europeia, mostrou-se ser necessária a alteração a um número significativo de disposições da lei de sociedades anónimas 81. A nova lei de sociedades anónimas vem a revogar a Ley de 17 de Julho de 1951 sobre o regime jurídico das sociedades anónimas, surge ajustada às diretivas comunitárias, em 1989, texto aprovado pelo Real Decreto Legislativo 1564/1989 de 22 de Dezembro refundido em 22 de Fevereiro de 199082.

A Ley de Sociedades de Capital contempla disposições sobre os direitos dos sócios e também sobre os direitos especiais dos sócios, fazendo referência aos “derechos diferentes”, estes “ derechos diferentes” equivalem aos direitos especiais, na lei portuguesa83. Conforme dispõe o artigo 94º da Ley de Sociedades de Capital “Diversidad de derechos.–1. Las participaciones sociales y las acciones atribuyen a los

socios los mismos derechos, con las excepciones establecidas al amparo de la ley. Las participaciones sociales y las acciones pueden otorgar derechos diferentes. Las acciones que tengan el mismo contenido de derechos constituyen una misma clase.

81

Foi elaborado um anteprojeto de lei de alteração parcial da lei, tendo sido acolhidas as diretivas comunitárias sobre direito das sociedades.- Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.83.

82

Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.75. 83

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Cuando dentro de una clase se constituyan varias series, todas las que integren una serie deberán tener igual valor nominal…”

A nova Lei das Sociedades Anónimas são previstas e reguladas as ações ordinárias, e também as ações privilegiadas, permanecendo nesta lei, tal como na Ley de 1951, a característica que está subjacente às ações privilegiadas, a da concessão de privilégios84.

No caso da criação de ações de voto plural, a proibição prevista no artigo 38º nº2 da Ley de 1951, mantém-se também na nova lei, conforme dispõe na 2ª parte do artigo 50º nº285 “No es válida la creación de acciones com derecho a percibir un

interés, cualquiera que sea la forma de su determinación, ni la de aquellas de forma directa o indirecta alteren la proporcionalidad entre el valor nominal de la acción y el derecho de voto o el derecho de suscripción preferente”.

Nos termos da lei Espanhola, podem ser criadas ações privilegiadas, sendo que, considerando o disposto no artigo 9º alínea g) da lei atual (artigo 11º, 3º alínea f), da

Ley de 1951, devem ser previstas estatutariamente todas as categorias. A criação

destas ações, quando não ocorra ab initio, sujeitam-se a regras sobre a modificação de estatutos conforme dispõe o artigo 50º nº1 na lei atual e nº 2 do artigo 93º da Ley de

Sociedades de Capital.

Em respeito às formalidades sobre a alteração de estatutos, a alteração estatutária exige um quórum constitutivo, em 1ª convocatória, de 50% do capital subscrito com direito de voto (artigo 103º nº1), ou em 2ª convocatória, de 25% do capital (artigo 103º nº1 nº 2)86. Assim, se estiverem presentes um montante inferior a

84

Por exemplo, ações com preferência sobre os dividendos ou sobre o património no momento de partilha- Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.77.

85

Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.79. 86

Na lei de 1951, entendia-se que, para alterações estatutárias, o quórum constitutivo em 1ª

convocatória exigia a presença ou representação de 2 terços do capital subscrito, quando estivessem em causa ações nominativas, dois terços dos acionistas, em 2ª convocatória a presença ou representação de metade do capital social era considerada suficiente, e tratando-se de ações nominativas, a maioria dos sócios. Em caso de ações nominativas, exigia-se que o quórum constitutivo em função do numero

35 50% do capital social, a deliberação apenas será aprovada, por votação favorável de 2 terços do capital presente.

Em caso de alteração estatutária que preveja a limitação ou supressão de ações privilegiadas, na qual se alteram ou afetem os respetivos direitos, ainda que seja de forma indireta, exige-se o consentimento, tal como no ordenamento jurídico Português, artigo 24º nº5 CSC. Para este efeito, deve ser deliberado pela assembleia geral impondo ainda que, quando sejam várias a classe afetadas, que seja prestado o ser acordo (artigo 148º nº 1 e nº3).

O artigo 293º da Ley de Sociedade de capital dispõe: “1. Para que sea válida

una modificación estatatutaria que afete directa o indirectamente a los derechos de una classe de acciones, será preciso o acordada por la junta general, con los requisitos establecidos en esta Ley, y también por la mayoría, de las acciones pertenecientes a la clase afectada. Cuaando sean varias las clases afectadas, será necessário el acuerdo separado de cada una de ellas.

2. Cuando la modificación sólo afecte a una parte de las acciones pertenecientes a la misma classe y suponha un trato discriminatória entre las mismas, se considerará a efectos de lo dispuesto en el presente artículo que constituyen clases independientes las acciones afectadas y las no afectadas por la modificación, siendo preciso, por tanto, el acuerdo separado de cada una de ellas.

3. El acuerdo de los accionistas afectados habra de adoptarse con los mismo requisitos previstos en esta Ley para la modificacion de los estatutos sociales, bien en junta especial o a través de votación separada en la junta general en curya convocatoria se hará constar expresamente.

4. A las juntas especiales será de aplicación lo dispuesto en esta Ley para la junta general”.

Nesta medida, exige-se o concurso de duas deliberações maioritárias.

de acionista- Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.80, n.94.

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