• Nenhum resultado encontrado

A descoberta da doença renal crônica: sentimentos e desafios

No documento GILVANICE DE SOUSA PACHECO (páginas 105-109)

C) Quando ocorre infecção na urina 6 11,

4.3 Dados subjetivos da pré-avaliação

4.3.2 A descoberta da doença renal crônica: sentimentos e desafios

Torna-se oportuno explicar que a questão referente aos resultados do Quadro 2 (APÊNDICE E) investiga as mudanças enfrentadas pelos clientes após terem conhecimento da

43% 39% 39% 10% 6% 0 5 10 15 20 25 Controle

doença renal. Os resultados são provenientes de uma pergunta subjetiva e certamente refletem as mudanças que mais incomodam os clientes.

Esses resultados revelaram que, a partir da confirmação do diagnóstico da doença renal, ocorreram várias mudanças nos hábitos de vida dos clientes caracterizadas pelo surgimento de novas obrigações como fazer regime alimentar e medicamentoso, lidar com as alterações físicas, além de sofrerem perdas e ameaças que geram diversos sentimentos, pondo em risco seu bem-estar. Um resumo esquemático pode ser visualizado na Figura 1.

A) Fazer regime alimentar e / ou medicamentoso

Vinte e três (45,10%) clientes referiram a dieta como a mudança ocorrida em suas vidas após descobrimento da doença renal e oito (15,69%) clientes citaram o uso de medicamentos. Apenas um (1,96%) cliente relatou a restrição de líquidos (Quadro 2, APÊNDICE E).

Segundo Trentini, Silva e Leimann (1990), a doença crônica não tem a mesma configuração que as doenças temporárias, pois ela vem para ficar, apesar dos avanços no conhecimento da área da saúde. Conforme esses autores, o impacto da confirmação do diagnóstico da doença crônica é o grande desencadeador de um turbilhão de sentimentos e mudanças na vida dos indivíduos, que passam a se preocupar com algo a mais, deparando-se com novas tarefas como seguir dieta alimentar, uso de medicamentos, desconforto físico.

B) Perdas

Identificou-se neste estudo que a doença renal crônica proporciona experiência de perdas (Quadro 2, APÊNDICE E), as quais serão descritas a seguir.

A perda de capacidades físicas foi explícita por três (5,88%) clientes que relataram a perda da capacidade de trabalhar e um (1,96%) cliente que relatou limitação da capacidade física para locomoção.

Observou-se a perda da estética e da auto-imagem expressada pelo depoimento de uma cliente: “Antigamente eu andava de salto alto, e gostava, agora só ando de chinela”. Ocorreu também a perda da estética corporal e auto-estima identificadas por dois (3,92%%) clientes.

Apenas dois (3,92%%) clientes informaram a perda do prazer de fumar e/ou beber. Evidenciou-se também perdas financeiras, as quais compreendiam gastos com medicamentos, exames e transporte para ir às consultas, que foram verbalizadas por cinco (9,80%) clientes.

Comprovou-se que seis (11,76%) clientes relataram perda nas relações sociais englobando as seguintes subcategorias: perda de atividades de lazer e perda nas relações interpessoais familiares.

As alterações corporais comprometem a auto-imagem do indivíduo levando-o ao desconhecimento de si mesmo. Barbosa (1993, p. 120) concebe que “a agressão ao corpo provocada pela doença assusta, pois o corpo é o ponto onde começo a olhar o mundo, ou seja, o mundo é o horizonte sempre presente na maneira pela qual o corpo existe”.

Ibrahim (2004, p. 61) ressalta que “o renal crônico, quando adoece, não tem apenas o rim doente. É uma pessoa que tem o adoecer de sua história de vida”. Desse modo, vê-se que

as limitações impostas ao cliente pela doença podem causar o isolamento social, devido às restrições do seu modo de viver, onde se inclui um novo hábito de dieta alimentar ou uso de medicamentos.

Concordamos com Trentini, Silva e Leimamn (1990) que a doença crônica provoca uma série de perdas, sendo elas: perdas financeiras, tendo em vista que o salário do trabalhador ou mesmo a aposentadoria sejam insuficientes para comprar os medicamentos, principalmente se considerarmos a doença renal, que exige uma variedade de medicamentos para manutenção do bem-estar do cliente, sendo constatado por esses autores que a maior queixa dos clientes em relação às finanças foi referente aos gastos com medicação. Destacam também que as dificuldades financeiras podem ser responsáveis pelo isolamento social e do comportamento de não adesão ao tratamento, podendo este último originar descontrole e complicações da doença.

Além dessa perda, os clientes sofrem perda nas relações sociais, sendo muitas vezes segregados por não poderem beber ou comer algo que não esteja incluído em sua dieta e, a partir dessas experiências negativas, eles se excluem dos aniversários, encontros familiares ou com amigos.

De acordo com Strauss e Glaser citados por Trentini, Silva e Leimann (1990, p.23) um regime, seja medicamentoso ou alimentar, pode levar o cliente ao isolamento social, e este ao desânimo, além de desconfortos devido aos efeitos colaterais dos medicamentos como tontura, náuseas, vômitos e outros. Miller citado por Trentini, Silva e Leimann (1990, p.23) afirma que a pessoa com doença crônica sente-se incapaz de participar de atividades sociais em decorrência da diminuição de sua energia física ou devido à diminuição de seu autoconceito.

Oliveira et al. (2002) corroboram os autores citados afirmando que as doenças crônicas são caracterizadas pelo longo tempo de tratamento e pela limitação no estilo de vida e complementam dizendo que essa limitação diz respeito não só à pessoa acometida pela doença, mas também aos seus familiares. Acreditamos que a família é o “porto seguro” do cliente, mas às vezes também pode atrapalhar tornando-o dependente, fazendo-o sentir-se doente e impotente. O enfermeiro pode intervir junto à família informando-a sobre o cliente e a melhor maneira de lhe oferecer apoio sem desencadear sentimentos de impotência no cliente, uma vez que:

O cuidado centrado no indivíduo é relativo, pois implica uma malha de relações que engloba família, grupos, instituição e sociedade. Neste jogo de subjetivações (...) entendemos a força que estas instâncias exercem sobre o íntimo e a conduta dos sujeitos, de modo geral e no cuidado com o corpo, em particular (TEIXEIRA e FIGUEIREDO, 2001, p. 43).

No documento GILVANICE DE SOUSA PACHECO (páginas 105-109)