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Capítulo II: Direitos Especiais: Evolução no Direito Comparado

3. Ordenamento Jurídico Italiano

No ordenamento jurídico Italiano, o Codice Civile disciplina a matéria sobre as sobre as sociedades comerciais. Entre os artigos 2247º a 2511º do Título V do Livro encontramos disposições relativas ao direito das sociedades.

As sociedades anónimas, particularmente, são reguladas pelo Codice Civile, no Livro V, Título V, Capítulo V, entre os artigos 2325º a 2451º, e ainda por leis avulsas.72

À semelhança do ordenamento jurídico português, a matéria dos direitos especiais na lei Italiana é regulada pelo Codice Civile, porém, não encontramos na lei Italiana norma idêntica ao artigo 24º do CSC. Por outro lado, a lei italiana apresenta a figura do “diritti individuali” e “diritti particolari dei soci”.

Ambos os ordenamento jurídicos, quer ordenamento jurídico ltaliano quer o ordenamento jurídico Português, não apresentam distinções absolutas, como é o caso da tipologia de sociedades que a lei Italiana admite, e por sua vez, a lei Portuguesa também prevê, assim sendo, a lei Italiana prevê a società in nome collettivo ( sociedade em nome coletivo ), a società a responsabilità limitata ( sociedade por quotas), a società per azioni ( sociedade anónima) e a società in accomandita

semplice e società in accomandita per azioni ( sociedade em comandita simples e por

ações).

Conforme a lei Italiana os diritti individuali( direitos individuais), compreendem aqueles direitos que não podem ser atingidos pela sociedade por um mero ato de vontade pela sociedade, nesta medida, estamos perante direitos inderrogáveis dos sócios. Os “diritti particolari dei soci” são entendidos como direitos que têm natureza

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30 idêntica aos direitos especiais dos sócios73, pois apresentam natureza jurídica idêntica aos direitos especiais dos sócios, e, no casos desses direitos serem prejudicados sem o devido consentimento do seu titular, considera-se que deliberação que afete estes direitos, é consequentemente ineficaz, á semelhança da solução que o CSC, no artigo 55º “ Falta de consentimento dos sócios

Salvo disposição legal em contrário, as deliberações tomadas sobre assunto para qual a lei exija o consentimento de determinado sócio são ineficazes para todos enquanto o interessado não der o seu acordo, expressa ou tacitamente.” Por outro lado os “diritti individuali”, (por exemplo o direito ao voto e o direito aos lucros), são direitos

estabelecidos por lei inderrogável, portanto, a deliberação, que suprima ou coarte estes direitos será inválida, cuja solução é idêntica á do artigo 56º nº 1 al d) CSC.

Consoante esteja em causa “diritti particolari dei soci” ou os “diritti individuali”, a deliberação que suprima estes direitos sem consentimento do seu titular será ineficaz ou inválida respetivamente, por outro lado no ordenamento jurídico Português, direitos especiais que sejam suprimidos ou coartados sem consentimento do titular, a respetiva deliberação será ineficaz conforme o disposto no artigo 55º CSC.

Sobre as sociedades anónimas em particular, é fundamental o respeito pelo princípio do igual tratamento dos acionistas, segundo este princípio as ações devem ser iguais em valor e também a concessão aos seus titulares de iguais direitos (artigo 2348, I), mas, no âmbito da autonomia da vontade, a lei permite que os sócios, possam criar categorias de ações, ab initio ou em vida da sociedade, e podem ainda os sócios criar as categorias de ações privilegiadas que quiserem, para além daquelas que a lei prevê, conquanto que exista respeito pelos limites fixados pela lei.74

A lei Italiana admite a criação de ações privilegiadas, contudo, devem estar previstas em seus estatutos (artigo 2328º do Codice Civile), e incidindo sobre os lucros e sobre o capital, a lei não abrange a concessão de privilégios não patrimoniais, portanto, ainda nesta senda, a lei italiana não admite a criação de ações de voto plural,

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Cf. Cristiano Dias, Os Direitos Especiais dos Sócios, cit., p.45. 74

31 proibindo-as até, todavia admite a ações de voto limitado sendo que, as ações de voto limitado não poderão representar mais do que metade do capital social (artigo 2351º, II, código civil italiano)75.

Em matéria de direitos especiais de uma categoria de ações, semelhantemente à lei Portuguesa, considerando o disposto no artigo 24º nº5 e 6 do CSC, exige-se o consentimento prévio dos titulares da categoria, em assembleia especial, quando a deliberação social ponha em causa, prejudique ou afete os direitos especiais, conforme a dispõe o artigo 2376º do Codice Civile7677.

Considerando o que dispõe o Codice Civile , “Art. 2376. Assemblee speciali. Se

esistono diverse categorie di azioni o strumenti finanziari che conferiscono diritti amministrativi, le deliberazioni dell'assemblea, che pregiudicano i diritti di una di esse, devono essere approvate anche dall'assemblea speciale degli appartenenti alla categortoia interessata. Alle assemblee speciali si applicano le disposizioni relative alle assemblee straordinarie”. A segunda parte do artigo 2376º do código civil Italiano

remete para o regime das assembleias extraordinárias, nesta medida, para a assembleia especial tal como para a assembleia extraordinária, exige-se o quórum constitutivo de mais de metade do capital social representado pela categoria, ou em segunda convocação constituindo-se por um terço do capital social (art. 2369º do Código civil italiano)78.

Sobre a falta de consentimento dos titulares das categorias, reunidos em assembleia especial, a doutrina Italiana não é unânime relativamente as deliberações sociais que prejudiquem direitos especiais, para alguns autores essas deliberações sociais são tidas como ineficazes, ao passo que, outros autores defendem a invalidade79.

75

Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.87. 76

Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.95. 77

Cf. GALGANO, FRANCESCO, Il nuovo diritto societário, CEDAM,2003., cit., p.133. 78

Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.97- 98.

79

Cf. Paulo Olavo Cunha Os direitos especiais nas sociedades anónimas: as ações privilegiadas, cit., p.99.

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